quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como leitora, tornei-me contadora

Opto hoje por falar da minha experiência como leitora e o quanto isso tem direcionado meu olhar como contadora. Desde pequena gostei de histórias e mais especificamente desenvolvi muito cedo minha paixão por livros, sempre os pedia de aniversário ou Natal. Algumas das histórias me marcaram muito como “O coelhinho das orelhas caídas”. Além disso, sempre tive uma dificuldade muito grande de me desfazer dos meus livros. Raramente tinha apego por bonecas ou roupas, mas os meus livros... minha mãe tinha uma dificuldade enorme de doá-los.
Quando criança minha mãe não tinha problemas comigo ao fazer compras no shopping, por exemplo. Era só me deixar em uma livraria que eu podia passar horas a fio vasculhando todas as obras infantis, ainda que fosse sair de lá sem nenhuma.
Pelos professores e familiares sempre fui considerada como concentrada naquilo que eu fazia e conseguia me dedicar muito à leitura e à escrita. Hoje, como contadora de histórias, fico me perguntando se é extremamente necessária essa concentração para se dedicar a uma leitura instigante. Falo isso porque tenho visto com frequência alguns professores acusando crianças de não prestarem atenção por serem extremamente agitadas e não conseguirem ouvir. Por outro lado vejo que na contação, mesmo as crianças que levantam, correm pelo pátio , rodam, pulam e brincam, voltam para a roda de história e fazem uma pergunta extremamente coerente e que se encaixa no contexto da história.
Penso que algumas variáveis podem estar envolvidas nesse não- engajamento da criança em algumas leituras, como uma história não envolvente, a presença de muitas crianças na sala de aula, um contexto onde é prezada a contação pura e simples da história, sem o envolvimento do que a criança traz da sua vida ou sem o espaço para sua imaginação; e além disso a falta de consideração pelos diferentes interesses dos alunos.
Como contadora e leitora gosto muito do livro como instrumento, mas acredito que ele, como instrumento, pode ser extrapolado, especialmente quando se trabalha com criança. Eu, por exemplo, enquanto leitora, não consigo ler sem parar um livro. Preciso, muitas vezes, dar uma pausa, correlacionar o que li com a minha vida, imaginar o que se passará no próximo parágrafo. Acho que em muitos momentos e para muitas pessoas isso faz parte de uma boa leitura.

Por esse motivo, acho que quando estamos na posição de contadores, nós devemos pensar no momento em que somos leitores, a fim de não usar mecanismos que façam da leitura algo monótono e cansativo, aquilo que não nos interessaria de forma alguma. Por que então usaríamos essas estratégias na contação para e com as crianças? Acredito, portanto, que antes da minha experiência acadêmica, a minha história como leitora me fornece insumos para uma contação, especialmente a dialógica, que envolva as crianças na leitura e permita que eu esteja mais atenta às demandas que elas trazem para a hora da história.

Nathália Oliveira 

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