segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Diário do Contador por Laís Melo



Me senti mais confortável ao saber que não só eu mas, também, as crianças não conheciam a história dos Bogatires. Essa é uma das histórias do livro Vice-versa ao contrário, assim como a história do Peter Pan, que contei umas semanas atrás. Engraçado que diante de tantas histórias conhecidas (e suas respectivas versões inventadas/cômicas que o livro traz) as crianças escolheram essa, com um nome tão, tão... FEIO! (pensei). Enfim, as crianças deram um descanso para os clássicos mais clássicos e, imagino eu, resolveram descobrir o que uma história de nome tão estranho fazia entre outras tão conhecidas.

É uma ótima história. A versão original trata da lenda dos bogatires, que eram seres gigantes nascidos da Mãe-Terra. Essa é uma lenda que fazia parte (não sei se ainda faz) da tradição oral do povo russo, que contava as aventuras desses gigantes em forma de música ou poesia, ressaltando a força deles, bravos guerreiros, que defendiam as terras de invasores.
O texto cita ainda outras lendas que tratam de gigantes, mas que foram inventadas em outros lugares do mundo, em que eles aparecem ora como benfeitores, ora como malfeitores. E daí surge a inquietação do autor (minha e das crianças também): Será que os homens sonham ou imaginam as mesmas coisas em lugares diferentes? Bem... pensamos que talvez isso seja possível, mas não soubemos explicar.


Bem... fim da história original.


A versão inventada/cômica dessa lenda revela uma guerra entre os bogatires e homens. Entretanto, e para a surpresa de  todos, os homens saíram ganhando nessa. E a explicação é ótima: sempre que um bogatir atacava um homem e o dividia ao meio, as partes  que sobravam se transformavam em dois homens! Dessa forma, ao verem que a luta estava perdida, os bogatires desistiram e resolveram se refugiar no fundo das cavernas, e lá, caíram nos abismos  escuros e viraram pedras. Dessa forma, os homens se tornaram os “manda-chuvas” da terra.
Ah sim! Quando um bogatir partia um homem ao meio, dos dois que resultavam, um era destro e o outro canhoto. As crianças gostaram muito dessa parte, pois, realmente, é uma ótima explicação para o fato. Mas, se foi assim, deveria existir no mundo a mesma quantidade de destros e canhotos. Então... porque existem infinitamente mais destros que canhotos? Isso eu deixo pra vocês mesmos descobrirem. E eu, sendo canhota, não sei se gostei muito da explicação...

sábado, 29 de outubro de 2011

Diário do Contador por Laís Pires

         Nada como uma leitura em cordel pra tirar das crianças boas risadas dos versos rimados. A leitura do livro “O Coelho e o Jabuti” de Arievaldo Viana, poeta popular nascido no Ceará, nos levou a uma floresta onde um coelho, de tão rápido que era, zombava de um jabuti, coitado, por andar a passos bem vagarosos. Certo dia, de tão humilhado pela fama de preguiçoso, o Jabuti decidiu confrontar o Coelho e fez com este uma aposta de corrida. Todos os animais compareceram.
  Jabuti se dizia mais rápido quando corria por dentro da mata e assim, tramou com sua família, muito parecida com ele, de se espalhar por dentro da mata ao longo da estrada de chão, onde o Coelho preferia correr. Jabuti, desonesto, fez com que cada familiar seu se passasse por ele e aparecesse e se escondesse entre a mata dando a ilusão de que ele estava correndo. Até que acabou ganhando a aposta, mas não pensem que as crianças ficaram satisfeitas! Trataram de inventar um novo final, além de terem trabalhado o sentimento de cada personagem a cada reviravolta e de terem relembrado situações semelhantes às do Coelho e do Jabuti por que passaram.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Diário do contador por Mariana Kirschner

O que você faria se encontrasse um livro vermelho igualzinho a esse, em uma biblioteca?
Bom, talvez você não fizesse nada. Mas e se fosse um livro de um poderoso feiticeiro?

 O livro “O aprendiz de Feiticeiro” fala sobre a curiosidade. Simão é um menino muito esperto, que resolve trabalhar como ajudante de um feiticeiro bem excêntrico. Já em seu primeiro dia de trabalho, ele é tentado pela sua curiosidade a roubar algo proibido: o livro vermelho.  Ao longo da leitura, descobrimos que o livro vermelho continha fórmulas mágicas capazes de transformar qualquer um em qualquer coisa: animal, objeto ou pessoa!                                                
Essa contação foi, particularmente, muito engraçada! Perguntei as crianças de um dos grupos se elas sabiam o nome do feiticeiro. Elas ficaram curiosas, e disseram que não. Então, cada uma  sugeriu um nome e ao final lhe chamamos de: Mestre Coruja Chifu Banana! A possibilidade de participação na construção da narrativa deixou as crianças super empolgadas.                                                                                                                                                                        Nesses dois últimos encontros eu pude perceber  algo que me deixou muito feliz. Quando iniciei minhas contações, algumas crianças se mostravam muito dispersas e realmente desinteressadas. Eu pensei: " Vamos ver como as crianças respondem a leitura dialógica..."  Incrível! Atualmente eu as percebo mais participativas. Talvez porque agora elas estejam se dando conta de que aquele espaço é delas e que eu não sou a “tia” que as vai colocar de castigo, nem dedurar suas “bagunças” para a professora. Acho que estão começando a entender que elas podem contribuir para as discussões e se divertir durante a leitura.

