quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

experiências do tio ramiro nessas últimas semanas

Olá gente, tudo bom com vcs? kkkkk 
Queria compartilhar duas experiências que me marcaram a algumas semanas, a primeira foi quando li para eles o livro das advinhas, e tinha umas 80 charadinhas, eles acertaram muitas muitas muitassssss mesmo, claro que as mais dificieis que nem o TIO aqui sabia ou poderia imaginar a resposta pulava-se a charada, mas eles pensavam tanto.., e como crianças queriam competir entre si o que é compreensível, mas a felicidade deles quando o tio ramiro falava muito bem acertou, era YES acerteiiiii acerteiiii, e isso foi muito legal de ver que pude participar mesmo que um pouquinho desse desenvolvimento deles, e a segunda foi que um dia de contação que fiz uma espécie de criar a  história só que agregando a ideia de todos, funcionou assim, o TIO (eu) começei era uma vez... Daí  inventei uma situação e um personagem.. e ia passando a palavra de um em um.. sem limite de tempo ou palavras , até eles concluírem a parte deles na história podendo mudar,acrescentar,tirar,inventar o que quisesse, e como foi gratificante ver que eles queriam participar ativamente, saiu como ideia jogador de futebol,princesas,fadas,dragão,acidente de carro,casamento,romance,botafogo(acreditem se quiser) kkkkk, empregos,faculdade,filhos,buraco mágico que leva para outra dimensão e muitas outras.., e o especial foi que numa outra mediação umas 2 semanas depois alguns perguntaram, tio quando agente vai criar história de novo? pra mim foi gratificante ter esse retorno deles, de que gostaram do que foi feito.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Viagem pela América do Sul, 1° parada: Uruguay

Olá! Depois de voltas e voltas pelo Brasil, de passarmos pelo sudeste e pararmos no Sul para tomar um Chimarrão, chegamos ao Uruguay e já descobrimos coisas maravilhosas sobre esse país.  Como estávamos um pouco cansados, paramos na beira do Rio Uruguay e descobrimos de onde veio tanta água... Por isso, demos uma pausa para podermos compartilhar com vocês um pouco dessa história.  



Certo dia o diabo, cansado de caminhar pelas matas, porque nesse tempo, tudo isto aqui era só mato a perder de vista, decidiu tirar uma sesta para refazer as forças e continuar sua caçada de almas malvadas.
E tratou de se espichar num tapete de guanxumas alta. Caiu bem ao pé de uma figueira carregadinha de frutos maduros.

Nesse tempo, povoava essas matarias que se estendiam longe, a fazer limites com Santa Catarina e as terras do rei
da Espanha, uma raça de passarinhos pequenos e cantadores, chamada URU. Aquele dia, depois de saborearem também os figuinhos roxos e suculentos, resolveram dar graças a Deus, cantando o que era uma lindeza de se ouvir. Eram milhares de milhares.

O diabo, que tem um sono de pedra e ninguém consegue acordar quando está dormindo, naquela tarde não pode deixar de ouvir a orquestra dos passarinhos. Sua irritação era tamanha que resolveu dar um sumiço nesses bajuladores do Velhinho lá de cima...
Unindo o gesto a palavra, encheu as bochechas vento, ficando com a cara em brasa, de tanto fazer força. Depois que tinha botado dentro da boca a maior quantidade de furacão, soprou com tanta fúria quanto podia, virando para o lado de onde lhe parecia provir o som.

