Fonte da imagem: http://www.ultimatecampresource.com/site/camp-activities/campfire-stories.html |
A primeira compilação escrita que nos influenciou na contemporaneidade foi a de Charles Perrault, século XVII, com a obra "Contos de Mamãe Gansa". Contudo, a versão que nos é passada hoje com mais frequência é uma adaptação dos Irmãos Grimm que só se diferencia no ápice e final da história. Vamos por partes.
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Little_Red_Riding_Hood |
http://www.g4tv.com/thefeed/blog/post/702947/american-mcgee-teases-red-riding-hood-game |
Chapeuzinho Vermelho, em uma das muitas versões, fala de uma criança que usa um capuz vermelho que vai levar doces para sua avó. Sua mãe lhe dá a instrução de não ir pela floresta porque é perigoso, nem conversar com estranhos. No meio da floresta, encontra um lobo, ela conta o que está fazendo, daí o lobo sugere que ela vá por outro caminho, então ela vai. Chegando na casa da avó, Chapeuzinho não a encontra, mas sim o lobo no lugar dela. Não se dá plenamente conta da troca, mas estranha o aspecto da avó. Convidando-a a se deitar, sua "vovó" exige que a menina tire a roupa e a jogue no fogo.
Quando embaixo dos lençóis com o lobo, começa o diálogo clássico:
"Vovó, que olhos grandes você tem"; "É para te olhar melhor, minha netinha"; "Que mãos grandes você tem."; "É para te tocar melhor, minha netinha"; "Que boca grande você tem", "É para te comer". E a Chapeuzinho Vermelho é literalmente comida pelo lobo. Na versão dos Irmãos Grimm, surge a figura do caçador que corta a barriga do Lobo e salva a menina e sua avó. As interpretaçòes desse relato são várias. Por exemplo, uma compilação de Maria Tatar com versões dos contos orais famosos no século XIX) propõe interpretações como canibalismo, prostituição infantil e questões relacionadas à sexualidade. Mas esse é assunto para uma outra postagem.
Em períodos de guerra, pestes, escassez e calamidades sociais, não é segredo que o medo constante é uma rotina na vida das pessoas, e muitos relatos provenientes da tradição oral refletem esse horror Todos abordam atrocidades com naturalidade. Muitos ocorrem em florestas, símbolos da solidão, do abandono e do perigo. As coisas ruins quase sempre acontecem devido a desobediências ou afastamentos. A maioria dos personagens são crianças ou adolescentes.
http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Red_Riding_Hood |
Em períodos de guerra, pestes, escassez e calamidades sociais, não é segredo que o medo constante é uma rotina na vida das pessoas, e muitos relatos provenientes da tradição oral refletem esse horror Todos abordam atrocidades com naturalidade. Muitos ocorrem em florestas, símbolos da solidão, do abandono e do perigo. As coisas ruins quase sempre acontecem devido a desobediências ou afastamentos. A maioria dos personagens são crianças ou adolescentes.
http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Red_Riding_Hood |
Chapeuzinho Vermelho é a menina que, movida pela curiosidade, embarca na aventura de ir justamente pelo caminho proibido pela mãe. Nesse caminho perigoso onde ela não deveria por os pés, conversa com um estranho, o apelidado de "Lobo". O Lobo, o ser que perambula por lugares considerado proibidos, prepara armadilhas para criancinhas, indicando caminhos errados para no fim comê-las, invés de comê-las de vez. E por último, principalmente em compilações da Revolução Industrial, aparece o caçador - a figura masculina heróica, a esperança no final da história.
Tantos simbolismos nos fazem pensar que esses contos, que até hoje impactam as crianças com necessidades e culturas totalmente diferentes,vão muito além dos objetivos de doutrinar.
https://www.pinterest.com/allieoop7660/little-red-riding-hood/ |
Chapeuzinho vermelho é um conto que suscita a reflexão sobre a questão da infância, o período mais importante da construção humana. Se hoje temos lugares de escuta e de discussão das questões do desenvolvimento infantil, as compilações de Perrault e de Grimm foram escritas em um período e que era muito difícil discutir diretamente questões tão importantes da infância como a angústia do abandono ou da decisão solitária, a sedução, os perigos e os temores do crescimento, porém já com o afã de moralizar as crianças e inculcar nelas bons modos e condutas prudentes.