Aprendi, pela minh experiencia prática, que a leitura dialógica possibilita a criação de vínculo, palavra chave no processo de aprendizagem e de subjetivação.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Diário do Contador por Natália de Oliveira



Hoje li um livro que a maioria das crianças escolheu na semana passada, quando usamos os fantoches para contarmos uma história em que cada um era um personagem (tentativa que não deu muito certo e ainda estou pensando em como melhorar pra tentar mais uma vez e escrever aqui a comparação das duas experiências). Elas elegeram outra história de ovelha na onda da Maria-vai-com-as-outras, “A Ovelha Negra”, escrito por Bernardo Aibê, pseudônimo de Odair Barnabé, e ilustrado por Mariana Massarani. O livro conta a história da ovelha Tita, a única negra do rebanho, que aprende a gostar dela mesma com a ajuda de sua amiga, a dona Dalva e de todas as outras ovelhas brancas.
Logo na primeira página, um dos meninos mais observadores apontou pra figura da dona Dalva e disse:
 - Olha, no meio de todas as ovelhas tem uma que é professora! (menino)
- Por que você acha que ela é professora? (eu)
- Porque ela tá de óculos, ué!
- Todo mundo que usa óculos é professora? (eu perguntando pra todos)
- Não.  Ela também pode ser velha. Gente velha também usa óculos. (menina)
Bingo! A dona Dalva realmente era mais velha, informação revelada só duas páginas depois. Isso me deu a impressão que as crianças já perceberam que não precisam falar só quando eu faço as aberturas programadas. E que isso é bem diferente de me interromper, ou algo parecido. Algumas se sentem livres para fazer observações sobre as ilustrações e sobre a leitura em voz alta independente da demanda direta. Lembrando que esse é um dos princípios da leitura dialógica: seguir o interesse das próprias crianças, sempre ampliando a idéia e explorando o vocabulário. Essas pausas não-programadas são, normalmente, mais frutíferas em participação do que por meio das minhas perguntas. Isso provavelmente acontece porque ao se colocar no lugar de algum personagem, a criança leva consigo toda sua experiência e seus colegas compartilham-na e se identificam com ela. Semana que vem, chega de história de ovelhas.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Diário do Contador por Laís Melo


O dia foi de muitas histórias... Para começar, li com um grupo de crianças uma das histórias do livro “Vice-versa ao contrário”. Esse é um livro que traz a versão original de histórias clássicas e uma outra versão delas, que geralmente não tem nada a ver com a original. Eles escolheram a história do Peter Pan, que na nova versão, se cansa da vida na Terra-do-Nunca e resolve ir para outro lugar. Ele acaba em Londres, e lá busca saber como é a vida nessa cidade . A história é bem diferente da original, então, a reação das crianças foi atenta e um pouco resistente. Mas, por fim, disseram que era uma boa história.


O segundo livro que li foi “O pequeno herói”. Há um bom tempo havia prometido pras meninas que levaria um livro de princesas, e encontrei esse das Princesas do Mar. Gostei desse livro por serem princesas que não seguem muito o perfil “espera pelo príncipe encantado”: são princesas que brincam, brigam e resolvem problemas. A história é bem divertida, com ilustrações bem coloridas e acaba trazendo uma moral de respeito às diferenças. Enquanto ouvia a história, o grupo formulou algumas hipóteses para o final. Eles gostaram muito do desfecho e quiseram rever as figuras. Não só as meninas, como os meninos também.  


Por fim, em dois grupos fiz uma leitura diferente. Havia decidido na semana passada, devido ao fato de uma das crianças sempre demonstrar interesse por enciclopédias, fazer essa leitura. Outras crianças se interessaram também, então fiz o combinado de ler uma enciclopédia essa semana. Logo depois, veio o desespero! Perguntei-me muitas vezes como faria isso, ou mesmo se esse tipo de leitura era o ideal para a proposta do projeto. Enfim, fiz. E foi genial! Na verdade, pelo fato de o texto ter muitos termos complexos, resolvi usar as imagens (que era exatamente o que interessava às crianças) e formular uma história. Formulei uma história até o meio da enciclopédia e pedi a ajuda deles para continuar a história com as figuras das páginas que seguiam. Eu que pensei que a diversão era mais pra eles, me diverti muito mais! Ri muito (de verdade) com os rumos que a história tomava, e concluímos a história juntos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Diário do Contador por Raquel Coêlho