A passarada tratou de se cambiar, atirando-se espaço a fora, num movimento único. Depois pensaram que se o diabo não queria que eles cantassem no fofo dos galhos e ramagens, então cantariam no ar mesmo fora de seu alcance. Lá em riba recomeçaram seu gorjeio, ainda mais bonito, mais alegre do que antes.
Furioso o diabo resolveu matar todos de uma vez só. Ouviu-se uma explosão, era como um tiro de canhão. E um horrível fedor de enxofre se propalou, na terra e no ar, deixando a bicharada tonta de cair.
Com aquele canhonaço que se ouviu por milhares de léguas ao redor, Papai do céu, que também andava cá na terra, desconfiou que aquilo não podia ser coisa boa.
Nisso o relampejo do sol, sobre as asas do miles de passarinhos que começavam a cair do céu a imitar uma chuva transparente, daquelas do tipo casamento da raposa, alertou o santo de vez.
Levantando as mãos para o céu, pediu a benção do Espírito Santo – que também era uma ave, pois sempre aparece disfarçado de pombinha branca – numa tentativa de salvar os bichinhos da senha malvada que os estava exterminado aos miles.
Ergueu a mão direita na direção da passarada que caia, e a medida que o poder mágico de seus dedos ia atingindo os uruzinhos, foi acontecendo um milagre. As avezinhas que ainda tinham qualquer sopro de vida no corpo, foram se transformando em gota d´água, e as que já tinham morrido, se despencaram do alto para o chão, mudadas em pequenas pedras redondas e chatas, hoje conhecidas pelo nome de chanteiras, e que lembra pelo formato um passarinho de assas abertas.


O volume de água foi tanto, a prosseguir pelo chão, por vales, matarias e campos, que o limite seco que separava o Rio Grande de Santa Catarina e da Argentina se tornou num rio enorme.
Foi assim que nasceu o rio dos Uruguai, o rio Uru-gua-i, rio dos passarinhos, outros chamam de “rio dos pássaros pintados”.


Uruguai significa “Rio dos Pássaros Pintados”. Já descobrimos de onde vem o “Uru”. “Gua” é igual à preposição “de” no sentido de “vem de”. “Y” do Guarani, significa água. Então Uru-gua-y é uma frase que significa, de trás para frente, Água que vem do Uru.
Agora que descansamos um pouco aqui na beira do Rio Uruguai, vamos voltar a viagem! Afinal, a Argentina nos espera!


Por: Andressa Priscilla
Ilustrado por:  Viajantes do 5° ano B.

domingo, 16 de novembro de 2014

O trazedor de imaginação



Na última contação de histórias, ocorrida na semana passada, li um livro para as crianças ao qual tenho um forte apego sentimental e que já havia um tempo que queria lê-lo para elas. O livro Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha, foi um dos livros que li na minha infância e que nunca esqueci. Lembro-me como se fosse hoje da empolgação que tomava conta de mim ao lê-lo e relê-lo.

A primeira vez que o vi na biblioteca da escola, foi quase dois anos atrás: vi-o na estante, em meio a tantos livros! Peguei-o e brotou um grande desejo de lê-lo para as crianças, mesmo que tivesse que esperar algum tempinho (ou alguns aninhos) até que elas pudessem estar na faixa etária para compreender o livro (na época, eles tinham 3 anos e 4 anos de idade, agora têm 5 e 6 anos).

Então a hora chegou! Peguei o livro e o li e fiquei impressionada em saber que mesmo depois de tantos anos aquele livro ainda despertava em mim sentimentos de prazer, de empolgação e de muitas risadas. Comecei a mediação de leitura como sempre: os grupos de 4 crianças sentam-se ao redor do livro e comunico “ Vamos ler hoje um livro muito especial para a Tia Barbara, que ela gosta muito, se chama: Marcelo, Marmelo, Martelo” e com um grande barulho, vi os seus rostos com grandes sorrisos, gargalhando porque “ o nome do livro é muito engraçado, tia!”.

Comecei a ler. Marcelo realmente era um menino diferente, pois questionava tudo! Questionava principalmente o por quê das coisas se chamarem como são. Por que eu me chamo Marcelo e não Martelo? E por que martelo não se chama marmelo? Por que o mar não derrama? Por que cadeira se chama cadeira? Deveria se chamar sentador! Todas essas perguntas eu fiz para as crianças e perguntei também o que elas achavam do Marcelo

“ Ele é um bobo!”.     
“Se me encontrasse com ele diria que ele é um bobão! Cadeira é cadeira, ué!”.
“O Marcelo não entende nada!”.

Perguntei a eles: “Ué, mas vocês não acham que a cadeira não deveria se chamar sentador já que sentamos nela?” Todos me olharam e um dos meninos disse “É verdade, tia, e escola deveria ser aprendedor!”, outro menino seguindo a abertura que o amigo havido feito falou que caderno é que deveria se chamar aprendedor. Daí por diante foi uma explosão de nomes, significados, neologismos pra todos os lados! Colher era mexedor, parede era segurador de teto, mesa era apoiador...

