sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O incrível mundo da leitura

Olá pra você que acredita que, com um livro, podemos sonhar alto, ir para um mundo incrível onde monstros existem, animais falam, e coisas imaginárias se tornam reais. Que sabe da importância da leitura e dos diversos benefícios que ela traz, não só pra vida acadêmica, mas pra vida, principalmente de uma criança.
Bom.. vou falar um pouquinho da experiência que tive com essa nova família que me acolheu, o "Livros Abertos: Aqui Todos Contam!". Pra começar, nas minhas primeiras contações eu fiquei bem receosa em relação aos pequenos, não sabia se iriam me receber bem ou se iriam gostar das minhas histórias. Mas não custava nada tentar, né? Além do mais, crianças são crianças, pequenos seres iluminados curiosos para descobrir o mundo. Besteira da minha parte pensar que não iria dar certo, fui calorosamente acolhida e sempre sou recebida por muitos beijos e abraços deliciosos!! Quanto amor.. fico até boba.
Ah!! Esqueci de contar que, coincidentemente, eu arranjei um emprego de monitora em um cursinho no mesmo período, no qual eu também faço mediações dialógicas. E o mais incrível é que todos ficam super empolgados e até incentivados, com sede de mais e mais histórias, não só onde eu trabalho mas na escola onde eu faço a contação também. Eu fico encantada de como realmente um bom livro, com uma intervenção saudável, consegue captar a atenção de uma criança. Elas ficam imergidas em uma outra dimensão e acabam te intrigando com a espontaneidade delas. É  uma atividade lúdica, que consiste em ações vividas e sentidas, não definíveis por palavras, mas compreendidas pela fruição, pela fantasia, pela imaginação e pelos sonhos que se articulam como teias tecidas com materiais simbólicos. São vivencias que se distinguem dos prazeres estereotipados, das ações dadas ou prontas, tendo em vista que expressam a singularidade dos indivíduos que as experimentam.
O mais legal é que, com as histórias que vou contando, as crianças vão me relatando alguns acontecimentos da vida delas, comparando com os personagens principais dos livros ou  compartilhando sentimentos que elas tiveram com a narrativa. E esses são alguns dos motivos que me incentivam a querer fazer parte, cada vez mais, dessa família.
Finalizo então contando um pouco da minha experiência e dos frutos que uma simples contação de histórias pode gerar. Espero que tenham gostado e até a próxima aventura!


Com carinho, Jessica Tsai

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Ler é uma viagem (?)

É costume de alguns professores afirmarem, na faculdade, que aprendemos errado no decorrer da vida, que o certo é assim, assado. Aluna da matéria Introdução à Literatura, ouvi que aquela história de que “ler um livro é uma viagem”, é pura balela, com a justificativa de que, na literatura, olhamos para nós mesmos, sendo ela uma imagem nossa, além de trazer reflexões e questões acerca do mundo.


Não discordo da justificativa, que, na minha opinião, pode ser verdade em vários momentos, mas tenho que defender algo que alguns mediadores e amantes das histórias sentem: a viagem que é ler um livro.


Ao sentar e abrir um livro, consigo me sentir na floresta desbravando caminhos obscuros, no apartamento pequeno escondida de quem não me quer por perto, na juventude dos que aproveitam a vida, na história de amor dos que se entregam, no campo de concentração dos que foram injustiçados, no meio do lixão dos que trabalham duro pra ter um canto e o que comer, nas aventuras boêmias dos doce 20 e poucos anos – ou mais, por que não? –, nas façanhas de um mundo imaginário onde se comemora o desaniversário, na infância sofrida ou divertida de um personagem curioso, no cotidiano do interior do país ou em um contexto completamente diferente do que conheço ou sou acostumada.



Ao sentar e abrir um livro com as crianças, não é nada diferente. Sinto-me na mesma fazenda, junto do porquinho procurando o lobo escondido em todos os lugares. Sinto-me na viagem pra casa da vó, na rua apertando a campainha e correndo, colecionando aventuras. Sinto-me debaixo da árvore aproveitando a sua sombra, no meio da mata ouvindo a conversa dos animais, no planeta pequenino de um menino menor ainda, na escola com a professora Maluquinha, no dilema de como pegar uma estrela – do céu, do mar? –, na cabeça das crianças imaginando, afinal, para que serve um livro...


