domingo, 23 de dezembro de 2012

Diário do Contador: Barbara Araujo


                                                    "Tia, ela é mágica!"

Com as festas finais nós começamos a dar adeus ao ano que está acabando e estendemos os braços para outro período de 365 dias. O mês de dezembro é o mês não só das festividades, mas também das reflexões pessoais sobre o ano que está se esvaindo, e dentre uma divagação e outra consequentemente nos perguntamos: será que fiz a diferença esse ano?
Fiz essa pergunta hoje de manhã, entre um pão com manteiga e café quente, me preparando para meu último encontro com as crianças da escola em que sou mediadora de leitura pelo Projeto.
Pensei nisso em todo o caminho até meu destino e encontrei várias respostas, positivas e negativas, mas só quando me deparei de frente para o portão da escola eu percebi uma coisa e em seguida auto questionei-me: Será que fiz a diferença para essas crianças nesse ano?
O barulho e a empolgação das crianças para a festinha de encerramento da contação em minha turma abafou os meus pensamentos e os esqueci. Enquanto todos estavam em suas mesas já servidos com seus bolos e copinhos com pipoca e fui conversar com duas alunas que estavam pintadas com maquiagem rosa. “ Nossa que bonitas estão com essa maquiagem! – eu disse” , uma das alunas voltou seus olhos para mim e disse “ a maquiagem é minha tia! – e de repente com olhos arregalados e dando um sinal com a mão para que eu chegasse mais perto ela falou – Ela é mágica tia! Shhhhhhhhh é segredo, não pode contar pra ninguém ! ”
Naquele momento minhas reflexões vieram à tona como um grande clarão em minha mente e percebi que aquelas palavras eram a minha resposta. Aquela aluna me mostrou com a sua sinceridade, inocência e fé, que ela acredita no irreal, acredita que aquela maquiagem fará coisas que esse mundo não fará por ela. Ela me mostrou um dos maiores dons do ser humano, o dom da imaginação. E qual mediador de leitura não quer que a criança acredite no fantástico?
Depois dessas palavras uma crise de riso brotou em mim seguidamente de uma sensação de orgulho  por pensar que eu contribui por meio das histórias que eu contei durante o ano para que aquela criança continuasse a ser criança. Pode ter sido muito pouco mas a diferença é exatamente criada quando há mudanças, mesmo não sendo perceptíveis.
 E agora eu te pergunto leitor, será que você fez, mesmo que pouco, a diferença nesse ano? Se sim, parabéns e continue crescendo ainda mais. Se não.... Bom, o ano ainda não acabou! Pegue um pouco de determinação e vontade, junte os dois e você se surpreenderá com os resultados!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Diário do Contador: Gabriel Januário


Sobre mentiras e fábulas


Aconteceu algo interessante durante uma mediação de leitura com alunos do quinto ano, que contarei para vocês. Eu estava lendo um livro sobre as aventuras de Marco Polo, antes de começar a leitura deste livro, eu falei um pouco de quem foi Marco Polo: disse que ele realmente existiu, que viajou muito pelo mundo e que nesse livro iríamos conhecer um pouco das suas aventuras nessas viagens. Até que em uma das leituras na qual Marco Polo viajava, ele encontrou um gigante de um olho só! As crianças na hora perguntaram se aquilo era verdade, se ele realmente tinha existido? Se eu havia mentido pra elas. Uma das próprias crianças respondeu algo nesse sentido: que ele não tinha encontrado mesmo um gigante, já que eles de fato não existem, mas aquela história era a forma como ele viu as coisas, a forma como ele quis representá-las. Concordei e completei dizendo algo no sentido de que a gente pode dizer as coisas de várias formas. Fiquei bastante surpreso com a resposta. Marco Polo realmente viveu grandes aventuras e eu mesmo tinha achado estranho essa mistura de fatos e fábulas. O que acham? O que a resposta dessa criança diz a vocês? Como vocês encaram as mentiras na vida de vocês?

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Diário do Contador: Lucas Barros



Daniel Pennac nos mostra a LIBERDADE da ação de ler, ou seja, as mais diversas possibilidades que temos de começar a ler algo. Independente de começar a ler da página 1 até ... ou de ler apenas a última frase do livro. O incrível é que temos também o direito de NÃO LER  ou de LER NÃO IMPORTA O QUÊ. Enfim, creio que seja de suma importância transmitirmos esses direitos às crianças durante a leitura compartilhada.
O direito nº 6 é, na minha opinião, o mais incrível. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível). E você, qual direito mais gostou?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dica de Leitura: Isadora Salviano



Adriana Falcão, autora de A Máquina, é a mesma que escreve Luna Clara e Apolo Onze. Daí, quem já leu, pode tirar uma noção do que encontrar nesse livro de história, à princípio infantil, mas que qualquer adulto que se atreva a ler irá encontrar semelhanças com a vida, com o que dizem ser real.  Pois sim, essa história cheia de trocadilhos inteligentes, personagens divertidos com nomes divertidos, se passa basicamente em dois lugares: Desatino do Sul e Desatino do Norte.
Que lugares são esses? 
Apenas uns dos lugares que Adriana irá nos encaminhar até onde nossa imaginação nos levar.

