Em algumas das nossas reuniões, comentamos algumas vezes
sobre como nosso projeto é lindo (S2) e como gostaríamos de ampliá-lo para
que mais crianças pudessem se beneficiar dele. Algumas pessoas perguntam por
que não fazemos isso e algumas escolas parecem se interessar pelo que fazemos. Mas
e aí, por que não acontece?
Bem... depois de discutirmos algumas vezes, acho que
chegamos a algumas conclusões que não se atém a essa situação específica. Em
primeiro lugar, a instituição escola ainda parece não acolher tão bem a leitura
quanto podemos imaginar. Quando chegamos em uma escola interessada para mostrar
nosso projeto e propor que eles implementem isso de alguma forma, com nosso
apoio, claro, uma certa insatisfação parece ficar no ar. Sentimos que, no
fundo, essas pessoas não querem compartilhar conosco uma nova experiência para
suas escolas, aprender esse novo método de leitura, vivenciar isso de fato; parece que querem “terceirizar nosso
serviço”, pois, de alguma forma, já estão sendo muito gentis de abrirem suas
portas para o projeto... mas é só isso, “não me venha atrapalhar meus planos!”
Mas ainda sinto que não pára por aí. Discutindo um pouco da leitura dialógica, chegamos a um ponto mais específico ainda. Na verdade, não é “Não me venha atrapalhar meus planos”, é “Não me venha querer que eu mude!”.
A mudança... ai doce e dolorida mudança. Nós no nosso
projeto entendemos o que é a leitura dialógica porque nos dispomos a entendê-la,
a voltarmos a ser leitores de verdade (como a Raíra Cavalcanti, lindamente, compartilhou em “Reaprendendo”). A leitura dialógica não pode
ser entendida como um método "quadrado" de leitura, sem implicação de quem está mediando. É um
processo ativo, tanto de quem media quanto dos outros que também participam. Dialogamos,
interagimos, trocamos, aprendemos. E como querer fazer esse processo sem
mudança?
Estar com o outro, verdadeiramente, lendo ou não, já nos coloca
à disposição da mudança. Querer entrar em contato e sair ileso não faz sentido.
Quando lemos para as crianças nos deparamos com perguntas inesperadas,
observações sobre a leitura ou sobre qualquer coisa do mundo de quem está
comentando.
Vamos além?! Não nos dispomos apenas a mudar, mas antes
disso, a ouvir o outro. Do “Não me venha querer que eu mude!” podemos ver
também o “Não me venha pedir que eu escute essas crianças!”. Para ler dialogicamente
não pode haver preconceito com as crianças. É... isso existe! Quando
compartilhamos a leitura não estamos na posição de detentores do saber, em um
grau acima hierarquicamente. Estamos no mesmo plano, ouvindo o que cada criança
tem pra compartilhar, considerando verdadeiramente seus comentários e sensações
sobre o que está acontecendo. Não estamos “fingindo” que ouvimos, senão não
teríamos o “dialógico”.
“Nossa, o projeto de vocês é tão lindo! Leva ele para outra
escola!”. Adoraríamos! Compartilhar o prazer da leitura é nosso principal
objetivo. Mas precisamos de parceiros: pessoas que se esqueceram que são
leitores e querem voltar a ser, pessoas que querem sentir denovo o prazer em ler e compartilhar,
pessoas que estejam dispostas a ouvir o outro, pessoas abertas a aprender e a
mudar. Será que existem parceiros desses por outras escolas?
Definitivamente, sim! Mas, convenhamos: a escola não está formando muitos
deles.
As escolas estão engessadas. Mas, pensando no aspecto literal, estar
engessada é o que mantém suas paredes em pé... faz parte! (Faz parte? Escolas com paredes? Que limitam possibilidades ao invés de expandí-las? Enfim... outra
discussão).
As engessadas são pessoas. Os engessados somos nós!
Laís Melo
Um comentário:
Excelente, Laís! Não adianta derrubar os muros da escola e continuar com os nossos preconceitos...
Postar um comentário