“Pai, me conta uma história? Mas eu quero uma história de verdade, pode ser de boca ou pode ser de
livro! Por favor!”. Mas meu pai sempre me contava a mesma história, vocês
querem conhecê-la? Era assim:
“Era
uma vez, dois polacos e um francês,
Que
depois de uma bebedeira, foram parar no xadrez!
Quer
que eu te conte outra vez?”
É
engraçadinha nas primeiras 50 vezes, mas depois fica um tanto frustrante. O que
eu queria mesmo era uma boa história.
À caminho da nossa primeira contação,
eu e minha parceira estávamos conversando sobre nossas experiências com
histórias na infância. Ou melhor sobre nossa inexperiência ou nossa
“desmemória”.
Eis que eu não tenho
nenhuma lembrança dos meus pais lendo para mim, o que é assustador, pois lembro
que tinha uma pá de livros infantis! Meus pais não leram muito para minha irmã
mais nova também – e eu me arrependo de não ter aproveitado essa oportunidade.
Minha parceira, também compartilhou essas vivências, com a diferença que
na primeira semana do projeto, ela escolheu um livro e fez uma leitura
dialógica para sua irmã. <3
(http://feliciafleck.com/site/wp-content/uploads/2014/01/contador_hist6.jpg)
Esse texto tem duas
funções principais:
1) Não ter tido vivência de contações
dialógicas ou tradicionais na infância não é um impedimento para você ser um
mediador de leitura. Também não é um impedimento para você ser um ótimo
mediador!
2) Não é porque a criança foi alfabetizada
que a contação dialógica perde sua graça ou função. Muito pelo contrário!
Ao primeiro tópico!
É comum nos sentirmos inseguros quando
vamos fazer algo novo, que nunca tivemos experiência. Muitos dos nossos
mediadores entraram no projeto com pouco conhecimento da leitura dialógica, e
outros ainda – como eu e minha colega – sem vivências até da contação tradicional
(entenda aqui como leitura em voz alta de um livro para alguém). As primeiras semanas
são de grande inquietação e insegurança, mas aos poucos descobrimos que a
experiência nos ajuda, mas que não é essencial para uma boa mediação.
Temos no nosso blog várias
postagens com dicas práticas de como introduzir a leitura dialógica, convido a
quem não leu dar uma visitada em postagens anteriores. Há, também, nossa
revista eletrônica, feita com carinho para atender essas demandas (link da
nossa revista:
Contudo, antes de ir para
as técnicas, reflexões e dicas, tenha uma coisa em mente. Para uma boa mediação
de leitura é preciso alguns elementos muito importantes: duas ou mais pessoas;
uma obra literária de qualquer tipo, gosto ou tamanho; vínculo e escuta.
Para ser mediador, temos que saber ouvir. Ouvir e escutar. Na psicologia existe um conceito
chamado escuta ativa, que implica compreender e responder ao que está sendo
dito. De modo simples, o mediador tem que ter uma atitude aberta e empática com
seus mediados. Essa postura é anterior à técnica, embora possa ser treinada e refinada por meio da experiência.
(http://images.clipartpanda.com/bedtime-clipart-bedtime-story.jpg)
Vamos então ao segundo tópico.
Infelizmente é comum que as contações
de história terminem quando a criança é alfabetizada. Há prováveis motivos para
isso acontecer, alguns deles estão diretamente relacionadas com uma má
interpretação da leitura dialógica e suas funções.
Para muitas pessoas a única razão para
se ler para uma criança é estimular um comportamento/interesse de leitura no
futuro. Alguns ainda justificam dizendo que isso melhorará seu rendimento
escolar – ou para se dar bem na prova do Enem! Se um pai ou educador lê para
criança tendo em vista apenas esses objetivos, faz sentido pensar que a
contação vai terminar assim que a criança for capaz de ler. Agora ela tem que
treinar essa habilidade, se tornar expert. E se ela pedir para o adulto ler
algo é por que ela está com preguiça.
Não pensemos assim! Novamente, convido
aos leitores a explorarem nossas postagens, temos diversos relatos de
mediadores que falam de suas experiências e frutos com a mediação. Antes de
acadêmicos ou profissionais, a vivência com a leitura dialógica nos permite
criar cidadãos.
A leitura dialógica permite múltiplas
leituras de uma mesma obra, não existe “o que o autor quis dizer com isso?”,
mas sim “isso faz sentido para vocês?” ou “o que vocês entendem com isso?”. Ela
permite que saiamos do campo do óbvio e claro e acessemos interpretações que
fazem mais sentido para nós e conceitos mais abstratos. Podemos viajar pela
América do Sul, podemos ver uma baleia no quintal, podemos aprender a ser mais
presentes e gentis com nossos amigos e nós mesmos.
(http://blog.novakdjokovicfoundation.org/parenting-tips/why-bedtime-stories-are-so-important/)
Aos professores, vale o lembrete de que
a leitura dialógica planeja ser aberta a construção de sentido e experiências
do aluno, assim, é perigoso se cristalizar em uma única temática por livro. Ao
mesmo tempo, uma leitura mais trabalhada permite que aprendamos de maneira mais
agradável e construtiva. Para abordar cidadania ou desenvolvimento sustentável,
por exemplo, não precisamos de um livro que tenha discriminado esses termos no
título, em nossa experiência, esses livros até atrapalham. Para temas assim, mas importante do que o
livro, é a escuta do professor, ele deve estar atento ao que as crianças dizem
e constroem acerca do tema para que possa fazer intervenções que integrem suas
vivências e reflexões.
Aos pais, um pedido pessoal e íntimo,
por favor, contem histórias para seus filhos, histórias de verdade, não
precisam ser compridas, podem ser de boca ou de livro, mas contem! Aproveitem a
leitura dialógica para conhecer mais seu filho, o que ele acredita e deseja.
Enganamos-nos quando tentamos nos
convencer que antes de dormir é o único horário possível para uma contação de
história, principalmente nos dias corridos, pais e crianças ficam mais de 8
horas trabalhando! A leitura dialógica exige um investimento de energia, porque
exige com que estejamos presentes no momento e atentos. Se somos capazes de
viver outras realidades através dos livros, tenho certeza de que somos capazes
de criar novas rotinas e descobrir qual o momento mais proveitoso e prazeroso
para uma leitura com nossos filhos.
Para os pais mediadores, fica esse convite. Afinal, talvez uma das maiores vantagens da contação dialógica seja oportunizar um momento de escuta, acolhimento e troca. É oportunidade para conhecer ainda mais seu filho e estar imerso em um ambiente de afetividade e co-criação.
(http://sr.photos3.fotosearch.com/bthumb/CSP/CSP992/k13853847)
Escrito por: Júlia Gisler
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