Quando li eu devia ter entre 10 e 12 anos, emprestado, e me encantei e identifiquei de um jeito que ao reler uns 9 ou 7 anos depois, ainda me parecia inédito.

A leitura é extremamente leve, pode-se dizer “macia”, cheia de metáforas o que faz que crianças possam acompanhar e se aproximar do enredo inteiramente poético e bem elaborado e, que trás palavras novas fazendo com que as crianças pensem enquanto lêem, pois não é um enredo simples.  
Luna Clara não conheceu seu pai, antes de seu nascimento um desencontro fez com que seu pai e sua mãe se perdessem, e Luna ainda espera por sua chegada. Apolo Onze é o filho de Apolo Dez, e tudo que ele quer é achar o que querer.



Resumidamente, é uma Aventura cheia de Imprevistos e Poracasos, que fala de encontros e desencontros, que nos fará, assim que acaba o livro, pensar e repensar sobre escolhas, destino, sorte e coincidências, agora e Doravante. Caso não entenda o motivo das palavras em itálico, pergunte a Seu Erudito, ela vai lhe explicar as coisas...

domingo, 25 de novembro de 2012

Diário do contador: Yohana Torres

Olá pessoal que acompanha o blog, gostaria de começar este post pedindo desculpa pela nossa ausência durante o mês de outubro e novembro. Desculpa!!!

Sobre delicadeza e respeito

Quando entrei para este projeto eu não tinha noção de como seria importante a minha participação na vida de outras pessoas. Muito menos que eu viria a aprender sobre a própria vida com as crianças para quem eu conto as histórias. Cada história contada é uma nova viagem, pois as crianças tem suas próprias maneiras de entender as histórias e relacioná-las com sua vida. E é exatamente isso que torna este projeto mais empolgante (pelo menos é o que eu sinto). 
Entre histórias com textos e outras com desenhos apenas, escolhi levar um livro que se chama A cama da mamãe de Joi Carlin e Morella Fuenmayor. É uma história interessante e que as crianças iam curtir cada página tanto pelos desenhos como pelas palavras, pois é fácil de se identificarem como as crianças da história. 
Fiz como de costume, cheguei na sala de aula dividi os grupos de quatro crianças e fomos a biblioteca para começar a contação. Quando cheguei ao quinto e último grupo fiz como com os outros, apresentei o livro e logo comecei a contar, mas o que eu não esperava era ouvir de uma das crianças que ela não tinha mais mãe. A surpresa foi tão inesperada que por alguns instantes eu imediatamente desarmei minha postura de alguém que estava ali pronta para uma história divertida e passei a ouvir toda a história daquela pequena criança. 
O que eu fiz e pensei neste momento? Absolutamente nada! Não estava preparada para ouvir uma história tão triste de uma menina de 5 anos de idade. Resolvi então deixar que ela decidisse se queria continuar ouvindo a história ou se preferia voltar para a sala, mas ela decididamente disse que podia continuar. Quando eu disse 'decididamente' é porque foi exatamente assim que ela se colocou na situação. Parecia que ela estava querendo me acalmar. 
Ela continuou falando sobre sua vida ter mudado depois disso. Disse que ainda havia um irmão e o pai, mas que outras pessoas da família estavam sempre por perto para cuidar dela. Como uma criança pode expressar tanta maturidade e firmeza diante de um acontecimento imprevisto que mudou a vida dela por completo? Eu continuo sem saber, mas depois de ouvi-la, entendi que ela estava bem apesar de tudo. Terminei de contar a história e então voltamos para a sala. 
Dentro de um assunto tão delicado eu me senti a priori sem poder agir, mas logo me ofereci para ouvir e dar apoio naquele instante à ela. É um assunto para refletir, no mínimo, e procurar ter respeito sobre a vontade de quem te conta algo tão íntimo. 
De repente eu virei  a ouvinte e ela que contou a história naquele dia. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Diário do contador por Barbara de Souza


Qual é a linha que separa a criança de um adulto, e do contador do ouvinte? Nesta semana tivemos a chance de cruzá-la experimentando e explorando ambos os papéis.
Em nossa reunião semanal com os integrantes do projeto realizei duas dinâmicas. A primeira consistia em desenhar algum objeto que estivesse dentro da sala onde nos encontrávamos usando o corpo ou outros objetos.

