terça-feira, 1 de maio de 2012

A leitura proibida





Vocês sabiam que, nas fábricas de charutos cubanos, em meados do Sec. XIX, por algum (curto) tempo foi comum que os charuteiros contratassem um dos operários para ler para eles? Os trabalhadores escolhiam juntos as leituras do dia e ouviam, na voz do “Lector”, cujo serviço pagavam do próprio bolso, as notícias e reportagens do dia. Depois se deliciavam com obras históricas, poemas, contos e romances, como as aventuras do Conde Monte Cristo, de Alexandre Dumas (um dos favoritos dos trabalhadores, que levou inclusive à homenagem do personagem na marca de charutos Monte Cristo). Mas a prática teve vida curta, pois foi logo considerada "subversiva" e terminantemente banida. Impressiona a ênfase do decreto governamental e a caracterização criminosa dessa prática de leitura coletiva:
"1. É proibido distrair os trabalhadores das fábricas de tabaco, oficinas e fábricas de todo tipo com a leitura de livros e jornais, ou com discussões estranhas ao trabalho em que estão empenhados. 2. A polícia deve exercer vigilância constante para fazer cumprir este decreto e colocar à disposição de minha autoridade os donos de fábricas, representantes ou gerentes que desobedeçam a esta ordem, de modo que possam ser julgados pela lei, segundo a gravidade do caso."[1]



Dá o que pensar...

[1] Decreto de 1866 do governo cubano. Citado em:
Manguel, A. (1999). Uma História da Leitura. São Paulo: Companhia das Letras. Aproveito para recomendar a todos este belíssimo conjunto de ensaios sobre a leitura e sua(s) história(s).




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