sexta-feira, 19 de julho de 2013

O que que elas devem estar pensando?

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"Quando guri, eu tinha de me calar, à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem." Mário Quintana

Olá! Quero dividir aqui minha experiência de contação do dia 8 de julho, que foi a último desse semestre. Eu nem sempre consegui envolvê-los nas histórias que eu contava, queria entender como seria uma bem envolvente para eles. Resolvi levar uma folha em branco, pois a história seria feita pelos próprios alunos e eu iria conduzindo-os: perguntando qual tipo seria (terror, aventura, comédia), o lugar, quando, quem estaria nela, fazendo o quê, como acabaria, etc. O gênero terror foi a resposta unânime da turma; o lugar variou de escola onde estudavam, casa mal assombrada, cemitério e a rua. Eles eram os personagens principais que deviam derrotar os vilões, só em um caso uma das crianças foi uma pipa mal-assombrada. Achei-os bem entusiasmados com essa atividade, e saiu muito coisa interessante, só que eles me pediram a folha e aí não quis recusar, mas lembro de algumas que vou tentar reproduzir aqui. Teve uma que achei bem engraçada:

Era uma sexta-feira 13 e já era meia-noite, os alunos estavam numa festa de Halloween na escola. A Marina foi no banheiro e deu um enorme grito, pois tinha visto um fantasmas, os meninos entraram no banheiro correndo para ajudá-la, porém, não viram nada. Depois olharam bem e viram fantasmas, zumbis, bruxas, lobisomem e ficaram assustados. Mas logo esfregaram os olhos e tudo desapareceu. Fim!

Tivemos menos tempo nessa, mas em outras, quando eles falavam que derrotaram o monstro, eu ia perguntando como, qual era o ponto fraco dele, e eles iam refletindo sobre a situação. Outra coisa que aconteceu, foi que um menino não queria que o motoqueiro fantasma fosse do mal, ele dizia que ele era bom, mas todas as outras crianças discordaram dele. Perguntei por que ele achava isso, e ele só disse que era claro que ele era bom, aí eu disse que a maioria votou para ele ser mau e que isso é que iria valer. Uma amiga, depois, me deu um toque, que poderia ter sido uma oportunidade para saber o que elas entendiam por bom e por mal, mas nem pensei nisso na hora, fiquei sem saber como agir. Em geral, gostei muito dessa atividade, diz muito sobre a criança e me ajuda a saber o que se passa nas suas cabeças. Eu confesso que resisto em levar histórias de terror para elas, parece que estou incentivando algo ruim ou naturalizando algo que não é certo. Levei uma que parecia de terror, mas no final o personagem mostrava-se bonzinho. Vou tentar ouvir mais o que elas querem da próxima vez, mas essa resistência com história de terror é bem forte, acho que levo-as muito a sério. Vou procurar um texto que me explique o porquê de as crianças gostarem tanto de histórias de terror, talvez clareie mais minhas ideias para uma história que tenha alguns pontos parecidos, mas que não seja tão macabra. Ou será que é da parte macabra que elas gostam mais O.o?

Natália Honorato

Um comentário:

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...

Oi Natália, crianças adoram mesmo histórias de terror! Quando podem, muitas vezes escolhem esse gênero. Lendo, podemos enfrentar e elaborar conflitos e temores de forma segura.
Crianças não gostam quando consertamos as histórias para que fiquem certinhas, sem medo, sem vilão, todas as respostas dadas.
Veja uma análise da "pasteurização" das histórias clássicas:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb1406201002.htm