Este texto é destinado a pais e
educadores das crianças e jovens da geração dos jogos virtuais, principalmente
àqueles que se vêem desesperados, pois o filho/educando nunca terminou um livro
com mais de 50 páginas, mas costuma passar o dia inteiro na frente do vídeo
game.
Não se desesperem! A literatura
infanto-juvenil e os jogos têm muito em comum!
É até possível dizer que alguns jogadores
tiveram acesso a temas mais profundos e reflexões mais práticas através dos
jogos do que alguns jovens que leem assiduamente e mecanicamente os
best-sellers do mês.
Assim como a literatura, os jogos
podem ser mediados pelo educador. “Impossível! É muita violência! Sangue e
explosões para todo lado!” vão dizer alguns ou “Nossa! Mas não tem nenhuma
história ou sentido! São só cores aleatórias para todos os lados”. Mas, vamos
dar chance aos jogos, podemos começar com uma questão simples: o que os jogos
têm que atraem tanto os jovens?
É o sentimento de liberdade? O
sentimento de superação de limites que o jogo lhe imprime? É pela possibilidade
de aprendizagem rápida de habilidades que serão necessárias para resolução de
conflitos? A possibilidade de criar de desenvolver um mundo particular ou um
personagem próprio, e vê-los crescendo e se desenvolvendo?
Assim como a literatura, o jogo possibilita
experimentação de diversos papéis sociais e estimula a empatia, e faz isto de
uma maneira inovadora e muito eficiente. Nos livros de aventuras, você lê sobre
e se identifica com o protagonista. Nos jogos, você é o protagonista
responsável pelas ações e escolhas que vão conduzi-lo ao final do jogo. Jogos e
livros estimulam vivenciar uma nova história de maneiras diferentes entre si, e
por isso impactam o jovem de distintas formas.
Jogar
vídeo game não se limita a apertar botões – embora seja difícil jogar sem
apertá-los. Além do tempo de reação, é necessário saber: que botões devo
apertar? Quando devo apertar? E o que vai acontecer quando apertá-los?
É necessário pensamento estratégico.
O jogador tem que identificar qual é o momento adequado para correr e quando
deve esperar, tem que conhecer a si mesmo para saber quando é a hora mais
apropriada para enfrentar o chefão. Além disso, deve saber economizar os
recursos equilibrando a demanda e os investimentos, tirando o máximo proveito
deles. O jogador, assim, é também um empreendedor!
Outras habilidades estimuladas pelos
jogos virtuais:
·
Raciocínio lógico: Reconhecimento de
padrões sutis, sabendo relacionar ação e reação.
·
Trabalho em equipe: muitos jogos só
podem ser concluídos com a formação de uma equipe, onde há sincronia nas ações
e atribuição de diferentes funções para cada membro.
·
Visão das partes e do todo, análise dos
fatores no contexto que estão inseridos e fora dele.
·
Preparação psicológica e treino de
emoções para lidar com situações estressantes ou de risco.
É
ingenuidade pensar que o que se aprende nos jogos se limitará sempre a este
contexto. Um dos mecanismos de aprendizagem é a generalização, em que algo que
se aprende em um contexto é transportado e adaptado para outras situações. E
como facilitar este processo? Uma boa mediação! Através do diálogo com a
criança/jovem, se pode chegar ao desenvolvimento de novas relações e novos
significados ao que foi vivido nos games e na vida.
Além de tudo, como a literatura, os
jogos são uma forma de arte. Um jogo é fruto de trabalho em equipe plural e
múltipla, exige treino e harmonia dos colaboradores para chegar a um produto
final. Aos mais resistentes, fica a sugestão de olhar para um jogo como quem
aprecia uma sinfonia: pense que, por trás de cada detalhe, havia uma equipe
trabalhando.
Por fim, alguém pode estar se
perguntado: “Há como os jogos estimularem o hábito de leitura?”. Acredito que sim, pois nunca conheci um
jogador que não gostasse de uma boa história. Para os educadores, fica a dica
de usar o jogo a seu favor. Atente para a história: é contextualizado
historicamente? Usa personagens mitológicos? Procure deixar disponível a
criança/jovens livros que informem sobre esses assuntos. Muitas franquias de
jogos têm livros e outros materiais escritos que são do interesse do jogador
por complementarem a história jogada ou desvendarem outros segredos do jogo. Faça
essa pesquisa.
Alguns jovens preferem os jogos por
considerarem o livro demasiadamente estático e não desafiador, afina, a
história já está escrita e terminada, ao contrário do jogo que você constrói e
cria. Para estes jovens aconselho que os educadores procurem por livros mais
interativos, do tipo que tem mistérios a serem desvendados para poder passar
para o próximo capítulo, livros com mensagens escondidas ou livros que não têm
uma ordem determinada de leitura.
O mais importante, no entanto, é
nossa postura. Nunca devemos obrigar o jovem a ler algo – aqui se encaixa o
comportamento de chantagem por parte dos pais do tipo “ah, mas te dei o livro e
você não leu!”. Enquanto a leitura for forçada, a leitura será desestimulante,
por isso, paciência é a palavra chave. O jovem deve se sentir atraído pelo
livro de maneira natural e espontânea, assim como é atraído pelos jogos e, a
partir desse interesse, o educador pode mediar sua relação com os livros.
Escrito por: Júlia Gisler
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