segunda-feira, 29 de junho de 2015

E se objetos inanimados pudessem falar? Conversando com minha bicicleta


Desde de criança essa pergunta me assombra. E se nossos objetos pudessem falar? O que eles diriam?!

Eis que foi com surpresa que me vi em um extenso diálogo com minha bicicleta hoje. Parece loucura, mas acreditem, ela, dona Olívia, disse e desdisse hoje tudo que ela sempre quis. Antes de dizer o teor da nossa conversa, eu devo dizer algumas coisas importantes.

Primeiro é que Olívia é muito diferente de mim, ela tem a pele escura e os cabelos claros, eu tenho a pele clara e os cabelos escuros; ela é magrelinha e elegante; eu sou eu (isso basta para os entendedores). Nossa relação é moderna, ela me carrega nos dias de seca para a UnB e nos dias de chuva e férias fica com seus parentes no bicicletário.

Bem, a seca começou, tirei Olívia do pó e enchi seus pneus. Passeamos um bocado nessas duas semanas, indo e voltando para a UnB. Hoje, ao pegá-la, sua corrente estava fora da engrenagem! =O Obra da minha mãe que usou Olívia para ir ao eixão e voltou reclamando do seu banco duro.

Coloquei a corrente na engrenagem e vi se ela estava apta para o caminho de sempre. Até então era um dia normal, e Olívia continuava sem palavras (como sempre). Ao chegar na UnB prendi Olívia junto a escada, isso eram 8h da manhã. Vocês não imaginam o tamanho da minha surpresa quando achei ela soltinha, soltinha, com o cadeado quase caindo para o subsolo, era próximo das 11h30. Ela deve ter passado horas desprotegida! Que lástima! Voltei a prendê-la e segui para meus compromissos, com medo de não encontrá-la na volta.

Fonte da imagem: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/d0/8e/03/d08e03ebd2530fc2b93ab1c69c78c649.jpg

Mas encontrei, contudo Olívia estava num mal humor do cão. E ela ladrou para mim:
"Você não me valoriza!"e "Nada de me peladar hoje!".
Eu fiquei sem entender, mas ela desatou a falar que hoje não era um bom dia para ser pedalada e que ela não estava gostando de mim naquele momento. Ora, não sei se você já passou por isso, de uma bicicleta falar com você, mas eu aconselho a concordar com o que ela sugere e tocar a vida. Assim, eu falei que a levaria para casa, que não subiria ela e que andaríamos lado a lado.
"Eu quero isso mesmo, e nada de se apoiar como um peso morto em mim!". Ela reclamou.
E assim nós fomos, ladeira acima, lado a lado. Eu mostrei para ela que a textura a grama verde é diferente da grama seca, mostrei como fazemos para atravessar a faixa de pedestres de modo seguro e a andar sem se arrastar nas paredes (pois além de machucar, nos suja). Ela era uma companheira exigente, queria seguir pela calçada, queria usar as rampas e claro queria um caminho novo (e não o caminho de sempre).
Às vezes, quando me distraia, eu deixava meu peso sobre ela e  eu logo era despertada por um grito "Não se apoie em mim!". Foi mal, foi mal, Olívia! Ela chutou meu joelho com seu pedal em retaliação.

Foi muito díficil convencer Olívia a me perdoar, precisei utilizar de toda a minha lábia para convencê-la que sou uma boa dona.
Ela ganhou confiança em mim de novo, e eu não a deixei na mão em nenhum momento...
Pelo menos até chegar ao bicicletário, em que encontrei um vizinho (que surpresa!). E de repente, o momento de exclusividade e intimidade entre mim e Olívia se evaparou. Sem querer deixei ela cair no chão, mas antes bati nela com a porta do bicicletário. Céus!

"Desculpa, Olívia!" Eu disse, morrendo de vergonha de mim (pelo vizinho) e sentindo o coração partido por deixá-la no bicicletário sem me despedir de modo cortês.

Amanhã, ela terá todas as oportunidades de me derrubar, e com direito. Melhor eu já ir preparando um pedido de desculpas.

Fonte da imagem: http://happyciclistas.cl/wp-content/uploads/2014/04/570-bici-peces.jpg

O que sua bicicleta diria, se pudesse falar? E seu celular pudesse conversar por alguns minutos com você? Te chamaria de preguiçoso por adiar o despertador? Suas chaves te chamariam a atenção por você jogá-las na bolsa e depois reclamar que elas arranharam tudo ali? Seu caderno o elogiaria pela organização?


Escrito por: Júlia, a menina que conduz Olívia.

Uma curiosidade, eu sempre me referi a ela como Hermes, mas hoje ela me corrigiu, dizendo que seu nome era Olívia, vai entender.


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