 No começo todos estavam acanhados, mas ao final os desenhos foram se formando (ou se deformando) e refletiram a nossa dificuldade, como seres humanos, de realizar uma ação muitas vezes banal por outros meios. Na contação de histórias, às vezes as limitações ou o medo nos deixam incapazes de ler a história de um modo diferente do que já foi realizado, tornando-a monótona e sem vida. E essa dinâmica teve como objetivo mostrar que tentar arriscar formas diferentes de mediar a leitura (fantoches, desenhos, teatro...)  só enriquecem mais o aprendizado e compreensão da história por parte da criança.
Já na segunda dinâmica, enquanto eu lia trechos de uma história, os demais participantes desenhavam tudo que se passava em suas cabeças. Os resultados foram inúmeros, e mostraram várias interpretações e associações do mesmo trecho, mostrando a personalidade e experiência de cada um.

 Os desenhos são as representações mentais, pensamentos e impressões que as crianças têm durante toda a contação, que na dinâmica estão sendo impressas na folha de papel. No momento em que comecei a contar a história, todos os contadores do projeto tomaram o lugar das crianças que eles mediam leitura, transcrevendo todos os seus pensamentos por meio do desenho. Isso nos fez perceber como o papel do ouvinte na contação de histórias é tão difícil, fazendo-nos refletir também na maneira que devemos tratar as crianças e entende-las quando estão inquietas ou dispersas durante a história.
Essa dinâmica proporcionou aos mediadores de leitura a experiência de se sentirem totalmente imersos em seus pensamentos, e ao mesmo tempo presentes na fantasia da história. Ela apenas concedeu a eles o lugar de serem crianças novamente.
Se quiserem ter essa mesma oportunidade, não sejam tímidos. Peçam a alguém que conte uma história e comecem a ser criança outra vez.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dica de livros para dar de presente no dia 12 de outubro!


Olá pessoal que acompanha o nosso blog. Hoje vamos dar dicas de livros super interessantes e estimulantes para atrair o olhar da criançada no dia especialmente dedicado a elas. Fizemos uma seleção com obras voltadas para várias faixas etárias. Também faremos uma breve apresentação do conteúdo de cada livro. Aqui vamos nós: 

“O almoço está entre nós -  Franny K. Stein cientista maluca” de Jim Benton
(de 8 a 11 anos)

Não há ninguém como Franny K. Stein, uma superinteligente cientista maluca. Depois de muita pesquisa, a garota criou uma poção que a transformou em uma menina como as outras que brinca de boneca e até usa vestido! Mas, quando o horrível Demônio Gigante Monstruoso, um ser feito de restos de comida, lixo e resíduos radioativos, invade a sala de aula e deixa todos em pânico, só quem pode salvar o dia é a Franny... Se ela voltar a ser genial e a cientista de sempre.

“João esperto leva o presente certo” de Candace Fleming (de 3 a 8 anos)

O que você faria se fosse convidado para a festa de dez anos de uma princesa e não tivesse dinheiro para comprar presente? Pois bem: o esperto João decide assar um bolo para a princesa. E ele só precisa agora seguir o caminho até o castelo. O que pode dar errado?

“Alice no telhado” de Nelson Cruz (de 5 a 10 anos)

De um círculo sai um coelho apressado, que desaparece em direção a outra página. Depois uma menina aflita, um chapeleiro, alguns soldados, um rei e uma rainha. E também surge um gato listrado, sorridente e matreiro. São os personagens de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, que invadem as páginas e vão assumindo o roteiro, cabendo ao autor a tarefa de conceber o cenário para eles. Como seria se Alice e os outros personagens estivessem no mundo real? 

“Branca de Neve e as 7 versões” de José Roberto Torero e Marcus Pimenta
(de 11 a 15 anos)

Imagine como seria a vida da Branca de Neve se ela casasse com o caçador? Ou se o espelho mágico mentisse para a Madrasta? E se ela não tivesse que fugir do castelo e seu pai não tivesse morrido? São sete histórias possíveis para a nossa Branca de Neve tão conhecida quanto os sete anões. 

Espero que todos tenham gostado das dicas e que aproveitem esse dia das crianças para presentear a criatividade delas.

Postado pela mediadora Yohana Torres

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Diário do contador por Jéssica Araújo

Uma experiência com história em quadrinhos


A história em quadrinhos é uma forma de leitura que normalmente desperta muito interesse nas crianças. Sua dinâmica, a forma como os personagens se dispõem nos quadrinhos, as onomatopeia, e até mesmo o cenário contribuem para que a história seja ao mesmo tempo divertida e interessante.
Em minha última contação resolvi ler com as crianças, pela primeira vez, uma história em quadrinhos. 
A princípio tive um pouco de receio, mas ao mesmo tempo tinha certeza que as crianças iriam gostar. A história “O mistério do Pântano” conta a aventura de Chico Bento que ao se perder em um pântano escuro juntamente com sua namorada Rosinha e seu primo Zé Lelé, precisam enfrentar criaturas monstruosas para poderem voltar para casa. A história era de certa forma grande, e inclusive era dividida em duas partes, e por isso, fiz a contação em dois dias.                       

