quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um presente para o ano que se inicia


Hoje, gostaria de falar sobre um belo filme de Jean Becker, “Minhas Tardes com Margueritte”,  que celebra a vida, o amor e a amizade a partir do tema  da leitura em voz alta, do “dar-se a ler”,  que é, afinal, o coração de nosso projeto. O filme é sensível, poético e emocionante, sem cair na pieguice ou obviedade, enfim, uma dica para começar bem o ano. Gérard Depardieu, em atuação admirável,  representa Germain, um agricultor de bom coração e praticamente analfabeto, desde criança rotulado  de “lento” e “burro” pela mãe e por professores,  amigos e colegas, tendo por isso se afastado de tudo que tivesse a ver com livros. Germain leva uma vida simples, plantando, cuidando da mãe que a vida toda o tratou com bastante agressividade. Muitas vezes é motivo de gozação dos amigos, por seus modos um tanto brutos. No geral, pode-se dizer que Germain tem uma postura um pouco “pesada” (literal e metaforicamente) perante a vida, insistindo inclusive em pichar repetidamente seu nome na lista de “crianças falecidas” de um monumento municipal, para desespero do prefeito da pequena cidade. Tudo começa a mudar quando Germain, em sua pausa habitual para o lanche no parque, conhece Margueritte,  uma adorável senhora de 95 anos vivida pela brilhante atriz Gisèle Casadejesus. Com muito humor e doçura, os dois começam uma amizade. Margueritte, sem pretensões, começa a ler em voz alta para Germain trechos de obras que ela mesma leva ao parque para ler, como “O Estrangeiro”, de Albert Camus. Lembrei bastante de um dos “direitos do leitor” citados por Pennac quando Margueritte, atenta às primeiras reações do amigo perante sua leitura, resolve pular páginas e ‘passar logo para a ação”. Mediadora de leitura nata, Margueritte mostra-se sensível ao tempo e às emoções de Germain, seduzindo-o com muita delicadeza para os prazeres da leitura. Não é a quantidade que conta, e os dois amigos às vezes discutem longamente um único trecho do livro, às vezes uma frase, encontrando nela formas de expressar suas emoções, suas vidas e suas histórias tão diferentes e que se entrecruzam nessa maravilhosa amizade.  Em certo momento, Germain comenta que não sabe ler e Margueritte responde com uma definição perfeita da leitura dialógica, quando diz que ele é um leitor sim, e um leitor excelente, porque sabe ouvir, sentir e pensar sobre o que ouve:.  “Ler é, sobretudo, saber ouvir!”.  De certa forma, Germain, desprezado pela mãe amargurada, encontra em Margueritte uma mãe que lhe oferece a dádiva das palavras para  recontar sua história e finalmente expressar sua sensibilidade e percepção aguçada do mundo. Quando Margueritte começa a a perder a visão, é Germain quem irá ler para ela. Uma bela imagem da dádiva da leitura. Pois, como diz Jim Trelease,  o maior presente que podemos dar aos que amamos resulta ser também o mais simples: as palavras. Um feliz 2012!
                                     


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Contação final


Estimados leitores,

Essas semanas últimas estive de viagem por bandas marítimas, precisamente no Rio de Janeiro, e por isso não consegui postar mais cedo aqui. Inobstante, antes de partir rumo cidade maravilhosa, tive meu último encontro literário com as crianças da escola classe 415N e terminamos juntos a leitura do livro “Diário de uma Banana”, de Jeff Kinney.

Como de costume, me reuni com os três grupos  e, um de cada vez, compartilhamos as derradeiras aventuras  abananadas de Greg Heffley, pelo menos até seu próximo semestre letivo . Para o meu espanto, alguns dos infantes  sabiam o final da história, posto que haviam espiado o final do livro na semana em que visitaram a 30.a edição da Feira do Livro de Brasília.  Relataram-me depois que lá haviam visto não apenas o livro que estávamos lendo mas também  outros lançados posteriormente pelo autor e que fazem parte da mesma coleção – um deles vem até com um diário em branco, para ser preenchido com anotações próprias!

