domingo, 27 de julho de 2014

Lugar e Não-Lugar, uma viagem pela América do Sul.



  

Olá!
Hoje vim aqui para mostrar um pouco de como a leitura dialógica pode ir muito além do que imaginamos. Quem lê, viaja!
Antes, vou me apresentar. Sou estudante de Geografia, já estou quase no fim do meu curso e faço parte do projeto há 1 ano e meio. Desde que entrei estou com a mesma turminha, na qual eu sou completamente apaixonada. Eles já são grandinhos, tem de 10 a 12 anos, e nesse tempo que estou com eles senti o quanto eles tinham dificuldade de imaginar o lugar desconhecido. Então, resolvi envolver a geografia na leitura dialógica e propus à eles uma viagem. Estamos arrumando nossas malas para viajarmos com os livros pela América do Sul nesse segundo semestre que se inicia!
Vou tentar explicar um pouco aqui para vocês a parte conceitual da geografia e prometo depois postar a nossa viagem na prática como estará sendo!
Bom, partirei de dois conceitos simples: Lugar e Não-lugar.
Para falar de lugar, é preciso refletir sobre as consciências individuais relacionadas a cada localidade que possui características próprias que, em conjunto, conferem ao lugar uma identidade própria e cada indivíduo que convive com o lugar, com ele se identifica. O conceito de lugar faz referência a uma realidade de escala local ou regional e pode estar associado a cada indivíduo ou grupo. O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriada para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens.

Se um lugar pode se definir como “indenitário”, relacional e histórico, um espaço de transição que não há identidade pode se definir como um não-lugar. Assim sendo, não-lugar é todo o lugar considerado vazio de identidade histórica, vivencial, cultural e resulta da perda da relação afetiva entre o indivíduo, bem como uma comunidade, com o espaço. O não-lugar não cria uma identidade singular, não é relacional, e é um espaço simultaneamente de solidão e semelhança.
Sabendo isso agora, posso falar à vocês que vou tirar as crianças do Lugar delas (a escola) e levarei para os Não-Lugares (Todos os países que iremos) através dos livros, de lendas e fábulas locais.

Nesse primeiro semestre de 2014 preparamos nossa viagem: Montamos nosso roteiro, identificamos no mapa por onde vamos passar, construímos nossos meios de transportes e arrumamos nossas malas.






Ok, agora pé na estrada imaginária e logo volto aqui para dizer como está sendo nossa divertida viagem. Não se preocupem se eu demorar a postar, é que vida de viajante é assim mesmo!
Até breve!






Por: Andressa Priscilla.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O relato de uma experiência: "Contos de Lugares Distantes"- Shaun Tan.


  


  A primeira vez que a Professora Eileen mostrou este livro na reunião semanal do projeto, o que mais me chamou  a atenção foi o título. Não sei explicar, mas o achei extremamente convidativo. Por essa época estava acontecendo em Brasília a II Bienal do Livro, então decidi comprar este livro, não foi nada fácil. Na primeira tenda que fui não o encontrei, nem na segunda, terceira, quarta, enfim, houve uma hora que eu realmente ia desistir. Porém, conversando com uma vendedora acabei mencionando minha procura e ela me informou de uma tenda que só vendia livros infantis. Fui atrás e consegui o ÚNICO exemplar daquela tenda e provavelmente da Bienal, mas valeu a pena. O levei para as crianças e já no primeiro conto o livro as deixou intrigadas, era diferente não fornecia respostas, mas perguntas, tantas perguntas quanto se podia formular. O primeiro conto "Eric", o qual a Professora leu para os mediadores, fez as crianças, viajarem e isso foi incrível surgiram observações que nós nem si quer tínhamos observado na reunião. Naquele mesmo dia me pediram para contar outro conto, "O Búfalo do Rio" . E foi assim com cada conto e cada imagem, era fascinante observá-las devorando-o por completo.
Decidi contar "Chuva ao longe", levei folhas em branco e pedi à elas que após a leitura do conto cada uma se quisesse poderia escrever um poema, assim na próxima contação, cada um recitaria o seu. Como inspiração também levei um poema meu e recitei para eles. Confesso, que adorei esse conto, de uma maneira tão singela, simples, mas extremamente apaixonante Shaun Tan demonstra como cada ser humano é poeta às escondidas.
E Bingo! Os poemas das crianças me surpreenderam, o tema era livre, então algumas escreveram sobre a vida, a amizade, o amor, outras fizeram rima, enfim se divertiram com as palavras. Alguns em especial me tocaram, tamanha sabedoria que continham, outros eram tão leves e bom de ler, que deu vontade de decorar. Essa foi uma experiência muito legal, acredito que com o incentivo certo as crianças podem demonstrar mais esse lado escritora e escritor que elas possuem, quem sabe algum dia elas até publiquem algo...
Para finalizar, o dito conto:

"Chuva ao Longe"- Shaun Tan.

