Hoje,
não sei bem o porquê, acordei com um conto na cabeça. A doce Clarice, que sempre
me alegra com seus contos intrigantes e nada convencionais, fez esse para mim. Felicidade
Clandestina é o meu conto-encanto de hoje.
Sou
ratinha de livrarias e isso não é nenhum segredo, compro todos que posso assim como
todo bom amante de livros, e nesse momento sou a pessoa mais feliz do mundo e
todo mundo pode ver, mas quando chego em casa... Saboreio bem devagar a minha
felicidade clandestina.
“Até o dia seguinte eu
me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar
num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.”
E
no dia seguinte tenho a difícil escolha: qual deles ler primeiro? (Não sou do
tipo que lê três livros ao mesmo tempo, gosto de saborear cada página, dou a cada
um o seu tempo, gosto de viver cada emoção e ficar extasiada com cada reviravolta).
Nessa doce e complexa escolha, lá se foi mais um dia inteiro, mas não faz mal,
aquele sentimento secreto ainda está presente.
Depois
de escolhido, levo um tempo para começar a ler, porque eu sei que se eu começar
ele vai acabar... Mas começo e depois disso eu nunca consigo me controlar,
quero ler o livro inteiro em um só dia, devorar cada página e me contorcer a
cada novo golpe empregado.
Ah, que doce
sensação...
Mas, quando o livro começa a acabar, me sinto derrotada, pois saber que o fim está próximo
me causa sofrimento. Deve ser por isso que gosto de livros em série, por ter a
certeza que haverá um próximo encontro, mas até séries chegam ao fim, e talvez
por isso eu nunca tenha comprado o último livro das séries que tenho.
A
última vez, comprei todos os volumes de uma vez, com o pensamento: “Agora eu
termino pelo menos uma série”. Pobre de mim, mal sabia que, por tê-los todos, não teria a coragem de começar...
Gosto
também de “livros únicos”, embora o fim seja mais rápido eu fico adiando esse
momento, leio uma pagina e saio, (mesmo morrendo de vontade de terminar),
volto, releio algumas páginas e depois sigo até o fim, e fico com uma sensação
de fim de relacionamento: “não era mais uma menina com um livro: era uma mulher
com o seu amante”.
E
me dou o prazer de sofrer com o fim, como uma namorada abandonada.
Kayla Maihery.
Um comentário:
AMO esse conto da Clarice! Ela traduz com tanta precisão a agonia de esperar para ler um livro desejado... Que delícia seu texto! Obrigada por esse presente!
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