domingo, 27 de novembro de 2011

Diário do Contador por Laís Pires


Dia desses visitei uma livraria e fui direto na sessão de livros infantis. Fiquei chocada com os preços! E olha que alguns livros eu até já tive a oportunidade de ler e nem eram lá tão bons assim. Mas com o livro "O Pirata Nhac" o preço vale a pena!


"Um belo dia, o que vi quando estava a navegar?
Uma ilha de OURO no ingrato mar!
TRI-LI-LI, TRI-LI-LI. Vou achar um tesouro ali, 
TRI-LI-LI, um tesouro ali.
Mas há uma coisinha que esqueci de falar: 
Também tem um monstro vivendo por lá."

E foi assim que a trama se desenrolou. Fiquei impressionada em como as crianças de repente se voltaram todas para o livro e aparentavam estar petrificadas, tamanha era a atenção voltada para ele. Foi um livro que agradou tanto os meninos quanto as meninas - afinal de contas, quem nunca quis ser um pirata um dia?! A trama traz todos os ingredientes certeiros de uma boa história. É só aplicar nossas dicas de leitura dialógica que fica ainda mais interativo.

E dá vontade de ler várias vezes!

sábado, 26 de novembro de 2011

Coluna do Colaborador por Adriana Rezende Dias

(Imagem por Alejandra Karageorgiu)

Falamos muito aqui de leitura dialógica e das experiências maravilhosas que cada um teve com o seu grupo de alunos. Mas pouco é dito sobre o quanto isso reflete na vida de cada um de nós. Mais especificamente em nosso pensar, em nosso refletir e ouvir o outro.
Cada um já parou para pensar como a leitura dialógica e compartilhada nos possibilita um olhar mais colorido? Um maior discernimento em relação às possibilidades e significações que a língua portuguesa e a literatura nos proporcionam? E o quanto isso cada vez mais está sendo ignorado, desprezado mesmo?
Mas sabem de uma coisa? Na verdade, cada vez mais me espanto com o descaso que os professores, em especial, vêm tendo com a língua portuguesa. E, não pensem vocês que vou falar da gramática ou do uso correto dela. Isso é de importância fundamental, sem dúvida, principalmente para um professor, mas o que mais me assombra é um descaso muito maior do que esse. É o verdadeiro desprezo com o significado das palavras e o descaso primordial com o ouvinte. Como se falassem para seres sem subjetividade – não sujeitos.
Particularmente, não sei o que ocorre na cabeça de um professor que enuncia que “Quem conversa em sala de aula vai ficar burro”. Acredita que irá diminuir a conversa em sala de aula, pois os alunos terão medo de ficar burros? Ou a aula do professor de repente irá se tornar mais interessante?
Talvez se pudesse recomendar a leitura de Pinocchio, com particular atenção ao trecho do parque de diversões versus ir à escola... Bom, não sei se seria o caso, pois a questão não se reduz a isso – infelizmente.
A questão se estende quando o professor anuncia: “Viu, vocês acham que divisão é difícil? Pois na 5a. série vocês vão aprender fração que é muito mais difícil! Não estudem para ver só…!" Qual é a intenção? Que os alunos desistam da escola? Ou que magicamente compreendam aquilo que o professor não consegue explicar?
Há ainda outras pérolas: ”Vocês deixem o caderno no armário que estou cansado de receber recadinho de pais dizendo que não fiz correções!” O que o professor pretende com isso? Porque não diz diretamente aos pais que não aceita intervenções em suas falhas educacionais?
E piora quando, em uma experiência de ciências “montada” com toda a turma, solicita que a classe levante hipóteses do que irá acontecer com o experimento. Ao solicitar à classe que formule hipóteses, um aluno afirma que do experimento surgirá um mutante. A professora aceita escrever a hipótese no quadro apenas para que ele fique calado!!! Não compreendo... Com certeza não poderia ser professora dos filhos de Ridley Scott, Barry Sonnenfeld ou Steven Spielberg…
Enfim, Postman está certo ao enunciar o fim da infância (leiam o texto de Katsumi Takaki) afinal, não só desacreditamos que a criança tem seu espaço como estamos desacreditando nelas como Sujeitos, portadores de subjetividade, capazes de refletir, pensar e questionar.
Mandar uma criança aos gritos sentar-se em sua carteira simplesmente porque ela se levantou com um livro de literatura na mão para fazer uma pergunta de vocabulário à professora (que estava também sentada…), na “hora errada”, não é visto como assédio  nem como exemplo do mais novo conceito da educação – bullying. É disciplina! O certo é que disciplinou a aluna a nunca mais fazer perguntas à professora sobre vocabulário.
Dizer aos alunos ao entregar as provas “Quem não tirou 10, é só se esforçar mais que vai conseguir” é prova de carinho ou de bullying ou mesmo desprezo com os que mesmo se esforçando não conseguiram tirar 10? E não conseguiram por várias razões, afinal as provas elaboradas no ensino fundamental ….ah…isso? Vamos deixar para outra vez...Pois até prancha de Rorschach (aquele teste psicológico de personalidade, já ouviram falar?) virou desenho de arte em prova de matemática!!
A jornalista Leonor Macedo questiona em seu blog (eneaotil.wordpress.com) a questão do Bullying realizado pelo professor, e o que parece universal (ao menos nacional…) é que se você comenta com o professor ou pergunta qual foi a intenção dele/a ao dizer tal coisa é que ele/a responde que isso jamais aconteceu! O que aconteceu então? Será a criança então que ganhou uma capacidade para criar um mundo de ficção de terror no momento em que a mãe pergunta: “Como foi a escola hoje?”?
Realmente, as palavras, meus caros, não têm mais significado, elas estão sendo jogadas ao vento. Há dias que vejo coisas como uma avaliação de escola corrigida com descaso (ou seria com raiva?) ou ouço determinados relatos de minha filha e tenho a sensação de que estão dando descarga com a língua portuguesa! Logo a minha querida e amada língua materna…
Falar sobre leitura é realmente uma tarefa para poucos. Parabéns a todas vocês que encerram esse ano com esse trabalho lindo e possibilitam um pedaço de paraíso a essas crianças que devem travar lutas diárias para conseguir sobreviver em suas salas de aula!