A leitura mexe com nossa sensibilidade, e o livro se releva a partir da experiência do leitor com o que se lê, sendo então algo particular de cada um. Pra mim, ler é sim uma aventura, é sim uma viagem, e se essa é uma visão muito boba do que um livro pode ser, não me importo de continuar - também – com ela.



Raylane

domingo, 20 de setembro de 2015

Crianças, professores e mediadores: possibilidades de um trabalho conjunto.

Entrei no projeto “Livros Abertos – Aqui Todos Contam” esse ano, minha parceira de mediação, Emily Wanzeller, também. Tudo foi novidade, já que fomos designadas para atuar na turma do 1º período (3 e 4 anos). É a turminha mais nova da instituição, entraram esse ano e quando iniciamos as atividades, alguns ainda não estavam 100% adaptados à vida escolar. A professora, Terlúsia Albuquerque, a tia Têtê, apesar de experiente, também não conhecia o projeto, pois depois de muito tempo atuando em coordenação, escolheu retornar à sala de aula, perto de sua aposentadoria.
Apesar desse cenário desconhecido, tivemos uma recepção e espaço de atuação muito abertos (ainda bem, já que temos relatos de professores que dificultam o trabalho de mediação), decidimos fazer algo diferente que também envolvesse diretamente a tia Têtê.
Após conhecermos a obra “Para que serve um livro?”, através da mediação de Sara Meneses em uma de nossas reuniões semanais, decidimos que seria um bom livro para colocarmos em prática nossa ideia.
Nosso planejamento consistiu em fazer uma grande leitura dialógica, dessa vez na sala de aula.
O 1º período conta com 24 crianças, temos consciência de que o número recomendado para esse tipo de leitura é bem inferior, mas por conhecermos a dinâmica da turma e a relação dela com a professora, concluímos que seria possível realizarmos tal atividade.
Com o auxílio do projetor, todos puderam visualizar as páginas da estória no quadro e ao mesmo tempo em que direcionávamos a leitura, também usávamos os livros físicos, caso alguma criança se interessasse em observar mais de pertinho.
A atividade durou certa de 1 hora e apesar do tempo parecer extenso, foi extremamente produtiva. As crianças não se privaram de participar pela presença da professora e se comportaram nesse contexto de modo semelhante ao que acontece quando mediamos em outras condições. É claro que em um ou outro momento, alguns aluninhos ficaram um pouco dispersos e mais agitados (aí contávamos com a ajuda da professora que é mestre em fazer os alunos retomarem o foco, cantando suas musiquinhas adaptadas para qualquer situação).

Ao final do livro (SPOILER) é proposta a seguinte atividade:

  

Nesse momento, a tia Têtê entrou em ação e começou a perguntar às crianças o era necessário para se fazer um livro.
As respostas se aproximaram do mundo concreto e foram: lápis, borracha, tinta, tesoura, cola...  até que uma colega disse “imaginação”.
Finalizamos esse dia com o projeto de fazermos nosso próprio livro, cada criança falou o tema da história que queria, ouvimos sugestões de princesas, super-heróis, carros, entre outros, até que Emily incentivou a criação de um tema que todos gostassem e se aproximassem das experiências cotidianas dos meninos e meninas dessa sala.
E qual é um dos lugares preferidos da escola para essas crianças e para tantas outras de todos os lugares?
O parquinho, é claro!



Já começamos a atividade de criação do livro, mas isso é assunto para uma próxima postagem! (;



Título: Para que serve um livro?
Autora: Chloé Legeay
Ilustradora: Chloé Legeay
Tradutora:Márcia Leite
Editora: Pulo do Gato

Ingrid Ramalho.

sábado, 19 de setembro de 2015

Para que serve um Livro?


