Não
subestime as crianças!
Todos nós já fomos ou ainda somos
crianças. A passagem do "estado infantil" para o adolescente e assim
por diante acontece tanto do ponto de vista físico, biológico, social,
emocional, como também intelectual. Quero tratar aqui desse último aspecto,
especialmente levando em consideração a experiência adquirida com a
contação da história “Eu não quero dormir agora" (Lauren Child) à crianças de aproximadamente 5 anos, ou seja, crianças do 2º período
escolar. O livro conta a história de Lola, uma menina que não gosta de
dormir cedo, e todas as vezes que é questionada por seu irmão sobre a hora de
dormir a menina cria fantasias, brincando com a imaginação e adiando a hora de
dormir.
O
relativo desprendimento de regras rígidas pode favorecer a imaginação e a síntese de idéias surpreendentes... |
Não parece adequado esperar da
criança o mesmo entendimento que os adolescentes, adultos ou idosos
possuem, e isso em qualquer aspecto da vida cotidiana. Uma criança que estuda matemática, ao comer uma pizza com seus
familiares dividida em oito pedaços, certamente compreenderá melhor a partilha do que uma criança que ainda não aprendeu as regras de fração. Esta última terá dificuldade em perceber que a quantidade de pizza não aumenta quando aumenta o número de pedaços. Se, em algumas ocasiões, crianças não "conseguem" racionalizar como os demais, por outro lado,os adultos acabam mais
limitados no que compete a imaginação, tão sujeitos a normas e regras. A criança é menos experiente em relação ao adulto, mas é capaz de
elaborar formas surpreendentes de entendimento.
Sendo assim, não é possível nem desejável exigir
da criança o mesmo entendimento que você tem ao ler uma história.
Talvez as experiências que o contador possui possam ajudá-las a saírem da
concretude, a descobrir a polissemia, a multiplicidade de interpretações, a
necessária consideração do contexto, etc. Existe, entretanto, o problema de subestimar o
intelecto infantil. Tal problema vem da nossa incapacidade de se colocar em um
nível que já passamos.
O mediador precisa resgatar a infância, real ou imaginada, e abrir a roda para a brincadeira com as palavras e imagens... |
A cada diálogo eu aprendia
a não subestimá-las. Elas não só conseguiam
entender a narrativa, como também ofereciam interpretações para a história, e ainda faziam objeções ao autor.
Crianças não são miniadultos |
Concluí que não se pode pensar a criança como alguém de "outro mundo"! Ocorre que, assim como nós, elas também possuem uma forma de perceber e interpretar a vida.
Daqui a 5 anos serão outras
interpretações e mais experiências, principalmente quanto melhor for o estímulo e a atenção dadas pela escola e a família.Acredito que cabe a nós
contadores, observarmos o que acontece na roda sem
esperar reações específicas, e estarmos abertos às suas formas de ver o mundo. Desta
maneira teremos acesso à riqueza de suas contribuições e muitas surpresas
agradáveis.
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Legal!
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