Adriana Dias

domingo, 20 de novembro de 2011

Diário do Contador por Laís Melo

                  A última contação trouxe à tona uma boa discussão com as crianças. Como de costume, levei três livros para que cada grupo escolhesse qual deles preferiam. Mas, quando lia com o primeiro grupo eles vieram com tantas idéias que decidi ler nos outros grupos também. Li o livro “O direito das crianças”, que foi escolhido pelos aniversariantes do dia, como decidido pelas próprias crianças. Achei engraçada a reação deles quando mostrei o livro, eles acharam um pouco estranho, fizeram uma cara de “hã, como assim?”. Isso representou bem pra mim a forma como lidamos com as crianças, deixando sempre bem claro os seus deveres, mas deixando de revelá-las também, que como qualquer outra pessoa, elas têm direitos. Dessa forma, podemos também nos questionar sobre como geralmente não trabalhamos de forma correta a autonomia.
                Quando ainda apresentava o livro, perguntando o que eles achavam do tema e se eles sabiam alguns direitos que tinham, eles começaram um brainstorm que até me assustou. Resolvemos, então, fazer uma lista de direitos que eles tinham. Apareceu de tudo, desde “O direito a pedir presentes caros no Natal” até “o direito de mexer no computador do meu pai”.
                 E, então, surgiu outra questão: todas aquelas sugestões eram direitos? Comecei a debater com eles se tudo que gostaríamos de fazer era um direito. Alguns misturaram deveres com direitos também. No fim, não conseguimos chegar a um consenso, mas debater já é um começo.
                 O livro foi importante para direcionar o que eram esses tais direitos. Ao ler, eles tentavam descobrir, ao olhar as figuras, o direito que cada uma representava. Foi muito legal, porque em algumas figuras, eles descobriam outros direitos que não estavam no livro. Para complementar, eles ainda exerceram seus direitos ao escolher o lugar que gostariam de ler. Eles escolheram o parquinho. Tivemos que rever os direitos, porque eles se empolgaram muito com a idéia e esqueceram-se de alguns deveres. Mas, na medida do possível, tudo deu certo no final...
               Nessa contação achei legal a forma como o livro possibilita que nós possamos tratar de temas que às vezes deixamos de lado, mas que são muito importantes. 


sábado, 19 de novembro de 2011

Diário do contador por Katsumi Takaki

Confesso que hoje (18/11), a contação com as crianças não foi das melhores. O livro se chama Toupi Toca, de David McPhail. Conta a história de uma toupeira que morava sozinha embaixo da terra, mas que começou  sentir um vazio dentro de si. Toupi vê um violinista pela televisão e o belo som que o instrumento produz, e resolve encomendar um violino e aprender a tocá-lo sozinho. 


