Eloísa e os Bichos: 7 dicas de mediação de leitura
Para bibliotecários, educadores, psicólogos, familiares e quem mais quiser compartilhar um momento maravilhoso de leitura.
Eloísa e os bichos
texto: Jairo Buitrago
ilustrações: Rafael Yockteng
tradução: Márcia Leite
Editora: Pulo do Gato
Quem nunca se sentiu um bicho estranho? |
Pense numa história que, por meio de uma sinergia perfeita entre texto e imagem, capta, sem nunca dizer isso diretamente e com grande beleza, essa experiência. Essa história é a premiada Eloisa e os Bichos. O resumo está disponível aqui, se quiser saber um pouco mais da história. Mas nós gostaríamos de lhe dar algumas dicas de mediação:
1) Curta o livro antes, sozinho(a). Tome nota (mental ou no papel, mesmo) de suas reações. Você gostou? Do que gostou? Por que gostou? (Isso pode ser difícil dizer, mas é importante. Precisamos saber dizer por que as obras nos agradam ou não se quisermos ser bons mediadores.
2) Todo mundo já foi um bicho estranho alguma vez em sua vida! Ainda em sua leitura prévia, pergunte-se: que experiências minhas isso me lembra? (Algumas podem ter sido muito recentes!) Leia sobre os autores e pense também sobre as experiências deles que podem ter contribuído para sua grande sensibilidade perante o tema da imigração, da alteridade e da adaptação a mundos diferentes.
3) Observe bem as imagens e faça sua leitura. Anote o que lhe chama a atenção. Por exemplo, a mim, pessoalmente, estas foram três das coisas que me impressionaram:
a) Compare as fotos ilustradas no início e no final. Você notou as diferenças?
b) Quem está arrumando as fotos? Que momentos cada uma retrata? Como elas completam a história, por um lado, mas criam novas perguntas, por outro?
As imagens não só respondem, mas também lançam novas perguntas.. |
Isso me chamou muito a atenção e me remeteu a várias coisas, inclusive a simbologia do urso de pelúcia como objeto de transição, que nos dá segurança em momentos de separação e crescimento.
Obs. A idéia NÃO é que você leve suas impressões prontas para expô-las durante a leitura ou impô-las crianças. A idéia é que se deter e refletir durante sua leitura prévia ajudará a responder aos questionamentos e comentários das crianças de modo muito mais rico e instigante.
4) As frases são muito curtas e enxutas e, por isso mesmo, há o risco de fazer a leitura de modo mecânico se você não se ouvir lendo antes. Treine sua leitura antes em casa, várias vezes. Ouça o fluxo, o ritmo, a entonação, a musicalidade de sua voz.
5) Quando for compartilhar o livro com as crianças, sente-se de modo a que todo(a)s possam ver as páginas com facilidade. Após a primeira leitura, volte com as crianças às imagens e dê a oportunidade a elas de escolherem suas cenas favoritas, explorarem as imagens e comentarem, se quiserem.
a) Se as crianças ficarem muito presas a objetos ou aspectos isolados ("Olha a barata!", "Olha a borboleta!", encoraje-as também a fazerem uma leitura mais ampla: "O que está acontecendo aqui?" Ajude-as no processo de descrição da cena.
b) Aprofunde e passe do plano dos fatos para o plano psicológico : "Como Eloísa parece estar se sentindo? E o pai dela?" "Vocês já estiveram numa situação parecida/já se sentiram assim?" (não é preciso que contem, é apenas para instigá-los).
6) A obra é linda e ajuda a criança a elaborar o estranhamento, a alteridade, o novo e a separação. Mas faz isso tão bem justamente porque conta muitas coisas pelo que não diz. Durante suas leituras prévias, explore as alusões, aquilo que é deixado em aberto, aquilo que se pode ler nos diálogos que se tecem entre imagem e texto. Porém, siga a dica 7 quando for interagir com as crianças:
7) Faça perguntas amplas e abertas. Não "entregue o gabarito" (pois ele nem existe). Muitas vezes, queremos "fechar" alguma mensagem ou alguma conclusão com as crianças. Isso irá estragar completamente a leitura. Deixe as crianças se expressarem. Quando elas assim fizerem, siga o interesse delas, fazendo novas perguntas, sempre abertas, mas que as ajudem a elaborar o que estão pensando e sentindo.
Uma história que conta também (ou principalmente) por meio daquilo que fica sem dizer. |
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