De todo jeito, tudo fluiu esplendidamente, tendo finalizado de um modo geral até antes da hora prevista, oportunidade que tivemos para nos conhecermos um pouco melhor. Em seguida, me despedi deles e da professora tirando uma foto de todos unidos em frente ao nosso mural, onde após algumas várias tentativas conseguimos nos organizar precariamente e posar para a dita cuja.  A agitação era proporcional ao número de crianças, motivo pelo qual acredito que nenhuma foto (tirada por um menino de outra turma) tenha ficado realmente boa, e fato é que não houve uma em que estivéssemos todos “de acordo” – com o semblante à mostra, com os olhos abertos, sem chifres.

Ainda que turbulenta, a situação toda foi muito divertida, como penso também ter sido a nossa relação. Foi uma experiência da qual gostei bastante e que me surpreendeu e desafiou em vários aspectos, pois se equivoca aquele que acha ser fácil trabalhar com os pequenos. Contudo, não creio que isso seja algo ruim, já que além de uma oportunidade para exercitar a paciência (e por que não ver as coisas por esse lado?), é uma atividade deveras gratificante e de grande aprendizado mútuo, se você mantiver uma postura aberta. Janelas fechadas não deixam entrar luz... e tenho dito! 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Até logo..


Caros leitores, 
Como a Carol já mencionou, já fizemos nossa despedida com as crianças. Nesse clima de final de ano, férias, expectativas e novos planos, resolvi postar mais uma reflexão.  Acho que cai muito bem nesse momento! Espero que gostem!

Essa é a segunda vez que leio o livro “Corda Bamba”, de Lygia Bojunga. Posso dizer que minhas impressões foram bem diferentes das que tive na minha primeira leitura, quando ele me foi recomendado pela escola. Na época eu também o li por completo – afinal, eu encarava qualquer tipo de livro como parte do meu dever de casa. Nunca cheguei a odiá-los, mas não lia por iniciativa própria até próximo dos meu 12 anos. Nossa relação era pura e simplesmente profissional, rompida assim que eu cumpria a minha obrigação. “Corda Bamba,  em especial, marcou-me de uma maneira diferente dos demais livros: eu o odiei de tal forma que nem sequer meu nome consta em suas primeiras páginas. Ele nunca mais foi aberto, a não ser naquela época do colégio. 
Após relê-lo, pude perceber alguns dos motivos que me levaram a colocá-lo na minha “lista negra”. Afinal, uma das características mais marcantes e típicas de Lygia Bojunga é a construção da história por meio de metáforas, repleta de simbologias e significados que fogem do usual. Eu não poderia capturar o seu estilo de escrever e muito menos compreender o que estava por trás das linhas e do seu jogo de palavras. A história narrada de fato segue uma linha cronológica de eventos (plano horizontal), mas também há o plano vertical, em que os olhos do autor e do leitor se voltam para os conflitos internos das personagens. Esse tipo de habilidade eu não possuía, o que dificultava bastante entender o que acontecia no mundo de Maria, o interno e o externo.
A riqueza do livro tem início do título “Corda Bamba”, o que não se refere apenas a uma atividade artística circense. Viver na corda bamba significa literalmente a busca por um equilíbrio, seja ele emocional, profissional, financeiro. No caso de Maria, a metáfora se refere à tentativa de equilibrar os dois mundos por ela vividos: a casa da avó e o apartamento com o corredor de seis portas, localizado de frente para a janela de seu quarto. Morar com a avó se refere ao racional, às regras, ao presente, ao mundo projetado para ela. Atravessar a corda e ir para o apartamento – e de lá desfrutar do “outro mundo” – alude à imaginação, ao lúdico, a permitir-se, ao passado já vivido e à construção do futuro, ao mundo dela.
Para mim, andar na corda bamba tem vários significados. É uma busca constante por um equilíbrio, por algo que me cause um misto de tranqüilidade, realização. Na verdade, identifiquei-me com o processo que estava acontecendo com Maria. Agora nos meus19 anos percebi que muito do que sou hoje está relacionado com o meu passado – com o meu histórico de coisas boas e ruins. Da mesma forma como Maria desenha seu futuro na parede, vivo uma sensação de tentar sempre investir no meu futuro, tudo em busca de uma estabilidade. Isso por um lado é bom, melhor de si. O problema é focar demais no futuro e se esquecer do presente. Porque venhamos e convenhamos, é bem menos sofrido planejar, lidar com possibilidades (algo que ainda podem ser mudado), já que o incerto pode não ter a certeza de algo bom, mas pelo menos não é a concretização de algo ruim. Às vezes, é melhor olhar para o futuro do que sofrer no presente. O engraçado é que finais incertos também me inquietam, exatamente porque não posso ter requisitos para enfrentá-los.
“Corda Bamba” abre um mundo de interpretações possíveis para cada trecho que Lygia Bojunga prepara cuidadosamente para seu leitor. São inúmeras as simbologias que a autora cria de forma muito rica e única. Creio que uma das muitas reflexões que a leitura possibilita é o fato de que todos nós vivemos em uma constante corda bamba, em busca de identidade, aceitação, realização. Cada um tem uma Maria dentro de si, que passa por diversas etapas a fim de que se liberte das amarras que prendiam em um mundo que simplesmente não é o dela, ao qual ela não pertence. O difícil de ser Maria é que muitas vezes é preciso seguir sozinho, e ver que as pessoas chegam e vão embora das nossas vidas, como uma viagem de barco em alto mar
E pra você, qual é o equilíbrio da  sua corda?
Boas Férias a todos! 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Boas leituras, por Ana Carolina Maia