        O relato de hoje é sobre uma contação diferente: A contação da reunião. Temos uma prática comum nas reuniões do Livros Abertos, em que um(a) mediador(a) conta um livro que queira apresentar ou que achou muito legal para os restante dos mediadores. Desta vez, o livro que contei foi  "Para que serve um livro?" de Chloé Legeay. Algo interessante acontece quando se tenta responder a essa pergunta, na resposta dos mediadores surgiram coisas que a autora coloca na história.  O livro ganha funções que nós leitores nem percebemos: Escape, refúgio em outras dimensões (difícil encontrar um leitor que não tenha acessado essa função do livro) para fugir da rotina maçante, cansativa ou entediante. Outra função interessante foi o livro como um solucionador de problemas, ora se algo te aflige, angustia, porque não abrir um livro e buscar respostas? Sim, uma mediadora relatou que essa função é bastante utilizada por ela (qualquer dia experimento). Quando perguntei para as crianças para que servia um livro, elas responderam imaginar. Essa, sem dúvidas, é uma função essencial de um livro, percebo que cada livro se tornar mais singular quando é imaginado por alguém, uma capacidade incrível que temos de dar a cada história a nossa roupagem, de acordo com nossa própria história, assim os personagens, o ambiente, todo o livro (quando não ilustrado) ganha a face que nós imaginarmos para ele. 
      A história trazida por Chloé lista de uma maneira divertida as funções de um livro, seja  como um refúgio quando queremos sossego, ou “um livro nos faz viajar e alcançar mundos sem sair do lugar”, “um livro nos faz crescer” em vários sentidos, “um livro serve para compartilhar” uma história com alguém, “um livro é um carinho também” para com alguém, para com nós mesmos. “Um livro é a voz de alguém” os mediadores logo disseram que era a voz do escritor ou escritora, mas as crianças disseram que era a nossa voz, a voz do mediador era a voz do livro. Um livro serve para amar, sonhar, aprender, aterrissar, voar, cair, levantar, sentir uma infinidade de sentimentos e sensações. “Um livro é um suspense”, mesmo sabendo a sinopse o que o livro despertará em nós é um completo mistério. A autora nos presenteia com indagações a partir das suas afirmações sobre os livros, e ainda trás  a história nas ilustrações demonstrando que essa pode ser uma ferramenta importante principalmente em livros infantis. Como mediador do Livros Abertos para mim um livro serve para fisgar pessoas para a leitura, fisgar para outras vidas e mundos, fisgar para refletir, fisgar para dialogar. 

   A autora ainda nos convida a escrevermos nosso próprio livro, muitos mediadores expressaram desejo de escrever um livro, alguns com enredo fantástico, outros autobiográficos, filosóficos, indiscutivelmente singulares. Agora sim, eu posso dizer para que serve um livro.

 
Título: Para que serve  um livro?
Autora: Chloé Legeay
Ilustradora: Chloé Legeay
Tradutora:Márcia Leite
Editora: Pulo do Gato


Sara Meneses.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

As grandes aventuras da minha vida

     Todos temos livros favoritos, mesmo aqueles que não gostam muito de ler (eu realmente não consigo entender essas pessoas), devem ter um xodózinho a que recorrem de vez em quando. Pois bem, eu também tenho as minhas preferências, mas é impossível classificar os livros de que mais gosto, porque, ao meu ver, seria uma grande injustiça com os outros livros. 

       Portanto, que fique bem claro que não irei fazer uma lista dos meus dez livros favoritos (são bem mais que dez). Os títulos citados neste post não passam de uma escolha aleatória puxada pela memória, que por vezes até falha. 
        Um dos livros com que eu tenho um sério caso de amor há muitos anos é a saga de Harry Potter. Li o primeiro livro quando tinha oito anos, e a partir daí, devorei todos os outros. Claro que, como leitura assídua que sou dessa história, não deixei de ficar um tanto decepcionada com a versão feita para o cinema. Na minha opinião, os personagens de HP do livro são uns, e os personagens do filme, são outros, bem diferentes. Quem gosta desta série tanto quanto eu, irá entender do que eu estou falando!
http://pizzadeontem.com.br/2013/07/liberadas-capas-de-harry-potter-jamais-vistas-antes
     Mas, cá entre nós, eu sempre tive uma queda por histórias fantásticas com criaturas estranhas e um mundo novo e desconhecido, onde tudo pode acontecer. Não é por acaso que "Alice no País das Maravilhas", "O Pequeno Príncipe", "Peter Pan", a trilogia do "Senhor dos Anéis", também estão entre os meus livros favoritos. E mais recentemente, também entrou pra esta modesta lista, a trilogia "Jogos vorazes", e "Star Dust - O mistério da estrela". 
http://desenhosdahora.com.br/peter-pan/

      Acho que o maior motivo de eu gostar tanto dessas historias é porque elas me fazem viver, nem que seja por pouco tempo, em um mundo totalmente diferente do qual vivemos. Um mundo com outras regras, com outros problemas, um mundo cheio de possibilidades. Por me fazerem conhecer lugares novos, criaturas mágicas, e por me fazerem viver aquelas aventuras singulares que cada história trás consigo. Por me fazerem interagir com dragões, bruxos, princesas, elfos, e todo o tipo de personagem que é possível se imaginar. Por isso gosto tanto destes livros.