A estória vai caminhando, mostrando as suas habilidades serem aprimoradas ao longo do tempo e embaixo da terra, em sua toca, Toupi começa a produzir um som tão bom quanto o do violinista da TV. Ele foi preenchendo com a arte aquele vazio que sentia .
As figuras do livro são lindas! Foi o que mais me chamou a atenção. Não mostra apenas a personagem e o seu violino, no seu mundinho. Quem está no mundo de cima, começa a sentir os efeitos da música de Toupi. Ele imaginava que seus sons alcançavam reinos distantes e acabava com a guerra entre eles, por exemplo. Mas o que ele não sabia que fato  é que essas mudanças ocorreram mesmo, e que a música pode ter esse poder.


Mas como falei, as crianças não gostaram muito. No primeiro grupo elas estavam muito agitadas, e tudo virava  motivo para dispersarem. O livro não tinha muita coisa escrita, mas as imagens são muito bonitas e complementam o texto de tal forma que sem elas a leitura seria incompleta e pobre. As crianças ficavam impacientes quando íamos para as imagens, querendo logo mudar de página. Entretanto, não via neles uma ansiedade para ver o que ia acontecer depois,era simplesmente para que o livro acabasse de uma vez. O segundo grupo já participou um pouco mais, mas não consegui captar a atenção deles por muito tempo, mesmo depois de muitas tentativas de fazer uma conexão entre o que eles falavam com aspectos da estória. É um pouco desanimador quando você escolhe um livro que não os prende, mas fazer o que..gosto é gosto!



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Diário do Contador por Raquel Coêlho


    
Em um reino muito distante chamado Aeroplano existia uma menina que amava histórias e ela gostava tanto delas, mas tanto que não queria guardá-las para si. Então entrou para a Irmandade dos Contos, esse era um grupo de meninas parecidas com ela e todas aceitaram participar de uma grande aventura. Elas fariam uma longa jornada para visitar os duendes que viviam em uma caixa gigante perto de um bosque. Sua missão era contar histórias e conversar sobre essas. Tudo ia muito bem, até que... Todos os contos que ela conhecia foram roubados!Ela ficou arrasada e foi falar com o mestre dos contos, ele explicou que existem criaturas especialistas nisso, que roubam todas as histórias legais e no lugar delas deixam livros em branco! Mas é impossível prendê-las, pois são invisíveis! E nossa, como a menina ficou triste! Queria contar histórias mágicas para os duendes, mas não sabia como encontrá-las.


Livros encontrados no lixo.
Ela estava pensando nisso, quando sua mãe pediu que levasse o lixo para fora e como ela estava muito desolada deixou cair uma lágrima na lixeira. Então algo mágico aconteceu! Dentro da lixeira surgiram livros, vários livros antigos cheios de histórias! Histórias de tempos remotos, da Era das Fadas! Ela salvou esses livros dos perigos do Mofo, monstro que destrói letras, e prometeu distribuir suas histórias na terra dos duendes.


    Essa foi a minha história. Eu estava com dúvidas na escolha dos livros e perguntei para as crianças o que elas mais gostavam, elas responderam contos de fadas. Contudo, na minha procura por esses encontrei livros muito pobres, quase vazios. E um dia fui levar o lixo para fora quando vejo que minha vizinha havia jogado fora vários livros de uma coleção antiga, cheio de contos para crianças! Fiquei feliz e ao mesmo tempo chocada! Como se pode jogar fora tantas terras incríveis, personagens corajosas, histórias fabulosas?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Diário do Contador por Larissa Araujo

 