As conversas que tenho tido com as crianças durante as contações têm sido ótimas! Elas se mostram interessadas, todas têm algum comentário a fazer sobre a história. Sempre tem os que acabam fugindo do assunto, mas logo depois conseguimos voltar.
Contudo esse post é justamente sobre os comentários que não fogem nem um pouco da história e que, no começo, me deixaram com certa dúvida. Vou colocar um exemplo para ficar mais claro:
Historia: Rumpelstiltskin (coleção figurama)


Raquel: "Desta vez o rei levou a moça para uma sala ainda maior, e prometeu que se ela transformasse toda aquela palha em ouro, nunca mais ele pediria isso e ela seria a rainha.
Quando o homenzinho voltou, a moca não tinha mais nada para lhe dar: - Você me promete o seu primeiro filho quando for rainha?- perguntou ele."
Garotinha: "Ah! Isso aconteceu com minha mãe!!!" E depois ela foi explicando toda a história de como um rei tinha trancado a mãe dela e pedido que ela transformasse palha em ouro e do homenzinho que apareceu e fez ela prometer que daria a filha dela em troca de seu serviço... Mas a mãe falava que amava a filha e nunca poderia fazer isso.
Raquel: "Nossa! Que legal! Muito parecido com a historia..." Ou algo parecido; a verdade é que eu não sabia muito bem o que falar. Nos encontros seguintes ele fez a mesma coisa, como quando:
Historia: O Ursinho Azul – Maria Dinorah (Bem legal e as ilustrações são lindas)


A história fala sobre um garoto que vai ao circo com seu pai e no espetáculo tem um lindo urso azul. O menino fica pedindo para seu pai que lhe dê um igual, mas ele diz que ursos são ferozes e perigosos. Então eu perguntei para eles se eles concordavam com isso...
Garotinha: "Eles são sim, tia! O meu primo foi no circo e tinha um urso azul lindo, bem fofinho! E ele pediu um para meu tio, só que o urso era muito perigoso e comeu meu primo!"
E no começo o que era dúvida virou admiração, porque aqueles 20 minutos que nos encontramos na biblioteca são mágicos e o que essa garotinha faz é vivenciar toda a fantasia das historias e ajudar todos os outros a fazer o mesmo! Porque ninguém diz que e mentira, ninguém fala que isso não podia acontecer nem a interrompem. O que as outras crianças fazem? Elas se encantam com suas historias e começam a conversar sobre.Ela também me ajuda a tornar as historias mais reais, por mais surreais que sejam. Então esse post é para agradecer à contadora mirim que tem encantado as contações.
"A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro." Albert Einstein

