Meu
contato com os livros vem desde pequenininha. Meu pai é professor e tanto ele
quanto a minha mãe sempre valorizaram muito a leitura. Antes de eu aprender a
ler, todas as noites, um dos dois vinha até a minha cama com um livro e me
contava uma história antes de eu dormir. Meus pais contam que eu implorava para
que eles me ensinassem a ler logo. Quando eu finalmente aprendi, isso se tornou
até um tipo de problema. Eu reclamava
que não conseguia deixar de ler mais nada e quando estava no carro, ficava
lendo TODOS os anúncios que passavam. Era incontrolável.
O
primeiro livro que eu mesma li (sozinha, mas com a ajuda dos meus pais) foi “O
menino maluquinho”, clássico do Ziraldo. Lembro-me de me reunir na cama com
meus pais, deitada no meio deles, e com dificuldade eu lia algumas poucas
páginas, juntando as sílabas devagar. Na minha lembrança o livro era muito
grosso e eu demorei muito para terminar a leitura. Mais do que as palavras, o
que marcou a minha memória foram as ilustrações divertidas do menino que tinha
as pernas tão grandes que eram capazes de abraçar o mundo.
Minha
jornada começou neste livro e desde então eu já li os mais variados estilos. Já
ri alto sozinha, já molhei páginas com lágrimas, já virei noite para saber o
que iria acontecer, já fechei os olhos por não querer saber o que iria
acontecer. Já xinguei, já amei, já viajei para todos os lugares que a minha
imaginação conseguiu alcançar.
Então
um dia desses eu estava no acervo de livros do projeto e comecei a passar pelas
estantes olhando alguns títulos. Vários me faziam sorrir e traziam lembranças
daquela infância que me faz tanta falta. Até que... Lá estava ele: O menino
maluquinho! Eu não pensei duas vezes, abri o livro e comecei a ler, saboreando
e apreciando cada palavra e cada figura que vinham recheadas com o sabor da
saudade. Em pouquíssimo tempo eu estava no final daquele livro “enorme” que uma
vez eu havia demorado uma eternidade para ler. Dessa vez, a leitura foi bem
mais rápida do que eu gostaria, e por mais que eu lesse devagar, não consegui
prolongar aquele momento. Voltei a ser criança, mesmo agora lendo o livro com
outros olhos, e no final chorei.
www.ziraldo.com/menino |
Ali
estava eu estampada no livro: o menino maluquinho e feliz que teve que crescer.
Não conseguimos escapar do tempo. Aproveitamos a nossa infância ao máximo e por
isso mesmo é tão difícil crescer. Vi-me no livro e aquilo me emocionou
encantadoramente.
Tenho
certeza que o menino maluquinho ainda está ali, dentro do cara de terno que
aparece na última página. Eu tenho essa certeza porque sei que a minha menina
maluquinha ainda está dentro de mim. Ela se acende em cada leitura que faço com
as crianças e tempo nenhum poderá tira-la daqui.
www.ziraldo.com/menino |
Amanda Luma
2 comentários:
Que bela narrativa Amanda! Fico encantada ao ler sobre as infâncias das pessoas. É impressionante como nesse momento estamos tão atentos aos mínimos detalhes; e como eu ouvi alguém dizer um tempo atrás, a vida é feita de detalhes. As crianças têm o privilégio de estarem no tempo mais inteiramente, o que as possibilita apreciar esses detalhes que dão sentido a vida.
Fofa! Gostei muito de ler algo tão simples, mas que parece tão importante pra Amanda criança e que, de certa forma, ajudou a Amanda adulta a se tornar quem é.
Postar um comentário