terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Quilombo Orum Aiê - André Diniz

“No Quilombo Orum Aiê não há guerras ou desavenças e todos vivem por muitos anos com perfeita saúde. Dinheiro, leis e governantes lá não tem vez: são inúteis a um povo que vibra na mais pura harmonia. Para que leis, se lá todos se respeitam? Fazer o que com dinheiro em um lugar onde tudo é de todos?”.

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No imenso e diverso mundo dos livros, não importa a quantidade de livros que você já tenha lido, um ou outro vão se destacar com uma carga maior de carinho. Não precisa ser um livro com mais de mil páginas, nem com ilustrações que parecem ter sido retiradas de algum museu muito famoso de sabe-se lá onde neste grande planeta. Ele pode ser um livro pequeno, em formato de história em quadrinhos e com poucas páginas e ainda assim, carregar o mais poderoso dos discursos e mais linda das histórias. Quilombo Orum Aiê é um desses livros.


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Salvador, janeiro 1835. Vinicius, mais conhecido como Capivara, menino negro escravizado passa a vida questionando sua existência, a dos outros e o funcionamento da sociedade. Cresceu ouvindo da mãe sobre um Quilombo especial para onde o pai de Capivara foi e nunca mais voltou. Aproveitando um levante de negros libertos, o menino decide fugir de Salvador levando consigo Sinhana, a menina pela qual Capivara nutre amor, Abul, um negro que ninguém conseguia entender o que dizia, por ser de uma região da África com idioma diferente do falado pelos outros negros e o branco foragido Antero, do qual se sabe pouco. Durante toda a jornada rumo o Quilombo, Capivara aprende sobre si, descobre que o ser humano pode ser surpreendente e dá nome ao que faz desde sempre: filosofa.


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O caminho percorrido por Capivara, Sinhana, Abul e Antero levam o menino até o tão sonhado Quilombo Orum Aiê, mas ele não pode ficar lá. A razão é mais intensa e emocionante possível, mas que eu não vou dizer, para não estragar a história.



O livro traz de maneira leve informações reais para o leitor, como o levante de janeiro de 1835 que ficou conhecido como a Revolta dos Malês e, já informações já conhecidas por pessoas de religiões afro brasileiras, o que significa o Orum Aiê, além de diversos Orixás citados como protetores dos negros da história, como Ogun, Xango e Oxum e isso acaba ajudando a criar um sentimento de pertença e entendimento maior ainda, não significando, no entanto que os outros leitores se sentirão excluídos...não mesmo! Capivara e Antero são escurecidos em seus diálogos e fazem parecer que você está caminhando com eles por toda a jornada. Além disso, conta a história segundo a perspectiva de negros escravizados, seus desejos, a resiliência em alguns momentos e a força de luta em outros, suas histórias e a ancestralidade que carregavam consigo e jamais foi quebrada, seus guardiões e o respeito pela natureza, que sempre regeu esse povo.
André Diniz escreveu e ilustrou a história que eu carrego comigo com carinho sem igual e que é o primeiro nome de indicação quando me perguntam sobre livros. É apropriado para qualquer idade, desde os que acompanham através das figuras até os que gostam de ler num dia chuvoso qualquer. Independente de cor, credo e idade, Quilombo Orum Aiê é de carregar nas mãos e no coração.

Ficha:
Quilombo Orum Aiê
André Diniz
Editora Galera Records

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