quarta-feira, 5 de abril de 2017

Mergulhando em Aves de María Julia Garrido e David Daniel Hernandéz

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O livro Aves chamou minha atenção desde a capa, tanto o estilo de gravura, quanto a escolha de usar preto e branco são muito interessantes, assim como a imagem da capa, um ganso, meio gordinho, voando, mas não da maneira tradicional, numa máquina de voar, solitário.

Abrindo o livro, logo antes da história começar a presença de uma pena meio molhada se destaca; aqui a experiência de participar de uma leitura dialógica finalmente começa, as diversas possibilidades que os participantes levantaram a partir daquela simples pena fizeram com que eu me impressionasse. E essa riqueza de visões se apresentou novamente, quando um guarda-chuva apareceu junto ao título da história Aves. Não foi um pássaro, uma pena, nem mesmo um ninho, mas sim um guarda-chuva, a imagem escolhida para representar o título, isso me deixou muito intrigada, e eu não pude deixar de refletir sobre a ligação desse objeto com a pena caída. 


Com o andamento da leitura começa a se formar um padrão, visível a, eu acredito, todos os presentes na sala. Esse mundo das aves, que geralmente é visto como alegre e colorido, nos é apresentado de uma maneira inédita, nessa versão as aves estão sempre apáticas e abatidas, num mundo cinza e com a atmosfera pesada. Já no começo, outro aspecto do livro se sobressai, a anatomia dos pássaros tem características muito humanas, como asas que mais parecem braços com mãos; patas escondidas dentro de sapatos e até mesmo a barriga de um deles parece muito mais com a de um homem acima do peso, do que a de um pássaro gordinho. Mas, infelizmente, essas não são as únicas semelhanças que encontramos entre as duas espécies. Durante todo o livro vemos um paralelo com a própria história da humanidade, isso fica mais claro a cada página. Encontramos a comparação do sistema solar baseado em ovos, que parece ser uma referência à teoria do geocentrismo, e as invenções deles que se pareciam tanto com várias invenções humanas. Além disso, há brigas e mortes dentro da própria espécie; a tentativa de usar a exploração de outros animais como lazer, e até mesmo a representação do cenário que me lembrou bastante a atmosfera de filmes e fotos que retratam a época da revolução industrial. 

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Voltando ao guarda-chuva, que causou uma curiosidade muito maior do que eu esperava. Em várias páginas, no meio de muitas discussões lá estava, sempre o misterioso guarda-chuva. E digo misterioso, pois em nenhum momento, há indicativos de chuva, ou mesmo de outras fontes naturais de água! Qual a necessidade de se ter um guarda-chuva sempre por perto? E justamente a partir dessa reflexão me veio a consideração de que talvez o curioso guarda-chuva fosse uma metáfora para o medo que esses pássaros sentem de algo que não sabemos e que talvez ocorrido antes mesmo do começo da história. Lembrei também daquela pena molhada, posicionada estrategicamente antes do título do livro. Imaginei a possibilidade de que uma tempestade muito forte tenha gerado um caos tão grande na vida dessas aves que elas tenham ficado traumatizadas. Talvez com medo de serem acometidos novamente por uma tragédia desse tamanho, elas tenham tentado a todo custo se proteger e tenham se perdido em algum lugar desse “desenvolvimento”, perdendo também sua essência. E essa triste realização se confirmou no final da história, no mesmo momento em que as esperanças, tanto dos pássaros quanto as minhas, são restauradas. Uma pequena filhote, diferente das outras aves, parece ter coragem suficiente para superar esse trauma coletivo e para tentar (re)aprender a voar.

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É claro que minha visão é uma das muitas que vieram ao longo da contação. E, talvez, tenha sido isso que mais se destacou para mim em toda essa experiência, a riqueza de pontos de vistas. Eu tenho certeza que as imagens projetadas no quadro eram as iguais para todo mundo, mas tenho mais certeza ainda que cada um de nós via algo diferente. Não existia certo e errado, existia o diferente, que inclusive, me fez perceber em cada imagem detalhes que eu não tinha visto antes. Lembro que alguém disse que a página onde apareceu um ganso em uma máquina de voar representava para ele uma crítica social. Na página onde vi uma briga de rua, viram guerras e até mesmo uma trágica cena de suicídio. Alguém acreditava que o guarda-chuva era um símbolo de status social e outro achava que era uma metáfora para as asas, agora inutilizadas, dos pássaros. 

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Eu realmente fiquei emocionada com a possibilidade de vivenciar isso junto a todo o grupo, e com a liberdade de poder compartilhar minhas próprias impressões e de, assim como todos os participantes, deixar de lado a posição passiva de ouvinte, para participar da evolução da leitura.

Escrito por: Gabriela Medeiros

Ficha Técnica:
Aves
Autores e Ilustradores: David Daniel Álvarez Hernández e María Julia Díaz Garrido

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