Só de olharem a capa as crianças ficaram muito animadas, tanto meninos quanto meninas, e em todos os momentos elas contribuíram com a leitura fazendo os “sons” que apareciam na história, e me ajudando com as vozes dos personagens. O fato de dividir a história em duas partes me deixou de certa forma um pouco apreensiva de que as crianças a esquecessem, por se tratar de um gibi, mas no segundo dia de contação as crianças me surpreenderam contando todo o enredo da primeira parte, até mesmo os detalhes, e estavam muito curiosas para saber como terminaria a jornada do Chico Bento. Ver as crianças brincando com a história fez da leitura dialógica com quadrinhos ser muito divertida. Foi realmente muito bom ver a empolgação de todos.     

Algumas dicas:
Na leitura dialógica de uma história em quadrinhos é necessário a presença de menos crianças,de duas a três no máximo, para que todo possam ver as imagens.
Para que se torne uma leitura mais dinâmica e divertida fazer diferentes vozes para os personagens é uma boa opção.       

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Diário do contador: Isabella Brandão


Em meu encontro com as crianças hoje (faço mediação de leitura com uma turma de 2º ano), levei um livro que me encantou bastante pelo seu formato. Era “O menino, o cachorro” ou “O cachorro, o menino”, de Simone Bibian, com ilustrações de Mariana Massarani. O livro foi feito de forma que pode ser lido partindo tanto da capa da frente, quanto da capa de trás, e conta a história de um menino que queria muito ter um cachorro e de um cachorro que queria muito um menino, sendo que as histórias se encontram exatamente no meio do livro. Os dois (menino e cachorro) fazem parte da mesma história, que na verdade é contada a partir de duas perspectivas – uma em que o personagem principal é o cachorro e outra em que o personagem principal é o menino.
As crianças se interessaram inicialmente pela capa, que é bastante colorida, cheia de ilustrações “-Tia, que livro lindo!”. Quando propus a eles que escolhessem por qual dos lados gostariam de começar, imediatamente ficaram curiosos sobre a forma como a história seria contada. Quando chegávamos ao fim (ao meio), iniciávamos a história pelo outro lado e rapidamente eles começavam a opinar sobre o que aconteceria adiante. Além de despertar a curiosidade dos pequenos, as ricas ilustrações proporcionaram vários momentos de partilha de experiências em que eles contaram sobre seus animais de estimação, sobre seus desejos, saudade que sentiam de amigos, pontos abordados ao longo da narrativa. A história é sensível e encantadora e permite um rico diálogo, interação com as imagens, além de ser muito criativo. Ótima dica para uma leitura fora do convencional!


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Diário do Contador: Márcio Alves


                                      As Aventuras de um Contador




             Não faz muito tempo que comecei a fazer leitura dialógica para a turma do 4° ano A, desde o primeiro dia me surpreendi com a recepção carinhosa de todos os alunos. Garotada animada e disposta a se envolver na leitura.
            Os pequenos ficaram muito curiosos para me conhecer, saber por que eu estava no projeto, ficaram meio que impressionados com um “homem” como mediador de leitura, todos estavam acostumados com mulheres e moças, pessoas com as quais têm mais contado dentro da escola.
           Desde o primeiro dia tentei ganhar a confiança deles, conversando de maneira bem descontraída e estabelecendo regras nada convencionais para estimular a liberdade de expressão e imaginação durante o momento especial da leitura. Uma dessas regras era que todo mundo estava na obrigação de não ter obrigação, ou seja, tudo era voluntário e todos eram livres para participar ou não. Para minha surpresa, eles adoraram e me questionaram se aquilo realmente eram regras, porque eram muito fáceis de seguir, e riram bastante.
         Nas semanas seguintes durante as leituras percebi que foi se consolidando uma relação afetuosa entre nós (como mostra o desenho do coraçãozinho feito por uma das crianças). Fiquei muito feliz por ter cativado esse tipo de sentimento nas crianças através da mediação de leitura.
        Espero que esse sentimento de carinho e confiança que as crianças criaram por mim através da leitura dialógica possa ser desfrutado também pelos pais e professores, para que eles também possam viver as aventuras de um contador. 



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Diário do Contador: Chapeuzinho Amarelo



           Na última contação, li com as crianças “Chapeuzinho Amarelo” de Chico Buarque. O livro conseguiu prendê-las e as fez experimentar um entremeado de medo e risadas. Elas entraram nessa incrível narrativa melódica de tal forma que sentiram medo juntamente com a Chapeuzinho medrosa e ao decorrer da narrativa foram ficando mais confiantes assim como a personagem que deixa de ser submissa ao próprio medo, o enfrenta e em seguida se diverte com ele.
            A grande capacidade dos pequenos leitores em observar e tirar proveito das ilustrações me impressionou. Eles notaram diferenças cruciais nas imagens como a cor da personagem que varia entra amarelada (de medo), branca (pavor) e rosada (feliz) e comentaram isso comigo durante a contação. Salientaram que na capa ela não está com medo e concluíram sozinhos, somente observando as imagens, que Chapeuzinho é uma menina feliz a pesar do medo.
            Divertiram-se bastante ao perceber que o lobo tão medonho (que fez algumas crianças se esconderem atrás de mim ao ver a ilustração) foi se descaracterizando, virando um bolo, em um fantástico jogo de imagens e palavras. Foi sem dúvida uma bela leitura! Gostamos muito do livro (eu e as crianças)! Indico para todas as idades.