domingo, 16 de outubro de 2011

Reflexão sobre a infância

Por Katsumi Takaki
O desaparecimento da infância, de Neil Postman, caminha com o leitor por vários cenários e datas – da Grécia Antiga aos dias atuais – mostrando como a noção de infância foi e é retratada. O fato é que esse tem sido um tema muito discutido e estudado, e nunca se mostra arcaico, desatualizado. É importante ressaltar que Postman não aponta “culpados absolutos” e únicos do desaparecimento da infância, além de não oferecer soluções para o problema abordado. O autor mostra possíveis causas e evidências de que a infância está em vias de desaparecer, mas em momento algum cria uma nova receita a ser seguida para que isso não ocorra.
Na primeira parte do livro, Postman se atém à Invenção da Infância, partindo dos gregos e indo até o final do século XIX. Na Grécia, a infância não era considerada uma etapa especial, e por isso se prestava pouca atenção às crianças. Isso se reflete nas palavras que se utilizava para designar uma criança ou um jovem: pode-se dizer que elas são ambíguas, usadas para se referir a qualquer um que esteja entre a infância e a velhice. Entretanto, a educação era extremamente valorizada entre eles – apesar de a noção de escola tida pelos gregos ser diferente da que se tem nos dias atuais. O fato é que a infância não foi inventada na Grécia, mas essa cultura nos possibilitou um presságio do que ela viria a ser quando os romanos a criassem.
Os romanos, por sua vez, tiveram um olhar um pouco diferente em relação à infância. Foi quando se estabeleceu uma conexão entre o crescimento da criança e a noção de vergonha; momento esse em que os romanos acharam necessário proteger a criança, por exemplo, dos segredos do mundo dos adultos. Tais ideias viriam a se perder na Idade Média juntamente com o conceito de infância, em que a criança – aos sete anos de idade – passava a ser um adulto por já conseguir ler, ter acesso a esse conteúdo. Esse fato é muito importante, pois um mundo novo de possibilidades é aberto por meio da leitura.
Segundo Postman, o início do desaparecimento da infância ocorreu com o advento do telégrafo, em que parte do mundo dos adultos – antes segregado – ficou disponível em apenas um clique. Como o próprio autor diz “o telégrafo iniciou o processo de tornar a informação incontrolável”. Assim, as crianças passaram a ter acesso a um tipo especial de informação, antes apenas acessível aos adultos.  Essa tendência se consolidou com o surgimento da televisão e a democratização ao seu acesso: “a hierarquia da informação desmorona” (Postman, 2005, p. 92).
É inegável o fato de a televisão ser um dos meios de comunicação mais utilizados pela população – não apenas como fonte de notícia, como também de entretenimento. Postman não contrapõe a essa verdade. O problema em relação à “telinha” são os excessos cometidos pelos seus usuários, que frequentemente a elegem como melhor forma de diversão – seja em família, seja sozinho. Os anos que se decorrem entre o final do século XX até os dias atuais, são marcados por uma infância em companhia fiel da televisão. A impressão que se tem é que, em muitos lares, os pais passaram a ter papel secundário na educação, no lazer e na formação de seus filhos. A televisão eliminou a exclusividade do conteúdo do mundo dos adultos – o que rompe o limite entre a infância e a idade adulta, suas principais diferenças que a caracterizam como sendo uma ou outra.
Essa revelação rápida e igualitária também surge com a internet. As crianças são constantemente sobrecarregadas com o excesso de informação vindo dos meios de comunicação e de outros eletrônicos (vídeo-games; bonecos de ação; bonecas que falam, andam). O excesso de estímulos visuais e sonoros não é de todo acompanhado por um progresso no desenvolvimento infantil. Isso pode ser visto no contexto da leitura dialógica, em que a criança é convidada todo momento a pensar sobre a estória. Certa vez durante a leitura de Peter Pan, um contador pediu para que as crianças fechassem os olhos e imaginassem a sua própria Terra do Nunca, o lar da personagem. Quando perguntadas sobre o que estavam vendo, muitas verbalizaram um “Não sei, tia! Tá tudo escuro!”.
Os recursos disponíveis para uma “infância feliz” são bem mais do que antigamente. Entretanto, a impressão que fica é a de que as crianças estão sendo cada vez mais modeladas, tendo o padrão de comportamento dito por uma “indústria infantil”. Não há espaço para que possam criar, imaginar, serem elas mesmas – serem autênticas.  As portas do mundo estão abertas para o público infantil. Fato. Com a condição de estarem devidamente vestidos segundo a moda; não correrem, rirem ou falarem alto em seus corredores; sentarem corretamente diante da mesa; não sujarem a roupa nova que a mãe comprou; não passarem o tempo “brincando”, porque é preciso amadurecer logo; lidar com uma rotina cheia de atividades, que se dividem entre a escola/balé/inglês/natação/espanhol/ violino/aula particular/esgrima; acostumar-se a ter os pais muito ausentes, porque afinal eles querem te dar uma vida confortável. Bom, é isso crianças! Sejam bem- vindas, mas não se esqueçam de limpar os pés antes de entrarem.  Seus pais só chegam mais tarde. 

Diário do Contador por Raíssa Dourado


20.000 léguas submarinas de Júlio Verne, uma aventura no fundo do mar a bordo do submarino Nautilus, pertencente ao excêntrico e milionário capitão Nemo. Essa foi a aventura que começamos nessa segunda-feira e a qual dedicaremos algumas semanas em sua leitura, pois, além de ser um livro maior do que os que tenho lido até agora, também é cheio de informações acerca de invenções, lugares, lendas e animais marinhos, o que, felizmente, suscita nas crianças muitas perguntas e rende uma boa conversa.   

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Diário do Contador por Mariana Kirschner

         

         No último encontro, as crianças haviam pedido uma história de terror. Então tive o cuidado de escolher um livro que atendesse ao pedido! O conto que escolhi não é muito aterrorizante, mas eu expliquei que falava de algumas coisas que me davam muito medo. Quem sabe daria medo a elas também...                                                           
        “ Muitos e muitos anos atrás, do outro lado do mar, havia um país diferente: ele tinha um sol como nenhum outro. O seu sol gostava de música...e gostava tanto que, se o povo , lá embaixo, não tocasse músicas, pedindo que ele acordasse, ele continuava a dormir. Não saia do seu sono e o dia nãoamanhecia.” 
        “Quem gosta de música? Alguém toca algum instrumentos?” , perguntei. Guitarra, flauta, tambor, bateria e até berimbau foram citados. Conversamos um pouco, e contamos muitas histórias pessoais relacionadas a musica. “ E o que vocês fariam se a música fosse proibida?” Muitos fizeram cara de tristeza, outros ficaram pensativos. Então perguntei “E se todos os sonhos fossem proibidos?” Todos espantados, um menino até gritou bem alto! 
         Um dia chegam na vila terríveis gigantes e dragões dourados, alegando que querem apenas proteger os moradores de um terrível inimigo: o Sonho. “ E como os sonhos gostam de aparecer ao embalo da música, a música também esta proibida!”  Muitas crianças começaram a contar seus sonhos da noite anterior, e seguimos um tempão falando sobre o medo de dormir sozinho e o que cada um faz para sentir tranqüilidade e paz. Ficou difícil continuar o fio da narrativa, mas tentei ampliar a palavra sonho, falando como ela pode se referir aos nossos desejos e coisas que gostaríamos de ser, possuir, ou fazer em nossas vidas. “Na imagem, o que sai de dentro da flauta é sonho?”, um deles perguntou. Confesso que essa pergunta me pegou, e falamos sobre a imaginação!
        Algo me surpreendeu muito nesta contação: vai que eles acham a história muito boba? Pensei até em levar minha flauta transversal e tocar algumas músicas para as crianças. Não foi necessário! Percebi que figuras arquetípicas como o dragão, o príncipe-flautista- e temas envolvendo a magia estão em alta no imaginário das crianças de quatro, cinco anos!
        Portanto, não subestimem “as crianças de hoje”- como muitos adultos costumam falar. Elas não gostam apenas de vídeo-game. Contos de fada não estão démodé, e podem sim ser iniciados com um “ Era uma vez...”. Dragões e Gigantes, a perda do sonho e a chegada de um príncipe causa MUITA excitação!

