quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Primeiras Contações

Olá,
Este é o meu primeiro mês no projeto e já realizei quatro contações. A turma é relativamente pequena. Tem 24 alunos com idade entre 5 e 6 anos.
Uma das contações não ocorreu como eu havia planejado, mas com isso aprendi um pouco sobre o que é mais adequado e o que não funciona com os alunos. O palco, por exemplo, não é um bom local para realizar as contações e a quantidade de alunos por vez deve ser mínima. Talvez alguns (ou todos) saibam disso, mas eu não sabia e devido a isso tive alguns problemas para que eles prestassem atenção. Outra questão importante é o tamanho da história. Eles gostam de fantasia e aventura, mas não gostam de histórias longas.
Para não ficar somente com a contação, sempre levo alguma atividade relacionada à história. Com o livro Turma da Mônica e as cores, de Maurício de Sousa e Yara Maura Silva, levei tinta guache para que eles misturassem e vissem como as cores secundárias são formadas, também levei folhas para que desenhassem e utilizassem suas cores preferidas. Com o livro Como pegar uma estrela, de Oliver Jeffers, levei estrelas brilhantes e conversamos sobre o que gostariam de ter. Ter mais brinquedos ganhou, mas alguns gostariam de ter um pônei, um cavalo branco, uma nave…
Agora vou começar a ler para eles contos de Hans Christian Andersen. Vamos ver se eles aprovam.



Por Elioenay Melo

segunda-feira, 22 de setembro de 2014


Leitura Dialógica  X  Leitura Convencional

Dizem que a leitura permite viajar, mas será que viajamos sempre calados, passivos, só escutando a leitura de um adulto? Será que a viagem pelo mundo da leitura não é mais agradável quando interagimos, perguntamos no seu percurso?
Conto histórias para uma turminha de 1º ano do Ensino Fundamental, crianças entre 4 e 5 anos. Na minha terceira contação escolhi um livro intitulado “Abra com cuidado! Um livro mordido!, do autor Nick Bromley. O livro conta a história de um crocodilo que invade a história do patinho feio, e para sair da história só encontra uma alternativa; comer o livro. É um livro bem legal e interativo.



Na minha terceira contação, havia um menino novato, nunca havia visto ele antes, comecei a contação perguntando sobre o que eles achavam que se tratava o livro, conversamos inicialmente sobre o autor, ilustrador e  editora. Após essa conversa comecei a ler o livro e fazer algumas perguntas. O menino novato ficou  irritado com as  minhas perguntas e os comentários dos colegas e dizia:
-Como que eu posso saber se você não leu ainda?.
- Passa logo a página.
-Continue lendo a história.
Todos os questionamentos, comentários eram vistos por ele como algo que atrapalhava o andamento da história. Me senti como se eu estivesse falando de boca cheia, como se o ato de questionar durante a contação fosse falta de educação. A leitura dialógica demanda uma interação entre leitor e ouvinte, e é justamente através dessa interação que a criança recebe informações, que são estímulos para o seu desenvolvimento cognitivo. Mas o que fazer nessa situação? O que fazer para que esse aluno se interesse pela leitura dialógica?

Taíres Sena

Leitura: não é paixão, é enamoramento.


Escolhi esse título, por três motivos. E acho justo começar o texto apresentando esses motivos:
1°) O termo português de Portugal nos passa uma ideia de relacionamento, exatamente a ideia que quero abordar no texto.

2°) Acho um título provocativo, pois nos remete diretamente a nossa relação afetiva e sentimental com a leitura.

3°) E por último, adoro a sonoridade da palavra enamoramento. 