Dica:
Durante a leitura dialógica procuramos explorar bastante as ilustrações que trazem informações importantes para a narrativa e que muitas vezes não estão explicitas na mesma.



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Coluna do Colaborador - Adriana Dias*


DIA DO ESCRITOR



Hoje gostaria de dedicar um agradecimento especial a todos que contribuíram com a minha infância de ontem e de hoje: Perrault, Grimm, Dr. Seuss, Monteiro Lobato, Saint Expeury, Tatiana Berlinky, Lewis Caroll, Mauricio de Souza, Carlo Collodi, Roald Dahl, Daniel Defoe, Charles Dickens, Astrid Lindgren, Ziraldo, AA. Milne, Beatix Potter, HA Rey, Rick Riordan, JL Rowling, Mark Twain, Vinicius de Morais, Audrey e Don Wood, Ruth Rocha, Camila Franco, Ricardo Azevedo, Lygia Bojunga, Tino Freitas, e a uma infinitude de escritores (não tão dedicados a literatura infanto-juvenil ou que não consegui me lembrar agora...), mas que com certeza, sem os quais eu não poderia me nominar, nem ao menos me definir!

A todos vocês o meu muito, muito obrigada!
Sem vocês a beleza do mundo não existiria, a tristeza não poderia ser definida,  a angustia não poderia ser localizada, o extraordinário não poderia ser almejado, a fantasia não poderia ser fantasiada e o mundo mágico perderia todo o seu brilho, sua cor, seu cheiro e sua imaginação!

Continuem com sua arte a preencher as páginas do mundo, a nos oferecer a possibilidade de ao virar uma paginar abrirmos uma porta para um novo universo!
Obrigada por todos os dias em que me ajudaram a superar minhas dificuldades!
Obrigada pela companhia nos dias alegres!
Obrigada por me fazer rir em momentos tristes!
Obrigada por ter me ajudado a compreender melhor os meus amigos!
Obrigada por todos os sentimentos novos que me apresentou!
Obrigada por todas as viagens que fizemos juntos!
Obrigada por ter estado comigo nos dias de luto!
Obrigada por ficar comigo nos dias de preguiça deitado na rede!
Obrigada por me fazer uma pessoa mais feliz!
Obrigada por me deixar ser criança!

*Adriana Dias
Psicanalista, Coordenadora Associação Viva e Deixe Viver, Psicologa UTIp HRAS.

Palavra-Chave: Dia do Escritor, obrigado.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Diário do Contador: Barbara Araujo




A obra abaixo resume um pouco o que eu conseguia enxergar quando olhava para cada criança, enquanto eu contava para elas neste semestre.

      Salve a imaginação! 
                                                              (Barbara de S. Araujo, 07.2012)

*Peço a todos que utilizarem essa imagem que coloquem o meu nome na legenda. Obrigado


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Oficina de Leitura Dialógica para Pais e Professores


No dia 22 de junho realizamos a oficina "Conte Comigo: uma introdução à Leitura Dialógica" juntos aos pais e professores da Escola Classe 415 Norte. É nesta escola que desenvolvemos nosso projeto de extensão desde abril de 2011. Na ocasião contamos com a equipe da UnB TV que fez uma reportagem sobre o projeto. Vocês podem conferir a reportagem no youtube http://www.youtube.com/watch?v=rJOPXCFC8gU&feature=plcp.

Agradecemos a todos que colaboram com a oficina, e com a divulgação de nosso trabalho. Agradecimento especial à professora Nailda Rocha, diretora da Escola Classe 415 Norte, que acreditou na nossa proposta e hoje colhe os resultados conosco. A cada dia percebemos que cresce o interesse e o prazer pela leitura nos alunos, e entre nós mediadores. 
Desejamos que o projeto cresça e que possamos capacitar um número maior de mediadores para atendermos todas as turmas da Escola Classe 415 Norte, e quem sabe levarmos a propostas a outras escolas do DF.
Aqui Todos Contam! 

