quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Capítulo 90


Você é um leitor? Perguntinha sem vergonha essa, né?! Na maioria das vezes a resposta deixa a gente meio desapontado. Dizer que sim pode soar meio pretensioso, e você raramente está satisfeito com o seu nível de leitura. Dizer que não é deixar de levar em conta todas as suas leituras passadas, e isso parece um pouco radical.
O porquê dessa pergunta vem para eu realmente introduzir o assunto desse texto, que é: que tipo de leitura você gosta de fazer? Pergunto isso para começar a refletir, não no gênero que você gosta de ler, seja ele qual for, mas se você enxerga algumas oportunidades das quais eu, particularmente, gosto.

Adivinha quem esta tendo uma viagem mais divertida.
Sabe aquele tipo de gente que fica atrás de você vendo tudo que você faz quando está em frente ao computador (típico problema de cidadão do primeiro mundo! rs)? Pois é, eu sou esse tipo de gente quando alguém tem um livro! Não me entendam mal, eu não fico constrangendo ninguém, é que quando eu estou no metrô ou nalguma fila, e alguém esta lendo perto de mim, minha curiosidade pela leitura dele cresce por uma razão desconhecida. Então, bem disfarçadamente, eu dou uma esticadinha no pescoço e começo a ler a exata página em que ele está.

Chamo isso de uma leitura de oportunidade. De forma alguma eu tenho intenção de dizer que li tal livro ou criticar a leitura da pessoa, mesmo porque depois eu raramente lembro-me do fragmento do texto da página, sei lá qual, em que a pessoa estava naquele dia. Mas eu sinto que o gosto literário diz muito a respeito de quem você é, ou do que você se identifica. É como conhecer um pouco esse estranho sem dizer nada.

Já li algumas cartas do Nelson Mandela que um provável funcionário publico/administrador estava lendo, um livro de dez dicas de como estimular as pessoas no ambiente de trabalho, trechos de 50 Tons de Cinza que uma mulher estava lendo, que eu achei bem típico, pois esta é uma leitura que muitas mulheres atualmente estão fazendo, já li diversos quadrinhos, algumas paginas de José Saramago, outras de Carl Sagan e, bem recentemente, um senhor de aproximadamente cinquenta anos estava lendo um livro sobre magos arcanos. Eu ainda acredito que o livro era do neto dele de 13 anos, porque não é bem essa a faixa etária que esse livro geralmente atende. Sem preconceitos, claro.

Por favor, não vá ficar grudado(a) nas costas de alguém com um livro pra ler o que ele(a) esta lendo por que eu disse não, hein! Você pode acabar fazendo papel de maluco(a) com isso. Mas fica a reflexão de oportunidade... Vai que você pega alguma dica de leitura com essa observação, ou dá aquela cantada no(a) gatinha(o) só por que você já leu o Game Of Thrones que está na mão dele(a) e está doido(a) prá contar o final do livro, só prá começar uma conversa descontraída?!

O bom da leitura é que basta ter um coração aberto pra apreciá-la, faço essa leitura oportunista por curiosidade e quem sabe um dia ver aquela garota com um livro que seja o volume completo e na língua original com as notas do autor, ela pode ser a escolhida. 

Mas de uma coisa eu sei, o garoto que estava na última cadeira do ônibus da L2 norte, que estava no capítulo 90 do novo livro do Dan Brown, Inferno, eu estava gostando muito de sua leitura! Fica a dica, se não pode ser o stalker, seja o leitor.


BoscoJoao ;)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bem mais que um "brincar de boneca"!


Olá a todos e todas! Como estávamos de férias da faculdade, fui viajar pelo meu Goiás. Passei uns dias na fazenda de uma amiga em Aruanã, por onde o Rio Araguaia faz atalho. Lá perto tem umas aldeias indígenas do povo Karajá chamadas Buridina e Bdè-Burè. Não cheguei a conhecer pessoalmente, porém, fiquei numa baita curiosidade. Na casa onde fiquei tinha um boneca grávida muito linda, parecida com a da foto ao lado, que foi produzida pelas mulheres dessas aldeias. Minha amiga me contou que as mães dão às suas filhas para elas brincarem e ao mesmo tempo aprenderem sobre “coisas da vida”, como de onde vem os bebês (lembrei-me da conversa que tivemos em sala, sobre a aluna que também teve essa dúvida e perguntou à uma das contadoras).



