sexta-feira, 4 de julho de 2014

Felicidade Clandestina

Hoje, não sei bem o porquê, acordei com um conto na cabeça. A doce Clarice, que sempre me alegra com seus contos intrigantes e nada convencionais, fez esse para mim. Felicidade Clandestina é o meu conto-encanto de hoje.

Sou ratinha de livrarias e isso não é nenhum segredo, compro todos que posso assim como todo bom amante de livros, e nesse momento sou a pessoa mais feliz do mundo e todo mundo pode ver, mas quando chego em casa... Saboreio bem devagar a minha felicidade clandestina.

“Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.”



E no dia seguinte tenho a difícil escolha: qual deles ler primeiro? (Não sou do tipo que lê três livros ao mesmo tempo, gosto de saborear cada página, dou a cada um o seu tempo, gosto de viver cada emoção e ficar extasiada com cada reviravolta). Nessa doce e complexa escolha, lá se foi mais um dia inteiro, mas não faz mal, aquele sentimento secreto ainda está presente.

Depois de escolhido, levo um tempo para começar a ler, porque eu sei que se eu começar ele vai acabar... Mas começo e depois disso eu nunca consigo me controlar, quero ler o livro inteiro em um só dia, devorar cada página e me contorcer a cada novo golpe empregado.

Ah, que doce sensação...

Mas, quando o livro começa a acabar, me sinto derrotada, pois saber que o fim está próximo me causa sofrimento. Deve ser por isso que gosto de livros em série, por ter a certeza que haverá um próximo encontro, mas até séries chegam ao fim, e talvez por isso eu nunca tenha comprado o último livro das séries que tenho.

A última vez, comprei todos os volumes de uma vez, com o pensamento: “Agora eu termino pelo menos uma série”. Pobre de mim, mal sabia que, por tê-los todos, não teria a coragem de começar...  

Gosto também de “livros únicos”, embora o fim seja mais rápido eu fico adiando esse momento, leio uma pagina e saio, (mesmo morrendo de vontade de terminar), volto, releio algumas páginas e depois sigo até o fim, e fico com uma sensação de fim de relacionamento: “não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”.


E me dou o prazer de sofrer com o fim, como uma namorada abandonada.


Kayla Maihery.

Um comentário:

Eileen disse...

AMO esse conto da Clarice! Ela traduz com tanta precisão a agonia de esperar para ler um livro desejado... Que delícia seu texto! Obrigada por esse presente!