quinta-feira, 11 de abril de 2013




Na paz galera!

Gostaria de compartilhar com vocês uma experiência de como a leitura foi importante para mim de uma forma inusitada.
       Eu sou de São Paulo e na época vivia lá, estava no cursinho preparatório para o vestibular, estudava bastante e embora gostasse de me dedicar aos estudos, tendo em vista conquistar uma vaga na universidade, o estresse era inevitável.
       Começou então nos metrôs de São Paulo um projeto que levava poesia para as estações do metrô, em cada estação um trecho diferente de alguma obra da literatura lusófona.
       Eis que um dia enquanto descia pelos degraus vi o seguinte poema na parede:
       
“O Mistério das cousas

O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: –
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas”
Fernando Pessoa
O Guardador De Rebanhos
Alberto Caeiro

Praticamente todos os dias enquanto retornava para casa e via aquela multidão de gente se acotovelando para entrar no vagão, eu parava, ali na escada, lia esse trecho, que me fazia estar num outro mundo, um menos complicado, e eu que sempre tive uma queda por coisas simples me sentia tão bem, essas palavras ficavam ecoando pela minha mente, eu também “ria como um regato” pois via que tantas peocupações não tinham sentido, que nada devia ser tão complicado, que as “cousas” eram simplesmente aquilo que eram e não havia nada além daquilo que os meus sentidos sentiam, isso me ajudou a ser uma pessoa mais simples e nessa simplicidade eu encontro a paz.

Gabriel Januário de Mare

3 comentários:

All you need is blog... disse...

Que lindo! Sem palavras.

SSJ disse...

Muito lindo o poema e a sua experiência com ela, com a vida...

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...

Obrigado pelos comentários, a poesia em língua portuguesa se destaca mundialmente, temos ótimos escritores e deveríamos aproveitar isso, fico feliz em ter passado um pouco de sentimento no meu texto, já que para mim foi uma experiência significativa. (Gabriel)