Um lembrete a todos os educadores e mediadores de leitura: raros são os casos em que temos um apaixonamento pela leitura. São poucas as pessoas que o gosto da leitura foi despertado por uma paixão à primeira vista e que se manteve com a energia desse frisson nos anos que se seguiram. A literatura é um ser intenso, desejoso e cobra muito de nós, por isso a namoramos. E como um namoro entre pessoas, nosso relacionamento com a leitura é cheio de altos e baixos. Assim a proposta do texto de hoje é tirar uns minutos para nos dedicarmos a relembrar a nossa história de construção e formação do papel de leitores.
      Como mediadores, temos que compreender que o prazer da leitura é um processo, sempre em movimento e em construção. É cheio de encontros e desencontros. Cheio de casos, paixões, desilusões e traições. Há livros bons, livros ruins, há a leitura por prazer e a leitura obrigatória.
     As crianças e jovens para quem lemos estão vivendo o início desse processo intenso, e, como no primeiro amor infantil, vivem sua relação com a leitura à flor da pele. Como mediadores nesse mundo de descobertas, prazeres e desprazeres, temos que ser acolhedores e pacientes.
      E como ser pacientes? Nos coloquemos no lugar de nossas crianças, não com os olhos de adultos, mas com olhos e ouvidos de crianças. Tentemos nos lembrar do nosso primeiro livro, da nossa professora de alfabetização, da nossa cartilha e do caderno de caligrafia, tentemos nos lembrar de nossos sentimentos, medos e expectativas. Voltemos para aquele momento em que entrávamos no mundo letrado das pessoas grandes, voltemos para o mistério e a surpresa, a pasmação constante diante do que era novo.
     Nos lembremos dos nossos professores e dos nossos cuidadores naqueles anos da infância e juventude. Eles ajudavam ou atrapalhavam nossa relação com a leitura? Eles nos pressionavam de forma boa ou de forma ruim? Eles se importavam ou não estavam nem aí? Eles nos comparavam com nossos irmãos e colegas que liam mais? Ganhávamos um doce por livro lido? Lembremo-nos dos desenhos sem noção, resumos intermináveis e provas chatas que erámos obrigados a fazer depois de uma leitura compulsória. 
        É terrível a fase do Deus me livre e guarde.

        
       E então nos lembremos das revistas e livros que líamos escondidos, porque nossos pais e professores achavam que aquilo era coisa de gente grande, nos lembremos dos livros que pegamos emprestados dos colegas e que nunca devolvemos, dos livros que levávamos conosco para todos os lados, não importa se estávamos indo a uma festa, ao banheiro, a um encontro, a farmácia ou ao shopping. Ah, é a doce fase do “não vivo sem você”.
        Nós que usamos a método da leitura dialógica, às vezes, temos o desejo cego que todas as crianças participem, falem, construam e deem suas opiniões. É importante dar espaço também para o silêncio soar. Respeitar a criança em seus diferentes momentos de enamoramento. Há momentos de flerte silencioso com o livro e momentos de cantada ousada e ruidosa e, como mediadores, cabe sermos sensíveis para identificá-los.
Uma colega leu um trecho escrito por Luiz Carlos Cagliari que me marcou "Às vezes uma simples leitura basta. Nem tudo o que se lê precisa ser discutido, comentado, interpretado. [...] A leitura às vezes é como uma música que se quer ouvir e não dançar”. Vamos apreciar e dançar à nossa maneira, respeitando sempre o ritmo dos demais.

Escrito por: Júlia Gisler

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Primeira experiência com as crianças

Dia 29 de agosto foi meu primeiro dia em contato com as crianças.
Fui conhecê-las e de cara já tive a missão de contá-las uma história.



Queria dizer que foi tranquilo, todas sentaram e participaram, prestaram muita atenção e se encantaram com o livro.

É, não foi beeeem assim... Mas vamos primeiro às apresentações formais.

A turma que realizo o projeto é o 2º período. São pequeninos de 5 e 6 anos, e, ao conhecer toda a turma, contabilizei que aproximadamente 3 sabiam ler, de 24 alunos. 

Sempre gostei muito de crianças e sempre gostei muito de ler. Vi no Livros Abertos uma oportunidade fabulosa pra juntar essas duas coisas, já que nunca tive experiência parecida.

O primeiro contato despertou curiosidade. Os olhinhos deles de "olha, tia nova" me deixaram feliz. 

Eles já conheciam a minha parceira de contação, tia Elioenay, então, ao chegarmos, alguns já falaram com ela, pularam, sorriram, e disseram: "Quero ir com ela!". Hahaha. Já fui intimidada nos primeiros 60 segundos! 

Depois do primeiro olhar dos pequenos, Bárbara, uma aluna de 6 anos, veio até a mim e me deu um abraço. Isso se repetiu na manhã inteira, com muitos outros aluninhos, e percebi que se apegam muito a quem lhes dão atenção, e é preciso cuidado ao falar, agir, qualquer coisa, perto deles. Tudo tem um impacto.

O livro que escolhi para realizar a contação foi: "Quem soltou o Pum?". É uma história breve sobre o dilema de quem soltou o cachorro de um menino que escolheu esse nome peculiar para seu mascote.



Perguntei o nome, idade, e qual seria um nome diferente que eles dariam a um cachorro. Depois disso, tive a missão de contá-los a história. Repito, missão.