“Ahhhh tia! E livro é trazedor de imaginação!”

Trazedor de imaginação?”.

“É! Ele traz muitas imaginações! Eu adoro as histórias, pena que a gente tem que esperar a semana inteira para escutar...”.

Bom, neste momento nem preciso dizer  quão comovida fiquei, na verdade foi um mix de emoções, com alegria,  orgulho e tristeza. .Não consegui dizer nada para o menino no momento, mas me fez refletir e trazer novamente a certeza de estar no Projeto e de como amo ser mediadora de leitura! O menino que disse isso a mim fez exatamente aquilo que todos nós do Projeto tentamos fazer com que eles tenham: o amor à leitura.

A contação acabou e eu fui para casa com um sentimento de reciprocidade, um sentimento de compreensão e agora entendo o que era. Neste dia, compartilhei o meu amor pela leitura na forma de um livro e as crianças compartilharam o seu amor pela leitura utilizando o que o livro proporcionava e agora estou compartilhando com todos vocês o meu amor somado com o amor das crianças fazendo assim uma grande corrente de “amor literatural”!


E você? Também ama a leitura como eu e as crianças do Projeto? Se sim, compartilhe conosco, se não, não perca tempo, conheça a leitura (a leitura é prazerosa sim), pois como diz o ditado “ninguém ama aquilo que não conhece”.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tina – O triângulo da confusão.


Aceitar as diferenças. Tema tão repetitivo na escola que, ao apresentá-lo, crianças mostram ter o logotipo internalizado, mas quase nunca possuem reflexões ou opiniões próprias sobre o assunto. Trabalhar qualquer questão em conjunto é difícil, principalmente em se tratando de crianças. Digo isso porque não é qualquer tema que pode ser facilmente apresentado em linguagem simples. Quase sempre, criar um ambiente aberto a discussões não é o que se espera. Ao “desrobotizar” uma pessoa, isso é, pedir para que ela fale o que pensa, e não o que a instruíram a falar, é chocante a dificuldade. Com crianças é até mais fácil, pois a infância ainda é uma fase de transparências, não há preocupação, por exemplo, com processos judiciais. Se a professora incentivar a criança a não ter medo de se expor, prometer não mandar bilhetinho para casa ou qualquer punição, flui tranquilamente. Contudo, existem temas em que, por mais à vontade que a criança esteja, sempre teremos a tutela dos pais. Sexualidade é uma delas.

Não sei explicar se a sexualidade é exatamente um tabu nos dias de hoje. Está presente na nossa cultura, mas ainda é muito complicado abordá-la, a divisão de público é quase absoluta. Uns aceitam falar sobre o assunto, outros não querem nem saber. Independente do tema ou público, se bem abordado, é possível se tratar de qualquer coisa, homoafetividade não é diferente. Como exemplo, trago o quadrinho de Maurício de Sousa: Tina, o triangulo da confusão.

Fazendo a leitura da revista de edição N°6 da protagonista adulta da família “Turma da Mônica”, percebe-se que é mais voltada para o público jovem que infantil, trazendo assuntos como música, moda, preocupação com provas na escola e afins. Entretanto, esse quadrinho “O triângulo da confusão”, ao meu ver, tratou da questão dos relacionamentos e da sexualidade de forma genial. Genial porque você pode entregar esse quadrinho para um adulto ou para uma criança que está iniciando a leitura que ambos entenderão a mensagem, sem dificuldades com interpretação, abstração ou coisas assim. A história é curta e simples, e não tem o problema da homofobia como tema central. Lembra do logotipo internalizado que não gera reflexões? O mesmo acontece quando toda vez que as diferenças são o assunto em foco, mas trata-se da questão de modo a gerar respostas prontas. Aqui, ninguém é vítima de nada. Mas também, nada é apresentado cor de rosa, em um mundo onde todos são aceitos, e não existe maldade. Isso também não ajudaria em nada, certo?