                                            Texto:Rubem Alves
                                                                                                                          

Diário do Contador por Raíssa Dourado


Dessa vez escolhi “O catador de pensamentos” de Monika Feth, que se trata do senhor Rabuja, um velhinho que a despeito do nome é muito simpático e todos os dias vasculha a cidade recolhendo pensamentos velhos. Apesar de quase ninguém saber da utilidade e muito menos da existência de um catador de pensamentos, ele é uma figura muito importante, pois é o responsável por renovar os pensamentos das pessoas, impedindo que estes fiquem “martelando” suas cabeças e sempre os devolve purificados e na sua melhor expressão.
Achei que a história iria agradar, mas a contação dessa semana foi terrível, os meninos estavam impossíveis, muito agitados não prestavam atenção e uns não deixavam os outros se concentrarem, até que acabei me juntando a eles e deixei o livro de lado.
Inspirada pela história, propus que tentássemos adivinhar o que cada um estava pensando de acordo com a expressão facial, só assim consegui atrair-lhes a atenção e então retomei à história por mim mesma, sem o livro, como se eu fosse amiga de um catador de pensamentos de verdade, afirmei que este poderia ser qualquer um, sem que ninguém desconfiasse, pois eles são muito discretos e preferem nomes diferentes para não levantar suspeita, afinal, quem iria imaginar que um sujeito chamado Rabuja poderia ser um deles?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia das Crianças


Parabéns! Hoje é Dia das Crianças e também Dia Nacional da Leitura.

O Dia da Leitura foi instituído em 2009 para marcar e incentivar movimentos para tornar o Brasil uma nação de leitores. Temos orgulho de fazer parte desse esforço e hoje, para celebrar este dia duplamente especial,  gostaríamos de fazer um pedido  a você, leitor(a) deste blog, a partir de nossa experiência. Mas, primeiro, vamos explicar nosso pedido: 

A Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro (1), aponta que 79% do público considerado leitor refere-se à mãe ou ao pai como a pessoa que mais o influenciou a ler. Ou seja, se você é um leitor, é provável que tenham lido com você na infância. No entanto, nossa experiência e os depoimentos que colhemos de numerosos jovens e adultos sugerem que o contrário não é verdadeiro, ou seja,  muitos jovens que ouviram histórias na infância NÃO se tornaram leitores (leem, hoje,  apenas os textos exigidos pelos estudos e profissão) e apontam que o principal fator que os levou a abandonar a leitura espontânea foi a obrigatoriedade. Provavelmente você irá se identificar, em parte, com esse retrato.  Dos contos inventados na hora de dormir, dos causos contados pela família e dos momentos gostosos compartilhando livros, passa-se repentinamente e inexplicavelmente às leituras obrigatórias que devem ser "comprovadas" por meio de fichas de leitura e seus mal disfarçados substitutos atuais, tais como "motivadores de leitura" (juro que esse é o nome dado em algumas instituições...), cartazes, resumos, maquetes,etc. Cobra-se a leitura, literalmente, e com juros! 

Sem mais delongas, vamos então ao nosso pedido: 

A partir de hoje, comece a ler para uma criança ou para um jovem de seu convívio,  sem cobrar NADA em troca. 

Esse é nosso pedido. Não exigir que seu ouvinte diga ou escreva o que "entendeu" do texto, nem o que o autor "quis dizer",  nem testar se "está prestando atenção", nem perguntar "que reflexão ele pode tirar daquilo", nem nada. 

Ler pelo prazer de ler.

Pois, como diz Daniel Pennac (2):  "a gratuidade é a única moeda da arte". 

Feliz Dia das Crianças!

