quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dia Nacional do Livro Infantil: Reflexões sobre a escola e a leitura



Por Maria Freire[1] e Eileen Pfeiffer Flores

Olá, caros leitores! A leitura está, realmente, na pauta do dia. Hoje estamos festejando o Dia de Monteiro Lobato e o Dia Nacional do Livro Infantil. Ao mesmo tempo, em comemoração aos 52 anos de Brasília, a cidade está sediando, desde 14 de abril, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, com o compromisso de transformar Brasília na capital do livro e da leitura. Vale a pena conferir a programação, que tem muita coisa interessante, entre seminários, palestras, lançamentos, bate-papos com escritores, música, poesia e performances. Um dos focos da Bienal é a questão das políticas para ampliação do acesso aos livros e a formação de novos leitores.
 Como sabemos, em nosso país, para muitas crianças, o ato de ler só se inicia na escola, a qual teria a função de estimular o prazer de ler e a busca pelo saber, oferecendo meios que viessem a seduzir o aluno e despertar seu desejo pela busca dos livros e da leitura. No entanto, os últimos resultados da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro[2], foram muito desanimadores, indicando que 55% dos entrevistados não leram nenhum livro nos últimos meses (nem inteiro, nem em partes, e incluindo a Bíblia e os livros didáticos!!). Essas pessoas incluem tanto estudantes quanto pessoas formadas. Como isso é possível? O que está fazendo com que a escola, muitas vezes, afaste as pessoas da leitura, em vez de aproximá-las?
No sábado, dia 14, tivemos a oportunidade de assistir "A mediação da leitura" com representantes do PROLER, MEC e Programa Arca das Letras/MDA. A grande questão que surgiu durante o debate foi a questão do mediador de leitura. Para muitas crianças, os professores seriam os principais mediadores de leitura e a escola, o primeiro contato com livros. Mas o que se percebe é que no processo de leitura, a literatura, bem como toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo explorada como deve nas escolas. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura. É verdade que, para o leitor em formação, a aprendizagem da leitura não cabe apenas a escola, mas também a família. Mas, insistimos, a escola pode ser a primeira oportunidade de contato com o mundo da leitura para a maioria das crianças no Brasil. Se a escola não der início ao processo e não incluir a família e a comunidade, como poderá ocorrer a mudança? E, conversando sobre o seminário depois, surgiu a questão: como os professores podem ser mediadores que façam diferença se não forem, eles mesmos, leitores? Continuarão a considerar a leitura como mero entretenimento ou como pretexto para tarefas escolares.

 Finalizamos com uma citação do homenageado de hoje que expressa com perfeição o que está a nos inquietar:

A inteligência só entra a funcionar com prazer, eficientemente, quando a imaginação lhe serve de guia. A bagagem de Julio Verne, amontoada na memória, faz nascer o desejo do estudo. Suportamos e compreendemos o abstrato só quando já existe material concreto na memória. Mas pegar de uma pobre criança e pô-la a decorar nomes de rios, cidades, golfos, mares, como se faz hoje, sem intermédio da imaginação, chega a ser criminoso. É no entanto o que se faz!... A arte abrindo caminho à ciência: quando compreenderão os professores que o segredo de tudo está aqui? (Monteiro Lobato, 1923).[3]




[1] Estudante de Letras na UnB e mediadora de leitura do Projeto Livros Abertos.
[3] Citado em Bignotto, C.C. (s.d.) Monteiro Lobato e a infância na república velha. Disponível em: http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/RepublicaVelha.htm



Nenhum comentário: