É costume de alguns professores afirmarem, na faculdade, que
aprendemos errado no decorrer da vida, que o certo é assim, assado. Aluna da
matéria Introdução à Literatura, ouvi que aquela história de que “ler um livro
é uma viagem”, é pura balela, com a justificativa de que, na literatura, olhamos
para nós mesmos, sendo ela uma imagem nossa, além de trazer reflexões e
questões acerca do mundo.
Não discordo da justificativa, que, na minha opinião, pode
ser verdade em vários momentos, mas tenho que defender algo que alguns
mediadores e amantes das histórias sentem: a viagem que é ler um livro.
Ao sentar e abrir um livro, consigo me sentir na floresta
desbravando caminhos obscuros, no apartamento pequeno escondida de quem não me
quer por perto, na juventude dos que aproveitam a vida, na história de amor dos
que se entregam, no campo de concentração dos que foram injustiçados, no meio
do lixão dos que trabalham duro pra ter um canto e o que comer, nas aventuras
boêmias dos doce 20 e poucos anos – ou mais, por que não? –, nas façanhas de um
mundo imaginário onde se comemora o desaniversário, na infância sofrida ou
divertida de um personagem curioso, no cotidiano do interior do país ou em um
contexto completamente diferente do que conheço ou sou acostumada.
Ao sentar e abrir um livro com as crianças, não é nada
diferente. Sinto-me na mesma fazenda, junto do porquinho procurando o lobo
escondido em todos os lugares. Sinto-me na viagem pra casa da vó, na rua
apertando a campainha e correndo, colecionando aventuras. Sinto-me debaixo da
árvore aproveitando a sua sombra, no meio da mata ouvindo a conversa dos
animais, no planeta pequenino de um menino menor ainda, na escola com a professora
Maluquinha, no dilema de como pegar uma estrela – do céu, do mar? –, na cabeça
das crianças imaginando, afinal, para que
serve um livro...
A leitura mexe com nossa sensibilidade, e o livro se releva
a partir da experiência do leitor com o que se lê, sendo então algo particular
de cada um. Pra mim, ler é sim uma aventura, é sim uma viagem, e se essa é uma
visão muito boba do que um livro pode ser, não me importo de continuar - também – com ela.
Raylane
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