quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A árvore vermelha de Shaun Tan

O processo de contação dialógica começa, muitas vezes, com a escolha de um livro. O mediador de leitura ou educador tem um contato inicial com uma obra e só depois desse primeiro contato que passa a existir a vontade de compartilhar aquele livro com seus pequenos leitores.

Hoje vou compartilhar a minha experiência de leitora e mediadora com um livro de Shaun Tan chamado A árvore vermelha.

Como leitora assídua e tiete de Tan, comprei o livro assim que vi a imagem da capa (dê uma espiadinha logo embaixo). Algo nesta figura tão cabisbaixa e tão contemplativa despertou minha alma. Nem cheguei a folhear o livro, eu simplesmente enfiei em baixo do braço e fui ao caixa efetivar a compra...

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Alguns minutos mais tarde, na calada da noite, lá estava eu chorando copiosamente sobre as páginas sobre desse livro. Para quem conhece as obras de Tan sabe que o cara manda muito bem, com muita sensibilidade, leveza e inteligência nos transporta para mundos fantásticos e questões profundas, como a riqueza da infância, o desafio de uma mudança, o medo do crescer. O cenário fantástico que Shan nos mostra com A árvore vermelha é um mergulho no mundo interno de uma menina que está tendo um dia muito, muito, muito ruim. Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu deslocado, solitário e incompreendido, à procura ou à espera de algo que permita construir algum sentido. E o desafio de compartilhar esse sentimento? Parece que não existe palavras suficientes para expressar tudo isso.

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Mas com ilustrações maravilhosas e um texto sábio, Tan traduziu sentimentos tão universais e profundas. São imagens oníricas, fantásticas, belíssimas e, devido a tudo isso, são assustadoras.

Devo admitir que estava com muito medo de levar este livro para as crianças para quem eu faço contação, fiquei com medo de assustá-las, elas são tão novinhas com seus 5-6 anos. É contraproducente subestimar a compreensão das crianças e sua interação com a obra. Esta é a grande lição de A árvore vermelha para mim.

As crianças sentiram medo, isso talvez fosse inevitável, mas junto com o medo veio sempre a curiosidade e as perguntas:"mas como ela foi parar aí?", "por que ela está tão triste, tia?", "cadê a árvore?!''. Esta é uma das sutilezas do livro, apesar de estar no título, a bendita árvore vermelha que acalenta e conforta, só aparece na última página!

 Surgiu então uma ideia das crianças! "Ela está procurando a árvore vermelha, mas não está encontrando", "é por isso que ela tá tão triste então!" e então alguém percebe: ''não tem uma árvore, mas olha! Tem uma folha!''.

Mais uma das sutilezas de Tan, em todas as páginas a uma folha vermelha caída, voando, compondo o cenário. Página por página, as crianças e eu caçamos a folha escondida, até que...

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"De repente, lá está ela [...] exatamente como você havia imaginado"

Há dias em que não podemos contar com a árvore inteira, mas nos faz bem quando sabemos identificar e valorizar cada pequena folha pelo caminho.

Escrito por: Júlia Gisler


Ficha técnica
Título: A árvore vermelha
Autor: Shaun Tan
Editora: SM Editora
Ano: 2009
Tradução: Isa Mesquita

2 comentários:

All you need is blog... disse...

Shaun Tan fala com nossa alma. Quantas vezes os adultos não subestimam as crianças, achando que não irão entender a linguagem da poesia e oferecendo a elas coisas ruins, rasas, simplórias. Dentre tantas coisas legais, foi isso que mais me marcou em seu relato: deve-se parar de tratar as crianças como se não fossem capazes de pensar.

All you need is blog... disse...

Shaun Tan fala com nossa alma. Quantas vezes os adultos não subestimam as crianças, achando que não irão entender a linguagem da poesia e oferecendo a elas coisas ruins, rasas, simplórias. Dentre tantas coisas legais, foi isso que mais me marcou em seu relato: deve-se parar de tratar as crianças como se não fossem capazes de pensar.