Depois de procurar um lugar para ficarmos, sentamos no palco da escola. Acontece que tudo o que os pequenos queriam fazer era qualquer coisa, menos ler a história. Até me perguntaram: "Mas vamos só ler?? Ahhh..."

Lemos aos trancos e barrancos, com pernas pra cima, todos querendo me contar uma história diferente ao mesmo tempo, muitos pedindo pra beber água e ir ao banheiro no meio da contação, sentando no meu colo, mexendo no meu cabelo, me perguntando se podiam ver meu celular, que estava guardado na minha bolsa... Minha cabeça estava a mil! Eu pensei: "Caramba, devo ser muito ruim nisso!". Depois de conseguir terminar de ler a história, me rendi e fui brincar com eles.

Eu não tive pulso firme, não tive muita noção de como deixá-los quietos, nem como por uma moral básica pra eles sentarem e ouvirem a história atentamente... Mas confesso que foi engraçado. Foi um cenário muito louco pro meu primeiro dia de contação, eles rolando no chão, deslizando, se molhando, pisando na terra, me contando mil coisas ao mesmo tempo. "Tia, olha o que eu consigo fazer!", "Tia, meu tio tem um cachorro que...", "Tia, ele triscou em mim!!"...

Saí meio perdida dessa primeira experiência, foi uma sensação... diferente, hahah. Mas deixa eu contar também que cada vez é um aprendizado.

Já da próxima vez fui mais confiante, demarquei um local para ficarem pelo menos até a história acabar, e os mantive longe do palco, o que foi uma maravilhosa ideia. Os pequenos da minha turma realmente não podem ficar perto do palco, hahaha. Aprontam demais!

Queria contar mais mil coisas, como eles são, do que gostam, suas particularidades, pois me encantei com todos, todos têm algo que me chamou atenção. Mas finalizo compartilhando algo que estou aprendendo: não é necessário desanimar, nem achar que não dá conta por um simples dia de "loucura". Aos pouquinhos, a cada vez que vamos visitá-los, vamos descobrindo como fazer dar certo, como chamar a atenção dos pequenos, como escolher livros ideais para realizar a contação, como dizer "não" ou como se render à loucurinha que faz parte de cada um, porque convenhamos... ninguém é muito normal, né? 


Por Raylane Marina 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Quem não gosta de Ciências?

Há três semanas, levei a turminha do 5º ano B para fazer a contação e um trabalho com argila, coisa que eles adoram, no palco da escola. Fizemos a leitura de um conto bem legal do livro Contos de Lugares Distantes, de Shaun Tan. Com a argila eles fizeram o personagem "Eric", um estudante de intercâmbio. Todos falaram ter gostado muito da história e que iriam fazer um intercâmbio no futuro para lugares como "Las Vegas", "Argentina", "Paris" e "México".

Notei que estavam ansiosos nesse dia e perguntei o porquê. Disseram que teriam aula de Ciências, que tinham muito o que copiar e que estavam com medo de não dar tempo. Ao conversarem entre eles, ouvi-los dizer que achavam as aulas de Ciências muito legais. Vítor, um garotinho muito falante e inteligente, virou para os amigos e disse sorrindo: "Quem não gosta de Ciências? Ciências é a melhor coisa do mundo!" Essa pergunta não me saiu da cabeça. Fui da escola para casa pensando nisso. Eu mesmo quando criança adorava as aulas de Ciências, principalmente aquelas ligadas à Biologia. Lembro-me de ter feito até mesmo um livro com folhas secas e uma coleção e revistas do Globo Rural e de tudo que falasse de fauna e flora. Era, e ainda sou, apaixonado por pássaros e queria muito saber como viviam e de que se alimentavam.

Foi aí que me lembrei de ter comprado no Sebinho um livro bem interessante chamado Árvore da Vida - A Incrível Biodiversidade da Vida na Terra, de Rochelle Strauss. O livro está dividido em sessões curtas e ilustradas de grupos de coisas vivas que compartilham características semelhantes, os cinco reinos da natureza.

A minha proposta não é de dar uma aula de Ciências, pois no nosso momento de contação não temos o intuito de prosseguir com o que eles têm dentro da sala de aula, conteúdos muitas vezes vistos por eles como chatos. Tive uma conversa com a professora Carol sobre alguns termos das ciências que são apresentados no livro, para me certificar de que estavam condizentes com o que aprenderam e se iriam compreender bem a leitura proposta. Foi então que no dia 28 de agosto, numa quinta-feira, dia em que faço a contação dialógica, propus a eles a leitura desse livro e também uma pesquisa sobre os seres vivos que compõem a vida e a biodiversidade de nosso planeta.