     Mas, pensando bem, qual história, seja ela fantástica ou não, não te pega pela mão e te convida a viver uma aventura? 
     Se me perguntarem se já vivi alguma grande aventura na minha vida, a resposta será:

"Várias, claro! Você nunca esteve em Hogwarts?"


Paula Calazães. 

domingo, 13 de setembro de 2015

"Trash", de Andy Mulligan: uma experiência de mediação inesquecível


 Em uma das minhas mediações com crianças do 5º ano do Ensino Fundamental - 10 e 11 anos - utilizei o romance infanto-juvenil Trash, escrito por Andy Mulligan, indicado em uma das reuniões do Projeto Livros Abertos.
 Quando apresentei o livro para as crianças, elas não gostaram, pois, segundo elas, “o bom mesmo é história de terror”. Contei o primeiro capítulo, mas as crianças se mostraram apáticas frente à narrativa. Fui pra casa chateada, pois o livro era fantástico. Comecei então a pensar que o problema era eu, talvez não estivesse sabendo conduzir a narrativa. Em meio a esse conflito, decidi que leria novamente o livro, e que desta vez, eles iriam adorar a história.
Traçada a meta, fui atrás de mais informações sobre o livro, e acabei encontrando o filme baseado no livro: Trash: A Esperança vem do Lixo. Ao ler o livro e assistir o filme, tive a plena convicção que as crianças iriam adorar a história. Então, defini que não leria o livro impresso na mediação, mas escutaríamos o áudio da história, narrado e gravado por mim.
Na contação seguinte, levei o trailer do filme e o áudio do prmeiro capítulo lido com minha voz. As crianças logo se assustaram:
- Cadê o livro, tia?
Expliquei que a contação seria um pouco diferente, escutaríamos o áudio da história, e após cada capítulo conversaríamos. Antes de iniciar a mediação, fiz a maior propaganda da obra e mostrei o trailer do filme. Ficaram maravilhados e animados para ouvir a história. Sentamos em círculo bem próximos uns dos outros, e escutamos o áudio. Para a minha surpresa, ficaram todos bem atentos ao desenrolar da história e, ao final de cada capítulo, a participação foi geral.
Por mais estranho que possa parecer, o áudio funcionou esplendorosamente. Eles sabiam que era eu que estava contando, mas num suporte diferente, no caso especifico, o celular.  A cada capítulo, se mostravam mais animados e curiosos. Conhecemos uma realidade cruel, mas também a esperança de dias melhores. Infelizmente, não foi possível contar todo o livro, por causa das férias, mas em nosso último encontro de julho, com o consentimento da professora, levei o filme. E posso afirmar que a meta estipulada foi alcançada com êxito: as crianças adoraram.
O livro Trash despertou o pensamento crítico sobre os governantes corruptos, as diferenças sociais, o abuso de poder etc. As discussões oriundas do livro foram todas bem pertinentes, críticas e emancipadoras.  Crianças que antes apenas manifestavam seu nojo perante quem é obrigado a morar no lixão, que tinham preconceito com os catadores, começaram a perceber a indiferença de grande parte da sociedade mais afluente em relação a pessoas em situação de pobreza e miséria e a compreender questões sociais de forma crítica.
Sobretudo, o que eu senti ao terminar de contar Trash para as crianças foi um sentimento de esperança. Esperança naquelas crianças, que através do livro conheceram e se sensibilizaram perante uma realidade muitas vezes mascarada, ignorada, invisibilizada. Eles se deram conta que essa realidade existe e pode ser mudada por eles. Nessa perspectiva, acredito que esse livro foi uma sementinha na formação de bons cidadãos.

“Eu me pergunto: o que foi que aprendi? O que foi que aprendi no lixão de Behala, e com isso me transformou? Aprendi mais do que seria possível aprender em qualquer faculdade. Aprendi que o mundo gira em torno do dinheiro" . Mulligan (2013, p. 137)




Livro TRASH
Autor: Andy Mulligan
Tradução: Antônio Xerxenesky
Idioma: Português
Editora: Cosac Naify

Ano de edição: 2013

Taíres Sena

sábado, 12 de setembro de 2015

Ler e contar


 Desde bem pequena tive contato com livros. Eles não eram os mais adequados para minha idade, mas eram os disponíveis. Minha mãe professora, nossa casa sempre acabava como uma mini biblioteca. Os livros que lia, ou partes deles, eram os que usávamos na escola, alguns de séries até a frente, outros não. Quando visitava minha prima na cidade, ela compartilhava os gibis, A Turma Da Mônica, o que me deixava muito feliz, mesmo que não conseguisse terminar toda a história.

