Propus que, ao final das leituras, produzíssemos desenhos livres. Podiam criar o que quisessem, desenhos de observação dos personagens, ou o que lhes viesse à cabeça. Houve todos os tipos de desenho, desde Frankenstein, palhaço assassino, até retrato de colegas. Mas o que me chamou mais a atenção foram as perguntas que a todo tempo faziam: "tio, posso fazer chifres?"; "tio, e cruz invertida?"; "pode ter sangue?". Então falei que sim e retruquei: "por que não?". Me responderam que a "tia" não gostava desses assuntos e que dizia ser errado. Estavam criando monstros e, para dar um aspecto dramático e assustador, precisavam usar tais elementos. Foi então que me fez pensar que ninguém estava "errado". Há assuntos que são tabus em nossa sociedade, principalmente aqueles ligados à religião.
O desenho foi uma das primeiras formas de comunicação dos seres humanos, vide os desenhos rupestres, que retratavam os animais, a si próprios e a seu meio. As crianças, em seus processos criativos, trazem ao desenho aquilo que veem em seu dia a dia, suas experiências e também o "surrealismo" da criação. O desenho é um texto! Um texto que pode ser lido, apreciado, amado ou odiado. Assim como o escritor se sente livre ao escrever seus contos, histórias e poemas, aquele que desenha deve ter sua liberdade assegurada. Liberdade de expurgar seus anjos e demônios, de retratar o filme que viu e que lhe causou grande pavor, aquele medinho que o perseguiu por dias ou mesmo um lindo e marcante dia de sua vida.
Por Sille Maciel
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