No encerramento das atividades do projeto na escola, Katsumi e eu havíamos planejado algumas atividades diferenciadas para propor às crianças.
Pensei em levar um papel pardo enorme e em duplas, fazer com que cada criança tivesse o contorno do seu corpo desenhado para que pudesse se transformar no que quisessem, desenhando adereços, cabelos, roupas, rosto... 
No final iríamos recortar, e cada um poderia levar o seu boneco para casa. No entanto, as coisas não aconteceram conforme o esperado.
Ficamos sabendo que nosso último encontro com as crianças tinha sido adiantado, inviabilizando por falta de tempo o encerramento.

Para deixar as melhores lembranças possíveis, levei uma porção de livros e deixei as crianças a vontade para escolher. Uns com várias histórias bem curtinhas e engraçadas, outros de contos do Brasil e do mundo. Levei também histórias de autores como Ana Maria Machado e histórias ilustradas pela minha ilustradora favorita, Mariana Massarani.
O dia estava bastante quente, então levei as crianças para um cantinho gramado, próximo ao parque. Nem por isso tive problemas com as crianças querendo brincar no parque em vez de ouvir às histórias. Todas ficaram bem entretidas lendo em conjunto ou sozinhas um livrinho embaixo das árvores. 
Para um grupo que estava agitado, peguei a caixa de fantoches que havia na biblioteca e brinquei com eles, procurando inventar uma história que encaixasse todos os personagens que iam surgindo. Foi um sucesso! Eles criaram diálogos entre os personagens e solucionaram facilmente o problema proposto pela trama. 
No final, fiquei um tempo no parquinho com eles, pois já fazia um bom tempo que eles me pediam para observar suas aventuras nos brinquedos do parque. Após vários rodopios e travessuras, levei-os de volta para  a sala e, confesso que fiquei bastante sensibilizada ao saber que talvez fossem os meus últimos momentos com aquela turma tão especial.


Após um semestre repleto de histórias,conquistas, descobertas e também desafios, vejo o quanto aprendi e cresci com as crianças.Em alguns momentos, pensava em desistir devido as travessuras e frustrações que me deixavam um pouco cansada, no entanto, os momentos bons prevaleceram e transformaram tudo em uma experiência mágica que guardarei com muito carinho!
Boas férias a todos! E boas leituras!




sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Diário do Contador por Ana Beatriz Novelli

Olá leitores!