Mais uma vez faço uso das artes ao sugerir que os alunos façam desenhos representativos dos diversos seres da natureza, o que estimula sua criatividade e curiosidade. A proposta foi um sucesso! Os meninos ficaram muito animados e já começamos a leitura e um trabalho conjunto em que cada grupinho desenhou e pintou livremente animais, plantas, árvores e muitos outros seres vivos. Assim que finalizarmos cada etapa, apresentarei os resultados aqui no blog e também nas reuniões do grupo, para que todos tenham acesso ao nosso trabalho e ao desenvolvimento da proposta.

É extremamente importante ouvir o que os pequenos têm a nos dizer. Pais e educadores devem deixar que as crianças tenham voz e falem o que pensam. O aprendizado é uma via de mão dupla, acredite!

Por Sille Maciel

domingo, 7 de setembro de 2014

Desenho.... Pra que te quero na contação?



Como mediadores de leitura, temos o privilégio de ter acesso a um lugar muito especial das crianças: a imaginação. Não apenas ter acesso, mas participar desse grande e frutífero mundo com que a mente infantil nos espanta, no sentido bom da palavra, e nos depararmos com uma vasta fonte de informações e símbolos que para nós, às vezes, não faz o menor sentido, mas para as crianças, faz.
Isso porque, muitas vezes, não mergulhamos no universo infantil e não queremos tentar entender, do ponto de vista da criança, como ela olha, processa e manifesta o mundo à sua volta, causando muitas vezes uma confusão desnecessária para ambos. Nesse contexto, uma manifestação importante utilizada pelas crianças, principalmente as que ainda não são letradas e na faixa etária de 3 a 5 anos , é o desenho.
Paremos. Pensemos. E nos perguntemos: Se fosse criança, como me expressaria se ainda não soubesse ler e escrever ou estivesse em processo de letramento?
A resposta está no desenho. Aos 3 anos, a criança começa a adquirir a função simbólica, ou seja, ela começa a representar os objetos e acontecimentos fora do seu campo de percepção atual por meio de símbolos ou signos, e o desenho é a maior manifestação desse processo.
Quem tem contato com crianças nessa faixa etária já deve ter se deparado com os enormes rabiscos feitos por elas, que contam vários fatos e/ ou representam personagens e diversos elementos. Madalena Freire, grande pedagoga e filha do ilustre Paulo Freire, diz: “ É através da leitura dos símbolos, que re-apresentam as atividades, que a criança vai “lendo” e “escrevendo” seu cotidiano. Isto é patente durante a atividade de desenho. Sendo este o registro do que ela vive, pensa, tudo que lhe é significativo é expresso através do desenho. Por isso o ato de desenhar é um ato de “escrever” seus “pensamentos” sobre a realidade. A realidade do desenho, portanto, é de pensamento, elaboração afetiva e cognitiva, sobre as leituras que faz do mundo.”       
                                             
                                     

E o que nós mediadores temos a ver com o desenho?
Longe de ser apenas um recurso de utilização para o conhecido “passar tempo”, o desenho tem o poder de permitir à criança expressar as impressões que esta tem do mundo ou dos fatos acontecidos com ela. Por isso, utilizar o desenho ao final de cada contação pode ser uma ferramenta muito boa para as crianças, e também para os mediadores, que irão compreender melhor como a criança internalizou a experiência de mediação. Há muitos casos em que, na contação de histórias mesmo, a criança começa a falar e contar fatos ocorridos com elas, sendo alguns são bons outros ruins, mas que espelham aquilo que ela entendeu da história, assim como o desenho fará.
Com isso, o desenho é uma ferramenta incrível para nós mediadores! Madalena Freire, em suas pesquisas de campo com crianças, sempre utiliza o desenho logo após uma atividade ou acontecimento. O resultado é extraordinário: todos começam a relatar o acontecimento e a expressar até sentimentos sentidos. Mas ela observa que é muito importante que, após a produção do desenho, o professor (no caso, nós, mediadores), deva discutir com a criança sobre o desenho, porque é aí que a criança irá “ler” aquilo que “escreveu” .

Nós contadores de histórias não somos apenas pessoas que contam histórias, somos mediadores de conhecimento cujo objetivo é ajudar a criança a se desenvolver sadiamente, por isso... Usemos o desenho! Assim como nós lemos histórias para as crianças, deixemos que elas contem suas maravilhosas histórias de vida que sempre têm aquela pitada de fantástica fantasia.