sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário do Contador por Ana Beatriz Novell





         A contação do dia 27 de outubro, quinta-feira passada, foi o caos total. Após passarmos um longo período explorando os contos organizados por Ana Maria Machado no livro "O Tesouro das Virtudes para Crianças 2", resolvi andar um passo a frente e escolher um livro de prosa (grande, se comparado com os contos que estávamos acostumados) para explorarmos.
         Vasculhei a biblioteca atrás do perfeito exemplar. Achei um livro singelo e bonito chamado "Vinda com a neve", de Odette de Barros Mott. Por ser um livro que conta a história de um ambiente bem diferente do que estamos habituados, achei interessante discutir com as crianças o que seria a neve, como deve ser o gosto dela, como as pessoas que vivem na neve se comportam, etc. Outro aspecto interessante desse livro é ele se passar na China, um local ainda pouco conhecido por pessoas de oito anos de idade.
         Pensando nesse desconhecimento geográfico, peguei o globo terrestre que ficava ali perto dos livros na biblioteca e apresentei-o aos jovens leitores. Má decisão. O globo foi a maior sensação (bem maior do que o livro, diga-se de passagem) e eu fiquei a ver navios enquanto as crianças de divertiam jogando o globo pra lá e pra cá, sentando nele, girando-o e parando com o dedo aleatoriamente até encontrar o país que morariam no futuro (Rússia foi o preferido). Precisei de muita calma e persuasão pra fazê-los esquecer um pouco do globo e prestarem atenção na história que ainda nem tinha começado.


         Vi desde a primeira linha que ninguém queria ler sobre a menininha deixada na porta da casa de uma família chinesa na neve. Com o passar do tempo fui desanimando. Não conseguia controlar as guerras de colchonete e nem a falação ininterrupta de todos ao mesmo tempo. Fiz de tudo pra chamar a atenção deles pra história mas nada deu certo. No final da contação eu estava tão desanimada e chateada com a aparente falta de interesse dos alunos na história que tinha escolhido com tanto amor que quando começaram a falação e as brincadeiras de mal gosto decidi voltar para a sala, sem nem contar uma linha.
        Percebi nesse dia que levei inocentemente o desinteresse das crianças pelo livro como uma afronta pessoal ao meu trabalho como contadora. Achei, com a maior certeza do mundo, que as crianças me odiavam e que não gostavam de mim e que estavam fazendo graçinha com a minha cara e por isso não paravam quietas e queriam me irritar. Após uma análise, percebi que isso não tinha nada a ver. Às vezes até mesmo a gente fica de saco cheio das coisas e quer só extravasar. Como crianças são crianças, o jeito delas é ficar meio doidas.
         Já na próxima contação tudo mudou...  

2 comentários:

Eileen disse...

Concordo plenamente com sua conclusão!! Oferecemos um espaço de expressão, em um contexto em que muita coisa é compulsória...

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...

Parabéns pelos dois posts, muito bons!