Equipe Livros Abertos

1- Instituto Pró-Livro; http://www.prolivro.org.br
2 - Pennac, Daniel. Como um Romance. Rio de Janeiro: Rocco.




Desvendando "O Fantástico Mistério de Feiurinha" , de Pedro Bandeira

Por Katsumi Takaki
O fantástico mistério de Feiurinha de Pedro Bandeira é o típico livro que vai além do “e viveram felizes para sempre” recorrente nos finais dos contos de fadas. O autor explora essa máxima, em que geralmente a heroína se casa com o príncipe e eles são felizes para sempre. E pronto. A estória não continua, a criatividade fica por conta do leitor depois de terminar o conto. “Mas o que significa ‘viver felizes para sempre’?” pergunta Pedro Bandeira. O que chamou a minha atenção na primeira vez em que li este livro (na minha longínqua 5ª série) foi a possibilidade de acabar com esse ponto final dos contos, de participar mais um pouco da estória das princesas que me fizeram companhia por tanto tempo. Como diria o autor “É preciso saber o que acontece depois do fim”.
Outro ponto interessante do livro é que ele não é centrado na estória de uma heroína em especial. Trata-se da vida de todas elas sem diminuir ou aumentar a credibilidade de nenhuma – as desavenças ocasionalmente ocorrem entre as princesas, mas o autor não toma partido na causa. O fantástico mistério de Feiurinha se passa 25 anos após o esperado “felizes para sempre”, em que, durante uma visita de sua amiga solteirona Chapéuzinho Vermelho, Branca de Neve tem a notícia do estranho desaparecimento de Feiurinha. Nesse momento, todas as heroínas – com exceção de Chapéuzinho Vermelho – estão devidamente casadas, prestes a completar bodas de prata e esperando um herdeiro. As heroínas se preocupam com o paradeiro dela, mas também com a possibilidade do seu“felizes para sempre” estar ameaçado.
É divertido ver uma postura mais ativa das personagens neste livro, sem esperar pela vinda do príncipe encantado que as resgatará de todo o mal, selando a união com um beijo do amor verdadeiro. O autor inclusive chega a “ridicularizar” e “diminuir” o papel do príncipe na estória. O máximo que se sabe dos Príncipes Encantados é quando as princesas mencionam no diálogo umas com as outras. Quando Chapéuzinho Vermelho propõe chamá-los para ajudar na busca por Feiurinha, a própria Branca de neve diz: “Os Príncipes não adianta chamar. Estão todos gordos e passam a vida caçando. Além disso, príncipe de história de fada não serve pra nada. A gente tem de se virar sozinha a história inteira, passar por mil perigos, enquanto eles só aparecem no final para o casamento”. Creio que seja por isso que, no geral, os príncipes dos contos não têm nome próprio. Eles são apenas Príncipes Encantados, não há uma individualidade. Uma exceção é o Príncipe Felipe, o par romântico da Bela Adormecida. Mas o fato de ele ter um nome se deve – uma inferência minha – a uma participação mais ativa dele na estória. Além de não aparecer apenas em pequenos trechos (no início e no fim), também se sabe um pouco mais sobre a família do Príncipe Felipe, que inclusive participa bastante da estória – levando-se em consideração os outros contos.
 Quando Pedro Bandeira é convidado – para não dizer intimado – a ajudar a solucionar o mistério do desaparecimento de Feiurinha, aparece a figura de Caio, o Lacaio de Branca de Neve. Acredito que essa falta de individualidade dos príncipes também se estende a ele em alguns pontos, a começar pelo nome – que me perdoe o autor se eu estiver me precipitando. Parece que o nome é escolhido de acordo com a “função”, “participação” do personagem masculino na estória: Príncipe Encantado X príncipe e Caio X Lacaio.
Pedro Bandeira não conhece a estória de Feiurinha e o mesmo ocorre com seus amigos escritores. O mistério do desaparecimento da heroína parece não ter fim. É aí que está mais um diferencial do livro. Jerusa, a empregada do autor, é a única que conhece esse conto e que pode salvá-lo do esquecimento. Sua avó costumava contar estórias para ela quando criança – mais um fato que corrobora a importância da tradição oral para a literatura. Jerusa é a heroína do livro de Pedro Bandeira porque sem ela, não haveria o que ser narrado. É por meio de sua contação que o autor fica sabendo como é a estória de Feiurinha, para depois escrevê-la e permitir que os leitores tenham acesso a ela.
Durante a contação em roda que Jerusa faz com as princesas e com o autor, é possível fazer algumas relações com a leitura dialógica, a chamada leitura compartilhada. Pode-se fazer uma analogia entre as princesas sentadas em roda no chão e as crianças. Há aí uma inversão de papéis, em que as heroínas –supostamente adultas – se colocam numa postura mais infantil diante da contação de Jerusa. A todo momento elas fazem comentários sobre o que está acontecendo na estória, algumas vezes relacionado a sua própria estória, algo “tipicamente” de crianças – quando se colocam no lugar das personagens e fazem conexões com eventos do dia-a-dia.
Outro ponto interessante é a relação mais próxima, o contato mais direto entre Feiurinha e seu príncipe. Seus encontros não são ocasionais ou raros, a se intensificando apenas perto do final da estória. Eles passam anos juntos em companhia um do outro, sendo ele o melhor amigo dela e vice-versa – quando ele estava enfeitiçado, em formato de bode. Além disso, é a beleza de Feiurinha quem o liberta da maldição. Há na verdade uma espécie de “troca de favores” entre eles, já que ele deixa de ser bode por causa da beleza dela e ele – em contrapartida – a liberta das garras das três bruxas, também quebrando um feitiço que elas haviam colocado em sua amada.

