quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Diário do contador - Raquel Freire


Às vezes caímos na rotina...


e a pior de todas não é das tarefas (essas são importantes para nossa organização e tudo mais) o problema é a rotina de pensamentos, essa que prende a gente no que pensar, sobre o que pensar, quando pensar! E sair dela é meio difícil, porque você primeiro sai e depois percebe o que aconteceu.
Tudo começou quando eu estava no banheiro da escola e no cantinho achei um papel velho, sujo, esquecido... Eu o vi e não podia deixá-lo mais tempo no esquecimento, portanto comecei a ler e me surpreendi, era um pedido de socorro! A história que ele trazia era bem aterrorizante, tinha uma bruxa deformada, crianças feitas prisioneiras em tubulações de esgoto, vingança...Vi que eu precisava  contar para as crianças, claro que fiquei um pouco receosa se seria “pesado” mas depois de conversar com os outros membros do Livros Abertos chegamos ao consenso de que seria tranqüilo. Sem contar que não poderíamos ser negligentes àquele grito de socorro.
Assim, na segunda-feira fui à escola preparada, levei uma colcha para cobrir a mesa, uma lanterna e um isqueiro. Vocês entenderão o porquê dos elementos, mas vale dizer que todos são necessários para criar o “clima” de terror. Primeiramente, alertei as crianças de que teríamos uma história de terror e quem não gostasse poderia ir para outra contação. Os corajosos que me seguiram, foram para debaixo da mesa, conversamos sobre como imaginávamos aquela escola muitos anos antes. Mostrei a carta que havia achado no banheiro e comecei a ler com a lanterna iluminando meu rosto.

http://tracosetrocos.wordpress.com

A história resumidamente é sobre algumas crianças que pregaram uma peça na cozinheira e como castigo da mesma, que era uma bruxa, foram condenadas a viver nos encanamentos das privadas. Arrependida em seu leito de morte a cozinheira Tereza, também conhecida como Bruxa Cereja devido a sua aparência causada por queimaduras em sua cabeça, possibilitou que as crianças pudessem pedir ajuda (aí que entra a carta) mas para que elas fossem libertadas seria necessário que realizássemos um ritual. Existia uma observação na carta que pedia que fosse queimado o final, ao passarmos o isqueiro surgiram algumas letras completando um “Por Favor” do além. Perguntei se todos concordavam em realizarmos o ritual e, assim, libertar as crianças, elas aceitaram. Fomos para o banheiro e seguimos à risca as recomendações: dar descarga ao mesmo tempo e repetir as palavras:

Cereja
Cereja
Antes Tereza
Liberte
Liberte
As crianças fedidas
Mas arrependidas

Ao final um som fantasmagórico preencheu o silêncio do banheiro. 




Bem...foi assim minha última contação graças à um achado mágico, mas não o papel! E sim minha vontade de não estacionar no mais cômodo, a vontade de buscar inovar nas histórias e tornar as semanas mais divertidas e memoráveis. Se você, por um acaso, estiver um pouco cansado ou entediado sugiro que olhe bem nos cantos esquecidos pode ser que encontre um pedido de socorro. =)

PS: Obrigada por todos que apoiaram em especial aos que ajudaram na gravação de “fantasmas no banheiro” (Gustavo, Thais e Matheus)  a sonoplastia foi essencial! ;) 

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