O tema do livro dessa semana gerou reações nas crianças que me fizeram refletir. Algo tão humano e natural é, para elas, sinal de fraqueza, imaturidade e covardia. O livro “Alguns Medos e Seus Segredos” de Ana Maria Machado aborda o medo de uma maneira hilária e fluida. Segundo a autora “Todo mundo tem seu medo, cada um tem seu segredo. Quem parece sempre forte, no fundo é meio sem sorte: tem que agüentar bem sozinho, sem ajuda, nem carinho”. Mesmo lendo uma historia mostrando a perspectiva de que todos sentimos medo as crianças negaram o tempo todo que o sentiam. “Tia eu não sinto medo”, “Nem eu tia, eu também não tenho medo de nada”. Revelei a elas que eu sinto medo de muitas coisas dentre elas de cachorro e de ladrão, mesmo assim, continuaram afirmando que não sentem medo de nada. Sai da contação pensativa, então me lembrei de aspectos da realidade das crianças e jovens que provavelmente estão relacionadas a essa negação do medo.  Elas são levadas a interiorizar seus medos, não demonstrar suas “fraquezas” até porque, para a sociedade, não são mais bebês, e gente grande não tem medo de nada. Principalmente os meninos, os que mais faziam questão de demonstrar sua “coragem” durante a contação, são bombardeados com frases do tipo: “Homem que é homem não tem medo”. “Desse tamanho e ainda sente medo do escuro?”. “Você não pode sentir medo, é o homem da casa, tem que cuidar das suas irmãs”. Esconder o medo é comum, até adultos negam temer, porém, tal atitude, nem sempre traz benefícios. 
A criança se esconde atrás de um personagem super poderoso que estrangula o vampiro, encara a cobra que está para dar o bote, faz um mortal e tira a arma do ladrão. Se levarem o que dizem a sério e começarem a não temer coisas reais que geram situações de perigo, essa coragem é extremamente maléfica. Por outro lado, se estiverem dizendo da boca para fora que não tem medo e não forem capazes de assumir perante outras pessoas que sentem medo elas dificilmente pedirão ajuda na hora em que estiver em uma situação tenebrosa. No final das contas as crianças saem perdendo com essa pinta de adultos, acabam tendo que enfrentar sozinhas situações ruins que poderia ser mediadas por terceiros. Essa coragem inventada é espelho da verdadeira fraqueza semeada pela sociedade e encontrada nas crianças, o medo de assumir que tem medo.  

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Autores com quem contamos: Cecilia Meireles

        


            Hoje, 7 de novembro, a poetisa Cecilia Meireles completaria 110 anos de vida. 
          Criada pela avó materna no Rio de Janeiro, Cecilia sempre demonstrou especial atenção às palavras.  Aos nove anos escreveu seu primeiro poema e aos dezoito, o primeiro livro. Sempre encantada pelas palavras, foi jornalista, pintora, poetisa e professora.
           Um dos poemas mais clássicos da literatura infantil brasileira chama-se "Ou isto ou aquilo", de Cecilia. Uma coletânea de poesias infantis com o nome do poemacriadas por Cecília Meireles foi lançada e já está em sua 6a. edição. O livro também possui poemas como "Leilão de jardim" e "A Bailarina".
       "Ou isto ou aquilo" foi meu primeiro contato com a poesia. Quando estava na segunda serie (equivalente hoje ao terceiro ano), declamei "Leilão de jardim" para meus colegas em uma apresentação. Foi algo muito difícil por causa da minha timidez e também por que envolvia decorar as falas. Até hoje sei as frases de cor!


OU ISTO OU AQUILO

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.




Encontrei aqui o livro para compra pela internet.