Tudo começa quando Tina está misteriosa com a amiga Pipa. Ela está tão entrosada com uma pessoa no celular que a amiga decide segui-la para tirar essa história a limpo. Quando vê  Tina com outro cara, ela se choca. Logo pensa que a menina está traindo o namorado e tudo mais. Coincidentemente, encontra Miguel, o namorado da Tina, que entra em desespero ao ouvir a história e passa a vigiar Tina acompanhado de Pipa. Já chegando à conclusão de traição, Miguel chora no colo da Pipa que também é surpreendida quando o seu namorado, Zecão, chega ao restaurante acompanhado de um amigo, pois a cena sugere, por sua vez, traição. Rola uma briga no cenário e Tina e Caio, como são pessoas conhecidas, vão lá se meter. Tina explica para Miguel que Caio é apenas um amigo, daí Caio fala “E eu já sou comprometido, não é?”. Para surpresa de todos, ele aponta para o cara que chegou ao cenário junto com Zecão.




Achando graça da encrenca toda, Caio e seu namorado vão embora e Tina dá um esculacho em Miguel que acaba de fazer uma cara de surpresa perante a situação. 




“- Viu só? E vê se deixa de ser preconceituoso!
- Er... Desculpa, Tina! É que eu não sabia que ele...
- Eu estou falando de preconceito contra mim! Você acha que tem que rolar alguma coisa toda vez que homens e mulheres conversam? Não é?”

Assim, a história aborda a sexualidade sem frases prontas do tipo “você tem que aceitar/tolerar/respeitar ou você será um ser humano ruim”. Em vez disso, a história mostra Caio como exemplo de lucidez perante os ciúmes e as conclusões precipitadas dos dois outros casais, sem vitimizá-lo ou oferecer fórmulas prontas. Ao mesmo tempo, é uma história que eu leria com as crianças sem medo de receios por parte dos pais ou bocejos de tédio por parte das crianças.

Lembrando que eu não critico abordar homossexualidade ou a homofobia de forma direta. Muito pelo contrário, em algum momento isso tem que acontecer. Mas, para qualquer assunto que tende a se tornar tabu, a naturalidade é uma ótima forma de iniciar o diálogo. Achei interessante esse quadrinho sair dos clichês que insistem em fazer a criança decorar situações e não pensá-las. 

Que outras opções para vocês recomendariam para abordar relacionamentos e sexualidade?

Mais leitura sobre o assunto aqui e aqui



Autoria: Amanda Barros
Revisão: Eileen Flores

Desafios e Delícias da Mediação de Leitura

Reflexões dos participantes da Oficina Conte Comigo, ocorrida durante a Semana Universitária 2014 na Universidade de Brasília.

   
     A Oficina Conte Comigo, realizada durante a Semana Universitária da Universidade de Brasília, foi um sucesso. Participaram membros da comunidade universitária e externa que queriam saber um pouco mais sobre o projeto e debater os desafios e as delícias da mediação de leitura.


     Depois da dinâmica quebra-gelo, apresentação do projeto e experiência dos convidados com a leitura dialógica, tivemos um debate, afim de sabermos o que os participantes acharam da leitura dialógica que conheceram e que fazemos com as crianças.

     No debate, surgiram muitas questões. Colocamos aqui as que mais suscitaram discussão. Os pontos aqui refletem o que foi discutido e a variedade de opiniões que surgiram. 
     

O diálogo ao redor da obra de literatura: é possível? É importante?

     Foi dito pelos participantes que é fundamental  interagir com a criança e que, mais que isso, ela deve ser protagonista. Uma participante relatou que faz algo semelhante em sala de aula, com experimentos, e as crianças se sentem cientistas, descobrindo coisas novas.É importante incentivar, pois a curiosidade das crianças é instigada com situações – e palavras – diferentes. 
     A leitura dialógica possibilita essa conversa entre mediador e criança, e os participantes acharam que é possível sim colocar em prática, mesmo não sendo fácil.
     Uma participante faz Pedagogia, e o que ela pode observar na escola onde trabalha é que muitas vezes a leitura é colocada como uma obrigação, o que desmotiva grande parte das crianças.
     Quando esse diálogo existe, damos o poder de a criança falar e exprimir o que sente, experiências que teve. Aprendem a compartilhar o que pensam, exercício que deveria ser feito diariamente com as crianças, para que desde pequenas aprendessem a se expressar com essa ajuda de diálogo tão importante.