        Durante um mês contei a história "Os Pequenos Guardiões" de David Petersen. Quando me falavam que a gente tinha que gostar muito de um livro pra contar bem eu não acreditava, mas, depois desse livro, não tenho como negar! 
        O enredo é a clássica aventura - os heróis descobrem que alguém malvado quer destruir o reino e vão atrás do bandido para impedi-lo. O engraçado é que os heróis não são humanos, são ratinhos (e muito corajosos por sinal!). Eles vivem em um lugar protegido, como se existissem "fronteiras" onde doninhas e cobras (os predadores dos ratos) não pudessem passar. As "fronteiras" eram protegidas por um acordo entre os ratos e seus predadores e também garantida pela presença dos Guardiões, que cuidavam dos ratos. Eram uma espécie de guardas misturando com policiais. São também cheios de virtude e honra.
        Esse é um livro muito interessante, em história em quadrinhos, e por isso tive que me virar nos 30 para poder atrair a atenção de todos. Fiz várias vozes diferentes e sempre contava com emoção (por ser um livro cheio de aventuras e perigos). Uma coisa que eu observei também é que as crianças gostavam muito de escolher um personagem para si e ler em voz alta na hora em que seu personagem escolhido falasse. Às vezes eu me sentia em um ensaio para uma peça de teatro, com várias pessoas lendo seus personagens em voz alta. Isso atraiu bastante a atenção deles, mas mesmo assim sempre existem os "desertores" que prestam atenção em um segundo e no outro já estão pulando e fazendo bagunça. Com esse livro, no entanto, percebi que a porcentagem de crianças que desertava era menor. Suponho que seja por causa dos quadrinhos, cheio de imagens e de muita ação.
       Adorei a experiência de contar uma história em quadrinhos, principalmente essa que é dividida em vários capítulos, o que permite que a hora de acabar uma sessão de contação tenha menos "ahhh tia, só vamos ler mais uma página" e etc. Fica tudo bem menos traumático! 
Boas férias, pessoal!!

            Os três personagens principais - Lieam, Kenzie e Saxon

       Os três fazendo uma busca pra desvendar um desaparecimento. 

       Uma parte muito emocionante de luta conta caranguejos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Refletindo o amor pela leitura com "Como um romance", de Daniel Pennac