Pesquisei mais a respeito quando voltei para Brasília e descobri que há bem mais peças de bonecas do que eu pensava. 
Vou reproduzir alguns dos textos que achei: 

"Aos cinco anos de idade, a menina Karajá ganha uma família de bonecas de cerâmica. Em uma sociedade ocidental, o conjunto seria como o 'primeiro material didático'. Mas para os Karajá, esses artefatos vão além disso e preparam a criança para realizar a passagem do mundo infantil para o adulto, transmitindo os valores e costumes da tribo."

"Dependendo da ceramista, pode representar o modelo da família nuclear, com cinco a seis peças, ou ser mais completa, com um elenco maior de onze ou mais figuras, representando a tipologia da família extensa, composta pelos avós maternos, pais, irmãos e outras crianças da comunidade. Algumas cestas podem vir acompanhadas de bonecas industrializadas de plástico que representam os não indígenas (Tori). Os brinquedos acompanham as meninas até a fase de transição para a idade adulta, caracterizada pela menarca."

A antropóloga Sandra Lacerda Campos da USP foi quem percebeu o papel simbólico dessas bonecas na sociedade Karajá, e de que forma a organização cultural e a cosmologia é transmitida às crianças por meio desses artefatos. 
Campos explica que "a partir da análise de uma família de bonecas é possível perceber nove fases da vida de um indivíduo Karajá, seis delas apenas na infância: a criança recém nascida; o bebê de colo; quando pode sentar-se; engatinhar, andar e quando entra na 'idade escolar'. O recém nascido, por exemplo, recebe um banho de urucum para extrair o cheiro do parto. Esse costume é ensinado para as crianças porque no conjunto de bonecas, há uma pequena que é toda vermelha”, esclarece a antropóloga. Além disso, na pintura corporal Karajá são representadas todas as informações sobre o indivíduo: idade, estado civil, função na tribo e talento. "As crianças aprendem a identificar todas essas informações na iconografia das bonecas - diz Campos - É possível identificar quais mulheres são artesãs e/ou dançarinas, por exemplo". Entre as bonecas, também há representação de indivíduos velhos, arqueados ou com os seios caídos. Segundo Campos, os Karajá também preparam as crianças para a velhice mostrando que essa é apenas mais uma fase da vida."


Uma das reportagens que encontrei sobre o tema foi no site da Casa da Cultura da América Latina aqui da UnB, que fica no Setor Comercial Sul. Não sei quando ela foi escrita, mas lá diz que eles possuem um conjunto de 9 bonecas. Para quem ficou curioso e quiser ir lá conferir, depois nos conte o que achou. Segue o link: http://www.casadacultura.unb.br/?page_id=6388


Por Natália Honorato

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Seja um Mediador!


Hoje é um dia diferente! 
Por quê?
Porque você não será um leitor passivo de nosso blog, ou somente um observador. A partir de hoje você pode fazer parte da nossa equipe de mediadores de leitura!

Se tiver interesse, ou quiser mais informações, mande um e-mail para: 

 livrosabertos01@gmail.com


Oportunidade única de conhecer, aprender e ampliar o olhar sob os livros que lê, compartilhe esse prazer!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ao escolher um livro...

Às vezes ficamos tanto tempo sem nos dedicarmos a leituras livres e descompromissadas, que quando temos essa oportunidade ficamos sem saber o que ler. Iniciar um romance? Ler crônicas que são rápidas? Escolher um bom livro de poesias e aproveitar algumas reflexões sutis?
Na verdade, eu tenho algumas preferências, que dependem do momento, do tempo disponível e do local. Se as minhas férias são grandes prefiro iniciar um livro com narrativa extensa, porque não consigo continuar um livro desse tipo se ele tiver sido abandonado por mais de três semanas. Uma mania bem esquisita, na verdade, é que inicio novamente o livro se o prazo de continuação expirou.
Quando estou no meio do semestre prefiro as crônicas, porque são essas que eu leio em pé no metrô, no intervalo de uma aula para outra, um pouco antes de dormir ou minutos antes de sair de casa. Na verdade, sempre tenho um livro de crônicas por perto. Atualmente levo comigo “Terra de Ninguém” de Contardo Calligaris. Um livro que apesar de permitir uma leitura fluida, gera algumas reflexões profundas sobre aspectos diversos desde a venda do quarto livro da saga Harry Potter até às guerras que envolvem os EUA.
Para um feriado prolongado, prefiro um livro de poesias; porque para essas eu realmente preciso de um tempo muito particular. É o tipo de texto que eu necessito da casa em silêncio e das cortinas da sala fechadas.
Com todas essas peculiaridades de escolha, fico pensando se as crianças para as quais faço leitura dialógica também não precisam desse momento de escolha. Talvez a leitura dialógica não seja o momento exato para fazer isso, visto que lidamos com um grupo. Mas talvez seja possível permitir a variação de textos, se for de interesse das crianças. Contadores que utilizam um livro com uma narrativa extensa podem intercalar alguns contos/fábulas curtas entre as contações.
Acredito que isso seria melhor aplicado se pudéssemos nos dedicar mais tempo à contação e fazer quem sabe duas visitas à escola em uma semana, sendo que o decorrer de uma semana inteira já cria uma ansiedade para o próximo capítulo ou episódio. Imagina se fossem duas! As crianças poderiam recorrer ao desinteresse como acontece comigo quando abandono um livro por muito tempo.
Talvez uma saída alternativa fosse a parceria com os/as professores/as a fim de que eles também fizessem contação dialógica com tipos variados de texto, dessa forma esse tipo de contação poderia tanto estar presente mais vezes na semana das crianças como poderia ser trabalhada com diferentes tipos de narrativa.
De qualquer forma, essas são apenas ideias; porque a maioria das vezes, quando estou na posição de leitora, penso nas crianças com as quais faço a leitura dialógica. Assim como quando planejo as intervenções que serão tentadas na contação.