"Você já se perguntou o que acontece com todos os poemas que as pessoas escrevem?
  Aqueles poemas que elas não deixam ninguém ler?
  Talvez eles sejam pessoais  e particulares demais.
  Talvez não sejam bons o bastante.
  Talvez a mera sensação de que alguém possa ler uma manifestação tão sincera seja vista como :
   deselegante, frívola, boba, pretensiosa, melosa, banal, sentimental,
   trivial, tediosa, excessiva ,obscura, inútil, estúpida,
   ou apenas vergonhosa.
  É o suficiente para dar a qualquer aspirante a poeta boa razão para esconder sua obra dos olhos do público. Para sempre. Naturalmente muitos poemas são destruídos imediatamente  queimados, rasgados ou
jogados na privada. 
Vez por outra eles são dobrados em quadradinhos e enfiados sob o canto de um móvel bambo, outros ficam escondidos atrás de um tijolo solto ou num canto ou lacrados no verso de um despertador ou colocados entre as páginas de um livro obscuro que tem poucas chances de vir a ser aberto.
Algum dia alguém pode encontrá-los, mas provavelmente não. 
A verdade é que a poesia não lida quase sempre não passará disto condenada a juntar-se ao rio vasto e invisível de refugo que aflui dos lugares distantes. Bom quase sempre. Em raras ocasiões, alguns escritos particularmente insistentes vão fugir para um quintal ou uma viela soprados pelo vento ao longo de um aterro na beira da estrada e descansar enfim num estacionamento de shopping center. 
Assim como tantas outras coisas é aqui que algo extraordinário  tem lugar, dois ou mais escritos poéticos vagam até se encontrar devido a uma estranhas força de atração que a ciência desconhece e vagarosamente grudam até formar uma bolinha disforme. 
Se deixada em paz, essa bola gradualmente fica maior e mais redonda pois versos livres, confissões, segredos, reflexões, desejos e cartas de amor não enviadas também se prendem uma a uma.
Esta bola arrasta-se pelas ruas como folhas ao vento por meses até anos, se ela sair apenas à noite, tem boas chances de sobreviver ao  tráfego e às crianças e com seu lento rolamento evita os caracóis (seus predadores número um). Com certo tamanho, ela se protege por instinto do mau tempo, despercebida caso contrário, vaga pelas ruas, buscando restos perdidos de pensamento e sentimento.
Com tempo + sorte a bola de poesia se torna grande, imensa, enorme:
  um vasto acúmulo de pedaços de papel que acaba subindo ao ar, levitando apenas com a força de tanta emoção não dita. E flutua suavemente sobre os telhados dos lugares distantes quando todos estão dormindo inspirando cães solitários a latir no meio da noite.
   Infelizmente,
   uma grande bola de papel, não importa o quão grande e flutuante, ainda é algo frágil.
   Mais cedo ou mais tarde ela será surpreendida por uma rajada de vento, castigada por chuva forte e reduzida, em questão de minutos, a um bilhão de tiras molhadas.
    Uma manhã, todos acordarão para ver uma polposa sujeira cobrindo os jardins, entupindo sarjetas e encobrindo para-brisas. O trânsito ficará prejudicado. As crianças, encantadas. Os adultos, perplexos, incapazes de conceber de onde veio tudo aquilo.
     Ainda mais estranho será descobrir que cada massa de papel molhado contém diversas palavras desbotadas, prensadas, em versos acidentados.
     Quase invisíveis, mas inegavelmente presentes. E para cada leitor vão cochichar uma coisa diferente.
     Coisas alegres, coisas tristes,
     verdadeiras,
     absurdas,
     hilárias, profundas e perfeitas.
     Ninguém será capaz de explicar a estranha sensação de leveza, nem o sorriso escondido que perdura.
     Mesmo que os varredores de rua  vem e vão."

