domingo, 19 de fevereiro de 2012

É possível reinventar a Responsabilidade?


Esse início de ano o cinema nos presenteia com a versão de Scorsese para o romance A Invenção de Hugo Cabret. O livro de  Brian Selznick,  que nos foi presenteado pela tradução brilhante de Marcos Bagno, e que tive a honra de conhecer em um shopping aqui em Brasília (não que ele lembre de mim, mas achei muito chique conhecê-lo!) é uma aventura cativante com gravuras maravilhosas!
O livro fala sobre as aventuras e desventuras de um menino na tentativa de reconstruir um automato herdado do pai. Na sua busca em resgatar e realizar o luto pelo pai, Hugo se transforma e metamorfoseia o mundo ao seu redor.
O romance é lindo e vale a pena ser lido várias e várias vezes! Mas o que gostaria de trazer em foco nesse momento é o tema da responsabilidade de Hugo.
Hugo é uma criança órfã,  que trabalha, que acorda cedo todos os dias, e que cumpre todas suas tarefas e ainda encontra tempo para consertar o automato do pai. Por medo, por necessidade, mas principalmente por que tinha um objetivo – um desejo a ser realizado. A responsabilidade não pode ser estabelecida no sujeito sem um sentido.
Atualmente, venho percebendo que incutem nas crianças a responsabilidade pela irresponsabilização! Em outras palavras: não importa a escola ou aos adultos o porquê que as crianças devem fazer as tarefas. Simplesmente a devem fazer! A criança se transformou em uma tarefeira por assim dizer e a isso dizem os 'educadores atuais' é o ensino da autonomia e responsabilização! Façam porque estão no quarto ano! Façam porque estão no terceiro ano! Façam a tarefa sem ter sido ensinado. Façam sem receber explicações. Façam!! Cumpram tarefas simplesmente!
O que mais importa é a tarefa - destituida do sujeito....  Novamente estamos esquecendo que por detrás de conteúdos, listas de obrigações, listas de tarefas, existem Sujeitos que pensam, desejam e questionam. Sim, eles correm, gritam, fazem bagunça, fazem perguntas demais e principalmente nos colocam em contradição. Mas não é isso que os tornam maravilhosos? 
Estes indivíduos é quem devemos buscar incessantemente como Hugo busca, responsavelmente, durante o romance. E, devemos ouvi-los, respeita-los, valoriza-los, ler para eles. E não silencia-los como o foi Tio Georges.

Leiam A invenção de Hugo Cabret! Acreditem!

Adriana Rezende Dias
Psicanalista – Colaboradora Projeto Livros Abertos

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