O tempo foi passando e a minha maneira de ler foi tomando diferentes formas. Revistas de beleza, jornais, romances, e até prefácios e apresentações de livros, quanto a esses, hoje já entendo melhor porque gostava de lê-los...


Um clássico de que gosto muito é o Pequeno Príncipe de Antonie de Saint-Exupéry, ele é mesmo escrito com aquarelas do autor. Sei que posso reler várias vezes e ainda assim tirar novas lições.



Hoje, a realidade  das crianças com que convivo é outra, mais bonita, colorida, etc.  E eu amo ver o rostinho deles enquanto escutam. Eles acertam, perguntam, contam junto a história contada e outras criadas. Quero poder contar histórias por muito tempo e ajudar a fazer parte dessas novas histórias.




Ficha técnica

Título: O Pequeno Príncipe

Autor: Antoinie de Saint-Exupéry

Editora: L&PM POCKET

Ano: 2015

Tradução: Ivone C. Benedetti

Com muito carinho: Rosileide Santos



segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Eu e a minha menina maluquinha

            Meu contato com os livros vem desde pequenininha. Meu pai é professor e tanto ele quanto a minha mãe sempre valorizaram muito a leitura. Antes de eu aprender a ler, todas as noites, um dos dois vinha até a minha cama com um livro e me contava uma história antes de eu dormir. Meus pais contam que eu implorava para que eles me ensinassem a ler logo. Quando eu finalmente aprendi, isso se tornou até um tipo de problema.  Eu reclamava que não conseguia deixar de ler mais nada e quando estava no carro, ficava lendo TODOS os anúncios que passavam. Era incontrolável.

            O primeiro livro que eu mesma li (sozinha, mas com a ajuda dos meus pais) foi “O menino maluquinho”, clássico do Ziraldo. Lembro-me de me reunir na cama com meus pais, deitada no meio deles, e com dificuldade eu lia algumas poucas páginas, juntando as sílabas devagar. Na minha lembrança o livro era muito grosso e eu demorei muito para terminar a leitura. Mais do que as palavras, o que marcou a minha memória foram as ilustrações divertidas do menino que tinha as pernas tão grandes que eram capazes de abraçar o mundo.
www.ziraldo.com/menino
            Minha jornada começou neste livro e desde então eu já li os mais variados estilos. Já ri alto sozinha, já molhei páginas com lágrimas, já virei noite para saber o que iria acontecer, já fechei os olhos por não querer saber o que iria acontecer. Já xinguei, já amei, já viajei para todos os lugares que a minha imaginação conseguiu alcançar.
            Então um dia desses eu estava no acervo de livros do projeto e comecei a passar pelas estantes olhando alguns títulos. Vários me faziam sorrir e traziam lembranças daquela infância que me faz tanta falta. Até que... Lá estava ele: O menino maluquinho! Eu não pensei duas vezes, abri o livro e comecei a ler, saboreando e apreciando cada palavra e cada figura que vinham recheadas com o sabor da saudade. Em pouquíssimo tempo eu estava no final daquele livro “enorme” que uma vez eu havia demorado uma eternidade para ler. Dessa vez, a leitura foi bem mais rápida do que eu gostaria, e por mais que eu lesse devagar, não consegui prolongar aquele momento. Voltei a ser criança, mesmo agora lendo o livro com outros olhos, e no final chorei.
www.ziraldo.com/menino
            Ali estava eu estampada no livro: o menino maluquinho e feliz que teve que crescer. Não conseguimos escapar do tempo. Aproveitamos a nossa infância ao máximo e por isso mesmo é tão difícil crescer. Vi-me no livro e aquilo me emocionou encantadoramente.
            Tenho certeza que o menino maluquinho ainda está ali, dentro do cara de terno que aparece na última página. Eu tenho essa certeza porque sei que a minha menina maluquinha ainda está dentro de mim. Ela se acende em cada leitura que faço com as crianças e tempo nenhum poderá tira-la daqui.
www.ziraldo.com/menino

Amanda Luma 


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Aventuras com a literatura na infância


Quando iniciei a minha jornada no fantástico universo da leitura, eu tinha pouco mais de cinco anos de idade; e nesse caminho aconteceram algumas histórias curiosas que eu gostaria de compartilhar com vocês leitores/as.