     O tema principal do livro “Como um romance” de Daniel Pennac traz uma discussão diferenciada sobre a leitura, ou melhor, sobre o amor pela leitura. Paradoxalmente a esse ponto central, são tratados temas que levam ao “não gostar de ler”, procurando-se assim, as causas que nos tiraram, em algum momento, do caminho de leitor. A história relaciona fases da nossa vida, de uma forma não linear, e nosso contato com a leitura: a infância, em que somos leitores, mesmo que essa leitura seja feita pelos pais, propiciando momentos de prazer compartilhado; e a adolescência, em que a leitura se torna tão difícil e arrastada, perdendo a conotação de prazer para ser comparada a uma obrigação como outra qualquer, levando à quebra do nosso amor construído na infância.
     A primeira frase do livro me fez refletir bastante sobre o imperativo que tornamos o ler. Essa relação ler + exigência é impossível, assim como não há como se exigir que alguém ame ou sonhe. Dessa forma, tentamos tirar o sublime da leitura, como se isso fosse capaz, desconsiderando que a leitura é realmente um pacto de confiança que só o leitor pode fazer, sem que ninguém o mande, assim como o pacto com o amor e com o sonho.
    A parte do livro que traz a discussão dos pais sobre a leitura X novas tecnologias me deu um grande alívio. Essa noção de que a leitura está perdendo seu lugar é tão disseminada que acabamos concordando passivamente com ela, principalmente quando não entendemos qual a função do livro e seu potencial de encantamento. Mas essa parte do livro traz a noção de que há vários outros aspectos relacionados à leitura, questões emocionais, que não conseguem ser abarcadas pela internet ou a TV. Os pais então, não consideram a grande importância que tem a leitura que fazem com seus filhos, “o momento de paz” que tem ao final do dia contando uma história, e acham que a ruptura desse momento não vai ter reflexos no hábito da leitura da criança. E quando isso acontece, têm um álibi: as novas formas de entretenimento; apesar de saberem, lá no fundo, que tiveram alguma parcela no peso que o livro se tornou para o filho quando ele foi abandonado sozinho com a leitura.
     Isso me lembra uma frase bem interessante que Pennac evoca no livro: “A gente queria ser livre e se sente abandonada”. Isso reflete bem o sentimento da criança ao aprender a ler e os pais desconectarem, sem consentimento do filho, os momentos que tinham juntos. Uma grande traição. Às vezes, até por pensarem que seria o melhor para o desenvolvimento do filho, e se convencerem, com a empolgação do aprender a ler, que a criança “não precisa mais” deles. E quando é mesmo que um filho não precisa mais de um momento de compartilhamento com o pai?
     Quanto à leitura em voz alta, o texto traz uma passagem muito bonita: “O homem que lê em voz alta nos eleva à altura do livro. Ele se dá, verdadeiramente, a ler!”. Tive uma nova experiência de ler em voz alta com esse livro, apesar de inicialmente ter achado estranho. Mas essa passagem e as novas sensações me convenceram que isso realmente me colocou, verdadeiramente, a ler. É uma sensação nova de vivenciar o livro, a cada palavra, no corpo, com a própria voz. E se sentir elevado, à altura do livro.
     Um dos pontos mais interessantes, na minha opinião, foi o que trata da leitura como uma ação que tem um caminho determinado, que deve ser seguido por todos da mesma forma. Essa temática foi bem abordada na parte que trata do professor que mostrou aos alunos como ler e aprender de uma forma diferente (reflexão: O uso da palavra “diferente” parece trazer um tom de ilegalidade sempre, de “fora do padrão”). Uma passagem do livro revela que “com ele a cultura deixava de ser uma religião de Estado e o balcão de um bar era uma tribuna tão aceitável quanto um estrado de sala de aula”. Isso me fez pensar sobre a falta de importância que damos ao aprendizado informal, que na maioria das vezes é mais efetivo que o formal, pois parece estar associado ao prazer da falta de cobrança. A sociedade mostra essa exacerbada preocupação em aprender o teórico, o formal, e que as relações e o aprendizado cotidiano pouco têm a oferecer. E isso, na verdade, não é a base para sermos o que somos? Não é nas nossas conversas cotidianas que estipulamos novas formas de pensar e agir? O aprendizado informal, tão marginalizado e essencial para o desenvolvimento!
     Ainda sobre esse “professor mito” tratado no texto, uma passagem me fez refletir sobre a forma de leitura a que nós somos expostos: “Só que não nos entregava a literatura num conta-gotas analítico, ele a servia a nós em copos transbordantes, generosamente”. A literatura parece que sempre nos é entregue e exigida pouco a pouco, e que precisamos sempre analisá-la minuciosamente para que nada nos escape. Voltando à primeira comparação feita no livro do “ler” com o “amor”, será que conseguimos amar assim? À conta-gotas? O que seria do amor sem a avalanche de sentimentos, que nem sempre sabemos quais são?! A leitura entregue em copos transbordantes não tem medo que algo seja perdido, mas é aproveitada ao máximo possível. E de alguma forma apreendemos mais do que pensávamos ser capazes, um turbilhão de conteúdos que nem sempre processamos conscientemente, mas que estão lá.
     Quanto aos direitos que o livro atribui ao leitor: Obrigada Pennac! Porque nunca tinham me dito isso antes? Parecem ser direitos conhecidos e banais, mas acho que é o tipo de informação que precisa ser lida para ser compreendida. Fiquei muito aliviada e me senti representada, de alguma forma. Foi muito bom saber que todos os leitores nem sempre conseguem ler até o final, e que algumas vezes é permitido sim pular páginas. Esses direitos tornam a relação com a leitura amigável e não, como às vezes nos é passado, de tirania.
      Esse livro foi um grande marco para mim. Identifiquei-me com muitas partes, me vi na criança, me vi no adolescente e desejei imensamente ter um professor que conseguiu reatar alguns de seus alunos com a leitura. Mesmo lendo, uma literatura aqui e outra ali, textos acadêmicos e etc, sinto que minha relação com a leitura estava abalada há muito tempo. E foi bom repensá-la um pouco, senti-la novamente com emoção.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Aniversário de lançamento

Olá leitores!