Contos de Lugares Distantes

Sara Meneses.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Criança 10 x Livros Abertos 11

“Criança bagunceira”

“Criança mal educada”

“Criança comportada”

“Criança Criança”

Creio eu que, depois da adolescência, a infância deve ser a fase mais estigmatizada do crescimento. Frases como essas são frequentes nas bocas adultas e elas estão certas, não verdade?!

Primeiro que elas nunca ficam quietas. Até mesmo as quietas são bagunceiras. Mexem onde não devem, estão sempre colocando a mão em tudo quanto é lugar, na tomada, no vaso, na boca, no nariz e na boca de novo. Desobedientes, só querem fazer as coisas na hora e do jeito delas, e, quando não é assim, já abrem um berreiro. Perturbam a professora para ir ao banheiro mesmo tendo acabado de voltar do recreio, e, nos casos mais comuns, gritam, chutam, puxam cabelo, xingam e falam as coisas mais grosseiras, com a desculpa que os adultos dão de que “crianças são tão sinceras”.

Isso bem poderia ser o depoimento de professoras cansadas, mães estressadas, primos distantes, amigos chateados, irmãos dedo-duro, mas o que resta disso tudo são camadas e mais camadas de afirmações negativas e condenações e lá no centro, lá dentro, uma criança.

Quem ganha? Crianças ou Livros Abertos? Agora, deixe eu, Mediador do 4º ano do período da manhã, contar um pouco da minha experiência.

Primeiro, que bom que criança nunca fica quieta. A gente corre com elas, aproveita a energia pra falar de historia de aventura e, quando elas querem voar, eu deixo. Bagunça? Com certeza tem bagunça, ainda mais quando eu levo uma barraca de acampamento pra eles montarem e a gente conta as historias de quando eu acampei no deserto, na floresta, no meio do rio. Tem sempre uma desobediência, elas não são perfeitas, de vez em quando eu brigo e chamo atenção, mando parar de xingar e bater por que não quero ficar escutando e vendo essa falta de respeito, e, no final, tudo, eu digo tudo, esta perdoado quando eu digo tchau e, com protestos da professora, alguns deles se levantam, me abraçam e dizem que me esperam na próxima quinta.
Eu não tenho crianças, e nem fico seis horas trancado em uma sala com elas. Eu tenho duas horas de cada quinta feira da semana pra encontrar com elas, entender o seu mundo e fazer parte dele.

“...Sê tu uma benção: abençoarei os que te abençoarem[...] por meio de ti serão benditas todas as famílias da Terra.” Genesis 12: 3,4

Mediadores, não percam tempo gritando e confirmando as supostas coisas negativas nessas crianças, mas sejam bênçãos para elas, se arrisquem a gostar delas e entendê-las, e elas, bagunceiras ou comportadas, vão lhe retribuir em dobro. Quando você ganha, elas ganham.



BoscoJoao =D

sábado, 19 de julho de 2014

Nossos dragões cotidianos


Há quem argumente que ler contos de fadas e mitos para crianças é perda de tempo, sem propósito e até mesmo perigoso. “Qual é a vantagem de falar sobre dragões e fadas madrinhas? Nada disso existe de verdade! Você só ilude a criança assim”, diriam alguns.
E eu replico: “Você não acredita em dragões?”, e para mim fica claro que o medo que os adultos têm da imaginação, da fantasia e da criatividade são prova viva de seu pânico por dragões.
O dragão é representado na literatura de duas formas, em dois polos acentuados: ou ele representa o poder da sabedoria, sendo assim é a criatura imortal, sábia e misteriosa que conduzirá o herói em sua jornada, ou ele é a mais cruel e temível das bestas, que destrói a vida e mostra seus dentes vorazes para quem ousar se aproximar. Independentemente do polo em que eles se encontram, os dragões sempre são implacáveis e capazes de grandes feitos.
Isto não nos é familiar em nosso cotidiano? Não lembra as pequenas partes de nós com que não sabemos lidar? Não é muito semelhante às ideias circulares torturantes que nós invadem de madrugada antes de uma grande apresentação? E àquelas emoções que cegam nosso discernimento e atropelam nossas amizades?
E aquelas características nossas que parecem ser de outro mundo e ter vontade própria? Como nossa preguiça, nossa desatenção, nossa timidez, nossa teimosia, nossa impulsividade... Parece que nossos dragões do cotidiano nos congelam, pioram nossos problemas, destroem nossos planos e machucam nossos amigos.
As crianças são mais honestas com seus dragões. Ao contrário dos adultos, que, quando presenciam um bater de asas reptilianas de seu educando ou filho, logo dão um jeito de repreendê-lo e ordenam que a criança crie uma prisão para conter o monstrinho. Para os adultos, parece que a única solução é encarcerar aquela parte de si mesmo, para que ela fique longe dos olhares alheios, sem saber que, quanto mais punição e repressão um dragão recebe, mais feroz ele fica.
Por que não ensinamos as crianças a reconhecerem seus dragões? Por que não as iniciamos na jornada de autoconhecimento e autocuidado? Por que não procuramos junto com elas estratégias para que o dragão fera se torne o dragão sábio? Por que a impulsividade não pode se tornar pró-atividade? Por que a teimosia não pode ser tenacidade?
Por causa de uma razão: pânico de dragões (e, talvez, nossa falta de habilidade para lidar com nossos próprios dragões).
Mas as crianças são mais honestas, e tentam conviver a trancos e barrancos com seus dragões. E já que os adultos não as ajudam como prometido, onde encontrar os heróis e guerreiras para ajudá-las, senão nas histórias?
Quem me ajudou nessa jornada foi Soluço Spantosicus Strondus III, filho de Stoico, O Imenso, cujo nome faz tremer. Ele me ensinou a ser heroína da maneira mais difícil, guerreira do cotidiano. Aqui seguem algumas dicas:

