domingo, 6 de novembro de 2011

Diário do contador por Katsumi Takaki

Na contação de hoje (04/11) levei dois livros para as crianças escolherem qual iríamos ler. Nós, do Livros Abertos, fomos avisados que as crianças poderiam estar mais dispersas durante a contação ou não demonstrassem muito interesse em participar.  No final da semana passada (27/10) faleceu uma funcionária da escola, que tinha muito contato com os alunos. Então poderia ser que eles trouxessem o assunto da morte para a roda de leitura, estivessem tristes ou um sentimento de saudade. E por isso levei Contos de enganar a morte, de Ricardo Azevedo e Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias, de Ruth Rocha. Em todos os grupos as crianças se interessaram pelos dois livros, em especial o que tratava da morte. A capa de Contos de enganar a morte chamou muito a atenção das crianças, por ser preto e branco e ter um esqueleto na frente – além do fato do tema do livro. Surpreendi-me com as risadinhas que surgiram quando eu mostrei a capa e o título do livro. Lemos dois contos, O homem que enxergava a morte e A quase morte de Zé Malandro.
Apesar de ser um tema um pouco evitado, as crianças gostaram muito das estórias. Em nenhum momento me pediram para parar ou expressaram algum sentimento contrário ao que estava sendo lido. Um dos muitos pontos positivos do livro é o fato de se permitir ver a morte com outros olhos, de escutar a sua versão sobre o que ela faz com as pessoas. “Já estou acostumada a ser maltratada. Em todos os lugares por onde ando as pessoas fogem de mim, falam mal de mim, me xingam, me amaldiçoam. Essa gente não entende que não faço mais do que cumprir minha obrigação. Já pensou se ninguém mais morresse no mundo? Não ia sobrar lugar para as crianças que iam nascer!”.

Creio que a leitura do livro permitiu às crianças verem a morte interagindo com suas “futuras vítimas” e não uma entidade que vem e leva um ente querido embora. Além disso, o tema é tratado de forma mais lúdica, em que as personagens enganam a morte diversas vezes e de diversas formas. Outro diferencial é a fala de uma das personagens quando a morte se oferece para ser a madrinha do seu filho. “O homem não pensou duas vezes: ‘Aceito. Você sempre foi justa e honesta, pois leva para o cemitério todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres.’” Houve um momento em que discutimos sobre a morte ser boa ou má. Ouvi um "Ai, tia, é claro que ela é má. Ela tira você de perto de quem você gosta, te leva embora". Acredito que muitas vezes os adultos projetam esse medo nas crianças porque a morte é uma incógnita, um mistério para muitos. E não saber o que acontece depois é algo inquietante, muito inquietante.

2 comentários:

Malu Engel disse...

Poxa, esse livro pareceu bem legal mesmo! Achei essas ilustrações fantásticas **

Mariana disse...

Adorei as ilustrações também, tipo cordel !