Hoje completa 243 anos que a primeira edição da Encyclopaedia Britannica foi lançada. Ela é a maior e mais completa enciclopédia até hoje. É composta por três estruturas diferentes: a Micropaedia, com 12 volumes contendo verbetes melhores, a Macropaedia, com 17 volumes contendo verbetes maiores e a Propaedia, um único volume, que pretende fornecer um esboço do conhecimento humano, de modo hierárquico. Os três livros são usados de forma complementar.
O site da enciclopédia (http://www.britannica.com) oferece um catálogo online de verbetes com imagens, videos e páginas na internet relacionadas.

Vocês querem saber uma curiosidade? No conto "A Liga dos Cabeças Vermelhas" de Sir Arthur Conan Doyle, protagonizada pelo detetive Sherlock Holmes, a personagem que pede ajuda ao detetive para resolver um mistério tinha como trabalho copiar, a mão, todos os verbetes da Encyclopaedia Britannica. Imagina que trabalhão! A foto ao lado é a ilustração original do conto.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Diário do contador por Ana Beatriz Novelli

No último mês contei algumas histórias do livro "Histórias de Ananse" de Adwoa Badoe e ilustrado por Wagué Diakité . O livro apresenta histórias folclóricas de Gana, na África, contadas pelo  personagem principal, Ananse, uma aranha que se comporta como humano e se mete em encrencas dignas de Sir Arthur Conan Doyle. 
Os desfechos são muito engenhosos, como na terceira história "Ananse vira o dono das histórias". Nesse capítulo Ananse desafia o rei das florestas dizendo que apenas com sua astúcia venceria as abelhas, os gnomos Aboatia e a serpente Nanka. Se ele conseguisse, o rei das florestas daria a ele o poder de ser o "dono de todas as histórias" e se ele perdesse ele voltaria para casa de mãos vazias. Surpreendentemente, Ananse vai atrás dos três desafios sem medo e consegue, através de sua inteligência e manipulação das palavras, capturar os três animais que nenhum outro animal tinha conseguido.
Fiquei muito feliz e surpresa ao ver as crianças interessadas por esse tipo de literatura folclórica, principalmente pelo fato de que não eram histórias brasileiras. O livro não era do acervo da escola, foi trazido por um aluno que no começo do semestre não gostava do momento da contação e era muito disperso. O ato de um aluno trazer um livro pra contação já é maravilhoso, mas principalmente por ele trazer, fez meu dia. 
          Contamos quatro histórias do livro, mas recomendo a leitura do livro todo. As histórias são interessantes e a participação de Ananse como homem-aranha e dos outros animais da floresta atraiu muito a atenção de todas as crianças.

Asa de Papel por Ana Carolina Maia

   Esta semana tirei um dia para organizar uma estante de livros lá de casa. Entre vários títulos conhecidos e explorados por mim quando pequena, estava um livro que me chamou a atenção: Asa de Papel, escrito e "ilustrado" por Marcelo Xavier. As ilustrações foram feitas tridimensionalmente, utilizando modelagem, o que deixa a Arte do livro bastante interessante. 
O livro começa assim:
Quando você se sentir só... 
Ou não quiser ser apenas mais um na multidão                                      

                                                                                Quando quiser descobrir quem descobriu, quem inventou, como surgiu... nas curtas, médias e longas viagens.

Ou para ir até o infinito no tempo que dura um grito                                                                             Nos longos períodos horizontais... 
                                                                               Para ir à festa do rei
Ou viver fantásticas aventuras no mar

Para entender o que os bichos pensam da vida

ou atravessar o tempo como se atravessasse uma porta
 Para saber como é bonito o mundo visto por um mosquito

ou, num instante, sentir a terrível solidão de um gigante
Quando o mundo vira uma geladeira e você um pinguim
                                                                          nos dias chuvosos
                                                                                                ou quando a Terra se bronzeia


                Para sentir aquele medinho gostoso...

