Hoje, gostaria
de falar sobre um belo filme de Jean Becker, “Minhas Tardes com Margueritte”, que celebra a vida, o amor e a amizade a
partir do tema da leitura em voz alta,
do “dar-se a ler”, que é, afinal, o coração
de nosso projeto. O filme é sensível, poético e emocionante, sem cair na
pieguice ou obviedade, enfim, uma dica para começar bem o ano. Gérard Depardieu,
em atuação admirável, representa
Germain, um agricultor de bom coração e praticamente analfabeto, desde criança rotulado
de “lento” e “burro” pela mãe e por
professores, amigos e colegas, tendo por
isso se afastado de tudo que tivesse a ver com livros. Germain leva uma vida simples, plantando, cuidando da mãe que a vida toda o tratou com bastante agressividade. Muitas vezes é motivo de gozação dos amigos, por seus modos um tanto brutos. No geral, pode-se dizer que Germain tem uma postura um pouco “pesada” (literal e
metaforicamente) perante a vida, insistindo inclusive em pichar repetidamente
seu nome na lista de “crianças falecidas” de um monumento municipal, para
desespero do prefeito da pequena cidade. Tudo começa a mudar quando Germain, em
sua pausa habitual para o lanche no parque, conhece Margueritte, uma adorável senhora de 95 anos vivida pela
brilhante atriz Gisèle Casadejesus. Com muito humor e doçura, os dois começam
uma amizade. Margueritte, sem pretensões, começa a ler em voz alta para Germain
trechos de obras que ela mesma leva ao parque para ler, como “O Estrangeiro”,
de Albert Camus. Lembrei bastante de um dos “direitos do leitor” citados por
Pennac quando Margueritte, atenta às primeiras reações do amigo perante sua
leitura, resolve pular páginas e ‘passar logo para a ação”. Mediadora de
leitura nata, Margueritte mostra-se sensível ao tempo e às emoções de Germain,
seduzindo-o com muita delicadeza para os prazeres da leitura. Não é a
quantidade que conta, e os dois amigos às vezes discutem longamente um único
trecho do livro, às vezes uma frase, encontrando nela formas de expressar suas
emoções, suas vidas e suas histórias tão diferentes e que se entrecruzam nessa maravilhosa
amizade. Em certo momento, Germain
comenta que não sabe ler e Margueritte responde com uma definição perfeita da
leitura dialógica, quando diz que ele é um leitor sim, e um leitor excelente,
porque sabe ouvir, sentir e pensar sobre o que ouve:. “Ler é, sobretudo, saber ouvir!”. De certa forma, Germain, desprezado pela mãe
amargurada, encontra em Margueritte uma mãe que lhe oferece a dádiva das palavras
para recontar sua história e finalmente
expressar sua sensibilidade e percepção aguçada do mundo. Quando Margueritte
começa a a perder a visão, é Germain quem irá ler para ela. Uma bela imagem da
dádiva da leitura. Pois, como diz Jim Trelease,
o maior presente que podemos dar aos que amamos resulta ser também o
mais simples: as palavras. Um feliz 2012!
Que possums todos ser portadores, mensageiros e receber belas e preciosas palavras no ano de 2012 !
ResponderExcluirHum, muito obrigado pela dica, Eileen... Vou dar um jeito de assistir o filme!
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