sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Aventuras com a literatura na infância


Quando iniciei a minha jornada no fantástico universo da leitura, eu tinha pouco mais de cinco anos de idade; e nesse caminho aconteceram algumas histórias curiosas que eu gostaria de compartilhar com vocês leitores/as.

Houve uma época que quase todo final de semana eu passava na casa de meu tio-avô Raimundo. Na casa dele, bem lá nos fundos, havia um depósito com um monte de coisas esquecidas: bolas, bonecas, bolsas, panelas e livros! Muitos livros! Fiquei encantada com três deles, dos quais infelizmente não consigo recordar os nomes, mas eles foram bem especiais para mim. Meu tio avô permitiu que eu ficasse com eles, tamanha deveria ser a minha empolgação. Nesse período, eu ainda estava aprendendo a ler, então eu ficava inventando histórias para aqueles personagens, dando nomes a eles e interpretando as imagens.

Ainda naquele ano, viajei de barco para a ilha de Marajó, passar as férias com a família. Como a viagem é longa, tratei de colocar os meus livrinhos na mala para passar o tempo. Durante o trajeto, ao lado da minha rede, havia uma mulher com um sorriso muito bonito,  ela era branquinha, branquinha e suas bochechas eram bem rosadas. Ela percebeu que eu não largava os livros, e para interagir comigo, fazia perguntas sobre a história que eu estava lendo. A mulher das bochechas rosadas folheava os livros e inventava histórias a partir das ilustrações, assim como eu. Umas das coisas que me cativou nela, foi que ela prestava atenção em mim, e dava importância para o que eu pensava. O nome dessa pessoa mágica era Genilsa. Era apenas o início de uma grande amizade. Definitivamente essa viagem ficou marcada pra sempre na minha história.

Não me recordo muito do mês que passei na ilha, mas lembro que depois dasrias acabarem, tudo voltou ao normal. Mas nem tanto, afinal tínhamos uma nova integrante na família! E que ainda por cima morava bem próximo de casa.
Minha mãe e eu fazíamos muitas visitas, e na primeira vez que fomos na casa da Genilsa, ela me levou até a estante da sala, que era cheia, eu disse cheia de gibis da turma da Mônica. Parecia um sonho! Ela colecionava revistinhas da Mônica! Ficamos o final de semana todo na casa dela. E foi lá, entre os gibis, que "de uma hora pra outra" eu me percebi que lendo as histórias em quadrinhos. Eu não mais inventava, agora já conseguia desvendar os mistérios que haviam por trás daquelas letras como num passe de mágica.

No mês de outubro, que é o mês do círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém, uma festa tradicional para os católicos da cidade e do Estado, um amigo da família que eu considerava como se fosse meu tio fora passar a festividade na cidade. Lá estava eu, super empolgada com a estadia do tio Piska em casa, mas esse acontecimento não me impediu de ir para aula normalmente :(
Na escola, estando prestes a bater o sinal do recreio, a professora me chamou para me entregar o texto que eu tinha escrito alguns dias. Ela ficou bem feliz com o que eu escrevera e não poupou nos elogios. Eu, claro, fiquei muito contente com o resultado do meu trabalho. Mas nem todos ficaram...
Quando o sinal do recreio tocou, guardei o papel que continha o texto na mochila e sai para lanchar, nesse dia o lanche era mingau de aveia. Após eu repetir uma, duas, algumas vezes o lanche, comprei uns pirulitos e voltei pra minha sala.
Quando eu abri minha mochila, para minha surpresa,estava a carta toda molhada de mingau. Fiquei por uns segundos sem entender o que havia acontecido, mas não demorou muito pra eu perceber quem tinha feito, pois a responsável não parava de me olhar. Era a Safira, uma garotinha que não ia lá muito com a minha cara, mas que de vez em quando fingia ser minha amiga. Não lembro o que aconteceu na escola, se eu contei pra professora...
Mas ao chegar em casa, contei aos prantos pra minha mãe o que tinha ocorrido. Meu tio Piska escutou e veio falar comigo, na conversa ele me disse que tão logo chegasse em casa, ele providenciaria alguns livros para mim.

Passado algumas semanas eu acabei esquecendo o que ocorrera com a carta e da promessa dos livros que meu tio fez. Nesse meio tempo começaram a surgir livros misteriosamente em casa, ninguém sabia me dizer de onde vinham. Só que eu não parava de pensar de onde eles estavam surgindo. Até que um dia catando um giz de cera debaixo da cama, encontrei uma caixa de papelão cheia de livros infantis, pra todos os gostos, dos mais diversos. Livros com dobraduras, livros de ciranda, contos, poesia. É, realmente meu tio Piska havia cumprido o que prometera.

Minha tia contou que ela queria que eu fosse descobrindo os livros um por um, e dessa forma eu iria valorizá-los mais e assim também eles não se perderiam nas minhas brincadeiras. Ela queria ter certeza que eu cuidaria de todos com o cuidado que eu tive com aquele único texto ensopado de mingau, e que mesmo sendo apenas um papel, eu cuidava como muito zelo.

Esse foi apenas um episódio da minha infância, uma parte que tenho guardado no fundo do coração. Ao refletir sobre o quanto que a leitura ocupa um lugar especial na minha vida, percebo claramente que a forma como essas pessoas que citei mediaram essa experiência foi fundamental para eu desenvolver essa relação prazerosa com os livros ainda hoje.

E é por acreditar e apostar nessa mediação dialógica que nesse semestre escolhi participar de um projeto como o "Livros Abertos".

Com carinho, livros e braços abertos,

Samara Alencar.

2 comentários:

All you need is blog... disse...

Que história mais linda! O que Maia me tocou foi como suas experiências de leitura se entrelaçam com amizades. Os livros e as leituras de nossa vida são também os laços que criamos com os outros.

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Que história mais linda! O que Maia me tocou foi como suas experiências de leitura se entrelaçam com amizades. Os livros e as leituras de nossa vida são também os laços que criamos com os outros.