 Ou quando quiserem fazer você de bobo     


Leia um livro...

Me lembrei dos sentimentos que eu tinha quando lia este livro quando pequena e me pus a refletir: talvez a importância da leitura não seja apenas ler um livro, mas senti-lo: sentir suas palavras e suas imagens. 
Mergulhar em sua história profundamente.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Diário do Contador por Katsumi Takaki




Poxa vida..já estamos em Dezembro! Já entrando em clima de final de ano. Carol e eu já estamos nos preparando para o dia de fechamento com as crianças, inclusive fazendo uma dinâmica com o último livro que estamos lendo com eles. Mas isso é assunto para um próximo post!
Hoje falarei do livro Natureza Morta de Gonzalo Cárcamo um livro excelente, em todos os seus aspectos. A primeira coisa para que chamo a atenção é o fato de o livro ser composto apenas por figuras! Mas engana-se você que acha que ele é medíocre e “simples”.  E já digo de antemão: é praticamente impossível não se encantar com os traços do ilustrador chileno. A princípio as crianças estranharam muito o fato de o livro não ter texto. Pensaram, inclusive, que “era preciso criar” uma história. Em parte elas estão certas, mas ao final viram que há uma sequência lógica de fatos, construída por meio das ilustrações – e é por isso que devem estar ainda mais atentos a elas. Entretanto, não acredito que a mensagem teria o mesmo impacto caso Cárcamo se utilizasse de textos na estória. Neste caso, é muito melhor narrar os acontecimentos por meio de figuras do que ler de fato as palavras.

Foi a minha segunda experiência de leitura dialógica por meio de livros que tinham apenas ilustrações. Recomendo a todos! As crianças ficam ainda mais motivadas a falar e a prestar atenção, porque a estória é bem visual. Nem é preciso um esforço tremendo para fazer com que participem mais da contação, elas contribuem de forma muito espontânea e entusiástica. Cada virar de página é um arregalhar de olhos, um misto de expressões de descoberta e encantamento.
 Foi muito divertido vê-los conduzindo a contação com tanta naturalidade, de tal forma que conversamos sobre vários assuntos – relacionados à estória – à medida que eles iam compartilhando. É certo que um livro apenas com figuras requer mais do que uma boa leitura; ele é uma obra de arte, e como tal, merece profunda contemplação.


Diário do Contador por Ana Beatriz Novelli

               Queridos leitores,
            antes de começar o relato da contação da semana, sei que devo uma explicação. Fiquei quase um mes sem postar uma linha se quer sobre as contações e saibam que eu me sinto muito envergonhada por isso. O problema que me ocorreu foi o seguinte: bloqueio de contadora.
            Sim, vocês devem estar se perguntando: bloqueio de contadora? Mas o que será isso? Bom, eu explico: é quando as coisas caem na rotina e você não faz a menor ideia do que postar. É quando você já sabe exatamente o que fazer: vai chegar na sala, levar os alunos pra um cantinho e vai contar a história a eles. Vai perguntar algumas coisas e vai deixar com que eles explorem as palavras... O que contar no blog depois? Não tem muito o que contar, não é? Você já conhece esse processo, já conhece também as crianças e os jeitinhos delas. Não tem nada demais pra contar!
            Pois é, minha gente, isso me perseguiu durante um mes inteiro. Apesar de adorar frequentar a escola e contar histórias às crianças, eu não conseguia bolar posts interessante para escrever. Por isso resolvi escrever esse post-desabafo, pra mostrar que nem tudo são flores na vida das contadoras.
            Há um tempo, preocupada com a falta de posts no blog, a nossa professora-coordenadora nos mandou um e-mail nos perguntando sobre os motivos dessa escassez por aqui e tocou num ponto muito interessante: será que nós não entramos nesse projeto de extensão (e por projeto quero exemplificar um plano micro do que poderia ser generalizado para muitas áreas da vida) para poder ganhar mini-recompensas (como a gratidão maravilhosa das crianças, o amor da professora, a admiração dos nossos colegas de curso)? E quando as mini-recompensas de alguma forma acabam ou caem na rotina, o interesse também acaba? As coisas parar de ser coloridas e cheias de vida para serem meio marrons?