Que dificuldades são enfrentadas pelo mediador de leitura? 


     Na dinâmica para a realização da leitura dialógica na oficina, os mediadores das histórias tiveram certo receio de contá-las. Alguns dos motivos citados foram timidez e insegurança.
     Foram também citadas dificuldades em realizar a leitura dialógica, como explicar palavras que desconheciam, realizar o exercício com livro composto somente com imagens, grande quantidade de perguntas feitas pelos que escutavam as histórias, dúvidas em quais perguntas fazer sobre a história contada.
     Mas eles chegaram a conclusões como ser legal devolver o questionamento para as crianças, fazê-las pensar; improvisar, conduzir para a criatividade dos pequenos, e ser sincero sobre o que desconhece, além de explorar bem o livro antes de realizar a contação, de maneira a se preparar para possíveis questionamentos.

O mediador deve se colocar, deve opinar? 

     A dúvida “é necessário concordar com o livro?” surgiu. Algumas respostas foram as seguintes:
1 - A fantasia pode fazer parte da contação: sinta-se livre!
2 - Não dizer somente “não é assim que acontece”. Devolver o questionamento para a criança, perguntar a opinião deles sobre os fatos do livro. 
3 - Ninguém é dono da verdade, é necessário questionar, nem sempre chegar a um consenso.  Inclusive nem sempre concordar com o autor.
4 - Cada um com uma opinião, respeitar a opinião do outro é fundamental, e ensinar isso para as crianças é essencial.
5 - Mediador não deve colocar impor suas crenças para as crianças, por isso muitas vezes é legal deixar em aberto certas dúvidas surgidas.
6 - Não se impor não significa não opinar. O mediador deve ser um modelo de leitor reflexivo e, para tanto, deve compartilhar sim suas impressões e suas interações com a obra e o que a rodeia.

Leitura é entretenimento? 

     Alguém comentou que livro não é entretenimento, é questionamento, é ação de formação, com senso crítico.
     Mas surgiram também opiniões como a leitura ser um entretenimento ativo, há o prazer de ler e se envolver com a história, mas sem ser o mero "passar o tempo", sem ler apenas por ler, porque um livro exige mais. Sentir-se parte da história, se entreter e manter uma postura ativa e crítica são coisas que podem andar juntas. 
    


O que não pode faltar ao ler com as crianças? 


- Bom humor;
- Disposição;
- Imaginação;
- Paciência;
- Alimentar as questões;
- Ter cabeça aberta;
- Escutar a opinião e respeitar o que a criança acha sem impor sua crença;
- Emoção na leitura para despertar interesse.

     Além disso, realizar a leitura com prazer é fundamental. Mediadores compartilham que ler para as crianças o que gostamos, compartilhar um momento importante, estar dedicado em algo espontâneo e sincero é mais especial que fazer da leitura um espetáculo. Então sinceridade, espontaneidade e prazer em ler fazem do nosso projeto o que ele é.
     


A equipe Livros Abertos: Aqui Todos Contam! se sentiu extremamente honrada com a presença de cada um@, e deseja que quem sentiu afinidade com o projeto não deixe de fazer parte, pois esperamos a tod@s com os braços abertos!







Texto de Raylane Marina
Revisão de Eileen Pfeiffer Flores


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Aquecendo o coração com histórias e amor


     31/10 é uma data que muita criança ama. Adoram se fantasiar, sair pra pedir doce por conta do Halloween, e se divertem contando histórias aterrorizantes.
     Eu sempre gostei porque além de tudo é quando completo mais um ano de vida, e esse ano calhou de ser bem no dia da minha contação. Lemos a história “O menino, O cachorro".




     Desde que comecei a ler com os pequenos, sempre fui procurando saber histórias deles que se pareciam com os temas que líamos, e sempre falaram MUITO, muitas vezes ao mesmo tempo. Hoje não foi diferente, contaram mil histórias dos cachorros deles e misturaram com a magia do Halloween: “Tia, o meu cachorro assassinou o outro e saiu correndo com a pata na boca”.

