

A parte do livro que
traz a discussão dos pais sobre a leitura X novas tecnologias me deu um grande
alívio. Essa noção de que a leitura está perdendo seu lugar é tão disseminada
que acabamos concordando passivamente com ela, principalmente quando não
entendemos qual a função do livro e seu potencial de encantamento. Mas essa
parte do livro traz a noção de que há vários outros aspectos relacionados à leitura,
questões emocionais, que não conseguem ser abarcadas pela internet ou a TV. Os
pais então, não consideram a grande importância que tem a leitura que fazem com
seus filhos, “o momento de paz” que tem ao final do dia contando uma história,
e acham que a ruptura desse momento não vai ter reflexos no hábito da leitura da criança. E quando isso acontece, têm um álibi: as novas formas de
entretenimento; apesar de saberem, lá no fundo, que tiveram alguma parcela no
peso que o livro se tornou para o filho quando ele foi abandonado sozinho com a
leitura.
Isso me lembra uma
frase bem interessante que Pennac evoca no livro: “A gente queria ser livre e
se sente abandonada”. Isso reflete bem o sentimento da criança ao aprender a
ler e os pais desconectarem, sem consentimento do filho, os momentos que tinham
juntos. Uma grande traição. Às vezes, até por pensarem que seria o melhor para
o desenvolvimento do filho, e se convencerem, com a empolgação do aprender a
ler, que a criança “não precisa mais” deles. E quando é mesmo que um filho não
precisa mais de um momento de compartilhamento com o pai?
Quanto à leitura em
voz alta, o texto traz uma passagem muito bonita: “O homem que lê em voz alta
nos eleva à altura do livro. Ele se dá, verdadeiramente, a ler!”. Tive uma nova
experiência de ler em voz alta com esse livro, apesar de inicialmente ter
achado estranho. Mas essa passagem e as novas sensações me convenceram que isso
realmente me colocou, verdadeiramente, a ler. É uma sensação nova de vivenciar
o livro, a cada palavra, no corpo, com a própria voz. E se sentir elevado, à
altura do livro.
Um dos pontos mais
interessantes, na minha opinião, foi o que trata da leitura como uma ação
que tem um caminho determinado, que deve ser seguido por todos da mesma forma.
Essa temática foi bem abordada na parte que trata do professor que mostrou
aos alunos como ler e aprender de uma forma diferente (reflexão: O uso da
palavra “diferente” parece trazer um tom de ilegalidade sempre, de “fora do
padrão”). Uma passagem do livro revela que “com ele a cultura deixava de ser
uma religião de Estado e o balcão de um bar era uma tribuna tão aceitável
quanto um estrado de sala de aula”. Isso me fez pensar sobre a falta de
importância que damos ao aprendizado informal, que na maioria das vezes é mais
efetivo que o formal, pois parece estar associado ao prazer da falta de
cobrança. A sociedade mostra essa exacerbada preocupação em aprender o teórico,
o formal, e que as relações e o aprendizado cotidiano pouco têm a oferecer. E
isso, na verdade, não é a base para sermos o que somos? Não é nas nossas
conversas cotidianas que estipulamos novas formas de pensar e agir? O
aprendizado informal, tão marginalizado e essencial para o desenvolvimento!

Quanto aos direitos
que o livro atribui ao leitor: Obrigada Pennac! Porque nunca tinham me dito
isso antes? Parecem ser direitos conhecidos e banais, mas acho que é o tipo de
informação que precisa ser lida para ser compreendida. Fiquei muito aliviada e me
senti representada, de alguma forma. Foi muito bom saber que todos os leitores
nem sempre conseguem ler até o final, e que algumas vezes é permitido sim pular
páginas. Esses direitos tornam a relação com a leitura amigável e não, como às
vezes nos é passado, de tirania.
Esse livro foi um
grande marco para mim. Identifiquei-me com muitas partes, me vi na criança, me
vi no adolescente e desejei imensamente ter um professor que conseguiu reatar
alguns de seus alunos com a leitura. Mesmo lendo, uma literatura aqui e outra
ali, textos acadêmicos e etc, sinto que minha relação com a leitura estava
abalada há muito tempo. E foi bom repensá-la um pouco, senti-la novamente com
emoção.
Um comentário:
O texto aborda o amor pela leitura fazendo uma revivência da infância e a relação que estabelecemos com o ato de ler. Tanto este fato está atrelado ao nosso contato afetivo com o pai ou a mãe que lê com o filho, como está naquela possibilidade de ver uma porta se abrindo na fantasia infantil para encontrar um mundo à parte daquilo que estávamos vivenciando sem entender bem o por que. Lindo texto.
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