O manto vermelho da Chapeuzinho é tão importante que ninguém sabe o nome da personagem principal, que é identificada pelo uso desse manto. Nada acontece com essa peça de roupa, não é um elemento mágico como ocorre em muitos contos maravilhosos. Por que tamanha importância, então? Por que tanta ênfase em sua cor? Seria uma forma de representar a transição de uma moça, o símbolo da transformação em mulher? Essa é uma das interpretações bastante citadas.
Como uma jovem moça, Chapeuzinho é vista como alguém que corre perigo ao perambular sozinha, então sua mãe diz "não vá pela floresta". A floresta está sempre cheia de perigos nos contos e não só os lobos, mas também os ogros e as bruxas costumam morar lá. A floresta é perigo mas é também o que tenta a curiosidade, o que chama à aventura, à experiência sensorial (Chapeuzinho vê borboletas e flores maravilhosas ao longo do caminho e se perde em sua contemplação). Mesmo sabendo do perigo, Chapeuzinho vai por lá, e não satisfeita, conversa com o primeiro estranho que encontra. O desconhecido assume a figura de um lobo.
https://www.pinterest.com/cobwebmoth/red-riding-hood-illustrated/ |
Como uma jovem moça, Chapeuzinho é vista como alguém que corre perigo ao perambular sozinha, então sua mãe diz "não vá pela floresta". A floresta está sempre cheia de perigos nos contos e não só os lobos, mas também os ogros e as bruxas costumam morar lá. A floresta é perigo mas é também o que tenta a curiosidade, o que chama à aventura, à experiência sensorial (Chapeuzinho vê borboletas e flores maravilhosas ao longo do caminho e se perde em sua contemplação). Mesmo sabendo do perigo, Chapeuzinho vai por lá, e não satisfeita, conversa com o primeiro estranho que encontra. O desconhecido assume a figura de um lobo.
Ilustração clássica de Gustave Doré para a edição de Charles Perrault Fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Red_Riding_Hoo |
http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Red_Riding_Hood |
Hoje, com outras visões de família, um sistema político-econômico e social bastante diferente e, para muitas criancás, um ambiente urbano que nada tem a ver com os bosques dos contos, ainda assim as crianças se identificam com os contos, em grande parte devido aos seus conteúdos simbólicos. Não importa a época, os contos nos tocam por tratarem da infância como passou a ser conceituada na modernidade ocidental, ou seja, uma época de fragilidade, crescimento, aprendizado e muitos conflitos.
Para quem gosta de contar história para crianças, gostaria de lançar uma desafio. Conte este conto, Chapeuzinho Vermelho (podendo ser uma das versões mais adaptadas para as crianças) e converse com ela sobre a história. Se puder, colabore com seus comentários e experiências!
Referências:
Bettelheim, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Campello, E. T. (2003). As múltiplas vidas de" Chapeuzinho Vermelho". Revista Estudos Feministas, 11(2), 661-663.
Corso, D. L., & Corso, M. (2007). Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Artmed.
Grimm, J., & GRIMM, W. (2012). Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos.São Paulo: Cosac Naify.
Bettelheim, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Campello, E. T. (2003). As múltiplas vidas de" Chapeuzinho Vermelho". Revista Estudos Feministas, 11(2), 661-663.
Corso, D. L., & Corso, M. (2007). Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Artmed.
Grimm, J., & GRIMM, W. (2012). Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos.São Paulo: Cosac Naify.
Perrault, C. (2012). Contos de Mamãe Gansa. L&PM.
Tatar, M. (2004). Contos de fadas. Zahar.
Autora: Amanda Barros.
Revisoras: Eileen Flores e Júlia Gisler
Revisoras: Eileen Flores e Júlia Gisler
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