terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Até logo..


Caros leitores, 
Como a Carol já mencionou, já fizemos nossa despedida com as crianças. Nesse clima de final de ano, férias, expectativas e novos planos, resolvi postar mais uma reflexão.  Acho que cai muito bem nesse momento! Espero que gostem!

Essa é a segunda vez que leio o livro “Corda Bamba”, de Lygia Bojunga. Posso dizer que minhas impressões foram bem diferentes das que tive na minha primeira leitura, quando ele me foi recomendado pela escola. Na época eu também o li por completo – afinal, eu encarava qualquer tipo de livro como parte do meu dever de casa. Nunca cheguei a odiá-los, mas não lia por iniciativa própria até próximo dos meu 12 anos. Nossa relação era pura e simplesmente profissional, rompida assim que eu cumpria a minha obrigação. “Corda Bamba,  em especial, marcou-me de uma maneira diferente dos demais livros: eu o odiei de tal forma que nem sequer meu nome consta em suas primeiras páginas. Ele nunca mais foi aberto, a não ser naquela época do colégio. 
Após relê-lo, pude perceber alguns dos motivos que me levaram a colocá-lo na minha “lista negra”. Afinal, uma das características mais marcantes e típicas de Lygia Bojunga é a construção da história por meio de metáforas, repleta de simbologias e significados que fogem do usual. Eu não poderia capturar o seu estilo de escrever e muito menos compreender o que estava por trás das linhas e do seu jogo de palavras. A história narrada de fato segue uma linha cronológica de eventos (plano horizontal), mas também há o plano vertical, em que os olhos do autor e do leitor se voltam para os conflitos internos das personagens. Esse tipo de habilidade eu não possuía, o que dificultava bastante entender o que acontecia no mundo de Maria, o interno e o externo.
A riqueza do livro tem início do título “Corda Bamba”, o que não se refere apenas a uma atividade artística circense. Viver na corda bamba significa literalmente a busca por um equilíbrio, seja ele emocional, profissional, financeiro. No caso de Maria, a metáfora se refere à tentativa de equilibrar os dois mundos por ela vividos: a casa da avó e o apartamento com o corredor de seis portas, localizado de frente para a janela de seu quarto. Morar com a avó se refere ao racional, às regras, ao presente, ao mundo projetado para ela. Atravessar a corda e ir para o apartamento – e de lá desfrutar do “outro mundo” – alude à imaginação, ao lúdico, a permitir-se, ao passado já vivido e à construção do futuro, ao mundo dela.
Para mim, andar na corda bamba tem vários significados. É uma busca constante por um equilíbrio, por algo que me cause um misto de tranqüilidade, realização. Na verdade, identifiquei-me com o processo que estava acontecendo com Maria. Agora nos meus19 anos percebi que muito do que sou hoje está relacionado com o meu passado – com o meu histórico de coisas boas e ruins. Da mesma forma como Maria desenha seu futuro na parede, vivo uma sensação de tentar sempre investir no meu futuro, tudo em busca de uma estabilidade. Isso por um lado é bom, melhor de si. O problema é focar demais no futuro e se esquecer do presente. Porque venhamos e convenhamos, é bem menos sofrido planejar, lidar com possibilidades (algo que ainda podem ser mudado), já que o incerto pode não ter a certeza de algo bom, mas pelo menos não é a concretização de algo ruim. Às vezes, é melhor olhar para o futuro do que sofrer no presente. O engraçado é que finais incertos também me inquietam, exatamente porque não posso ter requisitos para enfrentá-los.
“Corda Bamba” abre um mundo de interpretações possíveis para cada trecho que Lygia Bojunga prepara cuidadosamente para seu leitor. São inúmeras as simbologias que a autora cria de forma muito rica e única. Creio que uma das muitas reflexões que a leitura possibilita é o fato de que todos nós vivemos em uma constante corda bamba, em busca de identidade, aceitação, realização. Cada um tem uma Maria dentro de si, que passa por diversas etapas a fim de que se liberte das amarras que prendiam em um mundo que simplesmente não é o dela, ao qual ela não pertence. O difícil de ser Maria é que muitas vezes é preciso seguir sozinho, e ver que as pessoas chegam e vão embora das nossas vidas, como uma viagem de barco em alto mar
E pra você, qual é o equilíbrio da  sua corda?
Boas Férias a todos! 

4 comentários:

Adriana Dias disse...

Esse livro é realmente muito lindo! E seu post foi muito sensível! A vida é uma transformação e a toda hora estamos nos pondo à prova não é mesmo?

Carol disse...

Lindo Katsumi!

Katsumi disse...

Obrigada Adriana e Carol! Tive contato com o livro novamente durante um momento muito reflexivo da minha vida. Foi como limpar um espelho que há muito tempo estava sujo, deixando que eu voltasse pra mim mesma, olhando como de fato eu estava. Foi bem reflexivo de fato!

Eileen disse...

Katsumi, novamente me emocionei com seu texto. Lindo! Obrigada por compartilhar!