Houve uma época que quase todo final de semana eu passava na casa de meu tio-avô Raimundo. Na casa dele, bem lá nos fundos, havia um depósito com um monte de coisas esquecidas: bolas, bonecas, bolsas, panelas e livros! Muitos livros! Fiquei encantada com três deles, dos quais infelizmente não consigo recordar os nomes, mas eles foram bem especiais para mim. Meu tio avô permitiu que eu ficasse com eles, tamanha deveria ser a minha empolgação. Nesse período, eu ainda estava aprendendo a ler, então eu ficava inventando histórias para aqueles personagens, dando nomes a eles e interpretando as imagens.

Ainda naquele ano, viajei de barco para a ilha de Marajó, passar as férias com a família. Como a viagem é longa, tratei de colocar os meus livrinhos na mala para passar o tempo. Durante o trajeto, ao lado da minha rede, havia uma mulher com um sorriso muito bonito,  ela era branquinha, branquinha e suas bochechas eram bem rosadas. Ela percebeu que eu não largava os livros, e para interagir comigo, fazia perguntas sobre a história que eu estava lendo. A mulher das bochechas rosadas folheava os livros e inventava histórias a partir das ilustrações, assim como eu. Umas das coisas que me cativou nela, foi que ela prestava atenção em mim, e dava importância para o que eu pensava. O nome dessa pessoa mágica era Genilsa. Era apenas o início de uma grande amizade. Definitivamente essa viagem ficou marcada pra sempre na minha história.

Não me recordo muito do mês que passei na ilha, mas lembro que depois dasrias acabarem, tudo voltou ao normal. Mas nem tanto, afinal tínhamos uma nova integrante na família! E que ainda por cima morava bem próximo de casa.
Minha mãe e eu fazíamos muitas visitas, e na primeira vez que fomos na casa da Genilsa, ela me levou até a estante da sala, que era cheia, eu disse cheia de gibis da turma da Mônica. Parecia um sonho! Ela colecionava revistinhas da Mônica! Ficamos o final de semana todo na casa dela. E foi lá, entre os gibis, que "de uma hora pra outra" eu me percebi que lendo as histórias em quadrinhos. Eu não mais inventava, agora já conseguia desvendar os mistérios que haviam por trás daquelas letras como num passe de mágica.

No mês de outubro, que é o mês do círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém, uma festa tradicional para os católicos da cidade e do Estado, um amigo da família que eu considerava como se fosse meu tio fora passar a festividade na cidade. Lá estava eu, super empolgada com a estadia do tio Piska em casa, mas esse acontecimento não me impediu de ir para aula normalmente :(
Na escola, estando prestes a bater o sinal do recreio, a professora me chamou para me entregar o texto que eu tinha escrito alguns dias. Ela ficou bem feliz com o que eu escrevera e não poupou nos elogios. Eu, claro, fiquei muito contente com o resultado do meu trabalho. Mas nem todos ficaram...
Quando o sinal do recreio tocou, guardei o papel que continha o texto na mochila e sai para lanchar, nesse dia o lanche era mingau de aveia. Após eu repetir uma, duas, algumas vezes o lanche, comprei uns pirulitos e voltei pra minha sala.
Quando eu abri minha mochila, para minha surpresa,estava a carta toda molhada de mingau. Fiquei por uns segundos sem entender o que havia acontecido, mas não demorou muito pra eu perceber quem tinha feito, pois a responsável não parava de me olhar. Era a Safira, uma garotinha que não ia lá muito com a minha cara, mas que de vez em quando fingia ser minha amiga. Não lembro o que aconteceu na escola, se eu contei pra professora...
Mas ao chegar em casa, contei aos prantos pra minha mãe o que tinha ocorrido. Meu tio Piska escutou e veio falar comigo, na conversa ele me disse que tão logo chegasse em casa, ele providenciaria alguns livros para mim.

Passado algumas semanas eu acabei esquecendo o que ocorrera com a carta e da promessa dos livros que meu tio fez. Nesse meio tempo começaram a surgir livros misteriosamente em casa, ninguém sabia me dizer de onde vinham. Só que eu não parava de pensar de onde eles estavam surgindo. Até que um dia catando um giz de cera debaixo da cama, encontrei uma caixa de papelão cheia de livros infantis, pra todos os gostos, dos mais diversos. Livros com dobraduras, livros de ciranda, contos, poesia. É, realmente meu tio Piska havia cumprido o que prometera.