Wow.


           Isso me fez repensar o meu objetivo dentro do projeto e também a vida como um todo! Observei meu comportamento como contadora e percebi que poderia dar mais às crianças. No começo, contar era uma atividade que exigia muito de mim e era algo muito difícil e estressante. Ficava o tempo todo querendo agradar as crianças, fazer com que elas pensassem sobre o conteúdo do livro... resumindo, era algo tenso que de alguma forma me alimentava. Com o passar do tempo o momento da contação ficou mais relaxado (mas não desleixada!) e isso me assustou um pouco. Acho que confundi a não presença do stress com o desanimo (e como vocês podem ver cometi um terrível engano) e passei a ver as coisas meio amarronzadas. 
           Agora, com essa reflexão feita, começo a enxergar as coisas com as devidas cores que elas possuem. Nada de alta saturação ou baixa, mas exatamente da cor que elas têm. Nos próximos dias espero compartilhar com vocês as experiências que tive dentro desse período (que foram muito interessantes, pensando bem). Meu relato continua nos próximos capítulos!




Há sempre uma luz no fim do túnel.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Lugares em que contamos por Laís Melo


   






               
                Na minha passagem por Fortaleza, descobri esse lugar lindo em que acontece um projeto muito legal. Não consegui descobrir o nome real do projeto, mas nesse antigo vagão de trem (fabricado em 1938) localizado na praça Luíza Távora no bairro Iracema, fizeram uma biblioteca! Entrei para conhecer e fiquei encantada com o que vi: muitas crianças com acompanhantes fazendo a leitura dialógica! E enquanto estava lá, várias crianças chegavam correndo animadíssimas, entravam no vagão, pegavam um livrinho e sentavam-se para ler. Achei muito interessante pois consegui perceber que todos estavam realmente se divertindo ao ler. As crianças não foram obrigadas a irem lá - na verdade, alguns pais que pareciam terem sido obrigados: iam um pouco desanimados atrás enquanto as crianças chegavam correndo na frente.


               Cheguei até a voltar lá outro dia, para sentar e ler algumas coisas. O ambiente era muito agradável e acolhedor, e por ser um vagão antigo, me passava a sensação de que havia muito conhecimento por ali.
               Fiquei com vontade que tivesse um vagão aqui em Brasília também. Senti que lá era o lugar de uma leitura por diversão e livre, como deve ser.







Diário do contador por Larissa Araujo



     
Na última contação li o livro “Liga-Desliga” de Camila Franco, Jarbas Agnelli e Marcelo Pires. Achei super interessante, pois o livro inverte a relação entre a criança e a TV. Em sua narrativa é a TV que assiste ao menino. Assim, críticas são feitas de uma maneira leve e a mensagem principal “não assista muita TV e brinque mais” é dada sem parecer um sermão ou uma ordem direta. Durante a história perguntei sobre o que as crianças gostam de assistir na TV e fiquei surpresa (para variar, essas crianças sempre me impressionam.) quando me disseram que adoram ver a novela das oito e programas que possuem uma classificação indicativa não condizente às suas idades. Muitas afirmaram que os pais liberam para que assistam à televisão e não as proíbem de assistirem a quaisquer programas. Tal assunto veio a calhar neste momento já que o STF está votando para liberar programas de TV em qualquer horário, com classificação de idade. O relator do caso, ministro Antonio Dias Toffoli afirmou que são os pais os responsáveis pelo o que seus filhos assistem ou não na TV. Mas, se o que as crianças me disseram procede, sinto que deve haver um trabalho com os pais a fim de orientá-los sobre a importância da classificação indicativa e deixar claro que a mídia é sim um forte influenciador e que eles devem ficar atentos, estar junto à criança e explicar a ela o que se passa na telinha. 


E você? O que acha sobre as classificações indicativas e o horário em que os programas devem ir ao ar?