Opto hoje por falar da minha experiência como leitora e o
quanto isso tem direcionado meu olhar como contadora. Desde pequena gostei de
histórias e mais especificamente desenvolvi muito cedo minha paixão por livros,
sempre os pedia de aniversário ou Natal. Algumas das histórias me marcaram
muito como “O coelhinho das orelhas caídas”. Além disso, sempre tive uma
dificuldade muito grande de me desfazer dos meus livros. Raramente tinha apego
por bonecas ou roupas, mas os meus livros... minha mãe tinha uma dificuldade
enorme de doá-los.
Quando criança minha mãe não tinha problemas comigo ao fazer
compras no shopping, por exemplo. Era só me deixar em uma livraria que eu podia
passar horas a fio vasculhando todas as obras infantis, ainda que fosse sair de
lá sem nenhuma.
Pelos professores e familiares sempre fui considerada como
concentrada naquilo que eu fazia e conseguia me dedicar muito à leitura e à
escrita. Hoje, como contadora de histórias, fico me perguntando se é extremamente
necessária essa concentração para se dedicar a uma leitura instigante. Falo
isso porque tenho visto com frequência alguns professores acusando crianças de
não prestarem atenção por serem extremamente agitadas e não conseguirem ouvir.
Por outro lado vejo que na contação, mesmo as crianças que levantam, correm
pelo pátio , rodam, pulam e brincam, voltam para a roda de história e fazem uma
pergunta extremamente coerente e que se encaixa no contexto da história.
Penso que algumas variáveis podem estar envolvidas nesse
não- engajamento da criança em algumas leituras, como uma história não
envolvente, a presença de muitas crianças na sala de aula, um contexto onde é
prezada a contação pura e simples da história, sem o envolvimento do que a
criança traz da sua vida ou sem o espaço para sua imaginação; e além disso a
falta de consideração pelos diferentes interesses dos alunos.
Como contadora e leitora gosto muito do livro como
instrumento, mas acredito que ele, como instrumento, pode ser extrapolado, especialmente
quando se trabalha com criança. Eu, por exemplo, enquanto leitora, não consigo
ler sem parar um livro. Preciso, muitas vezes, dar uma pausa, correlacionar o
que li com a minha vida, imaginar o que se passará no próximo parágrafo. Acho
que em muitos momentos e para muitas pessoas isso faz parte de uma boa leitura.
Por esse motivo, acho que quando estamos na posição de
contadores, nós devemos pensar no momento em que somos leitores, a fim de não
usar mecanismos que façam da leitura algo monótono e cansativo, aquilo que não
nos interessaria de forma alguma. Por que então usaríamos essas estratégias na
contação para e com as crianças? Acredito, portanto, que antes da minha
experiência acadêmica, a minha história como leitora me fornece insumos para
uma contação, especialmente a dialógica, que envolva as crianças na leitura e
permita que eu esteja mais atenta às demandas que elas trazem para a hora da
história.
Nathália Oliveira
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