Diário do contador por Raíssa Dourado


Estamos na quinta semana de leitura da adaptação  do livro “20.000 léguas submarinas” de Júlio Verne, das quais nossos personagens já percorreram 9600, parece pouco, mas a história já se aproxima do fim, após enfrentar ataques de navios, tubarões antropófagos, cemitérios submarinos e até ostras gigantes, as crianças estão ansiosas pelo que mais vão encontrar os viajantes do submarino Nautilus.
Um recurso que tenho explorado bastante durante essa contação em especial, é um globo terrestre que tem disponível na biblioteca da escola, através dele vou ilustrando a rota percorrida pelo submarino Nautilus e quando me perguntam a respeito de algum animal marinho citado na história, recorro aos desenhos animados, por exemplo, o Bob Esponja e o Pica-Pau, que por fazerem parte da realidade deles, me ajudam a demonstrar a situação e o ambiente em que os personagens estão envolvidos.          
Com a escolha desse livro pude tirar duas lições, a primeira é que, após passarmos por narrativas simples, fábulas e até contos de fadas, com esse tipo de gênero (aventura) as crianças se interessam muito mais pela história, que é cheia de mistérios e ação, e participam muito mais dos diálogos,  a segunda é que escolher um livro grande que leve muitas semanas na mesma leitura nem sempre é uma boa opção, corre-se o risco fica cansativo e deixar as crianças entediadas, algumas querem ouvir a história até o fim, outras querem trocar o livro, alguns pedem até pra recontar um livro que já foi lido (O catador de pensamentos) e vamos negociando até acabar a história.

domingo, 6 de novembro de 2011

Diário do contador por Katsumi Takaki

Na contação de hoje (04/11) levei dois livros para as crianças escolherem qual iríamos ler. Nós, do Livros Abertos, fomos avisados que as crianças poderiam estar mais dispersas durante a contação ou não demonstrassem muito interesse em participar.  No final da semana passada (27/10) faleceu uma funcionária da escola, que tinha muito contato com os alunos. Então poderia ser que eles trouxessem o assunto da morte para a roda de leitura, estivessem tristes ou um sentimento de saudade. E por isso levei Contos de enganar a morte, de Ricardo Azevedo e Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias, de Ruth Rocha. Em todos os grupos as crianças se interessaram pelos dois livros, em especial o que tratava da morte. A capa de Contos de enganar a morte chamou muito a atenção das crianças, por ser preto e branco e ter um esqueleto na frente – além do fato do tema do livro. Surpreendi-me com as risadinhas que surgiram quando eu mostrei a capa e o título do livro. Lemos dois contos, O homem que enxergava a morte e A quase morte de Zé Malandro.
Apesar de ser um tema um pouco evitado, as crianças gostaram muito das estórias. Em nenhum momento me pediram para parar ou expressaram algum sentimento contrário ao que estava sendo lido. Um dos muitos pontos positivos do livro é o fato de se permitir ver a morte com outros olhos, de escutar a sua versão sobre o que ela faz com as pessoas. “Já estou acostumada a ser maltratada. Em todos os lugares por onde ando as pessoas fogem de mim, falam mal de mim, me xingam, me amaldiçoam. Essa gente não entende que não faço mais do que cumprir minha obrigação. Já pensou se ninguém mais morresse no mundo? Não ia sobrar lugar para as crianças que iam nascer!”.

Creio que a leitura do livro permitiu às crianças verem a morte interagindo com suas “futuras vítimas” e não uma entidade que vem e leva um ente querido embora. Além disso, o tema é tratado de forma mais lúdica, em que as personagens enganam a morte diversas vezes e de diversas formas. Outro diferencial é a fala de uma das personagens quando a morte se oferece para ser a madrinha do seu filho. “O homem não pensou duas vezes: ‘Aceito. Você sempre foi justa e honesta, pois leva para o cemitério todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres.’” Houve um momento em que discutimos sobre a morte ser boa ou má. Ouvi um "Ai, tia, é claro que ela é má. Ela tira você de perto de quem você gosta, te leva embora". Acredito que muitas vezes os adultos projetam esse medo nas crianças porque a morte é uma incógnita, um mistério para muitos. E não saber o que acontece depois é algo inquietante, muito inquietante.

sábado, 5 de novembro de 2011

Diário do contador por Malu Engel

  
        