sábado, 16 de junho de 2012

Coluna do Colaborador: Domingos Sávio Coelho *

A Gramática ou a Vida

Professora,
não dá pra levar a sério este livro de português da minha filha ! Simplesmente não tem relevância alguma, neste momento da vida dela, saber que alguns estudiosos da língua criaram uma teoria que diz que nossa fala é recheada de frases declarativas, exclamativas e interrogativas ! 
Pedi a ela que fosse até a janela e me dissesse como estava o céu. Ela foi, olhou pro céu, voltou pro quarto e declarou que o céu tinha uma nuvem grande e escura e que apareceu um pouco de azul entre algumas nuvens. Disse que ela acabara de fazer uma declaração. “E daí ?” ela me perguntou. Ela tem toda razão. De fato, de nada serve este tipo de conhecimento teórico de gramática para quem precisa ler um gibi, um poema. À medida que ela ler mais e mais gibis irá ganhar cancha de leitura de gibis. 
Não gostaria de sobrecarregar minha filha com informação inútil (inútil para este momento da vida, obviamente ! Creio que este tipo de informação é muito relevante para o estudante.... universitário, por exemplo). A questão central de fato é que minha filha precisa aprender a amar os livros, a contação de estórias, os poemas do Vinícius de Moraes, admirar as frases de efeito do Guimarães Rosa (“o nada é um balão sem a pele”), inventar palavras e escrever as palavras que ela inventar. Em relação a este ponto crítico, as informações contidas no livro de português são de uma irrelevância que não tem tamanho ! Conversei com a Diretora e a Coordenadora que disseram entender minha posição e que vão pensar sobre o assunto. Sei que várias escolas aqui em Brasília adotam este livro. Penso com meus botões sobre a falta de ousadia das escolas: o mesmo livro, o mesmo caminho, a mesma rota marítima diante de um mar de possibilidades. Se um barco encontrar um iceberg pela frente... Meu coração gelou quando vi que num determinado trecho do livro tem uma página de revista em quadrinhos e, a seguir, vem uma batalhão de perguntas para “compreender o texto”. Na verdade, são perguntas pensadas para “matar a vontade de gostar de ler gibis” em qualquer criança. É um crime contra a revista em quadrinhos. Pra mim que fui criado lendo gibis é impossível fazer este tipo de “autópsia” de uma estorinha em quadrinhos.

Querida, Professora,
Solicito uma tarefa alternativa. Por exemplo, o "dever de casa" poderia ser assim:
"Leia 3 revistinha bem lidas com sua filha. Lembre-se que a revistinha precisa ser bem lida, isto é, você tem que ler como se tivesse 7 anos e acabou de comprar a revista na banca. É uma revista de que você gosta e você sorri, admira os desenhos bem feitos, aponta a semelhança com a linguagem do cinema, etc. Depois disso você emenda uma estória que você viveu por causa de uma revistinha em quadrinhos." 
Você pode passar um dever assim ? 



* Domingos Sávio Coelho é professor da Universidade de Brasília e Coordenador do Projeto Circulo de Cultura Surda.


terça-feira, 12 de junho de 2012

As escolas matam a criatividade?

Complementando o texto de Lucas, vale a pena assistir:
http://www.youtube.com/watch?v=aQym7WkF5ks&feature=related

Diário do Contador: Lucas Moura Barros

Não subestime as crianças!

Todos nós já fomos ou ainda somos crianças. A passagem do "estado infantil" para o adolescente e assim por diante acontece tanto do ponto de vista físico, biológico, social, emocional, como também intelectual. Quero tratar aqui desse último aspecto, especialmente  levando em consideração a experiência adquirida com a contação da história “Eu não quero dormir agora" (Lauren Child) à crianças de aproximadamente 5 anos, ou seja, crianças do 2º período escolar. O livro conta a história de Lola, uma menina que não gosta de dormir cedo, e todas as vezes que é questionada por seu irmão sobre a hora de dormir a menina cria fantasias, brincando com a imaginação e adiando a hora de dormir.
O relativo desprendimento de regras rígidas 
pode favorecer a imaginação e a síntese de idéias surpreendentes...
A palavra intelecto significa: “conjunto do entendimento e da inteligência” (Minidicionário Ruth Rocha).
Não parece adequado esperar da criança o mesmo entendimento que os adolescentes, adultos ou idosos possuem, e isso em qualquer aspecto da vida cotidiana. Uma criança que estuda matemática,  ao comer uma pizza com seus familiares dividida em oito pedaços, certamente compreenderá melhor a partilha do que uma criança que ainda não aprendeu as regras de fração. Esta última terá dificuldade em perceber que a quantidade de pizza não aumenta quando aumenta o número de pedaços.  Se, em algumas ocasiões, crianças não "conseguem" racionalizar como os demais, por outro lado,os adultos acabam mais limitados no que compete a imaginação, tão sujeitos a normas e regras. A criança é menos experiente em relação ao adulto, mas é capaz de elaborar formas surpreendentes de entendimento.
Sendo assim, não é possível nem desejável exigir da criança o mesmo entendimento que você tem ao ler uma história. Talvez as experiências que o contador possui possam ajudá-las a saírem da concretude, a descobrir a polissemia, a multiplicidade de interpretações, a necessária consideração do contexto, etc. Existe, entretanto, o problema de subestimar o intelecto infantil. Tal problema vem da nossa incapacidade de se colocar em um nível que já passamos.
O mediador precisa resgatar a infância, real ou imaginada, e abrir a roda para a brincadeira com as palavras e imagens...
Na semana passada tive a oportunidade de fazer a minha primeira contação na Escola Classe 415 Norte. Esperava, com o livro já mencionado, um entendimento muito parcial das crianças e também desinteresse da maioria dos 21 alunos presentes. Não porque o livro fosse ruim ou difícil de se entender, mas porque subestimei o intelecto e o gosto pela leitura desses pequeninos. Ao começar as apresentações para dar início a contação, já notei a minha ignorância acerca do potencial delas. Todas ficaram quietas e se apresentaram gentilmente. Quando iniciei a contação, busquei fazê-lo de forma dialógica, sendo este um dos princípios mais importantes para os contadores do Projeto. No decorrer da história, sentado em uma pequena roda (os 21 alunos foram divididos em pequenos grupos), para minha surpresa as crianças estavam lá, de corpo e alma comigo. Ao nosso redor existiam infinitas possibilidades de dispersão, pois estávamos no pátio da escola expostos ao ruído e ao movimento. Porém as crianças mostraram absoluta concentração na atividade.
A cada diálogo eu aprendia a não subestimá-las. Elas não só conseguiam entender a narrativa, como também ofereciam interpretações para a história, e ainda faziam objeções ao autor.
Crianças não são miniadultos
Quando perguntei às crianças se elas gostavam de dormir cedo elas responderam: Não!!!! E outras: Sim!!!(em casos excepcionais). Todas interagiram com a história de maneira surpreendente, a cada virada de página, novas imagens e mais diálogo. Não era possível virar a página sem que fossem feitos comentários e que contassem casos da vida cotidiana, do tipo: "Meu irmão não dorme cedo, mas eu também não durmo". 
Concluí que não se pode pensar a criança como alguém de "outro mundo"! Ocorre que, assim como nós, elas também possuem uma forma de perceber e interpretar a vida.
Daqui a 5 anos serão outras interpretações e mais experiências, principalmente quanto melhor for o estímulo e a atenção dadas pela escola e a família.Acredito que cabe a nós contadores, observarmos o que acontece na roda sem esperar reações específicas, e estarmos abertos às suas formas de ver o mundo.  Desta maneira teremos acesso à riqueza de suas contribuições e muitas surpresas agradáveis.

