domingo, 7 de setembro de 2014

Desenho.... Pra que te quero na contação?



Como mediadores de leitura, temos o privilégio de ter acesso a um lugar muito especial das crianças: a imaginação. Não apenas ter acesso, mas participar desse grande e frutífero mundo com que a mente infantil nos espanta, no sentido bom da palavra, e nos depararmos com uma vasta fonte de informações e símbolos que para nós, às vezes, não faz o menor sentido, mas para as crianças, faz.
Isso porque, muitas vezes, não mergulhamos no universo infantil e não queremos tentar entender, do ponto de vista da criança, como ela olha, processa e manifesta o mundo à sua volta, causando muitas vezes uma confusão desnecessária para ambos. Nesse contexto, uma manifestação importante utilizada pelas crianças, principalmente as que ainda não são letradas e na faixa etária de 3 a 5 anos , é o desenho.
Paremos. Pensemos. E nos perguntemos: Se fosse criança, como me expressaria se ainda não soubesse ler e escrever ou estivesse em processo de letramento?
A resposta está no desenho. Aos 3 anos, a criança começa a adquirir a função simbólica, ou seja, ela começa a representar os objetos e acontecimentos fora do seu campo de percepção atual por meio de símbolos ou signos, e o desenho é a maior manifestação desse processo.
Quem tem contato com crianças nessa faixa etária já deve ter se deparado com os enormes rabiscos feitos por elas, que contam vários fatos e/ ou representam personagens e diversos elementos. Madalena Freire, grande pedagoga e filha do ilustre Paulo Freire, diz: “ É através da leitura dos símbolos, que re-apresentam as atividades, que a criança vai “lendo” e “escrevendo” seu cotidiano. Isto é patente durante a atividade de desenho. Sendo este o registro do que ela vive, pensa, tudo que lhe é significativo é expresso através do desenho. Por isso o ato de desenhar é um ato de “escrever” seus “pensamentos” sobre a realidade. A realidade do desenho, portanto, é de pensamento, elaboração afetiva e cognitiva, sobre as leituras que faz do mundo.”       
                                             
                                     

E o que nós mediadores temos a ver com o desenho?
Longe de ser apenas um recurso de utilização para o conhecido “passar tempo”, o desenho tem o poder de permitir à criança expressar as impressões que esta tem do mundo ou dos fatos acontecidos com ela. Por isso, utilizar o desenho ao final de cada contação pode ser uma ferramenta muito boa para as crianças, e também para os mediadores, que irão compreender melhor como a criança internalizou a experiência de mediação. Há muitos casos em que, na contação de histórias mesmo, a criança começa a falar e contar fatos ocorridos com elas, sendo alguns são bons outros ruins, mas que espelham aquilo que ela entendeu da história, assim como o desenho fará.
Com isso, o desenho é uma ferramenta incrível para nós mediadores! Madalena Freire, em suas pesquisas de campo com crianças, sempre utiliza o desenho logo após uma atividade ou acontecimento. O resultado é extraordinário: todos começam a relatar o acontecimento e a expressar até sentimentos sentidos. Mas ela observa que é muito importante que, após a produção do desenho, o professor (no caso, nós, mediadores), deva discutir com a criança sobre o desenho, porque é aí que a criança irá “ler” aquilo que “escreveu” .

Nós contadores de histórias não somos apenas pessoas que contam histórias, somos mediadores de conhecimento cujo objetivo é ajudar a criança a se desenvolver sadiamente, por isso... Usemos o desenho! Assim como nós lemos histórias para as crianças, deixemos que elas contem suas maravilhosas histórias de vida que sempre têm aquela pitada de fantástica fantasia. 

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