Para ler neste fim-de-semana, peguei ao acaso um dos livros do maravilhoso acervo que obtivemos com apoio do FNDE. O livro chama-se "Diário Absolutamente Verdadeiro de um Indio de Meio-Expediente". O título não me chamou a atenção mas ao folhear um pouco, logo me encantei com as ilustrações. A partir de então, foi começar a ler e não parar mais, madrugada adentro. Gente, simplesmente não dá para largar.O romance conta a história de Arnold Spirit Junior, um adolescente nativo norte-americano que mora em uma das reservas mais miseráveis do país. Arnold conta sua história na primeira pessoa e sua narrativa é complementada por maravilhosas ilustrações de Ellen Forney que, na história, são de autoria do próprio personagem. Arnold tem hidrocefalia e precisa usar os óculos toscos distribuídos aos índios, vive na mais absoluta pobreza e em sua reserva reina o alcoolismo e o total desânimo com a vida. Vive apanhando dos meninos da reserva devido ao fato de ser "cabeção" (literal e figurativamente, pois Arnold é inteligentíssimo, o que também incomoda alguns professores e colegas da escola na reserva). Seu único amigo, o valentão Rowdy, é vítima constante das surras de seu pai e acaba repetindo esse comportamento com todos que o rodeiam, com exceção, misteriosamente, de Arnold, por quem nutre um sentimento de proteção.
Uma das ilustrações de Ellen Forney |
Isso até o dia em que Arnold, incentivado por um professor a procurar melhores condições de educação, resolve mudar-se para uma escola fora da reserva em que o único índio além dele é o da figura da logomarca da escola. Visto como traidor de seu povo e bajulador dos brancos, Arnold passa a ser odiado até pelo seu melhor amigo na reserva e, ao mesmo tempo, a ser desprezado entre os colegas de sua nova escola. Estrangeiro em duas terras, Arnold questiona-se sobre sua identidade e descobre aos poucos que muitas de suas idéias pré-concebidas precisam ser revistas. Mas se você já está se perguntando por que eu teria gostado de algo tão concreto, deprimente e sem poesia, é porque eu não tenho como transmitir aqui o fabuloso senso de humor e do ridículo, a sensibilidade, a fina ironia e o absoluto encantamento poético produzido pela narrativa em primeira pessoa de Arnold. As ilustrações fazem parte orgânica desta jornada de auto-conhecimento deste "índio de meio-expediente" que aprende, em meio a tanta dor mas sem jamais perder o humor, a reencontrar a força de suas raízes e o orgulho de ser quem é.
Sherman Alexie |
A obra, publicada no Brasil pela Editora Galera e com uma bela tradução de Maria Alice Máximo, é indicado para adolescentes, jovens e adultos, eu diria que mais ou menos a partir dos 15 anos (claro que isso é muito relativo, mas é um parâmetro, devido aos temas tratados). O autor, Sherman Alexie, ganhou vários prêmios pela obra e afirma que o livro é, em grande medida, autobiográfico. A história não esconde as dimensões dos problemas sociais das reservas indígenas (muitas das quais muito semelhantes em nosso pais), questões de violência doméstica e bullying entre adolescentes, além de tratar com honestidade os conflitos da adolescência, incluindo a sexualidade.
Talvez por isso tenha sido banido de algumas bibliotecas nos Estados Unidos, tendo sido considerado "impróprio" (??). Porém, em um dos casos, o livro, ao ser censurado, estava com os dez exemplares emprestados e todos já reservados, mostrando a popularidade da obra entre os jovens. Em outro caso, os censores resolveram sentar-se e realmente ler o livro e decidiram que ele é sensacional, desistindo da proibição! São as loucuras da censura e da hipocrisia.
Recomendo fortemente!
5 comentários:
Nossa,essa história deve ser muito boa mesmo, vou lê-la!
Mas essa é uma tribo real?
Existe sim, são os índios Spokane.
Deu muita vontade de ler pra saber como ele termina sua jornada.
Estou morrendo de vontade de ler! A história parece muito boa e deu para ver mais ou menos o humor e ironia pela ilustração, super interessante o tema também!
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