"Quando
guri, eu tinha de me calar, à mesa: só as pessoas grandes falavam.
Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças
falarem." Mário Quintana
Olá! Quero dividir
aqui minha experiência de contação do dia 8 de julho, que foi a
último desse semestre. Eu nem sempre consegui envolvê-los nas histórias que eu contava, queria entender como seria uma bem envolvente
para eles. Resolvi levar uma folha em branco, pois a história seria
feita pelos próprios alunos e eu iria conduzindo-os: perguntando
qual tipo seria (terror, aventura, comédia), o lugar, quando, quem
estaria nela, fazendo o quê, como acabaria, etc. O gênero terror
foi a resposta unânime da turma; o lugar variou de escola onde
estudavam, casa mal assombrada, cemitério e a rua. Eles eram os
personagens principais que deviam derrotar os vilões, só em um caso
uma das crianças foi uma pipa mal-assombrada. Achei-os bem
entusiasmados com essa atividade, e saiu muito coisa interessante, só
que eles me pediram a folha e aí não quis recusar, mas lembro de
algumas que vou tentar reproduzir aqui. Teve uma que achei bem
engraçada:
Era uma sexta-feira 13
e já era meia-noite, os alunos estavam numa festa de Halloween na
escola. A Marina foi no banheiro e deu um enorme grito, pois tinha
visto um fantasmas, os meninos entraram no banheiro correndo para
ajudá-la, porém, não viram nada. Depois olharam bem e viram
fantasmas, zumbis, bruxas, lobisomem e ficaram assustados. Mas logo
esfregaram os olhos e tudo desapareceu. Fim!
Tivemos menos tempo
nessa, mas em outras, quando eles falavam que derrotaram o monstro,
eu ia perguntando como, qual era o ponto fraco dele, e eles iam
refletindo sobre a situação. Outra coisa que aconteceu, foi que um
menino não queria que o motoqueiro fantasma fosse do mal, ele dizia
que ele era bom, mas todas as outras crianças discordaram dele.
Perguntei por que ele achava isso, e ele só disse que era claro que
ele era bom, aí eu disse que a maioria votou para ele ser mau e que
isso é que iria valer. Uma amiga, depois, me deu um toque, que
poderia ter sido uma oportunidade para saber o que elas entendiam por
bom e por mal, mas nem pensei nisso na hora, fiquei sem saber como
agir. Em geral, gostei muito dessa atividade, diz muito sobre a
criança e me ajuda a saber o que se passa nas suas cabeças. Eu
confesso que resisto em levar histórias de terror para elas, parece que estou incentivando algo ruim ou naturalizando algo que não é certo. Levei
uma que parecia de terror, mas no final o personagem mostrava-se
bonzinho. Vou tentar ouvir mais o que elas querem da próxima vez,
mas essa resistência com história de terror é bem forte, acho que
levo-as muito a sério. Vou procurar um texto que me explique o
porquê de as crianças gostarem tanto de histórias de terror, talvez
clareie mais minhas ideias para uma história que tenha alguns pontos
parecidos, mas que não seja tão macabra. Ou será que é da parte
macabra que elas gostam mais O.o?
Natália Honorato
Um comentário:
Oi Natália, crianças adoram mesmo histórias de terror! Quando podem, muitas vezes escolhem esse gênero. Lendo, podemos enfrentar e elaborar conflitos e temores de forma segura.
Crianças não gostam quando consertamos as histórias para que fiquem certinhas, sem medo, sem vilão, todas as respostas dadas.
Veja uma análise da "pasteurização" das histórias clássicas:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb1406201002.htm
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