domingo, 16 de novembro de 2014

O trazedor de imaginação



Na última contação de histórias, ocorrida na semana passada, li um livro para as crianças ao qual tenho um forte apego sentimental e que já havia um tempo que queria lê-lo para elas. O livro Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha, foi um dos livros que li na minha infância e que nunca esqueci. Lembro-me como se fosse hoje da empolgação que tomava conta de mim ao lê-lo e relê-lo.

A primeira vez que o vi na biblioteca da escola, foi quase dois anos atrás: vi-o na estante, em meio a tantos livros! Peguei-o e brotou um grande desejo de lê-lo para as crianças, mesmo que tivesse que esperar algum tempinho (ou alguns aninhos) até que elas pudessem estar na faixa etária para compreender o livro (na época, eles tinham 3 anos e 4 anos de idade, agora têm 5 e 6 anos).

Então a hora chegou! Peguei o livro e o li e fiquei impressionada em saber que mesmo depois de tantos anos aquele livro ainda despertava em mim sentimentos de prazer, de empolgação e de muitas risadas. Comecei a mediação de leitura como sempre: os grupos de 4 crianças sentam-se ao redor do livro e comunico “ Vamos ler hoje um livro muito especial para a Tia Barbara, que ela gosta muito, se chama: Marcelo, Marmelo, Martelo” e com um grande barulho, vi os seus rostos com grandes sorrisos, gargalhando porque “ o nome do livro é muito engraçado, tia!”.

Comecei a ler. Marcelo realmente era um menino diferente, pois questionava tudo! Questionava principalmente o por quê das coisas se chamarem como são. Por que eu me chamo Marcelo e não Martelo? E por que martelo não se chama marmelo? Por que o mar não derrama? Por que cadeira se chama cadeira? Deveria se chamar sentador! Todas essas perguntas eu fiz para as crianças e perguntei também o que elas achavam do Marcelo

“ Ele é um bobo!”.     
“Se me encontrasse com ele diria que ele é um bobão! Cadeira é cadeira, ué!”.
“O Marcelo não entende nada!”.

Perguntei a eles: “Ué, mas vocês não acham que a cadeira não deveria se chamar sentador já que sentamos nela?” Todos me olharam e um dos meninos disse “É verdade, tia, e escola deveria ser aprendedor!”, outro menino seguindo a abertura que o amigo havido feito falou que caderno é que deveria se chamar aprendedor. Daí por diante foi uma explosão de nomes, significados, neologismos pra todos os lados! Colher era mexedor, parede era segurador de teto, mesa era apoiador...

“Ahhhh tia! E livro é trazedor de imaginação!”

Trazedor de imaginação?”.

“É! Ele traz muitas imaginações! Eu adoro as histórias, pena que a gente tem que esperar a semana inteira para escutar...”.

Bom, neste momento nem preciso dizer  quão comovida fiquei, na verdade foi um mix de emoções, com alegria,  orgulho e tristeza. .Não consegui dizer nada para o menino no momento, mas me fez refletir e trazer novamente a certeza de estar no Projeto e de como amo ser mediadora de leitura! O menino que disse isso a mim fez exatamente aquilo que todos nós do Projeto tentamos fazer com que eles tenham: o amor à leitura.

A contação acabou e eu fui para casa com um sentimento de reciprocidade, um sentimento de compreensão e agora entendo o que era. Neste dia, compartilhei o meu amor pela leitura na forma de um livro e as crianças compartilharam o seu amor pela leitura utilizando o que o livro proporcionava e agora estou compartilhando com todos vocês o meu amor somado com o amor das crianças fazendo assim uma grande corrente de “amor literatural”!


E você? Também ama a leitura como eu e as crianças do Projeto? Se sim, compartilhe conosco, se não, não perca tempo, conheça a leitura (a leitura é prazerosa sim), pois como diz o ditado “ninguém ama aquilo que não conhece”.

2 comentários:

All you need is blog... disse...

♡♡♡♡♡

Andréa Bueno disse...

Nossa!! Que linda sua vivência e que bela história se tornou...adorei!!