quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Leitura Dialógica, que lindo! Faz pra mim?!"


Em algumas das nossas reuniões, comentamos algumas vezes sobre como nosso projeto é lindo (S2) e como gostaríamos de ampliá-lo para que mais crianças pudessem se beneficiar dele. Algumas pessoas perguntam por que não fazemos isso e algumas escolas parecem se interessar pelo que fazemos. Mas e aí, por que não acontece?

Bem... depois de discutirmos algumas vezes, acho que chegamos a algumas conclusões que não se atém a essa situação específica. Em primeiro lugar, a instituição escola ainda parece não acolher tão bem a leitura quanto podemos imaginar. Quando chegamos em uma escola interessada para mostrar nosso projeto e propor que eles implementem isso de alguma forma, com nosso apoio, claro, uma certa insatisfação parece ficar no ar. Sentimos que, no fundo, essas pessoas não querem compartilhar conosco uma nova experiência para suas escolas, aprender esse novo método de leitura, vivenciar isso de fato; parece que querem “terceirizar nosso serviço”, pois, de alguma forma, já estão sendo muito gentis de abrirem suas portas para o projeto... mas é só isso, “não me venha atrapalhar meus planos!”


A-há! Então é isso! “Não me venha atrapalhar meus planos!” Essa frase parece ser o cerne de um problema. Não um probleminha, mas um problemão que está em vários lugares por aí. Podemos notar o quanto a escola está enrigecida em seus planos pedagógicos e “falta de tempo”. É isso o que dizem... não tem tempo para a leitura! NÃO TEM TEMPO para a leitura! Nesse ponto, não sei nem por onde começar a discussão, afinal, uma instituição que se propõe a formar pessoas (leia-se pessoas com opinião, criativas e saudáveis) não vê possibilidade de abrir espaço para um momento de leitura compartilhada. Na verdade, até poderiam “fazer esse favor”, caso nos dispuséssemos a ir lá fazer “o nosso trabalho”, afinal, “capacitar novas pessoas da escola, sério?! Não me venha atrapalhar meus planos...”.

Mas ainda sinto que não pára por aí. Discutindo um pouco da leitura dialógica, chegamos a um ponto mais específico ainda. Na verdade, não é “Não me venha atrapalhar meus planos”, é “Não me venha querer que eu mude!”.

A mudança... ai doce e dolorida mudança. Nós no nosso projeto entendemos o que é a leitura dialógica porque nos dispomos a entendê-la, a voltarmos a ser leitores de verdade (como a Raíra Cavalcanti, lindamente, compartilhou em “Reaprendendo”). A leitura dialógica não pode ser entendida como um método "quadrado" de leitura, sem implicação de quem está mediando. É um processo ativo, tanto de quem media quanto dos outros que também participam. Dialogamos, interagimos, trocamos, aprendemos. E como querer fazer esse processo sem mudança?
Estar com o outro, verdadeiramente, lendo ou não, já nos coloca à disposição da mudança. Querer entrar em contato e sair ileso não faz sentido. Quando lemos para as crianças nos deparamos com perguntas inesperadas, observações sobre a leitura ou sobre qualquer coisa do mundo de quem está comentando.

Vamos além?! Não nos dispomos apenas a mudar, mas antes disso, a ouvir o outro. Do “Não me venha querer que eu mude!” podemos ver também o “Não me venha pedir que eu escute essas crianças!”. Para ler dialogicamente não pode haver preconceito com as crianças. É... isso existe! Quando compartilhamos a leitura não estamos na posição de detentores do saber, em um grau acima hierarquicamente. Estamos no mesmo plano, ouvindo o que cada criança tem pra compartilhar, considerando verdadeiramente seus comentários e sensações sobre o que está acontecendo. Não estamos “fingindo” que ouvimos, senão não teríamos o “dialógico”.

“Nossa, o projeto de vocês é tão lindo! Leva ele para outra escola!”. Adoraríamos! Compartilhar o prazer da leitura é nosso principal objetivo. Mas precisamos de parceiros: pessoas que se esqueceram que são leitores e querem voltar a ser, pessoas que querem sentir denovo o prazer em ler e compartilhar, pessoas que estejam dispostas a ouvir o outro, pessoas abertas a aprender e a mudar. Será que existem parceiros desses por outras escolas? Definitivamente, sim! Mas, convenhamos: a escola não está formando muitos deles.

As escolas estão engessadas. Mas, pensando no aspecto literal, estar engessada é o que mantém suas paredes em pé... faz parte! (Faz parte? Escolas com paredes? Que limitam possibilidades ao invés de expandí-las? Enfim... outra discussão).

As engessadas são pessoas. Os engessados somos nós!






Laís Melo 

Um comentário:

All you need is blog... disse...

Excelente, Laís! Não adianta derrubar os muros da escola e continuar com os nossos preconceitos...