Um exemplo talvez ajude: imagine o Dragão Terrividous Timididus. A criança sente sua presença congelante quando alguém lhe pede para falar algo na frente de muitas pessoas (temos aqui seu habitat), sente que o dragão se fortalece quando ela pensa que todos vão rir dela se ela errar a resposta (voilá! Seu prato favorito!). Essas informações dão a oportunidade para a criança experimentar: e se ela tentasse pensar outra coisa, o dragão continuaria muito forte? Uma alimentação mais saudável talvez torne o dragão mais dócil. Em que situações ela consegue falar com muitas pessoas e não se sentir nervosa? A migração de território pode modificar o comportamento do dragão também.
A maior contribuição do Soluço está no item dois: conquiste seu dragão, integre-se a ele, aceite-o como parte de si e se responsabilize por suas ações. Não o abandone, mas reconheça-o, treine-o, ensine-lhe, pois só assim seremos capazes de voar alto e conquistar os desafios que nos propomos.
Encerro este texto com a esperança de que todos que têm que encarar todos os dias seus dragões – vampiros, trolls, bruxos das trevas, lobisomens... – sejam tocados por um conto, e recorram ao seu guerreiro interior para levantar a espada da coragem e da vontade para domá-los.

Texto de Júlia Gisler

Notas:
1.      Para saber mais sobre as memórias de Soluço Strondus III, resgatadas por Cressida Cowell, acesse o site oficial da série
2.       Informações completas sobre cada um dos livros da série, incluindo autora e ilustradora, tradutoras, editora e ano de edição do original e da tradução, clique aqui.



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Livros Abertos no Bibliocamp!



Tivemos a grata surpresa de sermos convidados para o Bibliocamp 2014 , evento organizado pelo Bibliotecários Sem Fronteiras
Aceitamos o convite com muito prazer e orgulho! Será uma oportunidade preciosa de conhecer mais de perto outros projetos e de trocar idéias e experiências. 

 Abaixo, reproduzimos informações sobre o evento:
O Bibliocamp é um evento novo, mas que em sua 3ª edição já alcançou grande repercussão nacional. Surgiu por iniciativa do bibliotecário Moreno Barros, servidor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos editores do blog Bibliotecários Sem Fronteiras (http://bsf.org.br/), um dos principais veículos  de comunicação da Biblioteconomia brasileira atual e conta com mais de 11.000 seguidores em sua FanPage no Facebook. A partir da inquietação despertada pelos temas discutidos no Bibliotecários Sem Fronteiras, veio o interesse em promover um encontro de profissionais de forma despojada e intimista,  a fim de fomentar a troca de ideias, projetos, experiências e a paixão pelo nosso trabalho.
As cidades que já receberam o evento anual foram, respectivamente: Rio de Janeiro, Florianópolis e São Paulo. A 4ª edição ocorrerá em Brasília, em setembro de 2014. Informações adicionais sobre o evento e edições anteriores podem ser encontradas no site http://bibliocamp.com/.

