Faz
tempo que não escrevo para o blog, mas a minha inspiração dessa vez veio de
algo que na verdade sempre estava bem próximo a mim, dentro da minha bolsa e
que carrego até para o supermercado, com o receio de ter que passar horas na
fila sem nenhuma distração.
Falo
hoje sobre uma dica de leitura que tenho carregado comigo há pelo menos quatro
meses. Não que o livro seja chato, mas não tive o devido tempo para me dedicar
a ele. Intitulado “Terra de Ninguém”, o livro de Contardo Calligaris,
psicanalista italiano, é uma coletânea de crônicas escritas enquanto o autor
dividia sua vida entre São Paulo e Nova York. O título do livro remete
justamente às diversas viagens que Calligaris realizou e que fizeram com que
diversas crônicas fossem escritas “nesse espaço estranho que existe nos
aeroportos e que está fora da jurisdição ordinária”.
Indico o livro para quem gosta de uma
leitura leve, porém reflexiva. O autor traz acontecimentos desde o lançamento
de um livro da saga Harry Potter até pontuações sobre a Segunda Guerra Mundial.
Como o próprio autor menciona: apesar de julgar que as crônicas foram alocadas
de forma interessante para o leitor; por se tratar de textos aparentemente sem
nenhuma conexão, alguém que não gosta muito de política pode passar algumas
páginas e encontrar um texto sobre a vida amorosa de um casal, ou sobre
questões de gênero. Enfim, a quantidade de assuntos é incrivelmente variável.
De qualquer forma, o que mais me
impressiona no livro é que consigo concordar e discordar do o autor como se
estivéssemos dialogando. Acredito que algumas pessoas possam não gostar de
literaturas desse tipo, mas acho essencial que as leituras nos provoquem, nos
coloquem diante de nossas reflexões, afinal não é tudo que levamos para uma
roda de conversa com os amigos e muitas vezes não temos certeza sobre o que
achamos das ações do governo Bush. “Terra de Ninguém” se propõe a isso, a dialogar.
Por se tratar do cotidiano, o autor não tem a pretensão de que o autor
compartilhe das opiniões dele, afinal de contas os textos são produzidos
através das lentes de Calligaris.
O que me fez recordar do livro
quando estava pensando no que escrever para o blog foi justamente, que no
início da obra o autor menciona a sua dificuldade de escrever semanalmente, já
que todas as crônicas de “Terra de Ninguém” foram publicadas na Folha de São
Paulo em uma coluna semanal. Lembro, inclusive, que em uma das reuniões do
“Livros Abertos”, estávamos discutindo o quão difícil era escrever para o blog,
sendo que às vezes nada vinha de novo ou que merecesse ser contado. Bem, a
conclusão na qual Calligaris chega é que as experiências vividas por ele (um
noticiário, uma conversa, um encontro, uma viagem, e no nosso caso, uma
contação de histórias) são dotadas de alguma intensidade que valha a pena ser
transmitida.
E
eu aqui procurando algo extraordinário para escrever quando tudo que eu
precisava dizer estava dentro da minha bolsa.
“Ao escrever pouco me
importa que o leitor compartilhe ou não da minha opinião (se é que tenho uma).
Pouco me importa que ele repita ou adote os caminhos pelos quais se enveredou
minha experiência. Minha ambição é apenas (mas já é muito) que, ao dialogar
comigo (concordando ou protestando, tanto faz), o leitor tome o tempo
necessário para descobrir ou inventar uma espessura e uma intensidade possíveis
de sua própria experiência. No fundo escrevo crônicas na esperança de que, ao
lê-las, os leitores sintam vontade de tornar-se cronistas de suas próprias
vidas” Introdução: Terra de Ninguém, Contardo Calligaris
Nathália Oliveira
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