segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O feriado sem nome, de Shaun Tan (Diário do contador)

Estamos chegando ao fim de um ano letivo, e as crianças da minha turminha fizeram um pedido especial, uma história sobre o natal. Lá fui eu procurar contos natalinos... mas naqueles que eu achei faltava magia e mistério, faltava poesia.

Foi então que me lembrei do conto de Shaun Tan, que compõe sua obra Contos de lugares distantes. O feriado sem nome era mágico e misterioso, tudo que as crianças tinham pedido, com exceção de um detalhe, trata-se de um natal às avessas.

Shaun conta que há um feriado que ninguém conhece a origem, mas que todos esperam com ansiedade essa solenidade, que pode acontecer em agosto ou em outubro. O ritual se inicia quando a pessoa separa seus bens mais valiosos e pelo que tem mais apreço, desses tesouros ela tem que escolher um, justamente o mais amado. Fazendo essa escolha a pessoa tem que levar seu tesouro para o telhado e o deixar ali, ao lado da antena de tv, que foi previamente decorada com coisas brilhantes. 

O resto da festividade consiste em esperar ansiosamente, até que ela chegue na calada da noite.
Trata-se de uma graciosa rena, que escolhe dentre aqueles objetos tão amados aqueles que farão mais falta, ela então os prende em sua galhada e salta silenciosa, desaparecendo noite a fora.

O que afinal ela faz com aquele tesouro? “Ela dá para alguém que precisa, tia”, ”ela ajuda o papai noel!”. No fundo, ninguém conhece este mistério.

Perguntei para as crianças qual objeto precioso elas escolheriam, pedi que elas desenhassem para que eu pudesse deixar no telhado lá de casa.

 Desapego é algo bem curioso. Entre desenhar e pensar no objeto, surgia uma grande confusão “vou esconder minha boneca embaixo da cama do meu irmão”, “mas é só uma lenda, né, tia?”, “eu só vou dar o desenho, né?”.

O patinete e mais um presente no telhado, uma boneca com seu balão
 Houve aqueles que deram boneca e patinete. Houve aqueles que a presentearam com arco-íris e seu elefante imaginário.
A filhote de elefante Júlia (será uma indireta?) e um magnífico arco-íris

 Houve uma criança que não queria de jeito nenhum entregar algo que fosse seu, ofereceu ursinhos das irmãs e até mesmo um diário, lá pelas tantas concordou em deixar seu caderno de segredos e seu celular no telhado, mas com duas condições. Eles estariam escondidos dentro da caixa e ela desenharia uma chave falsa, para que a rena não lesse seus segredos.
O livro de segredos (com uma chave falsa) e um celular escondidos

 Eu entrei na brincadeira, e ofereci inicialmente como bem mais precioso um livro do mesmo autor A árvore vermelha, mas ao ver as crianças quebrando as pontas, mordendo e brincando com meus lápis de cor, vi que precisava deixá-los no telhado também.
Impossível não entrar na brincadeira

 Houve declarações de carinho e admiração! Uma das meninas presentou a rena com um bolo de aniversário de várias cores e tamanhos. Um dos meninos da turma, que havia já participado da outra contação sentou com a gente e perguntou o que fazíamos. Eu disse que estávamos fazendo presentes para a Rena e expliquei sua história. Ele pediu para deixar um presente para ela.
O Zoíudo – um pinguim de pelúcia cor de rosa – foi o presente que ele quis dar para ela. Inicialmente, ele disse que pediria para o papai noel dois bonecos iguais, por uma questão de logística ele mudou de ideia, mandou o desenho com uma cartinha para a rena.
Rena em sua festa de aniversário e Zoíudo

“Por favor, pede para papai noel um zoíudo para você. Você vai gostar muito. Arruma o cabelo dele, porque ele vai ficar bagunçado. Você é bonita e eu gosto muito de você. Eu te amo”.

 Em uma conversa, criamos um rito e um mito. Cuide bem de nossos tesouros, rena, nós amamos você.

   Escrito por: Júlia Gisler

Ficha técnica do livro
Nome: Contos de lugares distantes
Autor: Autor e ilustrador : Shaun Tan
Tradução: Érico Assis
Editora: Cosacnaify
Ano: 2013 

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