         Devido a problemas com bagunça excessiva sofridos na semana passada, resolvi mudar um pouco minha dinâmica de contação. Assim que adentrei na sala, sugeri para os meninos que refizéssemos os grupos de leitura e que eles mesmos escolhessem os integrantes, dessa vez. Claro que ficaram animadíssimos, e dividiram-se em 3 grupos de 4 membros cada um. Pronto. Hora da contação! E lá fomos nós, em busca de algum lugar vazio para se acomodar, posto que naquele dia a escola estava disputadíssima; a dizer, todos os habituais lugares, biblioteca, sala de apoio e pátio, encontravam-se ocupados. Conseguimos então uma espremida e abafada sala de reuniões, que mesmo não sendo o melhor dos espaços, era ao menos silenciosa. 
         Fora o calor, o resto da tarde seguiu tranquilamente e eu senti um envolvimento maior por parte dos meninos. De um modo geral, percebo que estão bem acompanhando a história e demonstrando bastante interesse pela continuação - todo fim de leitura estou rodeada de curiosos querendo saber o que acontecerá nos próximos capítulos, ou melhor, dias, já que estamos fazendo a leitura de um diário. Enfim, foi isso! Me perguntando quais serão as aventuras da próxima semana...

Diário do Contador por Mariana Kirschner



“Eram dois compadres: o Zé e o Mané.
Aí, o Zé disse pro Mané:
- Olha, compadre, não vá levar a mal, mas eu acho melhor dividir a terra. Daqui pra cá é meu. Daqui pra lá é seu...
Mané gostou da idéia:
- Combinado, compadre...
E tudo ia às mil maravilhas.”

Ironicamente, a continuação do livro Enquanto o Mundo Pega Fogo, de Ruth Rocha, se assemelha muito as minhas duas ultimas contações:








“ (...) e os dois discutiram. Brigaram. Se pegaram de tapa! E o incêndio foi crescendo. Crescendo...”










Em vários grupos eu tive dificuldade em lidar com as discussões e brigas que surgiam durante as contações. Sinto que foi como uma bola de neve, ou no caso, um enorme incêndio. 
Elas já chegavam muito agitadas. Estava muito abafado, fazia calor. Uma discussão começava, depois um chute inesperado, um xingamento. Quem queria ouvir a história se aborrecia, ficava dispersa. E eu, tentando chamar a atenção, parar as brigas e continuar a história pra quem queria ouvir. Fiquei perdida e cansada.

Busquei várias alternativas:
1.   Brinquei falando que eles estavam muito mal-humorados, todo mundo stressado!
2.   Contei pra alguns grupos que havia tido brigas, e eles prometeram que ficariam tranqüilos, e até me ajudaram a monitorar alguns impasses durante as contações: “ óóó, cuidado que assim vai dar briga!”
3.   Falei pros “briguentos”, que eles não precisavam ouvir a história, podiam voltar pra sala de aula.
4.  Contei a história mais alto, ignorando a briga.
5.  Tentei a dialogicidade da coisa: “ E agora, o que será que vai acontecer... Ei, pessoal, o que vocês fariam...”
6.  Parei a contação e olhei nos olhos dos que brigavam, tentando conversar e ver o que estava acontecendo.
7.  A minha ultima saída foi passar a bola pras crianças se resolverem. Perguntei pros que queriam ouvir a história: “ Vocês já falaram pra el@s que não estão gostando, que  a briga esta atrapalhando?  Então falem, as vezes ninguém  percebeu ainda.”

Ainda não sei qual é a melhor forma de lidar com as brigas e discussões que surgem durante as contações, apesar de achar que cada caso pede uma maneira singular de resolução.                                                                              
 Agradeço o post Bia, que me confortou, devido o seu final feliz !
Gostaria de saber mais sobre como outros contadores lidam com isso !!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário do contador por Ana Beatriz Novelli