     Além disso me perguntaram se eu não tinha medo do dia do meu aniversário.
Como eu vou ter medo quando aparecem essas criaturinhas?

 

     Bruxinhas lindas, super-heróis com poderes loucos e fantásticos me abraçaram e desejaram “Feliz aniversário, tia!”.

     O que eu acho mais mágico que isso tudo é saber que eles se envolvem com as histórias e compartilham porque gostam da troca de experiências que temos! Afinal, esse é um dos papéis que exercemos, e saber que há retorno é gratificante.


     Nesse 31/10 aqueci meu coração com histórias, beijinhos e abraços mais que maravilhosos!

Por Raylane Marina

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Idade das Cores

A minha proposta inicial era de ler alguns contos do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen e logo em seguida pedir para que eles desenhassem sobre a história. Não deu certo. Levei um livro de contos e mesmo explicando que o livro continha várias histórias, eles falavam que era grande demais, que continha muitas palavras e não tinha desenho. Eles amam cores e desenhos e não adianta inserir uma atividade ou outra, porque os elementos mais importantes farão falta. Um outro detalhe: eles gostam de decidir sobre o que desenhar.
Depois de duas tentativas frustradas, decidi levar um livro com cores e várias ilustrações. Deu certo. Depois levei um livro ilustrado chamado Modelo vivo: Natureza morta, de Gonzalo Cárcamo. Logo no começo disse: “Hoje vocês vão contar a história”. As respostas? “Eu não quero”; “Eu não sei ler só tenho seis anos”; “Legal” etc. O resultado? Os resultados, na verdade, foram duas histórias muito divertidas, contada tanto pelos que, inicialmente, gostaram da ideia quanto pelos que disseram que não contariam, ou pelos que falaram que não sabiam ler.
Idade dos alunos: 5 e 6 anos


Faço agora uma pequena descrição das histórias:

1º grupo
Deram o nome de João Vitor ao pintor e João Pedro ao caçador. Segundo eles, o pintor observava um urso e depois veio um caçador que matou o urso. Eles se assustaram com uma figura que mostrava apenas o rosto do caçador e o reflexo de seus óculos. Em certos momentos confundiram os dois personagens, pois eram muito semelhantes fisicamente. Chegaram a conclusão de que as pessoas destruíam tudo o que o pintor desenhava e por isso ele deixou o quadro que pintava para trás.

2º grupo
Deram o nome de Marcos Rafael ao pintor e Max Max (lê-se Méx Máx) ao caçador. Nome composto porque cada um citou um nome e Max Max devido à dúvida de pronúncia. Em relação a figura que mostrava apenas o rosto do caçador e o reflexo dos seus óculos, chegaram a conclusão que ele observava um animal. De acordo com eles, o pintor se escondia e observava um urso grande e mau, mas os ursos não são apenas maus. Eles também são bonitos e fofinhos. Os personagens tinham cara de pepino e eram neto e avô. O caçador era avô porque tinha o cabelo loiro ou branco. Não chegamos a uma conclusão. No final o pintor abandonou o quadro que pintava porque estava cansado de pintar.


Por Elioenay Melo 

domingo, 19 de outubro de 2014

Diário do Contador: Mundo de sombras: O nascimento do Vampiro- Ivanir Calado.

         A minha experiência com o livro Mundo de sombras: O nascimento do Vampiro começou na adolescência. O que mais me fascinou foi a trama de suspense e a linguagem de adolescente tão similar à que eu estava acostumada. As vivências narradas pelo autor se aproximavam da minha realidade de cidade do interior. Algo que me chamou a atenção foi o fato do autor escrever a história com um pano de fundo de sua infância. Li este livro três vezes, tamanha foi a minha afeição por essa obra, principalmente pelos trechos marcantes que possuíam um correlato forte com minhas experiências, não literalmente, mas em parte uma vivência um tanto próxima. 

          Foi pensando nestes momentos que decidi lê-lo com as crianças, principalmente pelo caráter de suspense e terror que o livro possui. O mistério que cerca a história certamente prende o leitor, que simplesmente embarca com Júlio e Daniel nessa busca pelo vampiro. No primeiro capítulo já percebi diferenças contrastantes entre a minha leitura e a compartilhada com as crianças. A linguagem do Autor é peculiar, pois Calado emprega gírias dos anos 70, palavras muito pouco usuais como “desvario gótico”, “estarrecido”, “mausoléu”, “bulhufas”, “pinel”, entre outras. Coube a mim, decifrá-las para as crianças, muitas nem eu sabia o significado, tive de recorrer ao dicionário. 
          
