quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Diário do Contador por Larissa Araujo

 

O tema do livro dessa semana gerou reações nas crianças que me fizeram refletir. Algo tão humano e natural é, para elas, sinal de fraqueza, imaturidade e covardia. O livro “Alguns Medos e Seus Segredos” de Ana Maria Machado aborda o medo de uma maneira hilária e fluida. Segundo a autora “Todo mundo tem seu medo, cada um tem seu segredo. Quem parece sempre forte, no fundo é meio sem sorte: tem que agüentar bem sozinho, sem ajuda, nem carinho”. Mesmo lendo uma historia mostrando a perspectiva de que todos sentimos medo as crianças negaram o tempo todo que o sentiam. “Tia eu não sinto medo”, “Nem eu tia, eu também não tenho medo de nada”. Revelei a elas que eu sinto medo de muitas coisas dentre elas de cachorro e de ladrão, mesmo assim, continuaram afirmando que não sentem medo de nada. Sai da contação pensativa, então me lembrei de aspectos da realidade das crianças e jovens que provavelmente estão relacionadas a essa negação do medo.  Elas são levadas a interiorizar seus medos, não demonstrar suas “fraquezas” até porque, para a sociedade, não são mais bebês, e gente grande não tem medo de nada. Principalmente os meninos, os que mais faziam questão de demonstrar sua “coragem” durante a contação, são bombardeados com frases do tipo: “Homem que é homem não tem medo”. “Desse tamanho e ainda sente medo do escuro?”. “Você não pode sentir medo, é o homem da casa, tem que cuidar das suas irmãs”. Esconder o medo é comum, até adultos negam temer, porém, tal atitude, nem sempre traz benefícios. 
A criança se esconde atrás de um personagem super poderoso que estrangula o vampiro, encara a cobra que está para dar o bote, faz um mortal e tira a arma do ladrão. Se levarem o que dizem a sério e começarem a não temer coisas reais que geram situações de perigo, essa coragem é extremamente maléfica. Por outro lado, se estiverem dizendo da boca para fora que não tem medo e não forem capazes de assumir perante outras pessoas que sentem medo elas dificilmente pedirão ajuda na hora em que estiver em uma situação tenebrosa. No final das contas as crianças saem perdendo com essa pinta de adultos, acabam tendo que enfrentar sozinhas situações ruins que poderia ser mediadas por terceiros. Essa coragem inventada é espelho da verdadeira fraqueza semeada pela sociedade e encontrada nas crianças, o medo de assumir que tem medo.  

4 comentários:

Raquel Freire disse...

Larissa,

isso também já aconteceu comigo mais de uma vez, quando eu fui falar sobre medo eles negaram. Aconteceu que no começo alguns falaram que tinham medo e depois que os outros diziam que não eles mudavam a resposta.

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...

Pela idade, é provável que já foram socialmente punidas as manifestações de medo de bruxa, monstro, e coisas do tipo. Por outro lado, também é comum evitar falar sobre fontes reais de medo, como morte, etc.

Talvez se interessem por este estudo:
Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/2040498-estrutura-primitiva-da-representa%C3%A7%C3%A3o-social/#ixzz1dKswUtVX

RESUMO


Os autores pretendem identificar em dois grupos distintos de crianças com sete a dez anos, que medos estas identificam e que intensidade estes têm para as mesmas. Assim, os autores reuniram um grupo de crianças proveniente de um orfanato e outro grupo proveniente de uma escola particular e, através de uma entrevista, as crianças expressavam-se livremente relativamente à palavra medo. Esta fase do estudo permitiu aos autores o acesso ao campo das representações das crianças. Numa segunda fase deste estudo, e de novo com dois grupos semelhantes, os autores solicitaram que as crianças classificassem livremente as categorias resultantes da primeira fase do estudo. Os resultados deste estudo apontam claramente para a existência de três regiões distintas de medo, sendo estas: a) Seres imaginários (bruxa, monstro, fantasma, etc.); b) Animais (barata, morcego, rato, etc.), e c) Vida real (doença, assaltante, morte, etc.). Apesar de, em ambos os grupos de crianças envolvidos, se identificarem as mesmas regiões de medos, a intensidade dos mesmos difere consoante a origem social das crianças. Ou seja, Roazzi et al (2001) identifica que em ambos os grupos envolvidos, a estrutura dos medos é semelhante, no entanto, a intensidade destes medos reflecte a origem social das crianças, p. 69. Por outras palavras, apesar de os medos das crianças estarem estruturados nas mesmas regiões, as crianças oriundas do orfanato mostravam uma maior intensidade a medos relacionados com vida real (Arma, Assaltante…) do que as crianças provenientes da escola particular. Para além deste aspecto, o estudo também evidencia que a dispersão de idades pelas respectivas regiões sugere que os medos das crianças progridem do imaginário para o real. Assim, com idades menores, é mais provável que os medos das crianças se situem em figuras imaginárias (fantasma, bruxa…) enquanto ao crescer, o foco do medo das crianças intensifica-se em aspectos mais reais como animais ou situações de vida real

Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/2040498-estrutura-primitiva-da-representa%C3%A7%C3%A3o-social/#ixzz1dKswUtVX

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana Dias disse...

Eu vou ler esse livro!! Valeu a dica!!!