domingo, 13 de maio de 2012

Uma ótima surpresa



Para ler neste fim-de-semana, peguei ao acaso um dos livros do maravilhoso acervo que obtivemos com apoio do FNDE. O livro chama-se "Diário Absolutamente Verdadeiro de um Indio de Meio-Expediente". O título não me chamou a atenção mas ao folhear um pouco, logo me encantei com as ilustrações. A partir de então, foi começar a ler e não parar mais, madrugada adentro. Gente, simplesmente não dá para largar.O romance conta a história de Arnold Spirit Junior, um adolescente nativo norte-americano que mora em uma das reservas mais miseráveis do país. Arnold conta sua história na primeira pessoa e sua narrativa é complementada por maravilhosas ilustrações de Ellen Forney que, na história, são de autoria do próprio personagem. Arnold tem hidrocefalia e precisa usar os óculos toscos distribuídos aos índios, vive na mais absoluta pobreza e em sua reserva reina o alcoolismo e o total desânimo com a vida. Vive apanhando dos meninos da reserva devido ao fato de ser "cabeção" (literal e figurativamente, pois Arnold é inteligentíssimo, o que também incomoda alguns professores e colegas da escola na reserva).  Seu único amigo, o valentão Rowdy, é vítima constante das surras de seu pai e acaba repetindo esse comportamento com todos que o rodeiam, com exceção, misteriosamente, de Arnold, por quem nutre um sentimento de proteção. 


Uma das ilustrações de Ellen Forney


Isso até o dia em que Arnold, incentivado por um professor a procurar melhores condições de educação, resolve mudar-se para uma escola fora da reserva em que o único índio além dele é o da figura da logomarca da escola. Visto como traidor de seu povo e bajulador dos brancos, Arnold passa a ser odiado até pelo seu melhor amigo na reserva e, ao mesmo tempo, a ser desprezado entre os colegas de sua nova escola. Estrangeiro em duas terras, Arnold questiona-se sobre sua identidade e descobre aos poucos que muitas de suas idéias pré-concebidas precisam ser revistas. Mas se você já está se perguntando por que eu teria gostado de algo tão concreto, deprimente e sem poesia, é porque eu não tenho como transmitir aqui o fabuloso senso de humor e do ridículo, a sensibilidade, a fina ironia e o absoluto encantamento poético produzido pela narrativa em primeira pessoa de Arnold. As ilustrações fazem parte orgânica desta jornada de auto-conhecimento deste "índio de meio-expediente" que aprende, em meio a tanta dor mas sem jamais perder o humor, a reencontrar a força de suas raízes e o orgulho de ser quem é. 