Nesta 4ª edição, o evento acontecerá durante um dia inteiro na Biblioteca Nacional de Brasília, para 50 participantes. A inscrição é gratuita e, portanto, não há entrega de certificado, e as despesas de transporte e alimentação são a cargo do próprio participante.

domingo, 6 de julho de 2014

10 Dicas de Leitura Dialógica: Se Você Quiser Ver uma Baleia




 

Se você quiser ver uma baleia, do que vai precisar?  Esse é o ponto inicial de uma viagem poética de delicada beleza. Como deve ser em um bom livro-álbum, ilustrações e texto dialogam para nos encantar, nesta obra de Julie Fogliano e Erin E. Stead, em uma bela tradução de Celina Portocarrero, que também é poeta.
Neste livro, muitas vezes, é no contraponto entre imagem e texto que o todo poético se forma. O não-dito se mostra, por exemplo, nas páginas mostradas a seguir, em que a recomendação explícita (“se você quiser ver uma baleia, vai ter que ignorar as rosas”) se contrapõe à imagem, onde a beleza toda-envolvente da rosa domina o garotinho e seu cão.



Oferecemos, a seguir, algumas sugestões para a leitura dialógica deste lindo álbum ilustrado:


10 DICAS DE LEITURA DIALÓGICA:

ANTES:

1) Prepare sua leitura. Leia para você mesma. Sinta a musicalidade do texto. Grave sua voz e se ouça, aprende-se muito assim!
Verifique onde, na narrativa, há pausas naturais para o diálogo. (Às vezes, não há.  Nesse caso, planeje uma leitura sem pausas, mais performática, seguida de uma segunda leitura com diálogo).
2) Aprecie as imagens. Detenha-se nelas. Anote suas reações: o que mais lhe chama a atenção? Por que? Você gostou das ilustrações? O que achou mais interessante, encantador? Como o texto é colocado, em relação às ilustrações? (Você vai ver que o texto não está sempre no mesmo lugar e nem do mesmo jeito e não serve apenas para contar a história, tendo também seu lugar de elemento gráfico dentro da ilustração). 
3) Veja se consegue descrever os objetos representados nas ilustrações e, se necessário, pesquise  (as crianças perguntam muito “O que é isso?”, e é bacana podermos aproveitar essas oportunidades de ampliação e vocabulário). Por exemplo, uma criança poderá perguntar o que é isto (você sabe?):

4) Pesquise sobre autora, ilustradora e tradutora. Você poderá falar delas com as crianças, mostrando a elas que o livro é obra de criação de pessoas de verdade e que elas também podem criar seus textos e suas ilustrações.

DURANTE A LEITURA:
5) Apresente o livro. Deixe que as crianças explorem os elementos do objeto-livro. Agora ou ao final, fale dos envolvidos na criação da obra.
Antes de abrir o livro, inicie uma conversa a partir do título e da ilustração de capa, de modo a encorajar a curiosidade e o envolvimento delas com a história que vai ser contada.
- Você já viu uma baleia?
- Se você quiser ver uma baleia, o que você acha que precisa fazer? 

6) Ao fazer a leitura, mantenha o ritmo natural da história. Incentivos à participação não devem ser feitos em qualquer lugar, pois interrompem a musicalidade do texto e o fluxo da narrativa texto-imagem. Detenha-se um pouco mais nas páginas que permitem naturalmente uma pausa (ao se preparar, você poderá planejar essas pausas).Veja, por exemplo, as páginas reproduzidas a seguir. Elas formam um todo que não deve ser interrompido, mas, depois delas, pode-se fazer uma pausa para conversar um pouco.




7) Saiba aproveitar as participações espontâneas: Quando pausar para o diálogo, siga o interesse das crianças. Elas irão apontar para certas figuras e nomeá-las ou comentá-las. A partir das participações espontâneas, "pegue o gancho". Por exemplo, veja o que acontece entre estas duas páginas:
A criança poderá perguntar: “Tia, o que aconteceu? É outro barco?” ou “São piratas?”. Devolva a pergunta para elas: "O que vocês acham?" Deixe que elas elaborem suas hipóteses e encoraje-as a se ouvirem e a trocarem opiniões.

8) Dê sua opinião também. Reaja de forma autêntica à obra e externalize o que está pensando ou sentindo, inclusive suas dúvidas. Isso é muito importante, pois oferece um modelo de leitor ativo para as crianças.
9) Trabalhe o vocabulário de maneira natural. Por exemplo, se a criança diz: ”Uma vez eu fui num negócio desses e caí na água!”, responda usando o vocabulário novo, por exemplo: “Sério? Você estava num píer igual a esse?  E como caiu?”
10) Incentive a leitura das imagens, indo além da mera representação. A imagem é poesia! Nas páginas abaixo, por exemplo, repare como a ilustradora brinca com as convenções da representação bidimensional: uma linha contínua assume funções diferentes em um lado e outroda página (o fio, onde o passarinho pousa, transforma-se na superfície da água):
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Se você quiser ver uma baleia, deixe a imaginação fluir! Boa leitura! 


