Aceitar as
diferenças. Tema tão repetitivo na escola que, ao apresentá-lo, crianças
mostram ter o logotipo internalizado, mas quase nunca possuem reflexões ou
opiniões próprias sobre o assunto. Trabalhar qualquer questão em conjunto é
difícil, principalmente em se tratando de crianças. Digo isso porque não é
qualquer tema que pode ser facilmente apresentado em linguagem simples. Quase
sempre, criar um ambiente aberto a discussões não é o que se espera. Ao
“desrobotizar” uma pessoa, isso é, pedir para que ela fale o que pensa, e não o
que a instruíram a falar, é chocante a dificuldade. Com crianças é até mais
fácil, pois a infância ainda é uma fase de transparências, não há preocupação,
por exemplo, com processos judiciais. Se a professora incentivar a criança a
não ter medo de se expor, prometer não mandar bilhetinho para casa ou qualquer
punição, flui tranquilamente. Contudo, existem temas em que, por mais à vontade
que a criança esteja, sempre teremos a tutela dos pais. Sexualidade é uma
delas.
Não sei explicar se
a sexualidade é exatamente um tabu nos dias de hoje. Está presente na nossa
cultura, mas ainda é muito complicado abordá-la, a divisão de público é quase
absoluta. Uns aceitam falar sobre o assunto, outros não querem nem saber.
Independente do tema ou público, se bem abordado, é possível se tratar de
qualquer coisa, homoafetividade não é diferente. Como exemplo, trago o quadrinho de
Maurício de Sousa: Tina, o triangulo da confusão.
Fazendo a leitura
da revista de edição N°6 da protagonista adulta da família “Turma da Mônica”,
percebe-se que é mais voltada para o público jovem que infantil, trazendo
assuntos como música, moda, preocupação com provas na escola e afins.
Entretanto, esse quadrinho “O triângulo da confusão”, ao meu ver, tratou da
questão dos relacionamentos e da sexualidade de forma genial. Genial porque
você pode entregar esse quadrinho para um adulto ou para uma
criança que está iniciando a leitura que ambos entenderão a mensagem, sem dificuldades com interpretação, abstração ou coisas
assim. A história é curta e
simples, e não tem o problema da homofobia como
tema central. Lembra do
logotipo internalizado que não gera reflexões? O mesmo acontece quando toda vez
que as diferenças são o assunto em foco, mas trata-se da questão de modo a gerar
respostas prontas. Aqui, ninguém é vítima de nada. Mas também, nada é
apresentado cor de rosa, em um mundo onde todos são aceitos, e não existe
maldade. Isso também não ajudaria em nada, certo?
Tudo começa quando
Tina está misteriosa com a amiga Pipa. Ela está tão entrosada com uma pessoa no
celular que a amiga decide segui-la para tirar essa história a limpo. Quando vê
Tina com outro cara, ela se choca. Logo pensa que a menina está traindo o
namorado e tudo mais. Coincidentemente, encontra Miguel, o namorado da Tina,
que entra em desespero ao ouvir a história e passa a vigiar Tina acompanhado de
Pipa. Já chegando à conclusão de traição, Miguel chora no colo da Pipa que
também é surpreendida quando o seu namorado, Zecão, chega ao restaurante
acompanhado de um amigo, pois a cena sugere, por sua vez, traição. Rola uma
briga no cenário e Tina e Caio, como são pessoas conhecidas, vão lá se meter.
Tina explica para Miguel que Caio é apenas um amigo, daí Caio fala “E eu já sou
comprometido, não é?”. Para surpresa de todos, ele aponta para o cara que
chegou ao cenário junto com Zecão.
Achando graça da
encrenca toda, Caio e seu namorado vão embora e Tina dá um esculacho em Miguel que acaba de fazer uma
cara de surpresa perante a situação.
“- Viu só? E vê se
deixa de ser preconceituoso!
- Er... Desculpa,
Tina! É que eu não sabia que ele...
- Eu estou falando
de preconceito contra mim! Você acha que tem que rolar alguma coisa toda vez
que homens e mulheres conversam? Não é?”
Assim, a história aborda a sexualidade sem frases prontas do tipo “você tem que aceitar/tolerar/respeitar ou você será um ser humano ruim”. Em vez disso, a história mostra Caio como exemplo de lucidez perante os ciúmes e as conclusões precipitadas dos dois outros casais, sem vitimizá-lo ou oferecer fórmulas prontas. Ao mesmo tempo, é uma história que eu leria com as crianças sem medo de receios por parte dos pais ou bocejos de tédio por parte das crianças.
Lembrando que eu
não critico abordar homossexualidade ou a homofobia de forma direta. Muito pelo
contrário, em algum momento isso tem que acontecer. Mas, para qualquer assunto que tende a se tornar tabu, a naturalidade é uma ótima forma de iniciar o diálogo. Achei
interessante esse quadrinho sair dos clichês que insistem em fazer a criança
decorar situações e não pensá-las.
Que outras opções para vocês recomendariam para abordar
relacionamentos e sexualidade?
Autoria: Amanda Barros
Revisão: Eileen Flores
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