        Uma das razões é que essas palavras não fazem parte da realidade das crianças, nem faziam parte da minha, mas por já estar acostumada com diferentes tipos de escrita de diversos autores e autoras, quando o li não dei muita importância, mas agora lendo com as crianças, elas me fizerem perceber que certas coisas simples de explicar são escritas de maneira tão complexa que se torna incompreensível. No entanto, o mistério é tão envolvente que esse detalhe ficou para o segundo plano, muitas crianças já relataram estarem interessadíssimas em descobrir quem é o Vampiro. Outras já estão buscando mais livros nesse sentido e eu fico extasiada de ver esse resultado. Muitas já especulam sobre os próximos acontecimentos e tenho que me segurar para não ultrapassar a história.            
       Um menino em especial sempre me questiona a respeito do título, pois se trata do nascimento de um vampiro, mas até o momento só houve a morte de uma vampira. Claro que essa é uma das revelações do livro, não posso nem pensar em adiantar. 
        
      Tenho percebido que quando perpassamos partes do livro que tratam da morte e abordo esse assunto com as crianças, têm surgido definições e perspectivas sobre esse fenômeno que demonstram o interesse delas em compreendê-lo. Apesar da pouca idade (alunos do 4º ano), eles relatam já terem ido a muitos enterros e passado por situações de angústias profundas, marcantes que já influenciou o olhar que eles têm sobre a vida. Algumas relataram temer e ao mesmo tempo ter curiosidade sobre a morte. Acho bacana ver como as experiências delas já demarcam suas crenças e como elas também estão muito abertas a conhecer e discutir sobre essa temática tão desafiadora como é o fim da vida.
      
    Enfim, este é apenas mais um relato do quanto nós, Mediadores, estamos continuamente aprendendo com as crianças, essa é mais do que uma relação de leitura, é uma troca entre as crianças, o livro e os Mediadores. 



Editora: Galera Record
Autor: Ivanir Calado


Texto por Sara Meneses.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

As histórias em quadrinho e o desafio das diferenças culturais na literatura infantil

“Então você pretende abordar história em quadrinhos? Acho uma excelente ideia!”

Foi o apoio que minha coordenadora deu enquanto discutíamos o que eu idealizava para o projeto.

Como estudante de Letras Japonês, minha paixão por HQ queima desde criança. Acredito que minha iniciação para a leitura se deve aos quadrinhos, inclusive, foi a obra do Maurício de Sousa “Turma da Mônica” que me incentivou à alfabetização; eu realmente tinha inveja da minha irmã mais velha ao vê-la se aventurar nos quadros com belas figuras enquanto eu tentava acompanhar a história apenas visualizando as cenas. Defendo que entre tantas obras literárias, existam riquíssimos trabalhos que provavelmente as crianças não terão acesso na escola, talvez nem na vida cotidiana já que infelizmente existe um preconceito com esta literatura em particular. Uns acreditam que é infantil demais – apesar de existirem quadrinhos adultos aos quilos na banca de jornal -, outros que frases curtas – mesmo que com um contexto dependente de ligações entre todas as frases e imagens – não ajudam a treinar leitura, chegam a comparar com filmes legendado e conversas em chats. Baseando-me nisso, senti a obrigação de apresentar a riqueza deste trabalho no projeto em que me inscrevi.

Apesar de a Turma da Mônica ter iniciado a minha vida como leitora, o HQ que mais me marcou foi o mangá japonês Naruto.



Com um protagonista atrapalhado, socialmente marginalizado; longe de ter as qualidades clichês de um herói, Naruto Uzumaki é um ninja da aldeia da folha que carrega um sonho: quer ser reconhecido e respeitado por todos. Ele se esforça como pessoa, trabalha duro a cada dia, tem coragem e nunca volta atrás da sua palavra; esses são seus pontos fortes. Em contrapartida, não tem nenhum talento como ninja e possui um segredo considerado tabu social que todos sabem, menos ele.