         Hoje, dia 3 de novembro, decidi fazer um pacto com as crianças. Após a turbulenta sessão da semana passada, falei com a professora e ela me ajudou a separar os grupos novamente.
        Queria explicar às crianças o que tinha acontecido na contação passada, obviamente desagradável a todos. Propus a todos (assim que sentavam para a leitura do livro) um pacto: quem não quiser prestar atenção na história não é obrigado. Quem não tivesse a fim de ler podia ficar no cantinho fazendo outra coisa desde que não atrapalhasse quem quisesse ouvir as histórias. O pacto foi bem recebido e selamos com um "sim" coletivo. Assim voltei a ler  o livro "Vinda com a neve" com o primeiro grupo. Recomeçaram as reclamações e aquilo pra mim foi a gota d'água. Exclamei bem alto: "vamos todos a biblioteca! Vamos achar um livro bem legal pra lermos". E esse foi o fim do meu sonho de ler "Vinda com a neve" para as crianças. Ninguém pode dizer que não insisti!
          O primeiro grupo escolheu após uma votação um livro ritmado muito interessante chamado "A moça e a mosca", de Angela Leite, cheia de versinhos e trava-línguas. Descobri com esse livro a melhor dica de todos os tempos: leitura compartilhada! Com a ajuda de todas as crianças, cada uma lendo um versinho, conseguimos terminar o livro todo com muitas risadas. O conteúdo da história em si não oferecia muito de enriquecedor às crianças, mas os trava-línguas... Esses sim apresentavam um desafio gigantesco!
           Ainda deu tempo de ler outro livro, também de forma compartilhada, chamado de "Mamãe nunca me contou", de Babette Cole. Esse livro não possuía história - todas as frases eram compostas de perguntas como "por que alguns adultos têm cabelo nas orelhas e no nariz, mas nem um fiozinho na cabeça?" e "por que algumas mulheres preferem se apaixonar por mulheres e homens namoram outros homens?". Senti que esse livro oferece um potencial de debate fantástico, mas não conseguimos explorar todas as ideias que ele trás por falta de tempo. Vale a dica de leitura!
           O segundo grupo, também levado à biblioteca atrás do exemplar perfeito, quis ler apenas o livro de Babette Cole. Dessa vez conseguimos aprofundar um pouco mais no livro e muitas crianças trouxeram suas experiências pessoas para o debate.
     O terceiro grupo escolheu um livro diferente quando levado à biblioteca: "Murucututu, a coruja grande da noite", de Marcos Bagno. O livro é bem legal, mas o que atraiu mesmo a atenção de todos foi o nome Murucututu. Ficamos um bom tempo tentando falar várias vezes esse nome sem errar. Foi difícil. Dessa vez eu li sozinha, mas recebi a atenção de quase todos os presentes. No final também lemos o livro de Babette Cole.
         O quarto grupo não queria saber de leitura. Quando eu comentei sobre o pacto uma menina perguntou se ele já estava valendo. Quando eu disse que sim houve uma debandada geral pro lado dos fantoches e não sobrou ninguém para a contação. Não quis me deixar abater e criamos na hora uma história com dois tucanos fantoches (Gabi e Tomás) que fugiam dos caçadores e ganhavam a disputa pela liberdade.
       O quinto grupo preferiu ler Murucututu também. Eu li sozinha e nós foliamos rapidamente o livro de Babette Cole por falta de tempo.
        Percebi uma grande melhora na atenção de todos com essa nova estratégia da leitura compartilhada. Os alunos ficam ansiosos para ler sua parte e prestam mais atenção no que o colega lê. Por enquanto vou continuar utilizando essa técnica que se mostrou bem sucedida. Espero que meu relato tenha encorajado àqueles que pensam em desistir por causa do caos criado pelas crianças às vezes. Na maioria dos casos vale a pena insistir. O abraço de agradecimento após uma boa contação consegue ser melhor do que todos os estresses juntos e potencializados em um milhão. :)

Final feliz!


Diário do Contador por Ana Beatriz Novell





         A contação do dia 27 de outubro, quinta-feira passada, foi o caos total. Após passarmos um longo período explorando os contos organizados por Ana Maria Machado no livro "O Tesouro das Virtudes para Crianças 2", resolvi andar um passo a frente e escolher um livro de prosa (grande, se comparado com os contos que estávamos acostumados) para explorarmos.
         Vasculhei a biblioteca atrás do perfeito exemplar. Achei um livro singelo e bonito chamado "Vinda com a neve", de Odette de Barros Mott. Por ser um livro que conta a história de um ambiente bem diferente do que estamos habituados, achei interessante discutir com as crianças o que seria a neve, como deve ser o gosto dela, como as pessoas que vivem na neve se comportam, etc. Outro aspecto interessante desse livro é ele se passar na China, um local ainda pouco conhecido por pessoas de oito anos de idade.
         Pensando nesse desconhecimento geográfico, peguei o globo terrestre que ficava ali perto dos livros na biblioteca e apresentei-o aos jovens leitores. Má decisão. O globo foi a maior sensação (bem maior do que o livro, diga-se de passagem) e eu fiquei a ver navios enquanto as crianças de divertiam jogando o globo pra lá e pra cá, sentando nele, girando-o e parando com o dedo aleatoriamente até encontrar o país que morariam no futuro (Rússia foi o preferido). Precisei de muita calma e persuasão pra fazê-los esquecer um pouco do globo e prestarem atenção na história que ainda nem tinha começado.