(Texto de Eileen Pfeiffer Flores)

Dados da obra:
Título: Se Você Quiser Ver uma Baleia
Autora: Julie Fogliano
Ilustrações: Erin E. Stead
Tradução: Celina Portocarrero
Editora: Pequena Zahar
Ano: 2013
Veja o trailer do livro aqui

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Felicidade Clandestina

Hoje, não sei bem o porquê, acordei com um conto na cabeça. A doce Clarice, que sempre me alegra com seus contos intrigantes e nada convencionais, fez esse para mim. Felicidade Clandestina é o meu conto-encanto de hoje.

Sou ratinha de livrarias e isso não é nenhum segredo, compro todos que posso assim como todo bom amante de livros, e nesse momento sou a pessoa mais feliz do mundo e todo mundo pode ver, mas quando chego em casa... Saboreio bem devagar a minha felicidade clandestina.

“Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.”



E no dia seguinte tenho a difícil escolha: qual deles ler primeiro? (Não sou do tipo que lê três livros ao mesmo tempo, gosto de saborear cada página, dou a cada um o seu tempo, gosto de viver cada emoção e ficar extasiada com cada reviravolta). Nessa doce e complexa escolha, lá se foi mais um dia inteiro, mas não faz mal, aquele sentimento secreto ainda está presente.

Depois de escolhido, levo um tempo para começar a ler, porque eu sei que se eu começar ele vai acabar... Mas começo e depois disso eu nunca consigo me controlar, quero ler o livro inteiro em um só dia, devorar cada página e me contorcer a cada novo golpe empregado.

Ah, que doce sensação...

Mas, quando o livro começa a acabar, me sinto derrotada, pois saber que o fim está próximo me causa sofrimento. Deve ser por isso que gosto de livros em série, por ter a certeza que haverá um próximo encontro, mas até séries chegam ao fim, e talvez por isso eu nunca tenha comprado o último livro das séries que tenho.

A última vez, comprei todos os volumes de uma vez, com o pensamento: “Agora eu termino pelo menos uma série”. Pobre de mim, mal sabia que, por tê-los todos, não teria a coragem de começar...  

Gosto também de “livros únicos”, embora o fim seja mais rápido eu fico adiando esse momento, leio uma pagina e saio, (mesmo morrendo de vontade de terminar), volto, releio algumas páginas e depois sigo até o fim, e fico com uma sensação de fim de relacionamento: “não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”.


E me dou o prazer de sofrer com o fim, como uma namorada abandonada.


Kayla Maihery.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Venha participar do Livros Abertos! (7 coisas que você precisa fazer).

Abertas novas inscrições para o Projeto Livros Abertos - Segundo Semestre de 2014 (para estudantes da UnB).


Aquarela de Malu Engel* para o Projeto Livros Abertos
Para participar, é preciso: 
1) Amar os livros. Ter interesse e vontade de pesquisar sobre o mundo (maravilhoso) da literatura infantil e infanto-juvenil.
2) Ter disposição e abertura para o diálogo, tanto com as crianças, quanto com os colegas.
3) Gostar de interagir com crianças e se dispor a aprender com elas. Com aquelas que estão ali, crianças concretas, de verdade, não as que às vezes são idealizadas. Crianças não são robôs obedientes que sorriem quando assim o desejamos e que nos cobrem de agradecimentos pela nossa bela abnegação. São pessoas de verdade.
4) Participar. Se você quer apenas créditos, este não é um projeto para você. Conhecer as crianças, escolher as obras, criar encantamento e incentivar o pensamento são coisas que precisam de tempo e amor.
5) Ter abertura e disponibilidade para escrever um pouco sobre suas experiências e descobertas e compartilhá-las com outros mediadores.
6) Brincar. Com as palavras, com a poesia, com as imagens. 
7) Rir dos erros e não se levar tão a sério. Mas levar seu compromisso com as crianças como a coisa mais séria do mundo. Porque é.

É isso.

Venha, conte com a gente! :)


Contato: livrosabertos01@gmail.com

*http://cargocollective.com/maluengel