segunda-feira, 29 de abril de 2013

Retrospectiva 2012: o ano dos quadrinhos!


Ano passado fiz mediações de leitura com uma turminha do segundo ano do primeiro período do ensino fundamental. Nessa época comecei a me envolver mais com as novelas gráficas e decidi compartilhar este interesse com as crianças. O termo “novela gráfica” vale tanto para as histórias fechadas, com narrativas análogas ao romance e a prosa quanto para edições “encadernadas em formato de livros de histórias seriadas em revista” [1]·.
Escolhi três quadrinhos que ilustram esta linguagem artística tão admirada por pessoas de todas as idades: O chinês americano, de Gene Luen Yang; Batman - crônicas volume 1, de Bob Kane e O surfista prateado volume 1, de Stan Lee & John Buscema.
Cheguei a ter alguns receios... Novelas gráficas juvenis para crianças entre 7 e 8 anos...será possível? Mas a pergunta é ainda maior: É possível apreender tudo de uma só vez em uma história? É necessário?
Pensando na nossa própria experiência, quando saímos do ensino médio e vamos para a universidade um novo mundo literário se revela. Dos livros didáticos a compêndios de literatura, filosofia, história entre outros. E não compreendemos tudo, assim, de uma só vez. É preciso releitura, pesquisa, discussão, reflexão, e, sobretudo, tempo. Como diz Ricardo Azevedo “a leitura, como muitas coisas boas da vida, exige esforço e (...) o chamado prazer da leitura é uma construção que pressupõe treino, capacitação e acumulação” [2].
Não devemos fazer pouco da capacidade de nossos pequenos em (re) inventar significados e interpretações. E se há dúvidas podemos aprender com eles a reler e encontrar novidade na releitura. A repetição para as crianças nunca se dá na mesma forma. Elas conservam a antiga sabedoria “não se entra em um rio duas vezes”. Há sempre algo novo a descobrir.
Ao ler os quadrinhos com eles todos os meus receios se foram e nós nos divertimos muito!
Escolhi começar com O chinês americano enquanto os outros dois quadrinhos seriam os “satélites” das nossas leituras. É que o primeiro é uma única narrativa longa, e os outros, de super-heróis, são formados por várias histórias. Acho que acabei escolhendo esse caminho porque costumo ser assim no dia a dia, leio várias coisas ao mesmo tempo, algumas até o final, outras ficam pela metade. De qualquer maneira, o que importa é que deu certo! Eu costumava  levar os três quadrinhos e perguntar: vamos continuar com O chinês americano ou vamos dar uma pausa e ler alguma história dos nossos super-heróis? Começávamos o processo democrático de levantar o dedinho e escolher conforme a maioria.
O chinês americano (American born chinese)  foi escrito e ilustrado por Gene Luen Yang (Califórnia, 1973). É a primeira graphic novel a ganhar o prêmio Michael L. Printz Award de excelência em literatura para jovens adultos da American Library Association de literatura juvenil. Também foi finalista do National Book Award e indicado ao Eisner de melhor álbum original.
A narrativa é composta por três histórias paralelas: a de Jin Wang, garoto americano, filho de imigrantes chineses, a de Danny, estudante americano que recebe a visita de um primo chinês Chin-Kee, e de outra inspirada na antiga lenda do Rei Macaco que rejeitado pelos deuses decide subjugá-los utilizando as disciplinas mágicas do Kung Fu, para depois renegar a sua própria natureza. As três histórias juntas tratam de identidade, diferença, conflito e preconceito étnico de uma maneira leve, sem dogmas moralizantes. Já os quadrinhos de super-heróis decepcionaram um pouco. A garotada acostumada com os filmes de ação e vídeo-game achou meio sem graça as histórias antigas e inocentes de Batman e do Surfista Prateado. Iam afoitos para os quadros de ação e me perguntavam “cadê o sangue?” (!).
A DC Comics lançou em um único livro as primeiras histórias do Batman em ordem cronológica de maio a dezembro de 1939, e de janeiro a abril de 1940.
A primeira história que escolhemos foi “Blake, o ladrão de jóias Francês” (capa: Fred Guardineer; roteiro: Bill Finger; arte: Bob Kane; p.12), que começa dando o tom da personalidade de nosso herói “Ele é Bruce Wayne, um entediado jovem milionário...”.
Batman, por meio de um informante do departamento de polícia, tem acesso ao mundo do crime. Ele flagra o roubo de jóias e é surpreendido por policiais. Estes acabam tomando Batman por chefe da gangue. Porém, isto fora premeditado por Batman que queria despistar os criminosos e assim prender Blake, o francês.
Entre uma leitura e outra de O chinês americano nós também lemos as histórias de Robin, Coringa e Mulher-Gato.
Alguns grupos escolheram O Surfista Prateado (Silver surfer), de Stan Lee & John Buscema, edição da Biblioteca Histórica Marvel, volume 1. Anunciado como o “novo épico literário Marvel”, essas primeiras histórias contam a origem do “Sentinela das estrelas”. As crianças ficaram empolgadas com esse HQ, muitas só conheciam o herói pelo cinema.
Sobre adaptações, produção industrial e “aventuras ingênuas” indico este artigo do crítico de quadrinhos Ciro Inácio Marcondes http://www.raiolaser.net/2011/04/o-poderoso-thor-ou-stan-lee-enquanto.html. O Ciro é um colaborador anônimo do nosso projeto (agora nem tanto) sempre dando dicas e emprestando quadrinhos do seu acervo.
Nesta crítica ele tem como foco outro herói de Stan Lee, também levado as telas de cinema, “O poderoso Thor”. É interessante como ele chama atenção às ideologias políticas por trás das histórias de super-heróis. Apenas uma ressalva: com um empurrãozinho as crianças chegam a problematizações mil!
Up, up and away!

Suelem Jobim



[2] AZEVEDO, Ricardo. Formação de leitores e razões para a literatura, p.1.

Um comentário:

All you need is blog... disse...

Li recentemente O Chinês Americano e recomendo a todos! Uma história com histórias aninhadas, de um modo não-linear, surpreendente e muito gostoso de ler!
Para as crianças, traz possibilidades mil de problematizações.
Suelem, fiquei curiosa sobre como você adaptou a leitura dialógica para as graphic novels. Precisou fazer algumas modificações na forma de interação? Se puder, poste algumas dicas a partir de sua experiÊncia. Obrigada pelo post, muito interessante!