Minha tia contou que ela queria que eu fosse descobrindo os livros um por um, e dessa forma eu iria valorizá-los mais e assim também eles não se perderiam nas minhas brincadeiras. Ela queria ter certeza que eu cuidaria de todos com o cuidado que eu tive com aquele único texto ensopado de mingau, e que mesmo sendo apenas um papel, eu cuidava como muito zelo.

Esse foi apenas um episódio da minha infância, uma parte que tenho guardado no fundo do coração. Ao refletir sobre o quanto que a leitura ocupa um lugar especial na minha vida, percebo claramente que a forma como essas pessoas que citei mediaram essa experiência foi fundamental para eu desenvolver essa relação prazerosa com os livros ainda hoje.

E é por acreditar e apostar nessa mediação dialógica que nesse semestre escolhi participar de um projeto como o "Livros Abertos".

Com carinho, livros e braços abertos,

Samara Alencar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A árvore vermelha de Shaun Tan

O processo de contação dialógica começa, muitas vezes, com a escolha de um livro. O mediador de leitura ou educador tem um contato inicial com uma obra e só depois desse primeiro contato que passa a existir a vontade de compartilhar aquele livro com seus pequenos leitores.

Hoje vou compartilhar a minha experiência de leitora e mediadora com um livro de Shaun Tan chamado A árvore vermelha.

Como leitora assídua e tiete de Tan, comprei o livro assim que vi a imagem da capa (dê uma espiadinha logo embaixo). Algo nesta figura tão cabisbaixa e tão contemplativa despertou minha alma. Nem cheguei a folhear o livro, eu simplesmente enfiei em baixo do braço e fui ao caixa efetivar a compra...

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Alguns minutos mais tarde, na calada da noite, lá estava eu chorando copiosamente sobre as páginas sobre desse livro. Para quem conhece as obras de Tan sabe que o cara manda muito bem, com muita sensibilidade, leveza e inteligência nos transporta para mundos fantásticos e questões profundas, como a riqueza da infância, o desafio de uma mudança, o medo do crescer. O cenário fantástico que Shan nos mostra com A árvore vermelha é um mergulho no mundo interno de uma menina que está tendo um dia muito, muito, muito ruim. Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu deslocado, solitário e incompreendido, à procura ou à espera de algo que permita construir algum sentido. E o desafio de compartilhar esse sentimento? Parece que não existe palavras suficientes para expressar tudo isso.

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Mas com ilustrações maravilhosas e um texto sábio, Tan traduziu sentimentos tão universais e profundas. São imagens oníricas, fantásticas, belíssimas e, devido a tudo isso, são assustadoras.

Devo admitir que estava com muito medo de levar este livro para as crianças para quem eu faço contação, fiquei com medo de assustá-las, elas são tão novinhas com seus 5-6 anos. É contraproducente subestimar a compreensão das crianças e sua interação com a obra. Esta é a grande lição de A árvore vermelha para mim.

As crianças sentiram medo, isso talvez fosse inevitável, mas junto com o medo veio sempre a curiosidade e as perguntas:"mas como ela foi parar aí?", "por que ela está tão triste, tia?", "cadê a árvore?!''. Esta é uma das sutilezas do livro, apesar de estar no título, a bendita árvore vermelha que acalenta e conforta, só aparece na última página!

 Surgiu então uma ideia das crianças! "Ela está procurando a árvore vermelha, mas não está encontrando", "é por isso que ela tá tão triste então!" e então alguém percebe: ''não tem uma árvore, mas olha! Tem uma folha!''.

Mais uma das sutilezas de Tan, em todas as páginas a uma folha vermelha caída, voando, compondo o cenário. Página por página, as crianças e eu caçamos a folha escondida, até que...

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"De repente, lá está ela [...] exatamente como você havia imaginado"

Há dias em que não podemos contar com a árvore inteira, mas nos faz bem quando sabemos identificar e valorizar cada pequena folha pelo caminho.

Escrito por: Júlia Gisler


Ficha técnica
Título: A árvore vermelha
Autor: Shaun Tan
Editora: SM Editora
Ano: 2009
Tradução: Isa Mesquita