terça-feira, 26 de agosto de 2014

Jogos e Literatura - O que têm em comum?

               
            Este texto é destinado a pais e educadores das crianças e jovens da geração dos jogos virtuais, principalmente àqueles que se vêem desesperados, pois o filho/educando nunca terminou um livro com mais de 50 páginas, mas costuma passar o dia inteiro na frente do vídeo game.
             Não se desesperem! A literatura infanto-juvenil e os jogos têm muito em comum!
            É até possível dizer que alguns jogadores tiveram acesso a temas mais profundos e reflexões mais práticas através dos jogos do que alguns jovens que leem assiduamente e mecanicamente os best-sellers do mês.
            Assim como a literatura, os jogos podem ser mediados pelo educador. “Impossível! É muita violência! Sangue e explosões para todo lado!” vão dizer alguns ou “Nossa! Mas não tem nenhuma história ou sentido! São só cores aleatórias para todos os lados”. Mas, vamos dar chance aos jogos, podemos começar com uma questão simples: o que os jogos têm que atraem tanto os jovens?
            É o sentimento de liberdade? O sentimento de superação de limites que o jogo lhe imprime? É pela possibilidade de aprendizagem rápida de habilidades que serão necessárias para resolução de conflitos? A possibilidade de criar de desenvolver um mundo particular ou um personagem próprio, e vê-los crescendo e se desenvolvendo?

 Assim como a literatura, o jogo possibilita experimentação de diversos papéis sociais e estimula a empatia, e faz isto de uma maneira inovadora e muito eficiente. Nos livros de aventuras, você lê sobre e se identifica com o protagonista. Nos jogos, você é o protagonista responsável pelas ações e escolhas que vão conduzi-lo ao final do jogo. Jogos e livros estimulam vivenciar uma nova história de maneiras diferentes entre si, e por isso impactam o jovem de distintas formas.


Jogar vídeo game não se limita a apertar botões – embora seja difícil jogar sem apertá-los. Além do tempo de reação, é necessário saber: que botões devo apertar? Quando devo apertar? E o que vai acontecer quando apertá-los?
            É necessário pensamento estratégico. O jogador tem que identificar qual é o momento adequado para correr e quando deve esperar, tem que conhecer a si mesmo para saber quando é a hora mais apropriada para enfrentar o chefão. Além disso, deve saber economizar os recursos equilibrando a demanda e os investimentos, tirando o máximo proveito deles. O jogador, assim, é também um empreendedor!
            Outras habilidades estimuladas pelos jogos virtuais:
·         Raciocínio lógico: Reconhecimento de padrões sutis, sabendo relacionar ação e reação.
·         Trabalho em equipe: muitos jogos só podem ser concluídos com a formação de uma equipe, onde há sincronia nas ações e atribuição de diferentes funções para cada membro.
·         Visão das partes e do todo, análise dos fatores no contexto que estão inseridos e fora dele.
·         Preparação psicológica e treino de emoções para lidar com situações estressantes ou de risco.
É ingenuidade pensar que o que se aprende nos jogos se limitará sempre a este contexto. Um dos mecanismos de aprendizagem é a generalização, em que algo que se aprende em um contexto é transportado e adaptado para outras situações. E como facilitar este processo? Uma boa mediação! Através do diálogo com a criança/jovem, se pode chegar ao desenvolvimento de novas relações e novos significados ao que foi vivido nos games e na vida.
            Além de tudo, como a literatura, os jogos são uma forma de arte. Um jogo é fruto de trabalho em equipe plural e múltipla, exige treino e harmonia dos colaboradores para chegar a um produto final. Aos mais resistentes, fica a sugestão de olhar para um jogo como quem aprecia uma sinfonia: pense que, por trás de cada detalhe, havia uma equipe trabalhando.

            Por fim, alguém pode estar se perguntado: “Há como os jogos estimularem o hábito de leitura?”.  Acredito que sim, pois nunca conheci um jogador que não gostasse de uma boa história. Para os educadores, fica a dica de usar o jogo a seu favor. Atente para a história: é contextualizado historicamente? Usa personagens mitológicos? Procure deixar disponível a criança/jovens livros que informem sobre esses assuntos. Muitas franquias de jogos têm livros e outros materiais escritos que são do interesse do jogador por complementarem a história jogada ou desvendarem outros segredos do jogo. Faça essa pesquisa.
          Alguns jovens preferem os jogos por considerarem o livro demasiadamente estático e não desafiador, afina, a história já está escrita e terminada, ao contrário do jogo que você constrói e cria. Para estes jovens aconselho que os educadores procurem por livros mais interativos, do tipo que tem mistérios a serem desvendados para poder passar para o próximo capítulo, livros com mensagens escondidas ou livros que não têm uma ordem determinada de leitura.
           O mais importante, no entanto, é nossa postura. Nunca devemos obrigar o jovem a ler algo – aqui se encaixa o comportamento de chantagem por parte dos pais do tipo “ah, mas te dei o livro e você não leu!”. Enquanto a leitura for forçada, a leitura será desestimulante, por isso, paciência é a palavra chave. O jovem deve se sentir atraído pelo livro de maneira natural e espontânea, assim como é atraído pelos jogos e, a partir desse interesse, o educador pode mediar sua relação com os livros. 

Escrito por: Júlia Gisler