         Vi desde a primeira linha que ninguém queria ler sobre a menininha deixada na porta da casa de uma família chinesa na neve. Com o passar do tempo fui desanimando. Não conseguia controlar as guerras de colchonete e nem a falação ininterrupta de todos ao mesmo tempo. Fiz de tudo pra chamar a atenção deles pra história mas nada deu certo. No final da contação eu estava tão desanimada e chateada com a aparente falta de interesse dos alunos na história que tinha escolhido com tanto amor que quando começaram a falação e as brincadeiras de mal gosto decidi voltar para a sala, sem nem contar uma linha.
        Percebi nesse dia que levei inocentemente o desinteresse das crianças pelo livro como uma afronta pessoal ao meu trabalho como contadora. Achei, com a maior certeza do mundo, que as crianças me odiavam e que não gostavam de mim e que estavam fazendo graçinha com a minha cara e por isso não paravam quietas e queriam me irritar. Após uma análise, percebi que isso não tinha nada a ver. Às vezes até mesmo a gente fica de saco cheio das coisas e quer só extravasar. Como crianças são crianças, o jeito delas é ficar meio doidas.
         Já na próxima contação tudo mudou...  

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Diário do Contador por Ana Carolina Maia


    Na última contação, as crianças estavam bastante dispersas. Todos queriam contar como havia sido o dia das crianças e o que haviam ganho, até que eu mostrei o título do livro que havia escolhido para compartilhar, que antes, não havia sido ao menos interrogado pelas crianças. No título havia uma palavrinha quase mágica, que chama a atenção de qualquer criança e promove alguns risos e feições sapecas. O título era: "Quem soltou o Pum?"

  O livro  que antes estava quase sendo ignorado devido aos inúmeros assuntos que ocorriam  na rodinha, passou a chamar a atenção de todos. Uns riram, outros arregalaram os olhos quando ouviram a palavra, outros ficaram inclusive chocados com a contadora falando uma palavra não muito aceita pelos adultos e considerada uma falta de respeito.

 Exploramos a capa do livro, que não continha nenhum sinal de pum. Havia um cachorro com um garotinho. Então eles começaram a participar: uns diziam que o cachorro que devia ter soltado o pum, outros diziam que o menino que devia ter soltado. Então eu fiz um breve comentário a respeito de como eles escreviam o nome deles, se os nomes iniciavam com letra maiúscula ou minúscula. Todos concordaram que era com letra maiúscula e depois disso, um deles contribuiu: - Então Pum não é um pum! É um nome!
  


E a partir disso começaram a especular quem teria o nome Pum. Eles concluíram que era o cachorro da capa e logo quiseram abrir o livro para ver a história.
  
 O livro contava a história de um menino que tinha um cachorro que se chamava Pum. Os pais do menino e os demais adultos da história não gostavam quando o menino soltava o Pum. O Pum às vezes fazia barulho e quando tomava chuva ficava com um cheiro esquisito. Mas, mesmo assim, o menino adorava soltar o Pum!
  
 Falamos sobre bichos de estimação, sobre broncas dos adultos e sobre as atitudes das pessoas quando soltávamos puns.
 Perguntei a eles por que eles achavam que soltar pum era algo desrespeitoso. Uns disseram que era porque fedia, outros porque fazia barulho, outros porque pum era relacionado com ir ao banheiro, uma criança inclusive questionou que se pum era uma coisa que todos faziam, por que considerar ele uma coisa proibida?
  
  Após essa conversa sobre um assunto acerca do qual quase não se conversa, as crianças espontaneamente se transformaram em  cachorros! 
  Andavam de quatro com a língua para fora da boca, latiam e farejavam as coisas.
  Interagi com os cachorrinhos e levei-os de volta para a sala.