terça-feira, 19 de julho de 2011

XX Encontro ABPMC - Comportamento humano para o desenvolvimento sustentável





       É com alegria que informamos nossa primeira participação em um evento científico!
Nosso projeto "Livros Abertos: Aqui Todos Contam!" apresentará um painel de relato de experiência no XX Encontro ABPMC - Comportamento humano para o desenvolvimento sustentável, que será realizado entre os dias  7 de setembro a 10 de setembro de 2011 no Pestana Bahia Hotel – Salvador/BA.
A Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC) é uma entidade fundada em 4 de novembro de 1991 com o objetivo de congregar psicólogos e médicos interessados no desenvolvimento científico e tecnológico da Terapia Comportamental, Terapia Cognitivo-Comportamental, Medicina Comportamental e Análise do Comportamento. A Associação congrega pesquisadores, professores, profissionais aplicados e estudantes das áreas da Medicina e da Psicologia. Tem cerca de 1.500 sócios distribuídos por quase todos os estados brasileiros e 11.000 nomes em seu banco de dados."
Fonte: http://www.abpmc.org.br 

Diário do Contador por Bianca Rogoski


Na semana que antecedeu as férias das crianças eu ainda não havia terminado de contar o livro "O Sobrinho do Mago" e fiquei meio preocupada, pensando que elas poderiam esquecer a história durante as férias.
Depois de um tempo refletindo, pensei que um dos principais objetivos do projeto Livros Abertos: Aqui Todos Contam! é a formação de leitores ativos e independentes. Lembrei, então, que na vida a leitura acontece dessa maneira, às vezes demoramos muito para terminar a leitura de um livro, às vezes paramos a leitura por um período de tempo e depois a retomamos... Enfim, decide fazer uma atividade diferente nesse último dia de interação com os alunos antes das férias. Levei folhas de papel e pedi que cada um fizesse um desenho referente a um capítulo ou uma parte marcante que já foi lida da história.
Propus que na volta às aulas, cada um relembraria para a turma a parte que desenhou. Eles ficaram super animados e os desenhos muito legais!

Diário do Contador por Katsumi Takaki


       Acabaram as contações deste semestre. Li a última parte de “A árvore que fugiu do quintal” de Álvaro Ottoni, e como algumas crianças haviam faltado na semana anterior, sugeri que as outras fossem contando a primeira parte para elas enquanto eu mostrava as ilustrações. Fluiu muito bem! A maioria participou bastante. Notei que as crianças usaram muitas palavras do livro  - como “recostar” - algumas chegaram a reproduzir trechos inteiros.
Ao longo da leitura elas se identificaram muito com a situação da árvore! Falaram de como se sentiriam caso elas mesmas tivessem que fugir do lugar a qual pertencem.
Em uma parte da história a personagem reencontra na serraria a árvore da sua infância: fica com lágrimas nos olhos e com as mãos trêmulas. Perguntei a elas o porquê disso e muitas me disseram que ele poderia estar com frio e triste por ver a árvore daquele jeito. Perguntei se poderia ser por algum outro motivo, se elas já sentiram aquela sensação em outro momento.  Foi um pouco difícil para notarem que aquilo também remetia a um sentimento de saudade, de emoção por reconhecer uma amiga especial. 
Durante o percurso sala de aula-biblioteca e o final da contação de cada grupo conversamos um pouco sobre os planos delas para as férias: se iriam viajar, visitar os parentes, brincar.
Aproveitei para perguntar se elas iriam ler alguma coisa legal durante esse período, e se brincariam de subir em árvores. A resposta de um menino surpreendeu-me! Ele é quieto, e costumava falar pouco durante as contações. De uns tempos para cá ele tem participado bastante, talvez porque esteja se sentindo mais confortável. Animado, disse que leria muitos gibis, que não gostava muito de ler livros, mas que tem uma porção de gibis em casa.
Agora, férias! As contações retornarão em agosto. Nesse meio tempo, vou aproveitar para me dedicar às minhas leituras. Fica a sugestão pra você também, caro leitor!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Voa, Papagaio!