O fantástico mistério de Feiurinha é um excelente exemplo de que os contos de fadas simplesmente não têm fim, não acabam no “e viverem felizes para sempre”. Eles podem e são contados e recontados ao longo dos tempos para um público que não precisa ser, necessariamente, o infantil. Após a leitura do livro, uma reflexão pode ser proposta: no mundo de hoje qual é o lugar das estórias? Serão elas esquecidas como a de Feiuriunha?Ainda haverá as “antigas contadoras de história”, como se refere Pedro Bandeira ?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Autores com quem contamos: Vinicius de Moraes




Caia uma forte tempestade na madrugada em que Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes nasceu. Foi ali mesmo, no velho casarão nº 114, no Jardim Botânico, conhecido bairro do Rio de Janeiro. No dia 19 de outubro, agora, Vinicius de Moraes estaria completando 98 anos de idade!                                                                                                                 
Quando menino, mais precisamente aos 11 anos de idade, Vinicius já começou a demonstrar curiosidade e vocação para a poesia.  Curiosamente, sua  mãe era uma exímia pianista, e seu pai, poeta bissexto. Compunha, então, diversas canções. Além disso cantava e atuava nas peças infantis do colégio. Vinícius de Moraes recebeu o apelido de O Poetinha.
Os anos se passaram e ele, além de poeta, também exerceu o cargo de diplomata e jornalista. Trabalhou no jornal A Manhã como critico cinematográfico, e dirigiu o “Suplemento Literário”, no O Jornal. Ele também viajou muito! Esteve  pelo nordeste em busca de respostas para situação política e econômica do Brasil. Conheceu João Cabral de Melo Neto e foi grande amigo de Pablo Neruda. Também morou cinco anos em Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático.                                                                                                  
Hoje o casarão nº 114 não existe mais. A família de Vinicius se mudou diversas vezes ao longo de sua infância, e ele próprio teve a oportunidade de explorar criativamente tudo o que viveu.  Em relação às crianças ele foi bem generoso! Escreveu 32 poemas que se tornaram clássicos musicais nos anos 80, como A Casa . Depois, as poesias virarão canções, gravadas no álbum Arca de Noé.


                                                 A Casa
                
                                                                   Era uma casa                 
   Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada

Ninguém podia
         Entrar nela não        
Porque na casa
Não tinha chão

Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
   Não tinha parede

  Ninguém podia
Fazer pipi
                                                     Porque penico
                                                   Não tinha ali

                                                Mas era feita
                                                         Com muito esmero

                                                       Na Rua dos Bobos
                                                Número Zero

Diário do contador por Katsumi Takaki


           Nessa sexta-feira, Carol e eu fizemos uma atividade diferente com as crianças. Nos meus grupos dei uma folha pra cada um e pedi para que desenhassem uma estória, que depois poderia ser lida ao final se a criança quisesse. Foi a primeira vez que fiz uma proposta de desenhar uma estória e posso dizer que elas gostaram muito da ideia! 
          Juntei-me às crianças e também fiz meu próprio desenho - coisa que há anos eu não fazia. Os desenhos foram muito variados, tiveram estórias criadas por elas mesmas, readaptações da original  e reproduções fidedignas. Alguns meninos desenharam o Frankenstein, personagem do livro que compatilhamos na semana anterior. Inclusive, pediram-me o livro para "desenhar direitinho". Falei que cada um podia criar a sua própria versão do Frankenstein, mas me disseram que o desenho do livro seria mais legal do que o deles. Foi meio triste ouvir isso, ainda mais com as constantes falas "ai, tia, meu desenho tá horrível", "eu não sei desenhar bonito" e "minha estória tá ridícula". Notei que esse medo do "feio" e do "errado" também apareceu quando eles viram o meu desenho. Ele não tinha nada demais nem podia ser considerado mais bonito do que o deles, mas pra eles era o mais legal do grupo -tanto que uma das meninas começou a imitar o meu desenho. 
Apesar de tudo isso, também houve aspectos legais. Uma menina desenhou a estória da Chapéuzinho Vermelho. O detalhe foi que ela sabia o conto todo - de cor e salteado - dando entonações diferentes na hora das falas das personagens. A sua versão possuía algumas diferenças em relação a original, as quais eu ainda não tinha ouvido. Na estória dela, a vovózinha se casa com o caçador e todos vivem felizes para sempre! 