Sherman Alexie
A obra, publicada no Brasil pela Editora Galera e com uma bela   tradução de Maria Alice Máximo, é indicado para adolescentes, jovens e adultos, eu diria que mais ou menos a partir dos 15 anos (claro que isso é muito relativo, mas é um parâmetro, devido aos temas tratados).  O autor, Sherman Alexie, ganhou vários prêmios pela obra e afirma que o livro é, em grande medida, autobiográfico. A história não esconde as dimensões dos problemas sociais das reservas indígenas (muitas das quais muito semelhantes em nosso pais), questões de violência doméstica e bullying entre adolescentes, além de tratar com honestidade os conflitos da adolescência, incluindo a sexualidade. 
Talvez por isso tenha sido banido de algumas bibliotecas nos Estados Unidos, tendo sido considerado "impróprio" (??). Porém, em um dos casos, o livro, ao ser censurado, estava com os dez exemplares emprestados e todos já reservados, mostrando a popularidade da obra entre os jovens. Em outro caso, os censores resolveram sentar-se e realmente ler o livro e decidiram que ele é sensacional, desistindo da proibição! São as loucuras da censura e da hipocrisia.
Recomendo fortemente! 

terça-feira, 1 de maio de 2012

A leitura proibida





Vocês sabiam que, nas fábricas de charutos cubanos, em meados do Sec. XIX, por algum (curto) tempo foi comum que os charuteiros contratassem um dos operários para ler para eles? Os trabalhadores escolhiam juntos as leituras do dia e ouviam, na voz do “Lector”, cujo serviço pagavam do próprio bolso, as notícias e reportagens do dia. Depois se deliciavam com obras históricas, poemas, contos e romances, como as aventuras do Conde Monte Cristo, de Alexandre Dumas (um dos favoritos dos trabalhadores, que levou inclusive à homenagem do personagem na marca de charutos Monte Cristo). Mas a prática teve vida curta, pois foi logo considerada "subversiva" e terminantemente banida. Impressiona a ênfase do decreto governamental e a caracterização criminosa dessa prática de leitura coletiva:
"1. É proibido distrair os trabalhadores das fábricas de tabaco, oficinas e fábricas de todo tipo com a leitura de livros e jornais, ou com discussões estranhas ao trabalho em que estão empenhados. 2. A polícia deve exercer vigilância constante para fazer cumprir este decreto e colocar à disposição de minha autoridade os donos de fábricas, representantes ou gerentes que desobedeçam a esta ordem, de modo que possam ser julgados pela lei, segundo a gravidade do caso."[1]



Dá o que pensar...

[1] Decreto de 1866 do governo cubano. Citado em:
Manguel, A. (1999). Uma História da Leitura. São Paulo: Companhia das Letras. Aproveito para recomendar a todos este belíssimo conjunto de ensaios sobre a leitura e sua(s) história(s).




Gerivaldo Neiva - Juiz de Direito: Dia do trabalho ou dia do trabalhador?

Gerivaldo Neiva - Juiz de Direito: Dia do trabalho ou dia do trabalhador?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Triste Déjà-Vu

Muitos devem ter visto a última capa da Revista Veja, que mostra um rapaz alto, magro, bem-vestido e sorridente ao lado de um "baixinho" caricato, com a roupa desalinhada e a expressão descontente. A revista declara que "do alto tudo é melhor" e que a "evolução tecnofísica" explicaria "por que as pessoas mais altas são mais saudáveis e tendem a ser mais bem-sucedidas". As palavras "mais altas", "mais saudáveis" e "mais bem-sucedidas" aparecem destacadas com a mesma cor.
A "tecnofísica" é anunciada como uma nova ciência, e a "evolução tecnofísica" como um suposto progresso genético rumo a pessoas mais altas = felizes = bem-sucedidas. Nova ciência? Parece-me que "ciências" bem parecidas e nada novas já foram anunciadas como a "solução da humanidade". Todos conhecem no que deu.
Há uma profusão de livros infantis e infanto-juvenis, geralmente paradidáticos (mas não sempre), dedicados à questão das "diferenças". A expressão em si talvez não seja a melhor, pois podemos ser diferentes ou semelhantes em infinitos aspectos e as "diferenças" destacadas em alguns trabalhos menos reflexivos talvez sejam mais reveladoras de preconceitos subjacentes do que inspiradoras de novas atitudes. É possível, ainda, que apenas repetir que somos diferentes e sugerir, enganosamente, que podemos construir um mundo idílico e sem conflitos não seja a melhor maneira de ajudar as crianças a pensarem criticamente sobre práticas discriminatórias que marcam nossa sociedade. Mas isso fica para uma próxima postagem. Hoje, fica apenas a triste constatação: entre tantos livros especializados, encontros, debates e outros esforços para refletir sobre a discriminação e a intolerância e favorecer o pensamento plural na escola, alguns veículos de comunicação  continuam, infelizmente, desfilando afirmações que buscam dar respaldo pseudo-científico a preconceitos mal-disfarçados.

"É aquilo que fazemos do que temos, e não o que nos foi dado, que distingue uma pessoa de outra". Nelson Mandela.