terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bem mais que um "brincar de boneca"!


Olá a todos e todas! Como estávamos de férias da faculdade, fui viajar pelo meu Goiás. Passei uns dias na fazenda de uma amiga em Aruanã, por onde o Rio Araguaia faz atalho. Lá perto tem umas aldeias indígenas do povo Karajá chamadas Buridina e Bdè-Burè. Não cheguei a conhecer pessoalmente, porém, fiquei numa baita curiosidade. Na casa onde fiquei tinha um boneca grávida muito linda, parecida com a da foto ao lado, que foi produzida pelas mulheres dessas aldeias. Minha amiga me contou que as mães dão às suas filhas para elas brincarem e ao mesmo tempo aprenderem sobre “coisas da vida”, como de onde vem os bebês (lembrei-me da conversa que tivemos em sala, sobre a aluna que também teve essa dúvida e perguntou à uma das contadoras).



Pesquisei mais a respeito quando voltei para Brasília e descobri que há bem mais peças de bonecas do que eu pensava. 
Vou reproduzir alguns dos textos que achei: 

"Aos cinco anos de idade, a menina Karajá ganha uma família de bonecas de cerâmica. Em uma sociedade ocidental, o conjunto seria como o 'primeiro material didático'. Mas para os Karajá, esses artefatos vão além disso e preparam a criança para realizar a passagem do mundo infantil para o adulto, transmitindo os valores e costumes da tribo."

"Dependendo da ceramista, pode representar o modelo da família nuclear, com cinco a seis peças, ou ser mais completa, com um elenco maior de onze ou mais figuras, representando a tipologia da família extensa, composta pelos avós maternos, pais, irmãos e outras crianças da comunidade. Algumas cestas podem vir acompanhadas de bonecas industrializadas de plástico que representam os não indígenas (Tori). Os brinquedos acompanham as meninas até a fase de transição para a idade adulta, caracterizada pela menarca."

A antropóloga Sandra Lacerda Campos da USP foi quem percebeu o papel simbólico dessas bonecas na sociedade Karajá, e de que forma a organização cultural e a cosmologia é transmitida às crianças por meio desses artefatos. 
Campos explica que "a partir da análise de uma família de bonecas é possível perceber nove fases da vida de um indivíduo Karajá, seis delas apenas na infância: a criança recém nascida; o bebê de colo; quando pode sentar-se; engatinhar, andar e quando entra na 'idade escolar'. O recém nascido, por exemplo, recebe um banho de urucum para extrair o cheiro do parto. Esse costume é ensinado para as crianças porque no conjunto de bonecas, há uma pequena que é toda vermelha”, esclarece a antropóloga. Além disso, na pintura corporal Karajá são representadas todas as informações sobre o indivíduo: idade, estado civil, função na tribo e talento. "As crianças aprendem a identificar todas essas informações na iconografia das bonecas - diz Campos - É possível identificar quais mulheres são artesãs e/ou dançarinas, por exemplo". Entre as bonecas, também há representação de indivíduos velhos, arqueados ou com os seios caídos. Segundo Campos, os Karajá também preparam as crianças para a velhice mostrando que essa é apenas mais uma fase da vida."


Uma das reportagens que encontrei sobre o tema foi no site da Casa da Cultura da América Latina aqui da UnB, que fica no Setor Comercial Sul. Não sei quando ela foi escrita, mas lá diz que eles possuem um conjunto de 9 bonecas. Para quem ficou curioso e quiser ir lá conferir, depois nos conte o que achou. Segue o link: http://www.casadacultura.unb.br/?page_id=6388


Por Natália Honorato

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