Nathália Oliveira

domingo, 11 de agosto de 2013

Um novo elemento

   Dar continuidade a um projeto com certeza tem seus méritos, mas não é disso que pretendo falar. Vou falar da forma boa como eu fui recepcionado no projeto. Tudo foi tão fácil que até parece estranho, principalmente a aceitação das crianças. Sem entender direito como elas conseguiam se interessar de forma tão sincera pelas leituras e gostar também tão facilmente de mim a minha resposta foi que aquela seria a retribuição da dedicação que elas sentem da gente e das nossas sinceras intenções de cultivar aquele momento de leitura, afinal a turma que estou agora já vivencia esta experiência há mais de um ano. Lembro que em uma das reuniões já falamos da importância disso, essa continuidade. Eu não tinha problemas com isso, mas na minha segunda contação tive uma surpresa que mudou esse meu modo de pensar e me fez surgir uma outra possível resposta. Explico. No começo ainda, chegou na turma um aluno novo, eu quando criança troquei de escola e sei como as vezes é difícil ser um aluno novo principalmente em uma escola em que todos já se conhecem e estudavam juntos, como é o caso dessa. Assim que cheguei na turma todo mundo já começou a falar que tinha um novo aluno, que eu devia chamar ele primeiro, pois bem, chamei ele juntamente com alguns outros alunos da turma, queria que ele se sentisse a vontade. Me apresentei, perguntei quem era ele e apresentei um pouco o projeto Livros Abertos e qual é a nossa proposta, falei do livro de Sherlock Holmes e retomei brevemente o que já tinha sido contado daí continuei a leitura. Acabou o tempo do grupo e enquanto ia acompanhando eles de volta para a sala perguntei o que ele tinha achado, disse que gostou. 

   O quanto ele tinha gostado e entendido qual era a proposta eu realmente não saberia dizer com certeza, afinal provavelmente essa tenha sido a primeira vez em que ele foi tirado da sala de aula para ouvir, e se quisesse, discutir sobre uma estória de um livro. Eu mesmo saí com a sensação de que podia ter sido mais legal, sei lá que talvez o trecho contado nem tenha sido bom mas enfim até a próxima semana ele assim como todos os outros deveriam esperar o prosseguir da trama.
   Aí nessa experiência é que estava a novidade! Pensei eu. Pois se para todos os outros eu estava dando continuidade nas mediações com ele eu começava do zero. O que aconteceu nas semanas seguintes foi que ele sempre se demonstrou empolgado e é um dos mais participativos. Daí que pensei que não teve muita diferença do envolvimento dele que não conhecia o projeto com o dos demais e isso é uma das coisas boas de uma criança. Eles tem essa capacidade de mergulhar de cabeça  nas coisas. Sem aquele receio ou desconfiança que os adultos vão construindo para se protegerem e as vezes nos impedem de vivenciar coisas novas ou conhecer outras pessoas. Pelo menos com as crianças que tenho contado posso ver nos olhos delas aquela confiança súbita mesmo por aquilo que lhes é estranho o que muitas vezes preocupa os pais. Obviamente tudo deve ser ponderado mas a cada vez que falo e ouço elas me sinto revigorado para buscar em mim aquele lugar onde a esperança é viva, e, dalí, sair dos livros, ir para a vida real e tentar olhar o mundo com a empolgação que vejo nelas. Vi em uma propaganda de um banco que dizia: ler um livro para uma criança... #issomudaomundo!

   Muda mesmo, mas não do jeito que se espera é uma mudança recíproca.

   Gabriel