A
contação do dia 27 de outubro, quinta-feira passada, foi o caos total. Após
passarmos um longo período explorando os contos organizados por Ana Maria
Machado no livro "O Tesouro das Virtudes para Crianças 2", resolvi
andar um passo a frente e escolher um livro de prosa (grande, se comparado com
os contos que estávamos acostumados) para explorarmos.
Vasculhei
a biblioteca atrás do perfeito exemplar. Achei um livro singelo e bonito
chamado "Vinda com a neve", de Odette de Barros Mott. Por ser um
livro que conta a história de um ambiente bem diferente do que estamos
habituados, achei interessante discutir com as crianças o que seria a neve,
como deve ser o gosto dela, como as pessoas que vivem na neve se comportam,
etc. Outro aspecto interessante desse livro é ele se passar na China, um local
ainda pouco conhecido por pessoas de oito anos de idade.
Pensando
nesse desconhecimento geográfico, peguei o globo terrestre que ficava ali perto
dos livros na biblioteca e apresentei-o aos jovens leitores. Má decisão. O
globo foi a maior sensação (bem maior do que o livro, diga-se de passagem) e eu
fiquei a ver navios enquanto as crianças de divertiam jogando o globo pra lá e
pra cá, sentando nele, girando-o e parando com o dedo aleatoriamente até
encontrar o país que morariam no futuro (Rússia foi o preferido). Precisei de
muita calma e persuasão pra fazê-los esquecer um pouco do globo e prestarem
atenção na história que ainda nem tinha começado.
Vi
desde a primeira linha que ninguém queria ler sobre a menininha deixada na
porta da casa de uma família chinesa na neve. Com o passar do tempo fui
desanimando. Não conseguia controlar as guerras de colchonete e nem a falação
ininterrupta de todos ao mesmo tempo. Fiz de tudo pra chamar a atenção deles
pra história mas nada deu certo. No final da contação eu estava tão desanimada
e chateada com a aparente falta de interesse dos alunos na história que tinha
escolhido com tanto amor que quando começaram a falação e as brincadeiras de mal
gosto decidi voltar para a sala, sem nem contar uma linha.
Percebi
nesse dia que levei inocentemente o desinteresse das crianças pelo livro como
uma afronta pessoal ao meu trabalho como contadora. Achei, com a maior certeza
do mundo, que as crianças me odiavam
e que não gostavam de mim e que
estavam fazendo graçinha com a minha
cara e por isso não paravam quietas e queriam me irritar. Após uma análise, percebi que isso não tinha nada a
ver. Às vezes até mesmo a gente fica de saco cheio das coisas e quer só
extravasar. Como crianças são crianças, o jeito delas é ficar meio doidas.
Já
na próxima contação tudo mudou...
2 comentários:
Concordo plenamente com sua conclusão!! Oferecemos um espaço de expressão, em um contexto em que muita coisa é compulsória...
Parabéns pelos dois posts, muito bons!
Postar um comentário