        
       Outro aspecto legal dessa atividade foi que outra menina criava a estória enquanto desenhava. Ela já tinha desenhado o essencial, mas ia acrescentando outros detalhes aos poucos, enquanto nos contava a estória. Foi divertido ver as crianças acompanhando e comentando o que ela estava acrescentando, às vezes dizendo coisas do tipo "ei, como ela pode tá no hospital se você acabou de dizer que ela tava em casa?". Aí a menina se justificava e desenhava "o que faltava" no desenho. Também tivemos a estória do "Segredo das Irmãs Amigas", contado com muita vontade e criatividade, e a dos "Corações apaixonados" que possuía não apenas com desenho, mas também a estória escrita acima dele.
Acho que a atividade de hoje fez com que as crianças se permitissem imaginar mais, ousar mais. Foi muito divertido e gratificante vê-las tão empolgadas em criar algo seu, algo que querem fazer. Como diria Odilon Moraes: "desenhar é conversa íntima".

Diário do Contador por Mariana Kirschner


          Começo confessando que a minha maior motivação na escolha do livro foi a sua capa! A primeira vista, vemos uma pequena silhueta de um animal- até então não sabemos qual- segurando uma rede. Ao seu redor, borboletas de todas as cores e tamanhos, ilustradas em seus mínimos detalhes.  De fundo, a lua em sua majestosa luminosidade, inspira mistério. Que bicho seria aquele, segurando a redeE porque estaria atrás das borboletas? Perseguia alguma em especial?            
         E assim iniciamos a nossa contação, com algumas perguntas na ponta da língua e muita curiosidade!
         Vidrados pelas perguntas iniciais, todos descobriram logo que o vulto da capa era um velho urso chamado Martinho, e que ele era um colecionador de borboletas. Colecionador? A palavra deu pano pra manga! Um dos colegas colecionava peixes mortos dentro de sua gaveta e eu, quando criança, colecionava cigarras.  Éramos todos ávidos colecionadores!
         Seguimos Martinho em sua busca pela “borboleta azul mais brilhante e resplandecente que havia visto”. O vocabulário enriqueceu as discussões: resplandecer, vagar, voltear. A idade de um dos personagens - a árvore- criou espanto. Como assim duzentos e quarenta e três anos de idade? Eu tentei ilustrar a idade: “Se você juntar a sua mão, a sua mão, a mão de todos os colegas da turma...nós temos, mais ou menos, a idade da árvore! É muita idade!”. Risos, cara de espanto, dúvida e um comentário “Deus é mais velho, ele é infinito!”.           
         A narrativa segue e Martinho viaja até a lua. Falamos então sobre o céu, as fases da lua. E eu amplio, perguntando se alguém havia visto a lua na noite anterior.
         Ao final da história, Martinho acaba aprendendo algumas boas lições sobre o amor e a liberdade. Assim, voltamos para a sala, visivelmente encantados por um certo mistério da vida...

Livro: A Borboleta Azul
Autor: Nicolas van Pallandt

domingo, 9 de outubro de 2011

Coluna do Colaborador por Adriana Rezende Dias



“Mamãe, a Tia não deixa a gente discordar dela!”  Essa frase encerra um diálogo que estava desenvolvendo com a minha filha sobre a importância de expressar o ponto de vista dela sobre os acontecimentos e determinações em sala de aula. A medida que ela apresentava um impasse ou um acontecimento, íamos dialogando sobre o que ela achava e o que ela poderia dizer ou perguntar para a professora, até que em um determinado momento ela me formulou a frase acima e abruptamente encerrou o que para mim estava sendo um delicioso exercício de argumentação e desenvolvimento de raciocínio.
 O simples exercício de argumentação em sala de aula está sendo banido, junto com ele o pensar reflexivo e ainda assim exige-se que o aluno mantenha-se interessado pelo o que a professora fala por 4 horas seguidas. O curioso que gostaria de ressaltar aqui não é a profunda discussão que há nisso tudo, e sim o fato de que o não foi a professora quem determinou que o que ela está dizendo é interessante, somos todos peças de um jogo de que a educação no Brasil cabe ao Governo Federal no qual não somos partícipes ativos. Repetimos sem refletir ou questionar se determinado conteúdo é apropriado ou não. Submetemos nossos filhos a provas do MEC pois o mesmo determina que é o mais apropriado e concordamos sem pestanejar.
Na antiguidade, o mensageiro trazia as notícias mais perturbadoras aos povos em conflito, mas era sempre bem recebido e respeitado. Vamos continuar cuidando e olhando para os nossos mensageiros!


Adriana Rezende Dias
Psicanalista. Coordenadora do Viva- Brasilia