Seu grande rival, mas não um antagonista, seria como protagonista secundário, e melhor amigo Sasuke Uchiha tem muito talento, nasceu em um clã poderoso que ajudou na construção da vila e carrega a herança genética do Sharingan (um jutsu* ocular antigo que permite um poder superior em campo de batalha), logo é idolatrado por todos os cidadãos apenas por seu um Uchiha. Todavia, Sasuke possui uma ambição por causa da sua trágica história no passado, está disposto a fazer de tudo por vingança, isso também inclui passar por cima das pessoas que Naruto deseja proteger.

Através das aventuras desses dois ninjas super contrastantes dentro da Equipe 7(formada por mais dois personagens Sakura Haruno e o líder Kakashi Hatake e tardiamente Sai – na saída de Sasuke), a cada capítulo uma nova lição de superação é formulada, reflexões puramente humanas do que é a vida ainda que em um contexto fantástico no mundo Ninja criado por Musashi Kishimoto. Aqui no Brasil, a primeira saga de Naruto(conhecida como Naruto clássico por abordar apenas a infância do jovem) é classificada para 10 anos(na tv aberta), idade adequada para trabalhar no projeto. Entretanto, essa valiosíssima história é uma opção descartada por muitos educadores, e não é bem por sem quadrinho. Mas afinal, qual é o problema de trabalhar com essa obra?

O segredo de Naruto.



Não muito tarde nos é revelado, ainda no primeiro capítulo do primeiro mangá tudo se esclarece. Uzumaki Naruto carrega em si uma besta, um demônio mitológico japonês chamado “Kyuubi” ou “Raposa de nove caudas” que só lhe foi selado no interior para que ele proteja a vila.

Diferente da nossa cultura ocidental cristã, demônios e anjos possuem uma conceituação diferente no Japão. Para nós ocidentais (culturalmente falando) o mundo está dividido entre “o bem e o mal”, sendo o mal desprezível e o bem única coisa que devemos alcançar; logo demônios são ruins e anjos são bons.

No oriente, essa dualidade também existe, mas em visões diferentes. Para a subcultura taoísta – a utilizada como base da cultura no universo fictício de Kishimoto – o Yin e Yang não são exatamente “bem e mal”, mas todos os opostos como “luz e trevas”, “feminino masculino”, “princípio e fim”, e ambos são puramente necessários para manter o equilíbrio universal.

Neste mundo fantástico, o universo é constituído por uma energia vital que se dividiu em nove Bijus(monstros com caldas), ou seja, são seres que mantém o equilíbrio universal, só receberam o nome “demônio” ou “besta” por serem usadas como armas que ninjas forasteiros inventaram em busca de poder. Em outras palavras, o demônio de Naruto não é o espiritual cristão que conhecemos, não são anjos que desobedeceram a Deus e trabalham para o Diabo, recebe esse título por motivos diferentes; apesar de ambos serem mal nomeados, estão totalmente desvinculados conceitualmente.

O desafio da abordagem é: como apresentar a história sem causar alvoroço entre os pequenos ou maus olhos dos pais? Explicar seria uma boa opção? Por um lado, praticamente ninguém vai ouvir porque explicações em decorrer de histórias quebram o sentimento de aventura, e tirar a atenção ou desinteressar alguém é a ultima coisa que quero fazer. Também tem o fato de talvez não entenderem a explicação, já que até mesmo alguns adultos que acreditam na doutrina não sabem conceituar o que seria um demônio, mas sabem que é ruim porque ouviram na igreja.

Explicar antes de começar a história além de causar uma impressão ruim – como já citado – também contribui com spoil, pois eu estaria quebrando um segredo (ainda que revelado no 1° capítulo do mangá). Apesar dos desafios, mostrar culturas diferentes das nossas no universo infantil contribui no combate a intolerância e espanta a ignorância com o conhecimento. Sem contar que Naruto é uma obra linda e revolucionária no universo infantil ocidental puramente Disney, já que raras são as vezes que o herói nos concedido não é o talentoso da história, mas o fracassado.

Texto por Amanda Barros
Revisão por Eileen Flores