Domingo passado, fomos à nova Feira da Torre. Lá, passamos por uma barraquinha que vendia pipas e meu filho olhou encantado para as estruturas cobertas com papel-seda colorido.
- Mamãe, podemos comprar uma?
- mmm... Eu não sei soltar pipa...
Ao que o artesão responsável por aqueles belos papagaios respondeu:
- Senhora, não se preocupe, não tem essa de precisar saber nada não, é só soltar!
Enquanto arrumava a pipa escolhida (“quero essa,  de avião!!”), esse senhor disse a meu filho:
- Você vai ver como é bom!! Quando eu era pequeno, minha mãe não me deixava soltar, dizia : “Não vai soltar pipa não, isso é coisa de desocupado!!” E eu ficava trancado em casa.
A rabiola ficou pronta. O artesão abandonou sua lojinha e saiu correndo com meu filho para o centro da praça, onde soltaram a pipa que logo começou a tremular alegremente no vento perfeito daquele domingo. O artesão, alheio à pequena fila que se formava em frente à sua barraca,  guiava a mão de meu filho. No rosto do pequeno, brilhava um sorriso sem par. 
Ao voltar, o artesão comentou conosco:
- Hoje, se tivesse soltado pipa, eu poderia estar montando até aviões de verdade e outras coisas, não é mesmo? Mas minha mãe tinha aquelas idéias fechadas... Pois eu prometi para mim mesmo que, quando crescesse, iria me dedicar a dar a outras crianças a alegria que eu não tive...”
Fiquei pensando nessa criança que não era autorizada a brincar e isso me levou à questão do contar histórias. Daniel Pennac[1] escreve que é muito irônico que tenhamos que impor às crianças a leitura, pois nas gerações anteriores era muito mais freqüente acontecer o contrário. Nós ouvíamos coisas como “Pare de ler, vai ficar doido igual o maluco da praça, ele ficou louco de tanto ficar no meio dos livros, sabia??” Soltar pipas e soltar a imaginação na leitura eram “coisas de desocupados”, ou de loucos.
Não proibimos nossas crianças de brincar, muito menos de ler, pelo contrário, agora ficamos vigiando para ver se a criança está lendo e brincando.  Com tantos textos psicológicos e pedagógicos falando da importância do ler e do brincar na infância, passamos da proibição à obrigação. Mas se brincamos com fins pedagógicos, estamos realmente brincando? Se lemos como pretexto para testar o que foi aprendido, estamos formando um leitor? 
Olhei para o papagaio no alto. Uma obra de arte: equilíbrio impecável, vôo perfeito. Mas esse Bert brasiliense não se limitou a vender um belo papagaio. Sutil e gratuitamente, lembrou-me da leveza necessária. Obrigada!
Eileen Pfeiffer Flores
Dick Van Dyke como Bert (Mary Poppins, 1968).


PENNAC, Daniel (1998). Como um Romance. Tradução de Leny Werneck. 4ªed. Rio de Janeiro: Rocco.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Diário do Contador por Katsumi Takaki


Li a primeira metade de "A árvore que fugiu do quintal", de Álvaro Ottoni. A capa do livro me chamou a atenção, muito colorida e chamativa. Além disso, ele aborda a temática do desmatamento e do crescimento das cidades, mas de uma forma diferente. A narração é feita pela própria árvore, vítima de "Serjão, gordo feito uma baleia" e a maneira ativa como ela fala e se expressa é como se ela estivesse de fato ali com você, te contando uma estória do passado dela.
O diferencial é que o livro não fala sobre o desmatamento de forma a colocar uma moral para as crianças. Tudo flui muito bem até por conta da simplicidade da linguagem. Perguntei a elas se elas sabiam o que era "o tempo dos quintais" (uma passagem do livro) e se elas costumavam subir em árvores. Muitas me disseram que não tinham quintal em casa ou que a mãe não deixava subir em árvore. Aproveitei o momento para contar um pouco sobre a minha infância, como era subir em árvores e os tombos que já levei! Tudo de uma forma mais divertida e descontraída pra chamar a atenção deles para a estória.
Infelizmente hoje as crianças estavam bem dispersas.....Ficaram querendo pegar os fantoches e brincar com as almofadas.Confesso que não foi um dos melhores encontros que tivemos. Acho que a agitação deve ser por conta das férias que estão chegando e da festa junina que vai acontecer na escola. Apesar de tudo, interagiram bem quando eu perguntava alguma coisa sobre o livro! Semana que vem é minha última contação antes das férias, vamos terminar de ler o livro. Estou pensando em algo para "fechar" bem esse último encontro....ainda não sei bem o que fazer. Vou pensar e colocar em prática alguma ideia. Semana que vem conto como foi! Até lá!

Diário do Contador por Katsumi Takaki

         
         Li a segunda (e última) parte do livro "A Bruxinha Curiosa" Lia Baeten para as crianças. Notei que, a cada semana, elas falam mais sobre a estória, sobre as figuras e procuram antecipar o que irá acontecer na próxima página. Incrível como eles se afeiçoam a gente e nós a eles! Como gostam de te beijar, abraçar e não se cansam de dizer: "Tia, vou ficar com saudade!". 
      Durante a leitura eles estavam mais ativos do que nunca! O livro favorecia por ter muitas figuras legais. 
        As crianças e eu trocamos de lugar algumas vezes; elas na posição de contadores e eu no lugar delas, pensando como elas. Deixei minha imaginação me conduzir da mesma forma que elas faziam. Foi uma troca muito bacana! As crianças também se sentiram mais à vontade pra falar o que quisessem e como quisessem. 
        Bom, fica a dica! Próxima contação “A árvore que fugiu do quintal", de Álvaro Ottoni. Aguardem!

