quarta-feira, 6 de abril de 2022

"É a promessa de vida no teu coração”¹

 


Paisagem do Brasil com rio fluindo entre árvores. As árvores formam uma espécie de tunel sobre as águas, e ao fundo vê se, iluminada, uma abertura insolarada, como se fosse o "fim do túnel".




E com o fim de março, um recomeço: retomamos formalmente as mediações do Livros Abertos. Houve uma importante reunião com as famílias para nos apresentarmos e falarmos do projeto. Contamos um pouco da nossa história e das ações de ensino, pesquisa e extensão que vimos desenvolvendo. Ouvimos as expectativas e sugestões das famílias, além de esclarecermos as dúvidas delas acerca do projeto.


Durante essa última semana do mês nos reunimos com as turmas de sexto ano do CEF GAN. Na terça-feira o encontro foi com a mediadora Gisell Diaz. Gisell levou o livro Eloísa e os Bichos  escrito por Jairo Buitrago com ilustrações de Rafael Yockteng. O livro trouxe situações que nos fizeram pensar nas mudanças que vivemos ao longo das nossas vidas e em como o incômodo diante do desconhecido faz parte do processo de aprender sobre o mundo e, principalmente, sobre nós mesmos. Os estudantes se sentiram refletidos pela história e compartilharam suas vivências. Foi uma mediação emotiva e de muita reflexão.


Quinta-feira tivemos três rodas simultâneas. Bianca Rogoski mediou o encontro com o conto Eric, do livro Contos de Lugares Distantes, de Shaun Tan. O conto trouxe reflexões sobre diferentes formas de pensar, interpretar e vivenciar o mundo, bem como a importância da empatia nas relações humanas. O engajamento dos estudantes foi intenso, com compartilhamentos de falas vindas do coração, tornando a roda de leitura dialógica emocionante!


Larissa Valente escolheu Uma escola lunática escrito por Lulu Lima e ilustrado por Jader de Melo. Uma história sobre sentimentos, aceitação e descobertas entre amigos de uma escola que recebe uma nova estudante um tanto diferente. Falamos sobre nossos próprios desafios ao nos depararmos com situações e lugares novos, sobre convivência e pertencimento. A participação das crianças deu ainda mais graça e cor ao enredo. 


E Raphaella Caldas mediou o livro Vira-lata, de Stephen King, para crianças do quinto ano. A experiência dessa mediação foi incrível, pois conseguiu trazer as crianças para dentro da história. Tivemos a oportunidade de conhecer os cachorrinhos de cada criança e ver como eles lidariam com situações em que a tristeza e o abandono estão presentes. Escolhemos nomes para nossos cachorros imaginários e compartilhamos nossas esperanças de todos terem um lar. A leitura é sempre uma ótima oportunidade de conhecer melhor as pessoas e se deixar conhecer. 


Na sexta-feira, encerrando a primeira semana deste retorno, Alice Lopes e Denise Mazzuchelli levaram Um garoto chamado Rorbeto de Gabriel O Pensador para a última turma. Rorbeto tinha mais que uma letra fora do lugar e menos que um “nome errado”. Essa história ritmada, como os raps do autor, trouxe, com leveza e poesia, possibilidades de reflexão acerca do que temos de diferente, do que experimentamos ao nos relacionar e ao assumirmos nosso lugar no mundo e nos espaços que ocupamos - as vilas em que vivemos, as famílias de onde viemos, as salas e escolas que frequentamos - literal e metaforicamente. O encontro nos trouxe o aconchego de boas conversas e possibilitou uma honestidade surpreendente para um primeiro encontro. Houve quem falou sobre as violências que sofreu, sobre o choro, sobre a dor e houve acolhimento dessas situações como parte de tudo o que nos constitui.


O retorno das mediações de leitura na última semana, no CEF GAN,  FOI EMOCIONANTE! Os alunos dos 6º anos participaram de um modo bem genuíno e envolvente. A escola também foi representada pela psicóloga Rogéria Bastos que fez a ponte entre a escola-comunidade e a universidade. Rogéria afirmou que “foi emocionante ver os alunos tão envolvidos e de certo modo, se identificando com trechos das histórias. O CEF GAN agradece o “Projeto Livros Abertos” pela parceria, e por fazer a diferença na vida dos seus estudantes”.


Nesse março que se fecha com sol e esperança, queremos oferecer-lhes um singelo presente: nosso tempo. Não o tempo do relógio, que se vende, se compra, se gasta e se mata, mas o tempo das histórias, que se dá, se compartilha, se multiplica e se vive.



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¹Trecho da música Águas de Março de Tom Jobim.