Diário do Contador por Bianca Rogoski


Depois de um período passando por vários livros infantis, escolhi fazer a leitura dialógica do livro "O Sobrinho do Mago", primeiro da série “As Crônicas de Nárnia”. Nesse livro, o autor conta como foi descoberta a Terra de Nárnia. Dois vizinhos, Digory e Polly, descobrem um túnel que passa por cima de suas casas e, durante as férias, resolvem fazer excursões nesse túnel. Um erro de cálculo fez com que os dois acabassem saindo numa sala secreta. Descobriram que a sala era do maldoso tio André, tio de Digory. O homem era mago e estava fazendo várias experiências sobre como mandar alguém para um mundo que ele havia descoberto, pois ele mesmo não tinha coragem de ir. As crianças caíram numa armadilha e foram parar nesse novo mundo. Para surpresa de todos, havia mais de um mundo secreto, e o bosque entre dois mundos, que poderia levar a pessoa aos outros mundos. Os portais eram lagos e, para ir aos mundos, era preciso utilizar anéis feitos por Tio André.  No primeiro mundo visitado, Polly e Digory, conheceram uma feiticeira malvada, que acabou voltando junto com eles para o nosso mundo e, depois, para o mundo de Nárnia.
No capítulo 7, a feiticeira faz Tio André de escravo, e você, leitor, pode perguntar às crianças ouvintes o que elas acham sobre isso, o que Tio André podia estar sentindo e o que a feiticeira sentia. No mesmo capítulo, Polly chega tarde em casa para o jantar e sua mãe a deixa de castigo. Uma possível pergunta que pode ser feita às crianças é se isso já aconteceu com eles e o porquê.
No capítulo 8, Tio André, a feiticeira, Polly, Digory, um homem da rua e até um cavalo acabam sendo levados à Nárnia. Isso aconteceu sem querer, após uma bagunça aprontada pela feiticeira numa rua do nosso mundo. Ao chegar, o homem pergunta: “Será que nós morremos?”. Nesse momento, você pode perguntar o que a criança acha que aconteceu, fazendo com que ela crie antecipações; aguçando sua imaginação.

Diário do Contador

       Nos posts “Diário do Contador” você acompanhará os relatos das leituras dialógicas que nossos contadores e contadoras realizam com as turmas da Escola Classe 415 Norte. Falaremos a respeito dos livros escolhidos, das dificuldades e facilidades, descobertas, surpresas e desafios das contações.
       Esperamos que estes relatos inspirem você leitor (a). Leiam para seus filhos, sobrinhos, amigos; e o mais importante: façam com que as crianças participem da leitura. No método que propomos, o ouvinte transforma-se em narrador, desenvolvendo não apenas sua linguagem, mas o gosto pela leitura e arte tão cara que é a de imaginar e sonhar!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Dia do Escritor



          Hoje, no café da manhã, meu filho de sete anos comentou repentinamente:
- Dia do escritor... Humpf... Não gosto de ler...Detesto escrever e detesto ler.
          Fiquei muito espantada. De onde teria saído isso?
- Filho, tenho que gritar para você tirar o nariz dos gibis e ir tomar banho, escovar os dentes...nem comer você quer quando está lendo, que história é essa?!
- Gosto de gibis. Mas odeio ler. Pronto.
         Meu Deus, pensei, será que aquela professora  de minha infância estava certa? Veio-me a imagem de seu semblante severo e de sua mão ossuda retirando delicadamente um dos volumes de Asterix de minhas mãos. Será que ler quadrinhos vicia e a pessoa nunca irá ler outra coisa?  Será que não devo mais concordar quando ele me pedir o último número da Turma da Mônica na banca?
- Mas filho... Isso é ler...
- Não gosto de ler.
        Fiquei triste. Que estranha metamorfose havia se operado em meu filho durante a noite?
- Quer dizer que você não gosta quando lemos juntos seu volume dos contos de Andersen, à noite, antes de dormir? Não gostou quando lemos, capítulo por capítulo, A Fantástica Fábrica de Chocolate? Não vai querer continuar lendo A Mulher que Matou os Peixes???
- (com tom impaciente) Claro que gosto, mããããeeee...Claro que querooo... Mas odeio ler. E odeio escrever.
- E outro dia, que você deitou no sofá com seu livrão sobre animais e ficou um tempão lendo? E o Alice no País das Maravilhas, que curtimos tanto juntos? E... e...?
        Meu filho não me respondeu mais, ocupado com coisas mais importantes do que tentar explicar o óbvio à sua mãe que aparentemente havia sofrido algum tipo de torpor cerebral matutino. Foi brincar com seu navio-pirata e me deixou sozinha em minha aflição.
       Sobre a mesa, deixou para trás aquilo que, aparentemente, havia motivado sua primeira fala: numa folha de papel timbrada da escola, lia-se:
“Hoje é o dia do escritor. Leia abaixo o texto informativo sobre o ofício de escritor. Copie um dos parágrafos.”
         O resto da folha estava em branco e o lápis jazia ao lado, sem ponta. Do quarto, vinham estouros de canhões e exclamações de marujos.  

(Texto ficcional - Qualquer coincidência é mera semelhança).
Eileen Pfeiffer Flores